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Por Igor Vieira e Silvana Sá

A Comissão Temporária de Alocação de Vagas (Cotav) foi convocada este ano para distribuir 200 vagas de concurso docente pelas unidades da UFRJ. Ocorre que este número é menos da metade das 418 aposentadorias, mortes e exonerações ocorridas desde 2019 – ano da última Cotav na universidade. Outras cem vagas são esperadas para 2024 e serão apontadas já neste relatório.

O prazo para a conclusão dos trabalhos – inicialmente em 31 de maio – será estendido, segundo o professor Fábio Freitas, presidente da Cotav. “Será necessária uma prorrogação até o final de junho”, informa. De acordo com o docente, as mudanças provocadas pela Câmara Mista, instância responsável por estabelecer os critérios da Cotav, são o principal fator para o atraso do relatório. “A Câmara Mista, visando aprimorar a metodologia de trabalho, introduziu uma sistemática que requer a análise e o cruzamento de um volume muito maior de informações, o que tem demandado enorme esforço e dedicação por parte dos membros da Cotav”, afirma o presidente.

Parte deste esforço consiste no cruzamento dos bancos de dados da PR-4 e do Siga, que consideram a lotação e a localização do professor. O nó acontece justamente quando o professor é lotado em uma unidade, mas dá aulas de graduação em disciplinas de outras unidades. Se não for checada essa diferenciação, o cálculo das horas de aula do docente pode ser contabilizado para a unidade errada.

No meio da disputa pelas vagas, estão professores sobrecarregados e estudantes prejudicados. “Nós temos um déficit de 73 professores nunca contemplado pela Cotav”, conta a professora Sônia Reis, diretora da Faculdade de Letras. “Este ano, pedimos 54. Temos poucos professores para as matérias finais dos cursos. Elas têm que ser ofertadas em um semestre para uma turma, e no próximo, para outra. Isso desperiodiza o estudante”, afirma a diretora.

Um dos principais problemas de sua unidade é enfrentado pelo curso de Português-Japonês. “Os cursos de bacharelado e licenciatura de Letras Português-Japonês têm apenas um professor, que trabalha das 8h às 22h”, conta. “É um xadrez para fechar a grade curricular”.

Na Escola de Belas Artes (EBA), a situação não é diferente. São apenas dois professores efetivos no curso de Gravura. A diretora da EBA, Madalena Grimaldi, defende a chegada de mais docentes efetivos para reduzir a sobrecarga de trabalho. “Não estou criticando a competência do professor substituto, mas é difícil, porque ele não pode orientar, não participa do Núcleo Docente Estruturante”, exemplifica.

O diretor do Instituto de Física, professor Nelson Braga, recordou a última Cotav. “Ficamos sem 17 professores de 2019 para cá. Pedimos 12, por conta de uma comissão interna que avaliou abrir menos vagas para atrair um perfil de pesquisador importante, que também vai trabalhar com extensão, e não só dar aula”, explica.

A Física também tem especialidades que sofrem com falta de professores. “O curso de Física Médica tem três docentes, e um deles irá se aposentar. Mas dentre os nossos departamentos, vários grupos estão desfalcados”, lamenta o professor.

O presidente da Cotav reconhece que de maneira recorrente os números de vagas disponibilizadas pela administração central não alcançam as baixas do período coberto. “Não tenho uma resposta para esta questão, mas é fato que as reitorias não liberam todas as vagas de vacância”, diz o professor Fábio Freitas.

Questionado pela reportagem, o reitor Carlos Frederico Leão Rocha explica que parte das 418 vacâncias foram preenchidos por critérios da Cotav anterior. “Por conta disso só pudemos liberar 200 vagas para este ano e cem para o ano que vem”.

IMBRÓGLIO POLÍTICO

Em paralelo ao trabalho da Cotav acontece uma disputa política para influenciar os critérios de distribuição de vagas e a condução da próxima comissão temporária. Pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a prerrogativa da alocação de vagas docentes é dos conselhos de Graduação e de Pesquisa. No caso da UFRJ, eles correspondem ao Conselho de Ensino de Graduação (CEG) e ao Conselho de Ensino para Graduados (CEPG). No entanto, desde maio de 2019, o Estatuto da UFRJ prevê que o Conselho de Extensão Universitária (CEU) participe da formulação da Cotav. A mudança foi introduzida no final da gestão do professor Roberto Leher.

Diante do descompasso entre o que diz a lei e o que diz o Estatuto da universidade, a Pró-reitoria de Extensão formulou uma minuta para regulamentar a participação do CEU na Câmara Mista e na Cotav. A atitude desagradou conselheiros. “A LDB é muito clara sobre alocação de vagas. A lei foi modificada em 2017 e a Extensão não foi incluída. Esta é uma prerrogativa da Graduação e da Pesquisa”, reforça a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, professora Denise Freire. “O CEU emitiu uma minuta que criou muito descontentamento entre conselheiros do CEPG, porque não foram consultados. Não houve discussão”, critica a pró-reitora.

Presidente da Comissão de Legislação e Normas do CEPG, que analisou a minuta, a professora Ethel Pinheiro explica que o entendimento do colegiado apoia o parecer dado pela Procuradoria da UFRJ. No documento, o procurador Renato Vianna afirma que, apesar de o Estatuto da universidade prever a participação do CEU na Cotav, a autonomia não pode estar acima da lei. “Invadir competência legal ou estender competência legal a quem a lei não deu atribuição é franca violação da lei”.

Para a presidente da CLN, a discussão precisa acontecer com calma. Até porque o norte da universidade é o ensino. “Não à toa é o ensino que mais pontua para a distribuição de vagas. Não queremos um professor que seja só pesquisador, ou que seja só extensionista. Precisamos, sobretudo, de um professor que atue no ensino”, explica.

Pró-reitora de Extensão, a professora Ivana Bentes diz que não há polêmicas. “Estamos avançando na discussão sobre a Extensão na universidade e isso é muito produtivo. A UFRJ toda ganha”. Ela defende a participação do CEU na Cotav e na Câmara Mista. “Todo professor precisa ter carga horária destinada à extensão para progredir na carreira. Nada mais justo que participarmos desse processo. A universidade existe para atualizar as leis”.

Reitor da UFRJ em exercício, o professor Carlos Frederico Leão Rocha designou quatro observadores do CEU para acompanhar os trabalhos da Cotav. “A universidade precisa discutir a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”, defende. “O tratamento da extensão em um conselho especializado é claramente insuficiente para o objetivo que temos que alcançar”, afirma o dirigente.

Na última semana, em reunião conjunta, os três colegiados decidiram montar um grupo de trabalho para debater o assunto.

Por Alexandre Medeiros, Ana Beatriz Magno e Silvana Sá

 

WhatsApp Image 2023 05 25 at 19.34.001O professor Roberto Medronho, 64 anos, transborda entusiasmo de calouro. Em 121 minutos de entrevista, o reitor eleito da maior universidade federal do país falou de temas polêmicos, criticou severamente a cultura protelatória da UFRJ, e prometeu mudanças severas na instituição. A começar por dois dos maiores vespeiros locais: a política de pessoal da PR-4 e os esqueletos de obras nunca concluídas no Fundão.

“Isso me envergonha demais”, desabafou o médico, pediatra, sanitarista, pai de três filhos. “Me sinto envergonhado como professor e como servidor público de ver essas obras inacabadas e prédios em ruínas”.

E como mudar ? “Acabando com a política de balcão da PR-4 e profissionalizando a gestão da universidade. Sobre as obras, acho que temos que melhorar o planejamento, chamar a iniciativa privada e traçar parcerias. Não tenho medo disso”, resume o docente, nascido e criado numa família remediada do subúrbio, mas que, “graças ao ensino público”, conseguiu driblar o destino e entrou para a Medicina. “Tenho obrigação de devolver para a sociedade o que o ensino público sempre me deu”.

Defensor da Ebserh, Medronho promete debater o tema no Consuni, mas diz que não aceitará ações que interditam decisões. “Isso não é democracia”. O futuro reitor da UFRJ foi diretor por duas vezes da Faculdade de Medicina e promete levar para a reitoria o cuidado com os nove hospitais universitários. “A situação do Hospital Universitário é dramática. As pessoas que são atendidas no HU saem maravilhadas. O problema é que poucas pessoas são atendidas. E o que acontece com as que não são atendidas? Elas morrem”, lamenta.

Portelense de coração, Roberto Medronho admite que os próximos quatro anos serão com pouco carnaval e muito trabalho, mas não deixará o samba morrer. “Vamos recriar a Minerva Assanhada”, promete o professor titular que entrou na UFRJ nos anos 1970 e nunca mais saiu. “Com a ida da reitora Denise para o MEC submeti meu nome como opção e fui muito bem aceito. Entrei na UFRJ em 1977 e, mesmo com a atuação no GT Coronavírus, com acesso a um monte de pesquisas e iniciativas, hoje talvez eu conheça 10% da universidade. Nós precisamos nos conhecer mais”.

Jornal da Adufrj - Os nomes de sua equipe já estão definidos?
Roberto Medronho - Eu não estou preocupado com os nomes, mas com a política. Vamos ter um grupo de trabalho de transição, a proposta de portaria já está na reitoria. Teremos quatro eixos de atuação nessa transição: gestão acadêmica, gestão administrativa, administração central, e gestão democrática, inclusiva e plural.

Jornal da Adufrj - Na prática, no cotidiano da gestão, o que isso significa?
Significa que vamos reavaliar a estrutura administrativa da universidade, de todos os cargos. Acabou o balcão!

Há balcão hoje?
Não é um problema dessa gestão. É de todas. Vou dar um exemplo. Os concursos são feitos pela PR-4 e não pelas unidades, de lá são distribuídos os técnicos aprovados. Nós vamos fazer um redimensionamento de pessoal, vamos querer saber onde estão os 14.200 técnicos, em quais unidades e fazendo o quê. Vou querer que as unidades participem diretamente desse processo.

Isso também vai valer para os professores?
Claro. O professor substituto, por exemplo, tem que ser a exceção, não a regra. Eu quero saber qual é a nossa força de trabalho. Tenho três ou quatro relações distintas, como é isso? Como um gestor não sabe quantas pessoas estão trabalhando na sua unidade? Essa informação tem que ser pública! Não quero ser nem bonzinho, nem mauzinho, quero ser justo.

Mas como obter essas informações se o sistema de dados da UFRJ é tão falho?
A informação e a comunicação em minha gestão serão prioridade. Vamos saber em um sistema público quantos professores estão lotados em quantos departamentos, em quantas disciplinas, qual a carga horária dessas disciplinas. A minha proposta é criar um sistema público de informações na UFRJ, tudo o que for possível será divulgado. Não é possível que num lugar onde surgiu a computação científica nesse país a gente não consiga fazer isso. Se tivéssemos esse sistema, nem precisaria haver a Cotav.

Umas das críticas à atual gestão é a atuação da Procuradoria, que seria mais alinhada à AGU do que à reitoria. Como será na sua gestão?
Eu não quero um procurador que vá me dizer o que eu não devo fazer, mas sim um procurador que me diga como eu devo fazer. Obviamente dentro da legalidade, da moral pública, da ética e no mais breve tempo possível.

Outra crítica diz respeito ao trabalho da PR-4, o que inclui a morosidade para elaboração de laudos e concessão de adicionais ocupacionais.
Vou querer tomar pé sobre o que está acontecendo para demorar a conceder, para termos os laudos, suspender ou não os adicionais. Se um professor assume um cargo de chefia, por exemplo, é uma lei ou é um entendimento interno que define o corte? Se for uma questão administrativa nossa, vamos resolver. Eu mesmo tive um corte de adicional quando assumi a direção da Faculdade de Medicina, embora mantivesse uma atividade de extensão em que tinha direito ao pagamento.

E as progressões múltiplas, o senhor vai reavaliar o veto definido pelo Consuni? A AdUFRJ, inclusive, entrou na Justiça contra esse veto e pelo direito à progressão.
Sobre as progressões múltiplas, o que foi dito no Consuni é que há uma proibição legal e a Procuradoria orientou no sentido de negar. Se não houver essa restrição legal, isso pode voltar à pauta. No que depender da reitoria, esses problemas serão resolvidos.

Outra questão polêmica é o ponto eletrônico. Como abordará esse tema?
Ponto eletrônico não está em discussão. Não implantarei ponto eletrônico, nem no HU, para os servidores da casa. A UFRJ e a sociedade devem aos servidores de nossas unidades hospitalares a atuação heroica na pandemia. Salvaram muitas vidas, se desdobrando em horários. Nossos hospitais só não fecharam por causa dessas pessoas. Como é que eu agora vou mudar a forma de trabalho dessas pessoas, seja por que motivo for? Caso fechemos com a Ebserh, por exemplo, os novos contratados poderão entrar sob um novo regime de trabalho, previamente informado.

Qual será a marca da sua gestão?
A gente não quer uma marca, mas algumas questões serão enfrentadas imediatamente por mim e pela professora Cássia Turci, nossa vice-reitora. A primeira delas é a manutenção de nossa autonomia. Isso é um compromisso. Autonomia didático-pedagógica. Não temos autonomia financeira, o que seria o ideal. Na gestão anterior, da professora Denise (Pires de Carvalho, hoje secretária da Sesu do MEC), o orçamento foi estrangulado, em especial do investimento, e pouca coisa pôde ser feita.

Qual foi a marca da gestão da professora Denise?
Resistência e coragem. Acho que foi brilhante o desempenho na pandemia, que ajudou a salvar muitas vidas. Ela manteve a universidade aberta, apesar de todas as dificuldades orçamentárias ou provocadas pela pandemia. Criou um programa de inclusão para os alunos irem ao ensino remoto jamais visto anteriormente. Ela resistiu ao negacionismo, aos cortes orçamentários e liderou uma instituição que foi um dos próceres na luta contra a covid-19. São marcas muito relevantes. E ainda teve a coragem de botar em pauta a Ebserh e o novo Canecão.

Como a Ebserh será tratada em sua gestão?
Seguindo as determinações do Conselho Universitário. Essa vai ser uma marca da minha gestão: respeito aos órgãos colegiados e às decisões colegiadas. Essa é a democracia. A universidade é democrática. E democracia não pode ser apenas quando eu ganho, tem que ser um valor universal. A manifestação será absolutamente livre para o corpo social. Mas não haverá obstrução à força, isso é inaceitável.

Sim, mas e a Ebserh?
O atual presidente da Ebserh, o professor Athur Chioro, ex-ministro da Saúde, é um profundo conhecedor do SUS. O nosso complexo hospitalar não entrou na Ebserh porque não houve definição da UFRJ, o assunto foi tirado da pauta do Consuni e nunca mais foi discutido. Pretendo criar uma comissão paritária que vai fazer um estudo rigoroso dos dez anos da Ebserh, como tem sido a atuação dela pelo país. Ela nem é o paraíso que alguns pintam, nem o inferno como outros dizem. Nós somos cientistas, precisamos trabalhar com dados.

E como a comunidade será ouvida em relação a esse relatório?
Quando houver um contrato em formato de ser aprovado, vamos convocar a comunidade a avaliar, incluindo audiências públicas. E levaremos essa proposta ao Consuni, em uma sessão presencial, em que todos os conselheiros terão direito a voz, a pedido de vista, a voto. Uma reunião pública.

Enquanto essa decisão não é tomada, o hospital tem cada vez menos leitos e mais problemas...
Nós temos déficit de pessoal, isso é fato. Mas pretendo que o hospital chegue a 400 leitos (hoje são por volta de 180). Meu sonho seria chegar a 450 leitos. Meu compromisso de campanha é cumprir o que o Consuni determinou, iniciar negociações com a Ebserh e, em paralelo, criar essa comissão tripartite (docentes, estudantes e técnicos). Teremos um cronograma definido, até porque, caso a decisão seja pela contratação, os recursos já possam ser previstos na LOA (Lei Orçamentária Anual) de 2024.

Rápido assim?
A Ebserh acabou sendo infelizmente utilizada como um esqueleto que se coloca no armário e se tira nas eleições. Não vamos guardar a Ebserh no armário, vamos ter que decidir. Todos sabem que eu sou favorável à Ebserh, nunca neguei isso, mas acatarei a deliberação do Consuni.

Por que tanta urgência?
A situação é dramática. As pessoas que são atendidas no HU saem maravilhadas. O problema é que são poucas pessoas atendidas. E o que acontece com as que não são atendidas? Elas morrem. Não temos nem o número de leitos e nem a capacidade ambulatorial necessários. O que mais me angustia, e aí como médico, é que nós estamos falando de vidas. Da diferença entre a vida e a morte. Fechar um leito de hospital significa que alguém que seria salvo provavelmente não será. Faço um apelo à nossa comunidade para que enfrentemos essa questão, com um diálogo franco e transparente. Que esse debate não seja interditado por questões de ordem político-ideológica.

O mesmo vale para o Canecão e para os muito prédios e obras abandonados da universidade?
Nós temos um processo burocrático-administrativo que precisa ser agilizado ao máximo. Isso eu vou cobrar. Esses esqueletos de prédios são fruto de muitos equívocos. É doloroso você ter um paliteiro sem conclusão, gastar R$ 10 milhões em uma solução e depois descobrir que ela não é segura. Eu me sinto envergonhado como professor e como servidor público de ver essas obras inacabadas e prédios em ruínas, como o do Palacete Imperial.

Onde é esse Palacete?
Esse prédio é de 1862, na esquina de Rua Visconde do Rio Branco com o Campo de Santana. Já abrigou o Instituto de Eletrotécnica e a Escola de Comunicação da UFRJ. Um prédio lindo que está abandonado. Nós vamos revitalizar esse espaço. Já estamos em negociação com o TCE e o governo do estado para criar ali um centro cultural, aberto ao público.

E o Canecão?
O Canecão também não ficará como está hoje, em ruínas. Eu vou devolver Canecão ao Rio de Janeiro, ao Brasil e à UFRJ no prazo mais curto possível. Aquele espaço era privado, agora será público. Vamos fazer ali eventos abertos, com o Espaço Ziraldo renovado, com Ciência na praça, palestras. Vamos derrubar os muros e o povo vai poder entrar na universidade.

Como senhor pretende lidar com os vários segmentos representativas do corpo social, em especial os estudantes, onde o senhor teve a minoria dos votos?
As entidades representativas da UFRJ, como a AdUFRJ, o Sintufrj e o DCE, serão absolutamente respeitadas. E haverá uma mesa de negociação permanente com elas para enfrentarmos juntos os graves problemas que temos em diversas áreas. Vamos levar esse diálogo à exaustão para compormos resoluções no Consuni, se possível consensuais. Após exaurir esse diálogo, que não será eterno, pois a extensão da discussão indefinidamente é uma forma de obstrução, caso não haja consenso, vamos ao voto.

O senhor vai assumir com um governo federal bem diverso do anterior, que está recompondo orçamento das universidades e de cujo partido, o PT, o senhor é próximo. Como vê essa mudança de conjuntura diante dos seus planos?
Animadíssimo. Primeiro porque estou entusiasmado pela expressiva manifestação de apoio da comunidade à nossa chapa. Tivemos 73% dos votos dos docentes e 55% dos técnicos. E mesmo entre os estudantes tivemos a menor diferença de votos em relação às últimas eleições.
O segundo motivo da minha animação é o contexto nacional. Com a eleição de Lula, vencemos o negacionismo e isso abre caminhos. Mesmo antes de assumir, já estamos com várias interlocuções em Brasília. Conheço pessoas lá que lutaram comigo contra a ditadura, iniciamos diálogos. Há um conjunção muito favorável à UFRJ e vamos buscar todos os recursos necessários para a recomposição orçamentária.

Esses diálogos vão além da esfera de governo?
Nós vamos além. Vamos procurar não só todos os ministérios, mas também o setor produtivo. Vamos fazer parcerias republicanas para reconstruir o Brasil. Precisamos ajudar o governo Lula a reindustrializar esse país. Para isso nós temos um parque tecnológico que pode ajudar nas pesquisas, na inovação. Já estamos atuando junto ao TCU para que as dívidas que as empreiteiras têm nos acordos de leniência sejam revertidas em construções, em obras para o setor público, incluindo as universidades. Vamos trazer essas obras para cá, a UFRJ tem um nome e um legado que a credenciam para isso.

O Colégio de Aplicação poderia se beneficiar disso?
Nossa ideia para o CAp, que acaba de fazer 75 anos, é fazer o projeto original. Construir o CAp aqui no Fundão, junto com a Educação Infantil, com condições adequadas, junto com a Faculdade de Educação. Aquele prédio da Lagoa nem é da UFRJ.

A segurança nos campi é uma preocupação?
Precisamos aumentar a segurança, e não apenas com policiamento. Pretendemos colocar cancelas em todos os estacionamentos dessa universidade, com vigilantes. Só entra quem for da UFRJ ou tiver autorização, como já é feito na Praia Vermelha. Também precisamos trazer mais a comunidade para dentro da UFRJ. Fazer eventos aqui no Fundão em que as pessoas do entorno possam vir, criar espaços de convivência e acolhimento. Temos que recompor a orla do Fundão, em parceria com a prefeitura, trazendo quiosques, com iluminação adequada. O saudoso Carlos Lessa chamava o Fundão de Sibéria Tropical. Hoje, pode não ser mais a Sibéria, mas ainda está longe de ser uma Mata Atlântica.

Falando do entorno do Fundão, pretende ampliar as atividades de extensão para essas áreas?
Nós precisamos ampliar nossas ações na Favela da Maré e no entorno da UFRJ. Temos grandes coisas a oferecer hoje. Temos 10% da carga horária de todos os nossos alunos para extensão. Vamos transformar isso em ações concretas dentro dessas áreas para melhorar a qualidade de vida e transformar os indivíduos, inclusive nossos alunos, em cidadãos melhores.

Se o senhor ainda não pensa em nomes da sua equipe, pensa em consolidar uma boa gestão e tentar a reeleição?
Não estou preocupado com reeleição, mas em fazer a diferença. Tenho um compromisso ético comigo mesmo de devolver à sociedade aquilo que ela em mim investiu. Nem eu nem meus irmãos seríamos nada se não fosse o ensino público, gratuito e de qualidade. Meus colegas lá do Conjunto dos Ferroviários da Abolição que não tiveram essa oportunidade, muitos deles morreram assassinados pelas forças policiais. Seriam meus amigos até hoje, não estão mais aqui. Sei o que é ter uma universidade que forme as pessoas. Outro legado que quero deixar é a assistência estudantil, a permanência. O aluno tem que entrar e tem que sair formado, temos que reduzir ao máximo a evasão. Não podemos aceitar a evasão. Temos que ir atrás de cada aluno que nos deixou na pandemia e fazer de tudo para trazê-lo de volta para universidade. Me comprometo com esse desafio.

FSOU3035Fotos: Fernando SouzaA UFRJ finalizou, na manhã desta terça-feira (16), a elaboração da lista tríplice para reitor. O professor Roberto Medronho, vencedor da consulta junto à comunidade universitária, foi o mais votado e encabeça a lista que será encaminhada para Brasília. Foram 90 votantes de um universo de cerca de 130 eleitores.

Roberto Medronho, titular da Faculdade de Medicina – 87 votos

Walter Suemitsu, decano do Centro de Tecnologia – 2 votos

 Luiz Eurico Nasciutti, decano do Centro de Ciências da Saúde – 1 voto

A formação da lista tríplice para a vice-reitoria também confirmou o nome da professora Cássia Turci, candidata a vice da chapa de Medronho.

Cássia Turci, decana do CCMN - 75 votos

Flávio Martins, decano do CCJE - 2 votos

Afrânio Barbosa, decano do CLA - 1 voto

As listas, nesta ordem, serão enviadas a Brasília. Caberá ao MEC a definição do nome. Tradicionalmente — menos durante o governo Bolsonaro —, os mais votados são os escolhidos pelo ministro da Educação.

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WhatsApp Image 2023 05 17 at 19.53.43 1Reitoria eleita. Em respeito à tradição democrática, escolhidos pela comunidade acadêmica foram os mais votados no Colégio Eleitoral - Foto: Fernando SouzaO Colégio Eleitoral da UFRJ se reuniu nesta terça-feira, 16, para formalizar as eleições para reitor e vice-reitora da UFRJ. As listas tríplices foram formadas com Roberto Medronho, professor titular da Faculdade de Medicina, e Cássia Turci, decana do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, como primeiros colocados. Eles receberam 87 e 85 votos, respectivamente. A ata da sessão com as listas tríplices foi encaminhada no próprio dia 16 para o Ministério da Educação.
Decanos de outros centros completaram as listas para atender à legislação. Foram também candidatos a reitor Walter Suemitsu (CT) e Luiz Eurico Nasciutti (CCS). Para vice-reitor se candidataram Flávio Martins (CCJE) e Afrânio Barbosa (CLA). Os decanos de cada lista decidiram votar uns nos outros para garantir que todos os nomes enviados ao MEC tivessem pelo menos um voto.
O professor Vantuil Pereira, decano do CFCH, não apresentou o nome para concorrer no Colégio Eleitoral. Ele perdeu a disputa para Roberto Medronho na consulta feita junto à comunidade acadêmica. No Colégio Eleitoral, o docente votou no professor Medronho.
A eleição foi nominal, ou seja, cada conselheiro foi chamado para anunciar seu voto. O método foi escolhido no início da sessão e aprovado por ampla maioria com apenas um voto contrário, o do técnico-administrativo Roberto Gambine, conselheiro universitário e ex-pró-reitor de Finanças da gestão Leher. Gambine defendia o escrutínio secreto. Ele também não votou no professor Roberto Medronho, escolhido pela comunidade acadêmica para comandar a universidade.
Agora, o governo federal tem até 60 dias para nomear o reitor e a vice-reitora escolhidos pela comunidade universitária. A posse na UFRJ está prevista para julho. O prazo, no entanto, pode ser encurtado, já que o cargo de reitor da UFRJ está oficialmente vago desde que a professora Denise Pires de Carvalho assumiu a Secretaria de Educação Superior do MEC. O professor Carlos Frederico Leão Rocha se manteve como vice-reitor no exercício da reitoria.

ATO FORMAL
O Colégio Eleitoral é a reunião de todos os colegiados superiores da UFRJ: conselhos Universitário, de Graduação, Para Graduados, de Extensão Universitária e de Curadores. Aproximadamente 130 conselheiros formam o Colégio Eleitoral, entre professores, técnicos e estudantes. Mas apenas 90 compareceram nesta terça-feira. O colegiado segue o que determina a Lei 9.192/95 que estabelece que sua composição seja de, pelo menos, 70% de professores.
A AdUFRJ e entidades como o Observatório do Conhecimento estão empenhadas em mudar a lei. “Nossa atuação é para construir um consenso que garanta a autonomia das universidades na escolha dos seus reitores”, explicou a professora Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ e coordenadora do Observatório. “Nossa conversa com a Andifes caminhou no sentido de abolir a lista tríplice, garantindo que o nome escolhido pela comunidade universitária seja o nomeado”. O Observatório conseguiu a aprovação de um requerimento para realização de audiência pública sobre o tema, no âmbito das comissões de Educação, C&T e Legislação Participativa da Câmara. A audiência deve ser realizada em junho.
O professor Roberto Medronho, reitor eleito da UFRJ, comemorou o resultado, mas também criticou a legislação atual para escolha de reitores. “O que acabou de acontecer foi um rito apenas formal, para cumprir a legislação”, apontou. “Precisamos lutar para acabar com a lista tríplice. Reitor eleito deve ser reitor empossado”, afirmou. “A UFRJ, no que depender de mim, vai trabalhar para mudar a legislação. Estaremos na linha de frente na luta pela autonomia universitária”.
Presidente da comissão eleitoral da UFRJ, que organizou a consulta aos três segmentos da universidade, o professor Eduardo Mach também celebrou o final do processo. Representante dos titulares no Consuni, ele também votou no professor Medronho no Colégio Eleitoral. “Estou muito contente que o trabalho tenha sido bem executado. Todos que participaram contribuíram para a democracia universitária”, disse. Ele agradeceu especialmente aos integrantes da Comissão Coordenadora da Pesquisa. “Preciso registrar um agradecimento especial a todos que participaram da comissão. Todos trabalharam muito para que fosse realizado um processo eleitoral de absoluta lisura”, afirmou.
PRÓXIMO MANDATO
A nova reitoria assume a UFRJ até 2027. Vice-reitora eleita, a professora Cássia Turci estava emocionada ao final da sessão. “Estou muito feliz. Ciente de todos os desafios, mas muito entusiasmada com a resposta da comunidade acadêmica”, disse. Perguntada sobre prioridades, ela respondeu que os desafios são muitos. “É preciso olhar com carinho para os campi fora do Rio, para a assistência estudantil, para a carreira dos técnicos”, elencou. “São muitas frentes, muitas urgências, mas estou otimista”, declarou.
Medronho também comentou sobre os próximos passos. “Estamos conversando com muitas pessoas de dentro e de fora da gestão universitária. Nossa ideia é fazer um grupo de trabalho de transição para verificar, dentro do nosso eixo programático, quais as ações de curto, médio e longo prazos”, revelou. Outro plano do reitor eleito é realizar uma prestação de contas dos primeiros cem dias de gestão.
A saúde é uma área prioritária. “Temos mais hospitais que muitos municípios brasileiros. São nove unidades hospitalares. E o Centro de Ciências da Saúde representa quase metade da universidade”, disse.

Na UFRJ, o Renova Andes (chapa 3) venceu a eleição para a diretoria do sindicato nacional. Foram 437 votos contra 237 do "Andes pela base: ousadia para sonhar, coragem para lutar" (chapa 1) e 52 do "Andes-SN Classista e de Luta" (chapa 2). Houve ainda dois votos em branco e cinco nulos. O resultado nacional oficial será divulgado pela comissão eleitoral central, no dia 16.

Presidente da AdUFRJ e da Comissão Eleitoral Local, o professor João Torres comemorou os 771 votantes na UFRJ. O número é superior aos dos pleitos de 2020 (762) e de 2018 (542), quando houve disputa entre chapas. Mas acredita que o desempenho poderia ser ainda melhor, com um sistema de votação mais moderno. "Se fosse online, o número seria ainda maior", afirmou.

João avaliou de forma bastante positiva o processo de apuração. "Gostei muito. O ambiente estava saudável e todo mundo colaborou. A Comissão Eleitoral conseguiu gerir bem os problemas que apareceram", disse.

CLIQUE AQUI E VEJA O MAPA ELEITORAL COM O RESULTADO DA UFRJ.

Confira alguns registros da apuração feitos pelo fotógrafo Fernando Souza.

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