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Uma das primeiras medidas será a criação de uma carta com todos os serviços da escola para a comunidade acadêmica; presença feminina é destaque

No comando da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ pelos próximos quatro anos, as professoras Ivana Bentes e Suzy Santos já querem agir: uma das primeiras medidas será a criação de uma carta com todos os serviços da escola para a comunidade acadêmica. O documento terá esclarecimentos para os estudantes, mostrando qual o trâmite para obter o diploma, por exemplo, até os cursos de extensão oferecidos pela escola. “Temos de mostrar que não só a nossa produção acadêmica é de altíssima qualidade, mas os nossos serviços também”, disse Ivana. As docentes tomaram posse ontem (12), no salão Oduvaldo Vianna Filho, na Praia Vermelha.

Ivana comemorou a grande participação de mulheres em sua gestão, a mais feminina na história da ECO. “Acho muito importante que as mulheres estejam nos espaços de poder e decisão. São questões de acolhimento, de uma gestão mais afetiva”, avaliou. Esta não será a primeira vez que a docente estará à frente da ECo: Ivana passou pela direção entre 2006 e 2013. “Minha primeira gestão foi no auge dos recursos, dos debates das cotas, da discussão sobre o Reuni, o programa de reestruturação das universidades públicas. Neste momento, não temos esse respaldo. Ocenário é de congelamento de custos”, afirmou. “Nossa gestão será na alegria e na crise”, brincou.

Suzy Santos, novata na direção, ressaltou também a diversidade da nova diretoria. “Eu venho do Sul, e Ivana, do Norte. É um encontro de culturas”. A docente falou sobre a necessidade de resistência da universidade. “A universidade pública está sofrendo um ataque brutal, justamente porque sempre foi espaço de multiplicidade de ideias e de resistência”, pontuou.

O reitor Roberto Leher, que participou da solenidade, reforçou o momento de dificuldade das universidades públicas. “Em todos os aspectos, temos ataques à autonomia universitária, como o exemplo do professor (Elisaldo) Carlini”, em referência ao docente da Unifesp que precisou prestar depoimento à polícia por sua pesquisa sobre drogas. “Estamos numa ofensiva para manter a autonomia e precisamos debater o que entendemos por democracia, cultura e artes”, concluiu.

Amaury Fernandes agradeceu à comunidade acadêmica por sua gestão, classificada como difícil pelo momento de crise. “Entrego a gestão para a Ivana com muita felicidade, com o sentimento de que tudo que prometemos nós cumprimos”, disse.

Lilia Guimarães Pougy, decana do CFCH, destacou o protagonismo da ECO na integração acadêmica da Praia Vermelha. “Vamos permanecer atuando para encontrar agendas comuns e identificar o que nos une para construir pautas coletivas”, afirmou.

Campanha da associação docente em resposta à intervenção federal na segurança pública do Rio foi um dos destaques da manifestação no Centro da cidade Em um bandeirão de quase 70 metros quadrados, o desenho de uma mulher em tons de lilás e rosa flutuando graças a um balão branco. Ao lado, os dizeres “A luta pela paz é feminina”. A campanha da Adufrj em resposta à intervenção federal na segurança pública do Rio foi um dos destaques da manifestação do 8 de Março, no Centro da cidade. O tecido foi agitado por professoras e estudantes e abriu a passeata que tomou a Avenida Rio Branco. Confira fotogaleria do ato “É claro que a questão da segurança é importante para todos”, afirmou a presidente da associação docente, professora Maria Lúcia Teixeira Werneck. “Mas as metas da intervenção federal não estão claras”. Ela completou com a motivação para a campanha: “Sabemos que as mulheres e as crianças são as pessoas que têm a rotina mais afetada pela militarização do cotidiano”. A participação da Adufrj dialogou com o tema do ato: Não à Intervenção Militar, É Pela Vida de Todas as Mulheres. “Seria impossível vir para a rua, no Dia Internacional das Mulheres do Rio de Janeiro, sem falar da militarização da vida das mulheres nas favelas. Foi consenso”, justificou Iara Amora, da Casa da Mulher Trabalhadora (Camtra), uma das entidades organizadoras. A diretoria da associação docente compareceu em peso à atividade para distribuir boletins, adesivos e camisas da campanha. “Somos a associação dos docentes e das docentes da UFRJ”, frisou a diretora Maria Paula Araújo.  “Acompanhamos e somos solidários às lutas pela igualdade”, completou. Diversidade na manifestação A Marcha de Mulheres do Rio acolheu reivindicações diversas. Contra o racismo e o machismo ou em defesa do aborto seguro. Creche para os filhos e repartição do trabalho doméstico. Educação pública e Estado laico. Terra e dignidade para as indígenas. Preservação dos direitos trabalhistas e respeito para os LGBTTs. Poder para elas na política e democracia real. Durante o ato, o carro de som foi detalhe. Os destaques foram as vozes, os textos em cartazes ou nos corpos, as mensagens flamejando em bandeiras de todo tipo. Em cima de pernas de pau, mulheres carregaram a faixa “Juntas somos gigantes”. Doulas, profissionais que assistem mulheres que serão mães, denunciaram o parto desumanizado. Prostitutas lembraram “estamos aí” no feminismo.  A Resistência Feminina, iniciativa de fotógrafas como Ana Carolina Fernandes, Luciana Whitaker e Bel Pedrosa, desde cedo, registrava mulheres na concentração, posando com seus dizeres. O que mais incomoda no machismo? Confira alguns depoimentos de participantes da Marcha do 8M, no Rio de Janeiro: “As brasileiras estão sintonizadas com as lutas das mulheres no mundo. A Espanha é um dos exemplos. As mulheres se colocam contra as guerras, contra o desemprego e ao mesmo tempo por políticas sociais como a saúde a educação”, Ligia Bahia, vice-presidente da Adufrj. “O machismo velado é o pior. É muito triste também ver mulheres diminuindo as outras. Sou de uma geração que enfrentou o machismo, conquistou avanços e abriu espaço para outras. Mas cabe à geração atual chegar à igualdade”, Denise Pires de Carvalho, professora do Instituto de Biofísica. “O pior é a naturalização da coisa, homens sem constrangimento fazendo falas indevidas, agredindo em casa companheiras e filhos. A universidade não está à margem do problema”, Rogéria de Ipanema, professora da Escola de Belas Artes. “A mulher indígena enfrenta preconceito para tudo, até pegar metrô é ruim. Na aldeia, não temos nada e na cidade é pior. Meu filho passou para Federal Rural (UFRRJ), mas não temos o tanto de documento que exigem. A universidade devia debater a questão indígena”, Potira Guajajara. “É a impotência que eles impõem para a gente o tempo todo com coisas do tipo: normal você não conseguir, você é mulher. Sempre jogando para baixo, fazendo a gente se sentir mal por ser mulher”, Vitória Helena, secundarista. “Conviver com o racismo que nos tiram os entes queridos todos os dias é a pior parte. E as mulheres de axé, de religião de matriz africana, ainda enfrentam a discriminação, tendo terreiros violados e quebrados, sendo apedrejadas na rua. Estamos com um prefeito que promove o ódio e desrespeita o Estado laico, previsto na Constituição Federal”, Adriana Martins, da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB). “Estou na luta pelas mulheres desde as mobilizações para revisão da CLT em favor delas, ainda na ditadura. Participei do lobby do Batom na Constituinte que trouxe várias conquistas. De tudo, só não conseguimos avançar nada na descriminalização do aborto”, Leonor Paiva, advogada. “Um cara pode estar, em qualquer idade, trajando qualquer roupa, nos lugares. Se é mulher, é bem diferente. Você não tem essa disponibilidade. O transporte, por exemplo, é pensado na lógica do ir e vir para o trabalho. As mulheres não sentem conforto ou segurança para se movimentar na cidade”, disse a educadora que preferiu se identificar apenas como Sandra.

Diretora da Escola de Comunicação destaca papel das redes no novo feminismo A professora Ivana Bentes, diretora da Escola de Comunicação da UFRJ, destaca papel das redes sociais no debate do novo feminismo. Qual a relação entre as redes sociais e o feminismo?  As redes sociais permitiram que experiências singulares, relatos pessoais em postagens, ganhassem visibilidade a ponto de viralizar e mover campanhas como “Primeiro Assédio”, “Agora é que são elas”, “Chega de Fiu Fiu”. Em todas elas, a tecnologia foi instrumento para questionar situações até então naturalizadas. A “Chega de Fiu Fiu” mudou a ideia da paquera na rua. No Oscar ou em Cannes, vemos manifestações contra o assédio e por mais representação feminina. Esse é um movimento global. As redes também pressionam por mudanças de posturas de empresas e suas publicidades. A mídia reflete isso, vide a Globeleza, que acabou sendo vestida. O caso dela trazia dupla carga: a da objetificação da mulher e do legado da escravidão negra. A internet contribuiu ainda para massificar novos conceitos e vocabulários como empoderamento, lugar de fala e sororidade.  Por que você relativiza a objetificação no clipe “Vai Malandra”, da Anitta?  A Marcha da Vadias trouxe uma contribuição importante sobre isso. Quando a mulher decide vestir uma roupa que quer, isso não é carta branca para outros acessarem o corpo dela. As meninas do funk chegaram antes nesse debate, afi rmando suas roupas sensuais e que gostavam de ser popozudas. Eu brinquei que a bunda de Anitta no clipe era sujeito e não objeto.  O feminismo hoje é mais diverso?  Tivemos uma geração feminista mais assertiva importante, que abriu muitas portas. Mas, hoje, vejo um movimento mais fluido. Algumas não vão abrir mão do batom ou salto alto. Outras se recusam a qualquer intromissão no corpo, depilação e afins. Sobre objetificação, acredito que há um quê moralista, fruto da origem histórica branca do feminismo. Um exemplo de questão mal colocada, a meu ver, é o debate sobre a prostituição. Há feministas que ignoram as demandas dessas mulheres, inclusive trans, por regulamentação.  Qual é o próximo passo?  É fundamental mover as estruturas nos ambientes de trabalho, universidades, redações. Enquanto as mulheres não estiverem nos lugares de decisão, a mudança não vai acontecer. Estamos com uma equipe 100% feminina na Escola de Comunicação. Começou de forma inconsciente, mas agora é política. Na ECO, um docente foi suspenso por assédio. Levou dez anos para que um grupo de alunas, no contexto da Primavera Feminista de 2017, formalizasse a denúncia. Não se trata de caça às bruxas, mas não dá mais para deixar passar.

Lena Lavinas, professora titular do Instituto de Economia da UFRJ, observa uma piora em indicadores de emprego para mulheres. Qual o cenário profissional das mulheres?  Nos últimos 40 anos, a diferença salarial entre homens e mulheres diminuiu em função de fatores como a queda na taxa de fecundidade de 6,5 para 1,7 fi lhos, o aumento da escolaridade feminina e a mudança de conjugalidade. O crescimento de vagas sem identificação, como concursos públicos, por exemplo, contribuiu para ampliar a participação das mulheres. Mas observamos depois uma estagnação nos indicadores de igualdade. E, agora, uma piora relacionada à redução do emprego, flexibilização e precarização. As reformas trabalhistas e da terceirização são reflexo destas mudanças.  Por que o aumento de escolaridade não se reflete nos salários e nas chefias? São questões de poder, não de escolaridade. As mulheres são discriminadas, muitas vezes ridicularizadas, quando em situações de liderança. Sobretudo em espaços de grande competição. A universidade é um exemplo: das 69 federais apenas 19 têm reitoras. As mulheres estão pouco representadas nas carreiras de melhores salários e de ponta hoje como Finanças, Tecnologia e Inovação. Elas estão concentradas em áreas em declínio. São maioria na Engenharia Química, que sofre o impacto da mudança da matriz energética do petróleo, e estão sub-representadas na Engenharia de Produção.    Qual a importância dos serviços públicos para elas?  Os serviços públicos afetam duplamente as mulheres, porque representam postos que elas têm chance. E também porque liberam o tempo delas para o trabalho remunerado. O encolhimento das provisões do Estado penaliza mais as mulheres. Com o teto de gastos, por exemplo,quem prestará os serviços de cuidado que serão suprimidos?   Por que não equiparar o tempo de contribuição previdenciária entre homens e mulheres?    Nosso modelo de previdência é redistributivo, do jovem para o idoso e dos homens para mulheres. É correto. As mulheres têm um histórico de intermitência no trabalho em função da dedicação à família. Elas buscam trabalhos que possam compatibilizar o trabalho remunerado com o doméstico e têm mais dificuldade para alcançar trabalhos protegidos. Seis meses de licença-maternidade não são nada. E elas enfrentam barreiras para voltar ao mundo do trabalho, depois que se afastam. Por isso, há a diferença entre dois ou três anos, que se pratica hoje. Por isso também a previdência por capitalização (privada) é sempre pior para elas.

Professora da Faculdade de Educação diz que luta feminista demorou a incluir demandas das mulheres negras Giovana Xavier, professora da Faculdade de Educação da UFRJ e uma das idealizadoras do catálogo "Intelectuais Negras Visíveis", alerta: a invisibilidade é uma forma de dizer que aquele lugar não é reservado para mulheres negras. Qual o desafio da mulher negra hoje?    Temos um problema real, o fato de a sociedade brasileira invisibilizar e não valorizar nossa importância. Assim, todas as nossas pautas são consequência da invisibilização e da objetificação de que temos sido alvo. Invisibilidade no mundo acadêmico, no mundo do trabalho. O desafio não tem de ser apresentado para a mulher negra, mas para a sociedade: jamais naturalizar essa questão e procurar alternativas.  Quais seriam essas alternativas?  Reivindicar ajuda a construir um projeto de democracia no qual tenhamos nossa participação reconhecida. A alternativa principal tem de ser em termos de macropolíticas, de reconhecimento, pelas políticas públicas, dessa invisibilidade da mulher negra. Na UFRJ, um levantamento recente mostrou que menos de 3% dos professores se declaram negros. Representatividade importa. Temos de achar uma forma de assegurar que conteúdos produzidos por pessoas negras vão ser trabalhados. Temos de selecionar e usar em sala de aula autores e autoras negros. Na verdade, a invisibilidade é uma forma de falar que esse lugar não é para a mulher negra, e é isso que precisamos enfrentar por meio de um programa institucional.    Dentro da luta feminista, como situa a luta da mulher negra?  O feminismo não é uma coisa só. Nenhum movimento social é. O que sempre entendemos como feminismo universal é o feminismo branco. A ideia de feminismo não reconhecia as experiências das mulheres negras. Inclusive o feminismo, tal como o conhecemos, esteve associado ao fato de haver um trabalho do méstico, exercido por mulheres negras. Mas tem havido uma pressão de diálogo, e uma escuta maior, nos movimentos feministas, do feminismo negro. Estamos discutindo inclusive o lugar que a branquidade ocupa nessa luta. Não queremos um movimento paralelo.  Que pautas a senhora destacaria na luta feminista negra hoje?  Destaco a educação pública, com ênfase em condições salariais, planos de carreira para os professores, e também em projetos que apostem na educação pública como um lugar de formação, de fortalecimento de cidadania, de ascensão, de mudança social, para romper com aquela ideia estigmatizada da escola pública como o que sobra. A outra coisa que considero prioridade é o reconhecimento de direito para pessoas e, particularmente, mulheres trans. Acho que é uma pauta ainda muito pouco valorizada no feminismo.  

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