Num contexto de ataques à universidade pública e aos servidores, o ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, abriu o ano letivo da Coppe, na sexta (22). Mas pouco de concreto foi falado sobre o trabalho à frente do ministério. A aula inaugural transcorreu de forma diferente das que costumam ser realizadas na Academia. Predominou o tom de palestra motivacional, baseada em sua história de vida: o garoto pobre de Bauru que virou piloto, engenheiro e, depois, astronauta.
"Que vocês tenham um grande sonho. Nós queremos criar o caminho para vocês. Essa é nossa função aqui", disse o ministro. Em dois momentos da aula inaugural, quando se referiu a momentos delicados de sua carreira, a produção do encontro chegou a soltar uma trilha sonora suave no ambiente do auditório.
Em dois telões, foram veiculados flashes de sua trajetória pessoal e até mesmo um breve vídeo com declarações inspiradoras do piloto Ayrton Senna, falecido em 1994. Ou frases como "Semeie um caráter e você colherá um destino".
Pontes chegou a explicar por que deixou a NASA e, temporariamente, a possibilidade de voar novamente em um foguete espacial – Marcos Pontes realizou uma missão de 10 dias no espaço, em 2006 – para assumir o ministério: "Isso é missão para o país. Está acima do meu sonho. Por isso estou aqui. É muito mais dor de cabeça, mas estou aqui para ajudar".
O discurso do ministro agradou à comunidade acadêmica: Pontes reconhece a falta de recursos, os contingenciamentos, a ausência de concursos e equipamentos. "Ciência e Tecnologia é uma das coisas mais importantes que existem em qualquer país. Por que deixamos C&T de lado?", questionou.
Pontes também mostrou serenidade quando alunos da Associação de Pós-graduandos da UFRJ exibiram uma faixa em defesa da universidade pública e gratuita, dizendo que "Ciência não é Mercadoria". "Concordo. Podem ficar aí, podem ficar à vontade", disse, quando alguns assessores tentaram retirar o protesto do local.
Segundo ele, é importante convencer os políticos sobre a importância da pesquisa científica e seus retornos para a economia e para a qualidade de vida das pessoas. "Precisamos mostrar isso. Não basta eu pedir recursos. Os ministros das outras áreas também estão pedindo", afirmou.
No que depender do que viu na UFRJ após a aula inaugural, Pontes terá bastante material para mostrar aos parlamentares: passeou no MagLev, um trem de levitação magnética; conheceu uma parte da exposição "Exploradores do Conhecimento"; e andou num ônibus híbrido elétrico-hidrogênio. No Parque Tecnológico da universidade, visitou o tanque oceânico que ajuda nas pesquisas da extração do petróleo em alto mar e conheceu uma técnica de dessalinização por membranas.
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"Que esse ato seja transformado em manifestação de apoio à Universidade e à qualidade de sua produção de conhecimento para emancipação e resistência da juventude e do saber brasileiros". Foi com essas palavras que o dramaturgo e teatrólogo Amir Haddad retribuiu à UFRJ o recebimento do título de Doutor Honoris Causa. A solenidade ocorreu no Salão Pedro Calmon, no campus da Praia Vermelha, na noite de 20 de março.
A maior honraria da universidade foi concedida em reconhecimento à imensa obra do co-fundador do Teatro Oficina, em 1958: “O teatro é eternamente jovem e eternamente velho”, afirmou Amir, de 81 anos.
Durante o discurso, Amir Haddad também defendeu o ensino público, gratuito e de qualidade: "Sempre estudei em escola pública. Jamais tive que pagar para saber o que sei e ser o que sou”. Ele valorizou o papel da arte na vida das pessoas: "Essa arte que não se vende, que não se compra; que se realiza no encontro do artista e sua obra com todo e qualquer cidadão, em todo e qualquer lugar; sem distinção de nenhuma espécie”.
Ao final da cerimônia, o grupo “Tá na Rua”, fundado pelo dramaturgo em 1980, fez uma apresentação especial para saudar o homenageado da noite.
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