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bandeira adufrjA crise sanitária que assola o povo ianomâmi no Norte do país é nosso tema de capa. Incentivados pelo governo Bolsonaro, milhares de garimpeiros ilegais — estima-se que sejam 20 mil — ampliaram a extração de ouro no território da etnia, localizado nos estados de Amazonas e Roraima, na fronteira com a Venezuela. Com o enfraquecimento de órgãos como a Funai e o Ibama, a nova onda de garimpo ilegal levou aos ianomâmis a violência e doenças como a pneumonia, a desnutrição e diversos tipos de verminoses, além de elevar o número de casos de malária. O abandono do povo indígena, uma marca do governo Bolsonaro, se traduziu também na falta de envio de medicamentos e apoio médico, inclusive na pandemia de covid-19.
Na quarta-feira (25), a Polícia Federal abriu inquérito para investigar se houve crime de genocídio e omissão de socorro na assistência dada pelo governo federal aos ianomâmis na gestão Bolsonaro. O pedido de abertura foi feito pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, e caberá à Superintendência Regional da PF em Roraima apurar se houve participação ou omissão de agentes públicos, além de identificar todos os envolvidos na cadeia do garimpo ilegal, desde os proprietários de equipamentos, fornecedores de insumos e garimpeiros até barqueiros, pilotos de aeronave e operadores de máquinas. Ouvimos especialistas para analisar os vários aspectos dessa crise humanitária, comparada ao Holocausto pelo presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres. Confira nas páginas 4 e 5.
Outra crise enfrentada pelo governo Lula em seu ainda incompleto primeiro mês de vida é o tema de nossa entrevista da página 3: a crise militar. O professor Francisco Carlos Teixeira, titular aposentado da UFRJ e emérito da Eceme (Escola de Comando e Estado-Maior do Exército), avalia os desdobramentos da troca de comando no Exército, sacramentada no último sábado com a demissão do general Júlio César Arruda, substituído pelo general Tomás Paiva. Para Teixeira, o governo Lula não pode ceder às pressões para deixar impunes oficiais que podem ter participado da tentativa frustrada de golpe de Estado de 8 de janeiro. “Vamos só punir o lado do governo do Distrito Federal e virar a página? Fazer o que se faz sempre, a conciliação e o esquecimento para não cutucar os militares? Ou vamos tomar de vez uma decisão de que os militares não podem se envolver na política?”, questiona o professor.
Na página 6, mostramos mais um legado nefasto do governo Bolsonaro: o corte de verbas para a área de Ciência e Tecnologia. Na semana passada, o presidente Lula vetou recursos da ordem de R$ 4,2 bilhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), levando bolsonaristas às redes com ironias do tipo “faz o L aí”. Mas a “alegria” dos seguidores do nefasto durou pouco: na verdade, o veto seguia uma Medida Provisória editada no governo anterior, limitando a aplicação de receitas do fundo até 2026, de forma escalonada, começando por 58% em 2023. A euforia frustrada fez lembrar aquela cena que viralizou na internet em 30 de dezembro, quando bolsonaristas comemoraram o momento em que a bandeira do Brasil era baixada a meio-mastro no Comando Militar do Sudeste, em São Paulo: achavam que era uma declaração de estado de guerra, mas era um sinal de luto pela morte de Pelé.
Esta edição guarda também lugar especial para notícias positivas da UFRJ. Na página 7, traçamos um perfil do professor Mychael Lourenço, do Instituto de Bioquímica Médica. Aos 33 anos, ele foi incluído em seleto grupo de 11 cientistas mais promissores do mundo na área de Bioquímica e Biologia Molecular pela revista Nature Medicine — é o único representante da América Latina. Cria da UFRJ, onde fez graduação, mestrado e doutorado, esse carioca de Copacabana tem se destacado por suas pesquisas com doenças neurodegenerativas, sobretudo o Alzheimer.
Já na página 8, personagens do folclore brasileiro substituem as tradicionais figuras do xadrez, em criação da designer Ana Beatriz Oliveira para seu trabalho de conclusão do curso de Desenho Industrial da Escola de Belas Artes da UFRJ. A proposta é ensinar a cultura popular nas escolas, além de estimular a cognição e o raciocínio das crianças. Os peões são curupiras, os cavalos são mulas sem cabeça. A poderosa rainha é a Cuca. E quem vai dar o xeque-mate no arisco rei Saci-pererê?
Boa leitura!

WhatsApp Image 2023 01 27 at 20.18.54IGOR VIEIRA

Para pegar um saci, diz a lenda, é preciso levar uma peneira e uma garrafa com rolha a um redemoinho. Já no xadrez folclórico criado pela designer Ana Beatriz Oliveira, o objetivo é usar um exército de curupiras, boitatás, mulas sem cabeça e outros mitos para colocar em xeque o personagem de cachimbo, que encarna o rei.

As peças moldadas em resina que ilustram esta página fizeram parte do trabalho de conclusão de curso da ex-aluna de Desenho Industrial - projeto de produto, da Escola de Belas Artes. A proposta é ensinar a cultura popular nas escolas, além de estimular a cognição e o raciocínio nas crianças. “O folclore é lúdico. É ensinado até por vídeo, mas por contato físico é melhor. As pessoas aprendem por meios diferentes por terem inteligências diferentes”, afirma Ana Beatriz.

O jogo vem acompanhado de um livreto, em que a história de cada personagem é contada e relacionada com a peça de xadrez e seu movimento no tabuleiro. Um exemplo é o Boitatá que, em sua forma de tronco, acabou associado à Torre. Com dois pares de olhos para proteger as florestas, ele pode se movimentar em duas direções, assim como a peça do xadrez tradicional. Além do Boitatá, os personagens são: Mula sem Cabeça (cavalo), Curupira (peão), Boto Cor de Rosa (bispo), Cuca (rainha) e o rei Saci. É um aprendizado que percorre várias casas.

“O ensino atual não contempla todos os meios, como, por exemplo, aquele das crianças com déficit de atenção. O livreto com a história também é muito importante”, defende Ana Beatriz, que fez o projeto voltado para as escolas públicas.WhatsApp Image 2023 01 27 at 20.18.54 2

A motivação para o trabalho final resultou de um conjunto de interesses de sua trajetória. “Quando criança, eu gostava de assistir ao Sítio do Picapau Amarelo. Na escola, fiz aula de xadrez e participei de campeonatos. Durante a pandemia, tive aula de modelagem 3D na UFRJ”, explica Ana. “Foi uma união de coisas que me interessavam, que têm propósito e sentido”.

O orientador do projeto, professor Hugo Backx, destaca o recorte social do tema.“Durante o TCC, orientei que trabalhássemos focados no ensino, principalmente em escola pública. Sabemos a dificuldade que elas têm de conseguir equipamento, livro, material”, afirma.

Backx também chama a atenção para o cuidado na elaboração do jogo. “O boto estava muito liso, no início”, exemplificou. “No design, temos uma preocupação com a coerência formal. Uma peça não poderia destoar da outra: uma ser muito detalhada; outra, muito simples”.

A preocupação de Ana Beatriz com o folclore e a cultura popular foi ressaltada pelo professor. “Muitas crianças conhecem os X-Men, nada contra, mas não conhecem Mauricio de Sousa, Ziraldo, nosso folclore”, afirma. “A cultura é um resgate. Se não mantivermos acesa, perdemos. A cultura e o conhecimento são amplos. Não pode haver ditadura. Não podem prevalecer uns sobre os outros”.

WhatsApp Image 2023 01 27 at 20.18.54 1O professor Andriolli Costa, do curso de jornalismo da UERJ, pesquisa cultura popular e explica por que esse conhecimento não pode ser colocado em xeque. “Através da cultura popular, nós descobrimos a própria história do Brasil. Achamos que essas histórias são sobre monstros, mas são sobre nós. Investigando a história das tradições, falamos de racismo, misoginia, resistência”.

VIRALIZOU
O TCC foi defendido em março de 2022, mas o xadrez folclórico viralizou esta semana. Andriolli, ativo nas redes sociais, compartilhou as fotos do trabalho em suas postagens. Apenas no Twitter, o post teve 85 mil curtidas e quase 10 mil compartilhamentos. Nos 778 comentários, muitas pessoas se interessaram em comprar e elogiaram a ideia.

“Eu decidi criar um instagram para o jogo, o @xadrezfolclorico, porque muitas pessoas querem comprar, mas ainda vou demorar a começar a fazer as encomendas. Tem gente querendo para colecionar ou para dar de presente”, diz Ana Beatriz, admitindo que foi pega de surpresa. “Vejo como uma oportunidade de usar a parte dos lucros para escolas que não têm como comprar. Para escolas que têm condição, vou fazer um jogo com preço especial”. De fato, uma jogada de mestra.

savings 2789112 640Quando Lula vetou R$ 4,2 bilhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico na semana passada, os bolsonaristas foram às redes ironizar: “Faz o L aí”. Cobravam uma reação das universidades por suposta quebra de compromisso do petista com a pesquisa nacional. Mas estavam errados. De novo. Na prática, o veto precisou seguir uma Medida Provisória, editada pelo governo passado, que restringe os recursos do fundo.

Publicada em 29 de agosto passado, a MP 1.136 limita a aplicação das receitas do FNDCT até 2026, de forma escalonada, começando por 58% em 2023 — estima-se que a arrecadação do fundo alcance quase R$ 10 bilhões neste ano. Somente em 2027, haveria a liberação de 100%. “Essa Medida Provisória está vigente. Ela caducará, por não votação, no dia 5 de fevereiro”, explica a professora Francilene Garcia, diretora da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). “Quando o presidente Lula sancionou o orçamento de 2023, a MP ainda em vigor impediu que a lei orçamentária colocasse 100% dos recursos no FNDCT”.

Existe a promessa da ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, de restabelecer a integralidade dos recursos do fundo. A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a SBPC divulgaram uma nota conjunta sobre o assunto. “Nós demos nosso voto de confiança de que, em algum momento após a queda da MP, o governo enviará ao Congresso um pedido de crédito suplementar para recomposição desses 42% que foram retirados”, observa Francilene.

A representante da SBPC destaca que a liberação efetiva não será imediata. “Como é que se faz crédito suplementar? Depende de uma mensagem do Executivo ao Congresso que precisa votar e também das condições de arrecadação do Estado”, afirma Francilene. “Não é um trâmite que depende só do Executivo. É muito provável que nós não possamos contar com esse recurso por uma boa parte de 2023”.

Para além do FNDCT, a SBPC também cobra a recomposição de recursos de outras rubricas do MCTI. “Até o final de janeiro, nossa equipe está fechando a avaliação do orçamento que passou (após a sanção presidencial)”, afirma Francilene. A docente espera que o governo Lula retome a discussão da educação, ciência e tecnologia como políticas de Estado. “Não estamos falando de uma pasta, mas de uma temática fundamental para o país”, conclui.

MAS E AS VAGAS?
Na sanção do orçamento, Lula vetou a criação e provimento de cargos em seis universidades chamadas “supernovas”, fundadas entre 2018 e 2019. A medida também motivou postagens com provocações bolsonaristas nas redes. Mais uma vez, sem base. As mesmas instituições estão contempladas em outro trecho da lei, com um aumento em relação ao número original de vagas solicitadas: de 1.177 para 3.518. “São equivocadas as postagens. Estão fazendo uso de um detalhe técnico da lei na qual os cargos solicitados estavam previstos em dois lugares. Estão se aproveitando de uma correção para dizer que são cortes”, esclarece a professora Roselma Lucchese, reitora da Universidade Federal de Catalão, em Goiás, uma das instituições “prejudicadas”.

O não preenchimento dos cargos até hoje é de inteira responsabilidade do governo Bolsonaro. “Na lei orçamentária de 2019, todos os cargos das universidades criadas constavam no anexo V do orçamento. Mas não foi autorizada a realização dos concursos pelo Ministério da Economia”, relata a dirigente. A situação se repetiu na LOA 2020 e 2021, com um agravante: “Com a pandemia, o governo editou a lei complementar nº 173, que proibiu a criação e provimento de novos cargos”. Na LOA 2022, os cargos sequer foram previstos. O trecho agora vetado foi um “excesso” negociado com o Congresso em que as universidades buscavam escalonar a liberação dos concursos, a partir de 2023.

Pelo diálogo realizado até aqui com o MEC atual, a reitora acredita que crescem as chances de finalmente conseguir realizar os concursos. “Talvez não o total, mas uma parcial desses cargos que tanto nos fazem falta”, diz. “Nós hoje funcionamos com o exato número de servidores de quando éramos o campus de uma universidade-mãe (no caso de Catalão, a Federal de Goiás). Dependemos de muitas ações que são desempenhadas pelas universidades-mães”.

Neste novo momento, a reitora da Federal de Catalão também reivindica isonomia das “supernovas” com as universidades criadas durante os primeiros governos petistas. “Todas as outras criadas antes de nós tiveram uma lei de criação muito melhor, uma previsão de cargos muito superior. Nós fomos criados sem dotação orçamentária alguma”.

Ex-reitora da UFRJ e agora secretária de Educação Superior do MEC, a professora Denise Pires de Carvalho confirmou a justificativa do veto do presidente e a disposição para ajudar as novas universidades. “Estamos trabalhando para recompor os cargos, pelo menos em parte”, respondeu.

UFRJ na expectativa por mais verbas

A sanção presidencial confirmou na lei orçamentária a redução de recursos discricionários da UFRJ, aprovada pelo Congresso no fim do ano passado, de R$ 321,1 milhões para R$ 313,6 milhões. Mas também há uma expectativa de recomposição das verbas das universidades. “O total é de R$ 1,75 bilhão, fruto de um acordo com o relator do orçamento. Ainda não está claro se virá tudo e como virá”, afirma o pró-reitor de Finanças, professor Eduardo Raupp. “Se vier tudo, teremos o orçamento equivalente ao de 2019 (último ano antes da pandemia) corrigido pela inflação. Acreditamos que a recomposição permitirá quitar o déficit de 2022 e equilibrar novamente as contas em 2023”. A universidade trouxe um passivo de cerca de R$ 90 milhões do ano passado.

WhatsApp Image 2023 01 27 at 20.18.54 3PERFIL I Mychael Lourenço, Professor do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ

Aos 33 anos, o professor Mychael Lourenço já fez história. Ele foi citado como um dos 11 jovens pesquisadores mais relevantes do mundo em sua área por conta de suas pesquisas sobre o Alzheimer, doença que afeta cerca de um milhão de brasileiros e 35 milhões de pessoas no mundo. A lista foi divulgada pela prestigiada revista britânica Nature Medicine. Professor da UFRJ desde 2018, ele é o único representante da América Latina no seleto grupo divulgado pelo periódico. Os Estados Unidos lideram a lista com quatro nomes. Há, ainda, pesquisadores da Austrália, China, Holanda, Inglaterra e Maurício.

Amante de futebol e música, o “botafoguense, graças a Deus”, como se define, se surpreendeu com a lista divulgada pela revista. “Foi uma grata surpresa. Eu fui previamente contatado por uma editora para dar informações sobre minha pesquisa, mas ela disse apenas que era para uma matéria, sem dar muitos detalhes. Quando vi a lista, fiquei positivamente surpreso”, lembra. “Eu acredito que mais do que valorizar o meu trabalho, esta é uma forma de mostrar a Ciência brasileira, que vem sendo tão negativamente destacada e desvalorizada, para o mundo”, diz o carioca de Copacabana.

DIVERSIDADE
Mychael Lourenço é cria da UFRJ. Foi aqui que ele cursou sua graduação, aprofundou suas investigações no mestrado e realizou seu doutorado. Chegou à universidade em 2007, aos 17 anos, quando ainda não existia o sistema de cotas e nem o SESu. A instituição era bastante diferente e ele era um dos poucos alunos negros do Centro de Ciências da Saúde. “A universidade mudou e vem mudando. Essa diversidade vem sendo ampliada. E que bom. É necessário. A Ciência precisa dessa diversidade. Pessoas de origens diferentes são agregadoras para a pesquisa”.

Quando iniciou a graduação, ele se apaixonou pela investigação científica. “Eu gostava muito de Biologia e resolvi que seria professor da Educação Básica”, conta o docente. “Mas, no início da graduação, tive meu primeiro contato com a pesquisa. Como sempre quis entender como o cérebro funciona, busquei estágios em Iniciação Científica com esse norte.”

Foi aí que ele chegou ao antigo Laboratório de Neurogênese e Diferenciação Celular — um embrião do atual Lance (Laboratório Nacional de Células-tronco Embrionárias) do Instituto de Ciências Biomédicas. Em seguida, migrou para o Laboratório de Doenças Neurodegenerativas do Instituto de Bioquímica Médica, ao qual é vinculado até hoje. “Acredito que tive sorte por encontrar logo uma área por qual eu era apaixonado”, recorda o professor. “Acho que isso me ajudou a amadurecer cedo minhas perguntas de pesquisa e acompanhar o desenvolvimento dessa área nos últimos anos”.

A doença de Alzheimer, da qual o professor é especialista, foi descrita pela primeira vez em 1906, mas até a década de 1980 se sabia muito pouco sobre ela. “Só nos últimos 40 anos começou a haver avanços mais significativos, mas a velocidade das descobertas foi acentuada nos últimos dez anos”, avalia Mychael Lourenço. “Hoje sabemos que tipo de abordagem funciona e quais não funcionam para tratar a doença. Mas precisamos avançar também no diagnóstico precoce e atuar no campo da prevenção”, pontua.

DESCOBERTAS
Em 2019, o professor fez parte da descoberta que associou o hormônio irisina — produzido pelos músculos e pelo cérebro com a prática de atividades físicas — à preservação dos neurônios contra o Alzheimer. “A irisina ajuda a proteger das transformações pelas quais o cérebro passa com a doença”, revela. Essas transformações são causadas pela proteína beta-amilóide que, com o avançar da idade do indivíduo, se acumula e começa a gerar grumos em torno das células neurais. “A falta de ‘limpeza’ dessa proteína afeta o funcionamento dos neurônios. Então, quanto mais cedo diagnosticarmos esse acúmulo, melhor será o tratamento desse paciente e mais lenta será a evolução da doença”, explica o professor.

Hoje, é possível detectar a presença desses grumos de beta-amilóide por meio de um exame de neuroimagem chamado PET Scan. “É um exame de alta complexidade e extremamente caro. São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre são as únicas cidades do Brasil que possuem esse exame”, exemplifica o especialista.

Outra forma de se diagnosticar o acúmulo da proteína tóxica é por meio de punção do líquor da medula espinhal. Mas, além de caro, o exame é muito invasivo. “Provoca muita dor, não é simples de ser realizado, requer tempo de recuperação do paciente e, em pessoas idosas, é especialmente complicado”.

Esses impasses levaram a Ciência a pesquisar uma forma de o diagnóstico ser realizado por meio de exame de sangue de rotina. “Já se sabe que é possível diagnosticar desta forma esse acúmulo de proteína, mas é preciso baratear os custos, otimizar o processo. Ainda são equipamentos caros e específicos”, afirma o docente.

O cientista atua com Ciência básica para responder perguntas ligadas à evolução da doença, a tratamentos e diagnósticos. “A gente trabalha com a premissa de entender qual o ponto de não-retorno do Alzheimer, o que muda no cérebro, para descobrir como intervir. Nesse processo, descobrimos que não dá para fazer isso sem propor formas de diagnóstico e terapias que possam ser testadas por outros grupos”.

ORGULHO DE SER PESQUISADOR
Apesar das dificuldades pelas quais a ciência brasileira passa, com subfinanciamento e burocracia excessiva, Mychael Lourenço garante que não seria outra coisa senão cientista. “Ainda bem que não fiz Jornalismo, como queria quando criança”, ri. “Ser pesquisador é uma carreira muito recompensadora. Somos movidos por descobertas”, afirma.

Como recado para os estudantes que ainda não sabem se seguirão uma carreira acadêmica, o professor orienta. “O cientista pode ter experiências em outros estados, em outros países. Há possibilidades de fazer descobertas. Ser pesquisador te possibilita deixar um legado para a humanidade”.

WhatsApp Image 2023 01 27 at 20.18.54 5Foto: Fernando Souza/arquivo AdUFRJIGOR VIEIRA

O banco de sangue do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) precisa de doações de todos os tipos. “A doação de sangue é uma ação cidadã e voluntária. É um exercício de solidariedade”, diz a professora Carmen Nogueira, chefe do serviço de hemoterapia do HU.

A docente informa que a média atual está em oito doadores por dia, mas é pouco. “Para abastecer o banco do hospital, o ideal é uma média de 35 a 40 por dia. Tanto doadores ocasionais quanto fixos são bem-vindos, mas o importante é que doem”, completa.

Carmen fala de projetos que buscam atrair mais pessoas, como o Família Solidária: os parentes que visitam um paciente internado são informados sobre a doação de sangue. Outro exemplo é o Sangue da UFRJ (@sanguedaufrj), que informa a comunidade universitária sobre o serviço.

A ação solidária é vital para o tratamento dos pacientes, principalmente aqueles de casos complexos — transplante de órgãos sólidos, cirurgias cardíacas, doenças gastrointestinais e genéticas, entre outros.

Para doar, o cidadão deve ficar atento a alguns requisitos, como pesar mais de 50kg, ter entre 16 a 69 anos e estar alimentado. As dúvidas podem ser esclarecidas na triagem do banco de sangue.

Aluno do internato de Medicina, Yuri Aragão fez a sua parte esta semana, quando a reportagem visitou o setor. “Os pacientes de todos os setores do hospital precisam, como cardio, gastro, hepato. Doar é supersimples e rápido”, afirma o estudante, doador constante desde 2018.

COMO DOAR
No 3º andar do HU, na ilha do Fundão.
Das 7h30 às 13h30, de segunda a sexta-feira.

REQUISITOS
- Estar em boas condições de saúde;
- Ter entre 16 e 69 anos, desde que a primeira doação tenha sido feita até 60 anos (menores de 18 anos apenas com a autorização dos pais);
- Pesar no mínimo 50kg;
- Estar descansado;
- Estar alimentado;
- Apresentar documento original com foto recente, que permita a identificação.

Não poderá doar nos casos de:
- Ingestão de bebida alcoólica nas 12 horas anteriores à doação;
- Ter tomado a vacina da covid, de 48 horas a sete dias antes, a depender da fabricante;
- Gravidez.

A lista completa dos requisitos e impedimentos pode ser conferida em https://bityli.com/EVLJ2

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