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WhatsApp Image 2022 12 16 at 20.43.26 1Júlia Fernandes

O simbólico mês de dezembro, sinônimo de férias e de celebração, se transformou em pesadelo para muitos. Os cortes do governo Bolsonaro deixaram terceirizados, extraquadros dos hospitais universitários e estudantes à míngua. Muitos relataram à reportagem da AdUFRJ momentos de desespero. É o caso de Claudia Lacerda, aluna do curso de Letras, que mora sozinha com o filho João Miguel, de 5 anos, e não consegue comprar os remédios da criança, que sofre com uma cardiopatia. “Eu chorei bastante, fiquei desesperada”, conta.
A solidariedade de familiares, colegas e professores é a última fagulha de esperança. Muitos receberam ajuda para pagar o aluguel, as contas da casa, e ter o que comer. “É um absurdo! São mães e pais de família que dependem desse salário. Tem gente chorando por causa da cobrança do aluguel, da fatura dos cartões”, relata o terceirizado Everaldo Gomes Leal. Maria Eduarda Lopes, estudante de Farmácia, foi uma das que conseguiu se tranquilizar por conta de uma ajuda financeira. No caso, foi o professor de Maria, coordenador do laboratório em que ela trabalha, que aliviou a angústia. “Ele foi um pai pra mim. Foi a minha última esperança”, detalha a aluna.
Enquanto os pagamentos continuam incertos, o trabalho segue, como dá. “Muitos extraquadros não conseguem mais vir ao trabalho porque não têm dinheiro nem para pagar as passagens. O que sinto é angústia e descaso”, diz uma funcionária extraquadro do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, que prefere se manter no anonimato. Para muitos estudantes, além do prejuízo financeiro, o abalo emocional tem impedido que tarefas sejam cumpridas. “Quando não se tem dinheiro, não se tem cabeça para nada. Além de eu não conseguir fazer os trabalhos da faculdade, estou atrasando a entrega da monografia”, lamenta Jhuly Anne Valério, aluna de História.
A corda bamba emocional provocada pelos constantes cortes de verbas é ilustrada em depoimentos dos mais afetados pela tragédia Bolsonaro. Estudantes e trabalhadores da universidade relatam os dramas enfrentados. Veja abaixo. (Colaborou Igor Vieira)

Claudia Lacerda
Estudante de Letras

Esse mês de dezembro foi um desespero. Já era complicado mesmo recebendo a bolsa, e por isso eu vendia bolo no prédio de Letras. É no dia 5 que as minhas contas vencem e eu faço a compra do mês. Mas o dia chegou, o pagamento não caiu, e eu não tinha dinheiro para fazer compras. Fiquei desesperada. A madrinha do meu filho comprou arroz e feijão. Eu estudo em horário integral e tenho que levar o meu filho comigo para a faculdade. Ele é cardiopata e tem cinco anos. Sem a bolsa, que é a minha principal fonte de sustento, eu não consigo comprar os remédios dele. Até o início do mês, eu estava morando em uma casa compartilhada no Vidigal, mas tive que sair. Precisei pegar dinheiro emprestado para pagar o aluguel em outro lugar e para comprar tudo da casa. E justo nesse momento a bolsa foi cortada. Eu morava no interior da Bahia, em Teixeira de Freitas, e vim para o Rio quando passei na UFRJ. Se não fosse pela bolsa, eu não poderia morar aqui.

Jhuly Anne Valério
Estudante de História

Sou bolsista de Iniciação Científica há quatro anos e dependo desse dinheiro desde o início da graduação. Eu não recebo desde outubro. Paguei meu aluguel com juros altíssimos, e ainda não tenho dinheiro para a conta de luz. Tenho problemas físicos e psicológicos, e eles se agravaram com essas incertezas. Quando não se tem dinheiro, não se tem cabeça para nada. E eu não posso reprovar, senão perco o direito à bolsa. Não consigo mais suportar essa situação. Minha família não tem dinheiro, mas meus pais me ajudam como podem. É muito ruim viver nessa instabilidade. Esses cortes são muito graves, e é preciso expor o que está acontecendo, porque quem tem fome tem pressa.


WhatsApp Image 2022 12 16 at 20.43.26 2Gabrielly Sabóia
Estudante de História

Com o atraso do pagamento da bolsa de Assistência, tive que pagar três contas com juros. Ainda não recebi a bolsa da monitoria. Até o ano passado, eu conseguia fazer “freelas” de comunicação, mas hoje toda a minha renda vem das bolsas. Uso esse dinheiro para pagar minhas contas, comprar remédios e ajudar minha família. Não tenho como ficar sem esse dinheiro. Me inscrevi na campanha UFRJ Sem Fome, porque, ganhando uma cesta básica, consigo pelo menos me virar.


WhatsApp Image 2022 12 16 at 20.43.26 4Fabiana Martins
Estudante de História

Eu recebo três bolsas: Permanência, Alimentação e Transporte. Ao todo, são cerca de R$ 800. Eu dependo desse valor para me locomover até a faculdade, pagar as contas e ajudar minha família. Não posso ter um trabalho de carteira assinada porque recebo essas bolsas. Não só eu, como também as pessoas que moram comigo, dependem desse dinheiro. O sucateamento das universidades, hoje, é um plano do governo. Espero que a pauta da Educação volte a ter importância no ano que vem.

S.
Extraquadro do Hospital Universitário

“Trabalho aqui há 27 anos. Ninguém dá uma satisfação, uma resposta, uma previsão sobre quando vamos receber. Nem contracheque temos. Eu me sinto privilegiada pois sou pensionista, consigo tirar dinheiro do meu bolso para pagar as passagens. E quem não tem isso? Muitos extraquadros não conseguem mais vir ao trabalho porque não têm dinheiro nem para pagar as passagens. Eu amo meu emprego, amo trabalhar com papel, com administração, amo trabalhar no hospital, mas o que sinto é angústia e descaso. Eu não posso sair daqui, estou com 53 anos, não consigo emprego em nenhum outro lugar.”

WhatsApp Image 2022 12 16 at 20.43.26 3Maria Eduarda Lopes
Estudante de Farmácia

Eu trabalho no Laboratório de Bioquímica e Sinalização Celular (LBSC). Recebo bolsa PIBIC, e fui muito prejudicada. A minha sorte é que o meu chefe me emprestou um dinheiro. Ele me ajudou muito. Mas, ainda assim, eu fico prejudicada, porque eu não sei se no mês que vem eu vou receber. Foi algo que me abalou muito. Eu precisava ajudar meu pai e minha mãe, pagar as contas da casa. Não tenho a opção de trabalhar em outro lugar, porque a faculdade é integral. O dinheiro que o professor me emprestou foi a minha última esperança.

Everaldo Gomes Leal
Terceirizado da limpeza do CCS

Nós, que trabalhamos na limpeza, estamos sem receber. É um absurdo! São mães e pais de família que dependem desse salário. Tem pessoas chorando por causa da cobrança do aluguel, da fatura dos cartões. É fim de ano agora, e imagina, você quer presentear o seu filho, mas não tem dinheiro nem para comprar um frango. Se você trabalha, você merece seu salário. Até o adicional de insalubridade, do pessoal do banheiro, que era de 40%, eles baixaram para 20%. Estamos sendo tratados como lixo, ninguém dá importância. Estamos falando de vidas, somos seres humanos.

L.
Terceirizada do bandejão

Nós não sabemos o que fazer, quando vamos receber. Estamos sem o salário e o vale-transporte, que devia ter caído no quinto dia útil. A primeira parcela do 13° salário deveria ter caído no dia 20 de novembro, e a data da segunda parcela é dia 20 de dezembro, mas sinceramente, não acho que vamos receber. Eu moro sozinha, meu aluguel venceu dia 10, e o dono do apartamento não acredita que eu não recebi nada. A empresa não repassa para gente porque o governo bloqueou, e nossos chefes não dão uma satisfação. Se continuar assim, vai ser uma calamidade.

 

Campanha de Solidariedade

Diante do cenário dramático de cortes, a comunidade universitária se uniu. As entidades que compõem o Fórum de Mobilização e Ação Solidária (FORMAS) da UFRJ – AdUFRJ, Sintufrj, DCE Mário Prata, APG e Attufrj – estão fazendo uma campanha de solidariedade para ajudar aqueles mais afetados pelos cortes nas bolsas e salários. A ação, chamada UFRJ Sem Fome, está juntando doações financeiras e convocando voluntários para a compra e distribuição de cestas básicas.
“O governo Bolsonaro é tão vil que ele mira nos salários mais baixos da universidade e do sistema público em geral”, diz o professor João Torres, presidente da AdUFRJ.
Nesse mês simbólico, se solidarizar é mais do que uma opção, é uma urgência. Para Waldinéa Nascimento, dirigente da Associação dos Trabalhadores Terceirizados da UFRJ (Attufrj), essas ações precisam ser mais frequentes. “A empatia é algo que fortalece o espírito e dignifica a alma. Que essa conscientização se torne hábito”.
Para participar da campanha, é necessário preencher o formulário: https://bit.ly/UFRJsemfome.
Quem puder ajudar financeiramente, deve depositar a quantia doada para a seguinte conta:

Banco :Nubank
Ag: 0001
Cc: 877685360
Nome:Catarina
Medina Lovisolo
CPF: 149.144.717-60

bandeira adufrjComecemos pelas boas novas. Empenhada em minimizar o pesadelo kafkaniano que cada docente enfrenta ao pedir a progressão funcional, a diretoria da AdUFRJ tem duas notícias alvissareiras. A primeira é prática. Vamos contratar uma assessoria que irá auxiliar os professores nos processos de promoção. A ideia é ajudar na coleta de documentos, na formatação do relatório de atividades e na tramitação no Sistema Eletrônico de Informações (SEI) da universidade. O serviço será gratuito para todos os sindicalizados.

Ainda na novela das promoções funcionais, o novo capítulo é complicado, mas estamos esperançosos. Queremos reverter os prejuízos impostos aos professores pela resolução do Conselho Universitário que limita os efeitos financeiros e acadêmicos de cada avanço na carreira. Na manhã do dia 9, pouco antes da derrota do Brasil na Copa, participamos de reunião com integrantes da Comissão Permanente de Pessoal Docente (CPPD). O departamento jurídico da AdUFRJ estava presente e enfatizou a ilegalidade das mudanças feitas pelo Consuni.

No encontro, solicitamos à CPPD uma interpretação menos restritiva da legislação vigente. Um ponto de partida seria o mapeamento de processos iniciados antes das resoluções de 2020. Avaliamos que foi uma reunião produtiva e que conseguimos sensibilizar os colegas da CPPD. Após o encontro, apresentamos à Comissão e à reitora um recurso para revogar as medidas do Consuni.

As boas novas ficam por aqui. A semana foi infernal em todos os campi e unidades da UFRJ. Os bloqueios orçamentários ganharam contornos dramáticos. Trabalhadores terceirizados da limpeza, da segurança e do bandejão estão sem receber salários e sem perspectiva de ganhar o 13°, obrigação mínima e legal de todo patrão. Somos solidários a eles e reconhecemos a crueldade de sacrificar o elo mais frágil da comunidade acadêmica às vésperas do Natal.

No decorrer da semana, no entanto, o que era um drama virou dois. Em solidariedade aos terceirizados, o Diretório Central dos Estudantes bloqueou os acessos aos bandejões. Resultado, o IFCS, por exemplo, teve que cancelar as aulas e retomar o remoto. No Fundão, o bloqueio, de um lado, deixou os alunos mais vulneráveis da universidade sem comida. Do outro, reteve mais de 1.500 refeições já preparadas.

O complexo cenário mobilizou todas as entidades representativas da universidade, e após intensa negociação com mediação da AdUFRJ, a reitoria assumiu a tarefa de distribuir as refeições para os moradores do alojamento.

A diretoria da AdUFRJ ressalta que respeita a autonomia e a independência dos movimentos, e repudia qualquer espécie de tutela de uma categoria sobre outra. Entendemos que os trabalhadores têm o direito de cruzar os braços quando não recebem salários, mas discordamos que os alunos assumam a mobilização dos terceirizados, bloqueiem o bandejão, desperdicem comida e deixem os colegas com fome.

Isso sem falar de nossa perplexidade quando, na manhã de quinta-feira, recebemos o pedido de ajuda do DCE para comprar quentinhas para os estudantes. Como assim? Eles bloqueiam o acesso dos colegas e os professores viram cúmplices do desperdício e custeiam financeiramente a redução de danos políticos do movimento estudantil? Não nos parece razoável.

Mas, como o destino, por vezes, é inimigo da insensatez, amanhecemos a sexta-feira com o impasse razoavelmente resolvido e a notícia de que o desastroso governo Bolsonaro começara a devolver o dinheiro das universidades. Que assim seja, com bom senso, solidariedade, luta e respeito.
Boa leitura !

bandeira adufrjJoão Torres
Presidente da AdUFRJ

Estamos no estertores de um governo covarde. No apagar das luzes (retificando, no final das trevas, porque não houve luz nenhuma na gestão Bolsonaro), o Ministério da Economia saqueou os últimos centavos das universidades brasileiras.
Da UFRJ, bloquearam R$ 15 milhões, no primeiro momento. E ainda não repassaram mais R$ 19,3 milhões que seriam usados para pagar bolsas estudantis, bandejão, trabalhadores da segurança, da limpeza e todas as despesas de dezembro.
Não sabemos se isso revela a inépcia de um governo que foi eleito assegurando que iria aumentar a eficiência da administração pública ou se faz parte das estratégias que a extrema direita utiliza para semear a confusão no debate público.
Inépcia ou estratégia, o corte se insere muito bem na luta do bolsonarismo contra as instituições públicas, pois quem realmente depende delas são as parcelas mais vulneráveis da sociedade brasileira. No caso específico dos cortes na universidade, os mais afetados são os trabalhadores terceirizados e os estudantes mais vulneráveis socioeconomicamente.
Para completar o quadro de destruição da ciência, a Capes informa que não tem dinheiro para pagar 200 mil bolsistas no país e exterior pois não há dinheiro!!!! Os bolsistas de pós-graduação dependem das bolsas para sobreviver e, em muitos casos, sustentar suas famílias. Deixá-los sem recursos no fim do ano, às vésperas do natal é uma crueldade que nos surpreende mesmo depois de quatro anos de desgoverno Bolsonaro.
Nos últimos quatro anos, trabalhar na universidade, foi um ato de resistência de estudantes, técnicos, professores, trabalhadores terceirizados e reitores. Como trabalhar numa universidade sem limpeza, sem segurança e sem alimentação para os estudantes? Não escolhemos parar, não estamos em greve, não queremos ir pro remoto, mas estamos numa emergência. E essa mensagem deve ser passada de forma muito clara para a sociedade. Lembramos que muitas das atrocidades do governo que ora se encerra foram normalizadas por grande parte da sociedade e até por alguns colegas professores.
O MEC do último quadriênio reflete a essência do bolsonarismo e sua tentativa de imposição de valores fundamentalistas ao conjunto da sociedade brasileira. A sucessão de chorume que habitou o MEC é um filme de horror.
Ricardo Velez (aquele que dizia que o Brasil não sofreu golpe de estado em 64), Weintraub (aquele que nos chamava de vagabundos), Decotelli (aquele que nem conseguiu tomar posse porque fraudou o Lattes), Milton Ribeiro (aquele com barras de ouro, bíblia e pistola na pasta) e finalmente o atual, Victor Godoy (que executa sem questionamento o apagão no MEC). Cinco criaturas que se dividem entre bandidos ou pusilânimes.
A universidade pública foi escolhida o inimigo número um do governo Bolsonaro com toda a razão. Todo governo com tendencias fascistas teme o livre pensar. Ostentamos esta escolha como uma medalha que muito nos honra. Vamos à luta para reverter esses cortes. E extrema direita nunca mais!

WhatsApp Image 2022 12 08 at 20.50.34 1Foto: Clea Viana/Câmara dos DeputadosNa última quinta-feira, 8, a professora Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ, participou de uma audiência pública na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados. O encontro debateu o corte dos recursos das Capes e das instituições federais de ensino superior. Além de Mayra, participaram representantes da Andifes, da ANPG, do Conif, da Fasubra e do Sinasefe.
Mayra apresentou o Balanço da PLOA, estudo do Observatório que monitora o orçamento das universidades e institutos federais e de pesquisa no Brasil. “As universidades públicas produzem 95% das pesquisas no Brasil, e esse conhecimento não é produzido só por nós professores, mas por estudantes pesquisadores, e nós somos suportados nesse esforço por técnicos e terceirizados. É essa comunidade científica que está em ameaça, que está sendo desmoralizada pelo governo”, explicou Mayra. Ela alertou ainda para a gravidade do corte próximo ao Natal. “Mas eu acredito que nós, a sociedade civil organizada, vamos conseguir reverter esses cortes e garantir um Natal digno para as suas famílias”, exaltou.
A deputada federal Rosa Neide (PT-MT) lembrou que a negociação feita para a recomposição mínima do orçamento do MEC na PEC da transição não cobre o rombo deixado este ano. “Eles querem que haja dois orçamentos para cobrir o desmonte deixado pelo governo Bolsonaro. Não podemos admitir isso. O governo tem que reverter os cortes imediatamente”, disse a parlamentar.
Representando a Andifes, a professora Sandra Regina Goulart de Almeida, reitora da UFMG, apresentou o cenário grave em que se encontram as universidades e institutos federais, que têm hoje o menor orçamento dos últimos 13 anos. “As universidades hoje estão maiores do que estavam 13 anos atrás, em número de alunos e em infraestrutura, estamos melhores e mais inclusivos. Com um orçamento equivalente ao de 2008”, explicou a professora.
O corte mais recente, sem precedentes, segundo a reitora, impossibilita as universidades de fazerem qualquer pagamento no mês de dezembro. “Todas as universidades e institutos federais estão no vermelho. Não temos verba para pagar água, luz e telefonia, para pagar os contratos dos terceirizados, não temos como pagar as bolsas de extensão, graduação e assistência estudantil”, denunciou.

Por Júlia Fernandes

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro concedeu a Medalha Chiquinha Gonzaga para a professora Maria da Conceição Tavares, no dia 6. A homenagem do parlamento carioca a personalidades femininas que se destacaram na sociedade não poderia ser mais justa. Aos 92 anos, a emérita da UFRJ ainda inspira antigas e novas gerações de economistas.

Maria da Conceição Tavares nasceu na cidade de Anadia, em Portugal, mas cresceu e estudou em Lisboa. Passou a infância em uma casa que recebia refugiados da guerra civil espanhola, e vivenciou o regime ditatorial português de António Salazar. Estudou Matemática e Estatística e se mudou para o Brasil em 1954 com o primeiro marido, fugindo da ditadura.

“Ela chegou ao Brasil com seu diploma de Matemática, mas diferentemente do seu marido, não conseguiu emprego. Conceição tentou validar aWhatsApp Image 2022 12 08 at 20.59.11 1 graduação aqui, mas não conseguiu, e teve que fazer vestibular para a Faculdade Nacional de Ciências Econômicas”, contou a professora da UFRJ e amiga Hildete Pereira — ela recebeu a honraria no lugar de Conceição, que não pôde comparecer à solenidade. Foi o início da sua trajetória enquanto ativista intelectual. “Ela derrubou todas as portas, e hoje é a maior economista da América Latina”, completou.

Estudar Economia, para ela, era uma saída para driblar as terríveis estatísticas da desigualdade no Brasil. “Eu lembro da professora dizendo que era preciso ter uma política econômica que fosse revolucionária, mas que o fundamental não fosse esquecido, que é a inclusão dos pobres e a garantia dos direitos para aqueles que não têm”, recordou Tiago Santana, presidente do PT Carioca.

INSERÇÃO NA POLÍTICA
O partido teve papel importante na vida da acadêmica. Conceição filiou-se ao Partido dos Trabalhadores em 1994, e se tornou deputada federal no ano seguinte. Foi a economista Gloria Moraes quem assinou a inscrição dela no PT. “Tive a honra de fazer essa inscrição. Ela é corajosa por ser uma mulher em um período complicado, em que o debate econômico estava centrado na oposição que se fazia da política do regime militar”, completou.

Gloria contou que Maria da Conceição foi essencial em sua formação no Instituto de Economia da UFRJ. “Um pensamento comum na minha turma é o de que nós iríamos mudar o Brasil. Todos abraçamos o desenvolvimentismo como essencial para colocar o país no futuro”, disse.

WhatsApp Image 2022 12 08 at 20.59.11A solenidade também consagrou Benedita da Silva com a medalha Chiquinha Gonzaga. A deputada federal fez questão de elogiar Conceição em seu discurso. “É para mim um grande orgulho estar aqui sendo homenageada com uma das grandes mulheres que conhecemos nesse país na economia brasileira”, afirmou.

“São raras as mulheres que conseguem estabelecer uma relação entre o seu ativismo, o seu corpo político e a contribuição no campo da política pública. E tanto Maria da Conceição Tavares quanto Benedita da Silva conseguiram se cravar como referências nacionais de mulheres que estão nos espaços de poder”, reforçou Tainá de Paula (PT), vereadora do Rio de Janeiro.

Autor da homenagem, o vereador Reimont (PT) destacou a necessidade de recuperar o pensamento de Conceição nos dias atuais. “Nesses tempos em que a fome voltou ao país, em que o Estado mínimo proposto pelo atual governo não olha para as necessidades do povo sob o pretexto de salvar a economia, Conceição Tavares já nos deu muitos recados para dizer que é possível”, disse. “Sempre que eu ouço o Lula falar que é preciso colocar o pobre no orçamento, eu penso em Maria da Conceição Tavares. Eu penso na luta dessa mulher tão vigorosa e forte, que sempre prezou por fazer uma Economia de vida para o nosso povo”.

VIRALIZOU

Mas não foi só no passado que Maria da Conceição Tavares se destacou. Recentemente, trechos de suas entrevistas no Roda Vida e de aulas de quando ela era professora da Unicamp circularam pelas redes sociais. Com seu jeito destemido e voz rouca, Conceição viralizou e se tornou inspiração para muitos jovens. Foi criada uma página no Twitter em sua homenagem. O “Acervo Maria da Conceição Tavares” (@acervo_tavares) já soma quase 51 mil seguidores.

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