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Para o cientista político, caso o PT deseje buscar um eleitorado de centro que garanta a vitória no segundo turno, Fernando Haddad terá de sinalizar que possui autonomia decisória Ainda não temos como avaliar se o Partido dos Trabalhadores acertou na tática de anunciar “tardiamente” o nome de Fernando Haddad como candidato à Presidência da República. Toda estratégia depende de seu resultado. Uma estratégia só é vitoriosa se, ao final, for bem sucedida. O Partido dos Trabalhadores agiu como um partido hegemônico procurando manter a predominância no campo eleitoral e ideológico que ele acha que é seu. Neste sentido, ele bloqueou a possibilidade de outras candidaturas concorrentes nesse campo. É claro que, do ponto de vista dessas candidaturas, fundamentalmente a de Ciro Gomes, a estratégia foi “sufocante”, podemos falar assim. O PT fez diversos acordos nos estados com o intuito de manter uma candidatura hegemônica à presidência. Alguns apontam que se o PT não tivesse feito este movimento internamente – de lançar uma candidatura própria – e apoiasse um candidato que já tivesse se colocado, como o Ciro Gomes, que é de um campo bem próximo ao seu, o partido sofreria uma desagregação interna. Uma espécie de autofagia. Este é um cenário possível. Então, ele bloqueou qualquer possibilidade de aliança com um “cabeça de chapa” externo. O segundo ponto a ser analisado em relação à candidatura de Fernando Haddad é a capacidade de transferência de votos. Dilma Rousseff não herdou o percentual de votos que Lula teve em nenhuma das duas eleições, em nenhuma região do país, inclusive no Nordeste, que é considerada, ainda hoje, uma área onde o nome do Lula aparece com muita força. Então, é bastante provável que Haddad não chegue nem no patamar de Dilma no primeiro turno. A ideia de manter Lula candidato, mesmo preso, apenas reforça certo “messianismo” que já existia. O “Lulismo” já era um fenômeno nacional desde a saída de Lula da Presidência da República. A dramaticidade da prisão, portanto, não o cria. Não há, aí, uma novidade. O que é uma novidade, num certo sentido, é que os adversários da candidatura do PT não levaram em conta a força do Lulismo em suas estratégias de campanha. Este fenômeno segue resistindo, a despeito de todos os resultados negativos do governo Dilma. É possível imaginar, também, que o PT não lançou antes outro nome porque sentia que qualquer pessoa seria bombardeada por inquéritos policiais, como foi o exemplo do Jaques Wagner. Então, pode ter sido um mecanismo de defesa do partido: lançar o Lula, que já está preso, para ganhar tempo até a escolha do seu candidato definitivo. Manter Lula candidato sinalizava que ocorreria uma substituição. Se pensarmos na imagem, em alguns momentos, o Haddad faz questão de aparecer com máscaras do Lula. A ideia é de sinalizar a “passagem de bastão”. Ele tinha que ser “ungido” na convenção do partido como vice do Lula para que essa transmissão ocorresse. Entretanto, é importante assinalar um aspecto. Caso, Haddad e o PT desejem buscar um eleitorado de centro que lhes garanta uma vitória no segundo turno, Haddad terá que sinalizar que possui autonomia decisória. Que é capaz de tomar decisões sem consultar Lula, e, mais, revelar que possui opinião própria sobre assuntos relevantes. Em particular, que pensa e decide distintamente da presidente do partido. Este movimento de autonomia tem que ocorrer de maneira clara, mas sem romper com o Lulismo. Até porque não há chances de vitória fora dele. Há grandes possibilidades de que tal movimento lhe traga votos de setores que não desejam Bolsonaro e que pretendem votar nulo num segundo turno, mas que aceitariam votar num candidato do PT, que, no entanto, possua pensamento próprio. Sem dúvida que é um movimento complexo e delicado, mas que talvez ofereça a Haddad votos importantes. Tanto Haddad como Bolsonaro precisam fazer política. Bolsonaro precisa convencer que não é o candidato do ódio, precisa apagar vídeos, declarações etc que tragam esta imagem. Uma ação que o stalinismo e as ditaduras em geral sabem fazer, reescrever o passado. Resta saber se os eleitores vão aceitar. Haddad precisa fazer um movimento que lhe garanta a força do lulismo e, que ao mesmo tempo, sinalize sua capacidade decisória. Ivo Coser Cientista Político e coordenador do Núcleo de Teoria Política da UFRJ

Instituição realizou atividades ao ar livre, na Quinta da Boa Vista. Exposições fizeram parte da campanha #MuseuVive e integraram a 12ª Primavera dos Museus Depois do incêndio que destruiu cerca de 90% do seu acervo no início do mês, o Museu Nacional realizou uma exposição, nos dias 22 e 23 de setembro, com o objetivo de mostrar à população parte das coleções que sobreviveram à tragédia. “O Museu Vive! Não é apenas uma hashtag. Estamos trabalhando todos os dias, intensamente. Queremos aproximar mais a população de todo o conhecimento acumulado nesta instituição”, comentou Matheus Ferreira, do Laboratório de Antropologia Biológica. O evento fez parte da 12ª Primavera dos Museus, uma temporada cultural que mobiliza centenas de instituições do país na estação das flores. Este ano, o tema era "Celebrando a Educação em Museus". O parque da Quinta da Boa Vista estava lotado. Famílias aproveitaram o final de semana ensolarado e conheceram mais sobre as pesquisas realizadas no Museu Nacional. “As crianças se divertem. Elas não tiveram oportunidade de conhecer o museu lá dentro”, contou Ingrid Santos, mãe da Nathaly, de 3 anos. “Estou com minha filha e sobrinhos numa festinha que acontece no gramado. Mas sabíamos que estava acontecendo esse evento aqui. É importante saber o que é feito no Museu Nacional”. Luzia esteve presente. Pelo menos a recriação do crânio de 12 mil anos feita por uma impressora 3D a partir de imagens de tomografias computadorizadas. O público pôde manusear a peça e entender como foi encontrado no Brasil o fóssil humano mais antigo da América. Uma parte da coleção didática da Sessão de Assistência ao Ensino (SAE) encantava a criançada. Aves e mamíferos empalhados faziam brilhar olhos de crianças e adultos. “Vejo esse movimento como um resgate, de certa maneira, da memória do Museu e do que temos para mostrar. O que importa é a interação e reação das pessoas diante do conhecimento novo”, comemorou Caio Felipe Mendes, da SAE. Professor do programa de pós-graduação em Zoologia, Paulo Buckup explicou o objetivo do evento. “A atividade de hoje é uma pequena mostra do que realizamos todo ano no aniversário do Museu Nacional”. Ele mostrou um exemplar de peixe-boi, que integra a coleção do Museu Nacional desde o início do século XX. “Este é um dos primeiros exemplares do Museu. Ele esteve na exposição permanente e estava salvaguardado no prédio anexo, que permanece intacto. Depois de 20 anos fora de exibição, trouxemos ao público uma das peças que fará parte da coleção do museu, assim que for reconstruído”. A exposição das peças ao ar livre, para Buckup, tem um caráter pedagógico. “Mesmo depois de uma destruição tão grande como foi o incêndio, ainda temos energia para seguir fazendo ciência. Para aprender e ensinar. Para realizar exposições públicas significativas”, comemorou. A diretora da Adufrj, professora Tatiana Sampaio, ficou encantada com o evento: “Foi incrível. Foi um domingo de conhecimento”, disse.

O incêndio do Museu Nacional ocorrido no início do mês foi debelado, mas deixou sequelas para além da destruição física de um prédio e acervos preciosos. Trouxe de volta a velha polêmica sobre a ineficiência do setor público. Setores sempre contrários às universidades públicas se animaram. A vetusta e falaciosa argumentação sobre gastos excessivos e má gestão emergiu da fumaça. Universidades de países com distintas tradições acadêmicas são avaliadas por um conjunto de indicadores, incluindo a produção de pesquisas (número de artigos) e sua qualidade (impacto de citações e número de artigos altamente citados), produção educacional (proporção de docentes em tempo integral e alunos graduados) e despesas. O PRINCIPAL DIFERENCIAL para que uma universidade seja bem avaliada é sua dimensão institucional. Ou seja, o número de professores e alunos determina a produção de pesquisa e a alocação de recursos para educação e pesquisa refletem-se no bom desempenho da pesquisa. Desde sua fundação, a UFRJ está bem situada nos rankings internacionais, o aumento do número de alunos e professores foi simultâneo ao de sua produção científica. Para o Brasil, um país que ainda permanece às voltas com necessidades de garantia do acesso ao ensino superior e geração de alternativas para mudanças em seus padrões de produção e consumo de bens e serviços, universidades públicas dotadas de corpo docente qualificado são estratégicas. OS MELHORES PROFISSIONAIS de diferentes áreas de atuação foram e são formados por universidades públicas. A ciência e tecnologia incorporadas em diversas cadeias produtivas são dinamizadas por professores e alunos de graduação e pós-graduação. Estudos sobre a sociedade, economia, cultura e história têm sido nucleados por pesquisadores das grandes universidades brasileiras. É por isso que a população sempre que consultada indica sua concordância com a expansão dos gastos públicos com educação, inclusive universitária. Sabe-se que, sem universidade pública, o futuro do Brasil é o retorno ao passado de um país pobre, injusto, agrário-exportador, com mínimas de chances de futuro. A IDEIA DE RESTRINGIR o direito à educação não conta com apoio social, é antidemocrática. A UFRJ tem muitos e intrincados problemas. Suas unidades acadêmicas, hospitais, bibliotecas, centros culturais e o Museu Nacional foram vinculados à universidade ao longo do tempo. A gestão desse conjunto rico e heterogêneo de acervos e conhecimentos é em si desafiante. Desde 2015, os recursos de custeio e investimentos foram cortados. Definir a prioridade entre tantas prioridades, alocar acertadamente os recursos de custeio e investimentos é responsabilidade da UFRJ. Provimento de concursos, definição de salários e produção de informações sobre gastos com servidores públicos federais são atribuições que extrapolam as fronteiras da universidade. Mudanças, para ampliar o direito à educação exigem redefinição de responsabilidades e sempre mais transparência. Salários dos professores e a execução orçamentária são informações oficiais e disponíveis. NÚMEROS PODEM SER consultados, serão interpretados com menos ou mais acurácia se os pressupostos sobre a relevância ou inutilidade das universidades públicas forem desvelados. Outros números evidenciam a disposição de ampliar o patrimônio científico público. O incêndio também revelou o imenso apreço nacional e internacional pela universidade pública. O debate sobre a ampliação da universidade pública não é apenas uma escolha técnica. Os que querem expandir grupos educacionais privados julgam que o Brasil não precisa formar “doutores”. Podem pagar o estudo de seus filhos fora e insistem em retroceder na compreensão sobre a inextrincável associação entre educação e democracia.

Professores, técnicos, alunos e ex-alunos reuniram-se, na última sexta-feira (21), no auditório da Escola de Serviço Social, na Praia Vermelha, para a abertura da exposição “Faculdade de Educação: 50 anos presente”. A pesquisa da professora Ana Maria Monteiro inspirou a mostra. Ela afirmou que um dos desafios da produção foi expressar o compromisso político da Faculdade de Educação com a educação pública e a democratização do ensino superior. A exposição encontra-se no “Espaço Memória Arte e Sociedade Jessie Jane”, no corredor da decania do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH). Para a diretora Carmen Teresa Gabriel, a comemoração resgata o sentido político da universidade pública e reforça a importância do trabalho coletivo. “Isso é fruto do trabalho de muitas cabeças e mãos”, afirmou. O decano do CFCH e também professor da FE, Marcelo Macedo Corrêa e Castro, destacou o papel da unidade. “Fico muito feliz de estar aqui comemorando 50 anos do protagonismo da Faculdade de Educação na formação de pessoas e professores”, declarou. Os ataques sofridos pela universidade após o incêndio do Museu Nacional foram destacados pelo professor Eduardo Serra, pró-reitor de graduação: “O momento que vivemos é de resistência e luta”, reforçou. “Contamos com essa unidade pra continuar o fortalecimento da educação, formando cidadãos críticos capazes de transformar a sociedade e a si mesmos”, completou.

Professora da Faculdade Nacional de Direito, Margarida Lacombe critica tribunais que se valem dos casos em julgamento para influenciarem na política nacional O protagonismo do Poder Judiciário, notadamente do Supremo Tribunal Federal, tem levado ao uso corriqueiro de expressões como “judicialização da política”, “ativismo judicial” e “politização do judiciário”. São fenômenos, contudo, que não se confundem. Judicializar é provocar a ação do Poder Judiciário para a proteção de um direito e nada de estranho há nisso. Judicializar a política é quando existe descontentamento na ação dos poderes Executivo e Legislativo, direitos fundamentais estão envolvidos e o Judiciário é chamado a decidir. Também, em princípio, nada de errado há nisso. Ainda que o Direito deva ser seguido. O problema está no uso que se faz desse poder. Na semana passada, por exemplo, o STF apreciou a questão do ensino domiciliar. Matéria prevista na Constituição e regulamentada pela LDB e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Não obstante, o Relator do caso pretendia substituir-se ao legislador ordinário dispondo sobre se, e como, deveria agir a administração pública nos casos da opção da família pelo ensino domiciliar, que ele entendia possível. É um caso típico de ativismo judicial, mesmo que não tenha prosperado. O Relator foi vencido pela maioria da Corte que entendeu necessária a participação do Estado no processo educacional, diante do que prevê a Constituição e a legislação em vigor. Em que pese uma eventual coincidência ideológica, entre o teor das decisões do STF e o que os partidos políticos defendem, não se trata, propriamente, da politização do Judiciário. Podemos dizer que um Ministro tem posições mais liberais do que outros, mas isso porque a Constituição é uma lei de conteúdo político, com normas abertas, a permitir, não raramente, interpretações distintas, ainda que esse seja um grande problema. Mas o que foge ao campo judicial, propriamente dito, são os julgamentos que, sabida e estrategicamente, afetam os mecanismos de expressão da soberania popular, interferindo em situações concretas de processos em curso. Temos visto tribunais valerem-se dos casos que devem apreciar para influírem na política nacional. Os exemplos são muitos: o recebimento seletivo de denúncias de políticos na Operação Lava Jato; a celeridade no julgamento de alguns políticos, como o do ex-Presidente Lula pelo TRF4, para impedir o quanto antes a sua candidatura; o não julgamento das ADCs 43, 44 e 54 sobre a presunção de inocência; a celeridade do julgamento sobre a campanha política do PT, pelo TSE; o encaminhamento a Plenário do HC preventivo do ex-presidente Lula, para não falar do retardamento do STF em receber a denúncia e afastar o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, viabilizando a deflagração do Impeachment contra a ex-presidenta Dilma. São ações conduzidas pelo Ministério Público e pelos tribunais que interferem, diretamente, no processo eleitoral, afetando a expressão da soberania popular. E o que é pior: quando interpretadas em conjunto, retratam uma série de práticas que visam a minar e a fragilizar um determinado campo político. Margarida Lacombe Professora da FND

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