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WhatsApp Image 2022 10 10 at 08.02.48 2Arthur Lira, atual presidente da Câmara, recebeu em dois anos R$ 492 milhões do orçamento secretoSilvana Sá e Igor Vieira

Dos dez deputados federais que mais receberam recursos do orçamento secreto, nove deles ampliaram sua base eleitoral e foram reeleitos este ano. O campeão Arthur Lira, atual presidente da Câmara, recebeu em dois anos R$ 492 milhões. Levantamento realizado pelo Jornal da AdUFRJ descobriu que o parlamentar participou de mais de 30 eventos de lançamentos de obras de infraestrutura dos grandes e pequenos municípios de seu estado, Alagoas, a partir do ano passado.

De 2020 a 2022, foram distribuídos pela União R$ 52 bilhões via orçamento secreto. Todos os parlamentares analisados pela reportagem (veja quadro ao lado) tiveram apoio estreito sobretudo das prefeituras dos interiores. “O resultado desta eleição mostra a eficácia do orçamento secreto em alavancar essas candidaturas”, avalia o professor Ivo Coser, do Departamento de Ciência Política do IFCS. “As menores prefeituras, em geral, que mais precisam de dinheiro, são as mais sensíveis”.
A manobra, puramente discricionária, segundo o especialista, piora a nossa democracia , pois“foge do controle orçamentário e político”. “É um artifício que não se submete a um controle claro de distribuição e que depende apenas da vontade do presidente da Câmara”.

Para a professora Mayra Goulart, o orçamento secreto favorece o fisiologismo. “O que se observa é a manutenção das grandes elites políticasWhatsApp Image 2022 10 10 at 08.02.47 1 nacionais. São aqueles políticos fisiológicos, que controlam bases territoriais”, diz a cientista política. “E que utilizam o orçamento secreto para alinhavar essas bases territoriais”, avalia.“O orçamento secreto, portanto, confirma o jogo político, que é dominado por essas elites locais”.

A professora Thais Aguiar, também da Ciência Política do IFCS, considera que, apesar do orçamento secreto, a nova legislatura da Câmara tem maior equilíbrio de forças, em comparação com 2018. “Embora o PL tenha a maior bancada na Câmara nos últimos 24 anos, temos outra força, do PT, que cresceu de 56 para 68 parlamentares”, destaca. “Temos grandes blocos que se mantêm em equilíbrio. O Centrão, que é pendular, é que requererá mais negociação”.

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.44.19Foto: Fernando SouzaEstela Magalhães

O jingle “Sem Medo de ser Feliz”, composto pelo publicitário Hilton Acioli, embalou a esquerda brasileira em 1989. Nas primeiras eleições diretas para presidente após a ditadura, a música chamava grande parte da população a votar no petista: “Lula lá, com toda a certeza pra você/Meu primeiro voto/Pra fazer brilhar nossa estrela”. Agora, mais de três décadas depois, é a vez da juventude defender a democracia.
O exercício da cidadania é inédito para milhões de jovens de 16 a 21 anos, e será inaugurado neste domingo. “Fico feliz em poder votar numa eleição como essa. Estamos num momento muito decisivo. De um lado, um discurso quase neofascista; e, de outro, uma luta para manter a democracia”, diz Karolayne Carvalho, de 20 anos, estudante de Relações Internacionais. “É muito importante ter voz nesse enfrentamento da instabilidade política e votar pela credibilidade da democracia”, completa.
A participação dos jovens nas urnas será decisiva para essas eleições, segundo pesquisa do Datafolha: 51% das pessoas de 16 a 29 anos têm preferência por Lula, enquanto apenas 20% preferem Bolsonaro. “É fundamental garantir que os jovens votem no presente para que eles também possam votar no futuro”, diz o professor Jorge Chaloub, da Ciência Política da UFRJ. “A própria ideia de juventude é muito mobilizada quando você quer pensar qualquer tipo de mudança e renovação no cenário político”, analisa. Para ele, os ataques às universidades e à educação contribuíram para uma articulaçãojovem desde 2019. “A eleição está sendo marcada por disjunções muito fortes. Vemos uma tendência de quem é homem, branco, mais velho ou tem a renda mais alta a votar no Bolsonaro. A juventude está votando contra”, completa.
“A movimentação importante desse eleitorado nas redes sociais, especialmente nesses últimos dias, com uma adesão da comunidade artística e de influencers, nos apontam para uma possibilidade de consolidação desse voto”, analisa a professora Elisa Guaraná, da UFRRJ. Segundo a professora de Ciências Sociais, a forma como o governo federal lidou com a pandemia foi um fator para o levante da juventude. “Chegamos em 2022 com muita disputa dos votos da juventude, que já estava se desenvolvendo em 2018. Não é só uma mobilização eleitoral que leva esses jovens a votar. Eu acho que é realmente um movimento de discussão na sociedade sobre o papel da presidência da República que o governo Bolsonaro acabou gerando”, diz.
A professora ainda lembra da primeira vez que votou para presidente: em 1989, votou Lula. “Eu já era estudante na UFRJ e fizemos uma campanha muito grande com professores e técnicos ali no centro da cidade”, recorda. “A juventude tem um papel fundamental na defesa da democracia e da população brasileira. Nesse primeiro turno, nós precisamos dizer um basta para o Bolsonaro e votar na perspectiva de um governo Lula que volte efetivamente a incluir a população pobre, jovem, mulheres, com toda a diversidade que a população brasileira tem, no acesso aos seus direitos básicos”, encerra.

CONTRA AS ATROCIDADES
“O meu voto é contra todas as atrocidades que a gente tem vivido nos últimos anos por conta de todas as violações que Bolsonaro comete contra os valores democráticos do nosso país. Vou convictamente votar no Lula e espero que a vitória seja no primeiro turno”, diz Fernanda Mendes, estudante de Jornalismo que irá às urnas eleger um presidente pela primeira vez aos 20 anos. “Quero fazer parte da mudança que eu espero que ocorra a partir do ano que vem com Lula na presidência”, completa.
“Precisamos problematizar essa ideia de que o jovem não estaria interessado em política porque a adesão ao voto seria mais baixa do que nos anos anteriores”, diz a professora Olívia Perez, da Ciência Política da Federal do Piauí. Ela recupera a atuação política dos jovens nas redes e a formação de coletivos com foco em questões sociais. “Há outros lugares de fazer política que não a política institucional, mas há uma descrença em relação à política parlamentar. De fato, os jovens são pouco inseridos em termos de representação. Eles são 27% da população e a representação na esfera municipal do Legislativo é em torno de 8% e vem caindo nas últimas eleições”, explica. Para a professora, é preciso investir na inclusão dos jovens no debate político. “Num contexto dominado por homens brancos e mais velhos, a juventude tem ensinado a importância da inclusão da diversidade nas decisões coletivas”, completa.

“Me alegra votar em casa e, pela primeira vez, em Lula”

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.43.12 1ESTELA
MAGALHÃES
Estudante de Jornalismo e estagiária do Jornal da AdUFRJ

Minha zona eleitoral fica a 560 km do Rio de Janeiro. Nasci, cresci e tirei meu título no Vale do Aço, interior de Minas Gerais, antes de vir estudar na UFRJ. Neste domingo, vou dar meu primeiro voto para presidente na escola que minha mãe estudou quando criança, no bairro que morei a vida inteira.
Meu primeiro voto carrega a esperança de quem cresceu no governo Lula, sonhando com uma universidade pública de excelência, e a raiva de quem foi às ruas pela primeira vez no início de 2019 em defesa da educação superior, minha conquista tão recente. Cheguei ao Rio caloura e com a incerteza se a UFRJ duraria até o fim do meu curso, por causa dos grandes cortes orçamentários.
Mas o recomeço está próximo. São nove horas de viagem até o abraço, de volta ao bairro que guarda todos os meus “primeiros”. Me alegra poder votar em casa e, pela primeira vez, votar em Lula. O equilíbrio do primeiro passo, a delicadeza do primeiro beijo, a potência do primeiro voto.

“Meu primeiro voto em Lula, no próximo domingo irei repetir”

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.43.12JOÃO
TORRES
Professor do Instituto de Física e presidente da AdUFRJ

A eleição de 1989 foi a primeira na qual votei para presidente. Eu tinha 29 anos e votei encantado no Lula, de estrelinha de metal e camiseta. Estava no meio do doutorado no Fermi Accelerator Laboratory, em Chicago. Fizemos uma grande campanha entre os brasileiros em Chicago para que todos votassem, mesmo que fosse no Collor. Naquela época, eu achava que era fundamental participar das eleições mesmo votando contra o meu candidato, para fortalecer a nascente democracia brasileira. Embora o Collor (Movimento Brasil Novo, lembra algo?), tivesse um discurso muito udenista, voltado para a “caça aos marajás” , muito agressivo contra o serviço público, a eleição era entre dois candidatos que supostamente participavam do campo democrático. Anteriormente, eu já havia participado de campanhas para deputados progressistas do PMDB, nas eleições de 1982, mas votar para presidente pela primeira vez, no Lula, longe do Brasil, foi uma experiência marcante que irei repetir no próximo domingo.

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.49.23Igor Vieira e Júlia Fernandes

Após tantos ataques sofridos no governo Bolsonaro, a Academia decidiu reagir. Não basta mais eleger um presidente que respeite a ciência. Diante dos retrocessos, é preciso ganhar força no Congresso e nas assembleias legislativas de todo o país. De olho nisso, o Observatório do Conhecimento lançou no dia 20 uma campanha para identificar e destacar nomes comprometidos com a liberdade acadêmica, a autonomia universitária e o financiamento adequado para as pesquisas. Até o momento, 49 candidatos receberam o selo “Eu sou amigo da Ciência”.
Somente no Rio de Janeiro, Jandira Feghali, Dani Balbi (ambas do PCdoB), Tatiana Roque (PSB), Chico Alencar, Renata Souza, David Gomes (os três do PSOL), Marina do MST e Camila Marins (PT) subscreveram o pacto pelo conhecimento. Fora do estado, além destas siglas, há representantes da Rede, do Partido Verde e do Solidariedade.
“Para que se tenha uma bancada forte pela ciência, é fundamental que ela seja formada por deputados e senadores de diferentes espectros ideológicos, já que a ciência é uma pauta transversal”, afirma a professora Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ e coordenadora do Observatório. “A ciência é um espaço de mobilidade social, de invenção de novos mundos e de melhoria do atual”, reforça.
De acordo com levantamento feito pelo Observatório, rede formada por associações de docentes de várias partes do Brasil, as áreas da Ciência e da Educação sofreram cortes que já somam R$ 100 bilhões, nos últimos sete anos. Justamente o contrário do que deveria ser feito em um país que ainda precisa crescer muito. “A ciência é um lugar de agregação de valor de produção de tecnologia. Isso indica que os investimentos que são feitos têm retorno imediato, o que é muito bom para o Estado”, explica Mayra.
O Observatório não foi o único a se movimentar neste terreno eleitoral. “Inicialmente eu pensava que cabia à sociedade civil alertar aqueles que fossem eleitos sobre a importância da ciência e da tecnologia. Mas depois dos ataques que nós sofremos, eu estou achando interessante ter essa mobilização”, relata Fernanda Sobral, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
A SBPC elaborou um caderno com propostas sobre diferentes temas, o Projeto Brasil Novo. O documento, entregue a candidatos aos Poderes Legislativo e Executivo, também já reúne assinaturas de diferentes partidos políticos. Fernanda Sobral afirma que a ideia é fazer o público checar “se o candidato está de acordo com as causas”. Um dos trechos do caderno aponta que “para a reconstrução do país, é necessário que haja recomposição e ampliação do investimento público em Ciência, Tecnologia e Inovação”. A Academia Brasileira de Ciências também não ficou parada. Indicado para falar em nome da ABC, o professor Aldo Zarbin (UFPR) afirma que “a Academia está o tempo todo dialogando com os candidatos. Em cada questão que envolva a ciência e a tecnologia, e que precisa ser apreciada pelo Legislativo, ela está na frente de batalha junto com a SBPC e com algumas outras entidades”.
Zarbin defende a eleição de cientistas para o Congresso. “Nós temos, hoje, na Câmara, e até mesmo no Senado, representantes que têm comprometimento com a causa, mas não são cientistas. A importância de se ter cientistas é porque estamos falando de pessoas que sabem exatamente quais são os desafios da área”, diz. “Eles sabem o que significa cada projeto de lei que é votado, cada emenda, cada proposta, ou qualquer outro fator relacionado ao financiamento de ciência e tecnologia no país. A gente vai ter que gastar menos esforço para conseguir aquilo que realmente interessa à ciência”.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), que está em seu sétimo mandato, afirma que “as pautas avançam no Congresso de acordo com as pressões dos blocos que as defendem e com a mobilização da sociedade civil organizada”. Para a veterana, o cenário é de esperança. “Tenho uma enorme expectativa de que os brasileiros e brasileiras têm consciência da necessidade da mudança. E ela virá”, conclui.

DEPOIMENTOS DOS CANDIDATOS AO JORNAL DA ADUFRJ

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.31.59 3TATIANA
ROQUE
(PSB/RJ)
Candidata a deputada federal

A situação no Congresso vai ser muito adversa e Lula, sozinho, não será suficiente para fazer as mudanças necessárias. Precisamos ter pessoas lá que sejam capazes de argumentar e de trazer também a sociedade e a própria universidade para dentro do Congresso Nacional para a gente pressionar, reivindicar e poder dar a prioridade que a universidade e a ciência merecem. A primeira medida será ajudar Lula a derrubar o teto de gastos. Ele já se comprometeu com essa pauta. Quando fui presidente da AdUFRJ, fizemos uma grande campanha contra o teto, mas vamos precisar de uma grande ação no Congresso Nacional. Acho que o mais importante de ter uma pessoa que seja cientista e da Universidade é ter essa bancada da ciência para enfrentar o negacionismo. Precisamos também criar discursos que sejam compreensíveis, que tragam a sociedade para o nosso lado e também fazer a ponte com a própria universidade, os movimentos e as entidades representativas.

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.31.59 2JANDIRA
FEGHALI
(PCdoB/RJ)
Candidata a deputada federal

As pautas avançam no Congresso de acordo com a pressão dos blocos que as defendem e da mobilização da sociedade civil organizada. Para fazer avançar matérias relacionadas à ciência e à educação, é fundamental ter uma bancada expressiva que as defendam. Depois de quatro anos de muitos retrocessos, quero crer que a sociedade entendeu que a negação da ciência, da cultura e da educação tem consequências diretas na vida das pessoas. Isso ficou muito claro nos milhares de mortes evitáveis durante a pandemia. Por isso, tenho uma enorme expectativa de que os brasileiros e brasileiras têm hoje consciência da necessidade da mudança. E ela virá.

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.31.59 1RICARDO
GALVÃO
(REDE/SP)
Candidato a deputado federal

A visibilidade que alcancei com minha atitude (do embate contra Bolsonaro, quando diretor do INPE), tanto nacional como internacional, levou vários colegas da academia a sugerir que eu aceitasse envolver-me na política para defender, de forma mais assertiva, a Ciência Brasileira. Nunca havia pensado em um dia entrar para a política. Essa “pressão” e, principalmente, o convite de Marina Silva me levaram a tomar essa decisão. Uma bancada forte, composta de parlamentares com larga experiência profissional na educação e na atividade cientifica, teria grande respeitabilidade da sociedade e, portanto, maior representatividade no Congresso. Na educação formal, temos que melhorar substancialmente o nível de aprendizado em ciências naturais, e não somente de português e matemática, desde o ensino fundamental ao ensino médio. Os alunos devem ter muito mais contato com atividades experimentais, e assim aprender a formular modelos que explicam seus resultados.

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.31.59DANI BALBI
(PCdoB/RJ)
Candidata a deputada estadual

Os fatores que negritam a importância de uma bancada da ciência é lutar por mais recurso e autonomia para que as instituições possam funcionar no desenvolvimento social, econômico e humano do estado e na formação em nível superior de ponta de profissionais que possam superar a marginalidade e o desemprego. Para isso, devemos recompor as Faetecs, e ter anotações orçamentárias específicas para a Secretaria de Estado de Educação, para as Universidades e para a Faperj. Para ter uma ciência que de fato intervenha no desenvolvimento técnico, tecnológico, econômico; que gere emprego e renda; que mantenha um altíssimo nível de formação e pós-graduação, além das iniciações científicas, precisamos de ao menos 3,5% da receita líquida estadual para a Faperj. Hoje, a legislação prevê 2%. Os critérios meritocráticos para a concessão de bolsas da Faperj devem ser alterados, pois não auxiliam os alunos pretos, pobres, lgbtqia+ e das mulheres na continuidade dos estudos de ensino superior e na pesquisa.

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.31.58ENFERMEIRA
CARLA PRADO
(Solidariedade/MG)
Candidata a deputada estadual

Minha posição política não é necessariamente de esquerda, mas me alinho ao entendimento de que a educação deve ser prioridade em qualquer Estado. É importante investir em educação pública de qualidade em todos os níveis e garantir acesso amplo ao ambiente educacional público básico, médio e superior. Estudei em escola pública a vida inteira, me formei na Universidade Federal de Uberlândia. Toda a minha formação foi pública, gratuita e de qualidade. Essa perspectiva claramente afeta a minha percepção, pois eu jamais teria condições de pagar pelos meus estudos e se tenho qualidade de vida hoje é fruto do que estudei. Todos os países desenvolvidos investem na formação do seu povo. Uma bancada forte em defesa da educação significa trazer esse tema e essa importância para o centro das discussões públicas do Brasil. A ciência está ligada à produção de conhecimento. Sem investir nela, o país fica estagnado e dependente do que é produzido fora.

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.22.54 2Fotos: Fernando SouzaHá muitas maneiras de fazer política e de confraternizar, e juntar as duas opções pode ser uma boa ideia. Na sexta-feira passada (23), a diretoria da AdUFRJ recebeu professores e professoras para conversar sobre a conjuntura política às vésperas da eleição, em clima de descontração. O “Sextou” reuniu os docentes no Fórum de Ciência e Cultura, em noite fria e chuvosa, com um debate animado e cheio de boas ideias.

Os professores de Ciência Política Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ, e Josué Medeiros foram os facilitadores da conversa, respondendo perguntas ou comentários dos presentes. A eleição, é claro, foi o tema principal do debate. “Essa eleição não é uma eleição normal. Porque ela não é uma eleição entre dois candidatos, mas entre continuar a ter democracia ou mergulhar no autoritarismo”, resumiu Josué.

O professor do IFCS/UFRJ se apoiou no trabalho sobre a crise da democracia e o monitoramento eleitoral feito pelo Núcleo de Estudos sobre a Democracia Brasileira (Nudeb), laboratório que coordena, para apontar dinâmicas peculiares do atual processo eleitoral. “Existem dinâmicas nessa eleição que apontam para mais autoritarismo, como, por exemplo, a bancada da bala. Ter muitos candidatos que defendem armamento é um sinal de que, mesmo que o Lula ganhe, vamos ter dinâmicas que defendem o autoritarismo ainda vivas”, explicou o professor. Por outro lado, ele apontou aspectos positivos, como candidaturas antirracistas ou a bancada do cocar, que ganharam bastante destaque na cena política da esquerda.

Mayra Goulart citou as mudanças na lei eleitoral feitas para aumentar a participação de mulheres e pessoas negras na política. Pelas novas regras, votos em candidatos destes grupos têm peso maior na divisão do fundo eleitoral. “Quando você atrela esse voto ao recebimento desses fundos, você faz com que esses partidos tenham viabilidade eleitoral”, explicou. Ela acredita que, no futuro, teremos um Congresso diferente, mas fez uma ressalva. “Não adianta querermos que sejam mulheres e pessoas negras com as quais a gente concorda. Não adianta fazermos cara de enojados se forem mulheres conservadoras”, defendeu.WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.24.24

Mayra foi além para explicar as motivações das mulheres conservadoras e o papel do campo progressista nessa disputa: “As mulheres conservadoras são a grande variável dessa eleição. A esquerda só teve penetração popular quando foi conservadora nos costumes. Pensamento progressista é pensamento de elite”, avaliou.

A conversa não poderia deixar de falar de atuação sindical, e foi Mayra quem respondeu uma pergunta sobre o que esperar dos movimentos sociais e sindicais em um eventual governo Lula. “Temos que fazer uma atuação muito consistente dentro do Andes, porque a política da atual diretoria do sindicato nacional é de ‘fora todos’, da condenação da política enquanto espaço de negociação e convivência de diferenças. No ambiente político, nós temos que conversar com pessoas que são divergentes, e a atual diretoria do Andes não é capaz de fazer isso”, ponderou. Para ela, com um governo que estará aberto a negociações, é preciso negociar. “Para isso é preciso superar um certo infantilismo, que às vezes permeia o movimento sindical”, defendeu.

WhatsApp Image 2022 09 30 at 20.24.44Para o professor João Torres, presidente da AdUFRJ, o balanço do encontro foi positivo. “No início, fui reticente quanto à realização do Sextou. Mas, mesmo antes de a conversa começar, eu me dei conta que o movimento sindical não pode ser feito apenas no espaço do sindicato, durante reuniões e assembleias, mas também em outros espaços de convivência”, ressaltou. João lembrou que o momento é propício para confraternizações e encontros fora do espaço acadêmico. “Foram dois anos de isolamento. Nosso reencontro não pode acontecer só no sindicato ou nos corredores da UFRJ. Vamos repetir, talvez com outros formatos”, acrescentou.

bandeira adufrjFoi em 1989 a primeira vez em que a voz rouca de Lula nos convocou a colocar a estrela no peito e nos livrar do medo de ser feliz. Em 33 anos, muitos de nós se decepcionaram com o pragmatismo dos governos petistas e aposentaram as estrelinhas de metal. Hoje, no entanto, não é dia de cavucar velhas mágoas. Ao contrário, temos mais uma vez a oportunidade de trocar o medo pela esperança, e enterrar 48 meses de pesadelo bolsonarista.
A diretoria da AdUFRJ se orgulha de ter se antecipado e declarado voto em Lula antes das outras seções sindicais do país. Não fizemos isso por simpatia incondicional ao criador do Reuni e das cotas. Fizemos apenas por avaliar que era o candidato com maiores condições de nos livrar da chaga de Bolsonaro e de tudo que ele representa para a universidade, para a Ciência e para os direitos humanos.
Há cinco meses, nosso jornal trata do tema, direta ou indiretamente, com reportagens sobre cortes orçamentários e análises do cenário político nacional. Somos professores universitários e experientes o suficiente para saber que a eleição de Lula não é uma panaceia que irá resolver tudo do dia para noite. Mas é o que temos pra hoje e onde devemos concentrar nosso foco. Falta pouco e esse pouco será melhor e menor se a vitória final vier depois de amanhã, na noite de 2 de outubro.
Ganhar no primeiro turno não é massacrar o direito de outras candidaturas se apresentarem. É reduzir o flerte com ameaças golpistas e antecipar o triunfo da democracia, usando inclusive a blindagem das eleições parlamentares. Isso porque os parlamentares eleitos, mesmo os do campo bolsonarista, não estarão dispostos a rever o resultado das urnas que os elegeram, e portanto, não irão aceitar uma revisão do pleito.
Terminamos a edição da semana com a ansiedade juvenil de não fazer ideia se haverá ou não segundo turno, mas temos a certeza de que os professores da UFRJ estão no lado bom da História e irão cerrar fileiras para defender a democracia. E um dos pilares dessa defesa é a escolha de uma bancada parlamentar comprometida com a produção libertária do conhecimento. Tema, aliás, de manifesto lançado pelo Observatório do Conhecimento aos candidatos ao Legislativo e de artigo da reitora da UFRJ, na contracapa desta edição.
Também há nesta edição uma análise robusta do debate de quinta-feira, a partir do olhar de professores da UFRJ. Em síntese, nossos colegas do IFCS e da Escola de Comunicação elogiaram um Lula firme, mas criticaram o formato desgastado do debate, que abre mais espaço para provocações e caricaturas que nada contribuem para a política e para a democracia, do que para o amplo confronto de ideias e programas eleitorais.
Enfim, depois de debates ruins, pesquisas inconclusivas e a semana mais longa de nossa história recente, esperamos que o domingo termine com Baco, numa deliciosa festa, que encerre quatro anos de tristeza. Pois, como ensina o professor de História Luiz Antonio Simas, em seu livro “O corpo encantado das ruas”: “Sem o repouso das alegrias, cá pra nós, ninguém segura o rojão”.
Boa leitura, e Lula Lá!

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