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Tira15dejunho

Resolução do Conselho Universitário, realizado em 11 de junho, garante o direito à reposição de aulas, avaliações e adequação do cronograma acadêmico após o fim do movimento grevista

Centenas de jovens acompanharam a sessão

Elisa Monteiro. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Foi uma semana de avanços para a luta dos estudantes em greve da UFRJ. Uma mobilização de centenas no Conselho de Ensino de Graduação (CEG), em 10 de junho, e de um número ainda mais expressivo no Conselho Universitário do dia seguinte garantiu o reconhecimento institucional ao movimento. A vitória é inédita. A resolução aprovada garante abono das faltas, reposições de aulas, avaliações, revisão de conteúdos e adequação do cronograma após o encerramento da paralisação. 

Os estudantes pleiteavam a suspensão do calendário acadêmico, argumentando que essa seria a única medida capaz de conter eventuais constrangimentos ou represálias. “Para nós, não resolve uma segunda chamada punitiva”, justificou Helena de Carvalho, representante discente, durante o Consuni do dia 11. 

A indicação de suspensão foi aprovada na sessão do CEG do dia anterior.  Já no fórum deliberativo máximo da universidade, a proposta foi reformulada pela Comissão de Ensino e Títulos do colegiado, retirando a previsão de interrupção das atividades. A bancada estudantil, incluindo os pós-graduandos (em greve desde o dia 10), manteve a proposta original do CEG, mas sem sucesso.

Alguns representantes docentes clamaram pela unidade da comunidade universitária contra “a polarização dos segmentos”, em favor de uma “UFRJ unida” para enfrentar as adversidades. Segen Estefen, por exemplo, disse estar preocupado com o aprofundamento da divisão entre professores, técnicos e estudantes e se declarou favorável a um movimento único “em defesa da universidade”. Já a estudante Caroline Borges, entre outros, enfatizou que a mudança do perfil socioeconômico da universidade a partir da implantação das cotas expõe conflitos já presentes na sociedade: “Fala-se de muito da excelência da universidade, mas a verdade é que somos nós bolsistas e cotistas que fazemos a ponte com a sociedade real. Tratar desiguais como iguais não é democrático. A suspensão do calendário é uma oportunidade de a universidade se preparar para receber adequadamente os três mil cotistas que estão para entrar”.

“Se a gente (estudantes) não presta atenção ao enunciado, o professor tira ponto na prova. Tá na hora de o professor prestar atenção ao enunciado: os estudantes não estão em greve porque não querem ter aula. O enunciado é: o governo federal cortou R$ 9 bilhões da Educação e os estudantes entraram em greve porque não estão conseguindo vir assistir à aula”, completou outra estudante, Gabriela Celestino, do DCE Mário Prata. 

Os estudantes criticaram a iniciativa de alguns professores em trazer alunos “contra a greve” para dar depoimentos na sessão. “Isso não é novo, vimos acontecer na greve de 2012”, criticou Helena de Carvalho, também do DCE. “Os estudantes se organizam de maneira autônoma. O espaço para discutir a legitimidade da greve dos estudantes é na assembleia dos estudantes.”, destacou. Um dos momentos mais emocionantes da sessão foi a intervenção, solicitada por uma professora, de uma representante do CA da Medicina que deliberou pela manutenção do calendário acadêmico. “Estou falando por uma decisão coletiva anterior à resolução do CEG. Mas peço aos colegas do CA que consideram tudo que está sendo dito aqui. Sou uma das duas únicas pessoas negras da minha turma. Todos sabemos que a universidade é sim elitista e precisa avançar nessa questão (racial)”, disse emocionada.

Xerém e Macaé mais prejudicados

DSC 5474Estrutura. Condições para estudo e assistência estudantil são pautas centrais discentes. Foto: Samuel Tosta - 11/06/2015O mote “Greve geral contra o ajuste fiscal” deu o tom das manifestações dos dias 10 e 11. E muitos cartazes afixados e expostos por estudantes faziam referência ao polo Xerém ou ao campus de Macaé. Sem autorização para falar ao microfone, estudantes de Xerém criticavam a expansão sem estrutura expressa em um polo com apenas um bebedouro para atender toda a comunidade. E cobravam a prometida migração para um local mais adequado, em Santa Cruz da Serra. O reitor eleito, Roberto Leher, saudou a mobilização discente, sublinhando a “clareza do movimento sobre a grave crise pela qual passam, não apenas a UFRJ, mas todas as universidades federais”. 

Adufrj-SSind solidariza-se com estudantes

Cláudio Ribeiro, presidente da Adufrj-SSind, afirmou que, embora não seja novo o problema da falta de condições de estudo e de assistência estudantil, ganha outra qualidade, “em escala”, a partir dos cortes sobre o orçamento das universidades e do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). Um quadro que se torna mais crítico com o alto custo de vida na cidade do Rio de Janeiro. Cláudio destacou que “a permanência não é uma questão do estudante, mas de toda a universidade”. Segundo ele, as declarações do Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deixam claro que os cortes estão apenas começando: “A previsão de superávit para o próximo ano é maior. Quem acha que a situação vai melhorar não está sabendo ler a política do governo federal”.

Objetivo da decisão é pressionar o governo a negociar a pauta de reivindicações do movimento

Outras federais já decidiram o mesmo

Silvana Sá. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Poderão não ser realizadas na UFRJ as matrículas de segundo semestre do Sistema de Seleção Unificada (SiSU). O informe foi prestado por Luiz Pustiglione, um dos integrantes do Comando Local de Greve dos servidores técnico-administrativos, no último Consuni (dia 11). A medida — que está sendo utilizada em outras instituições — será discutida em assembleia geral com o objetivo de pressionar o governo a negociar a pauta de reivindicações da categoria.

O movimento também deliberou pela solicitação do cancelamento dos editais de transferência interna e externa que acontecem, normalmente, no meio do ano. Atualmente, os editais já foram suspensos pela reitoria para serem retomados após a greve dos servidores. Os técnico-administrativos entendem, porém, que o cancelamento é a melhor medida, pois possibilitará a realização de apenas um grande processo ao fim do ano.

O movimento elegeu os pagamentos e a manutenção da vida (seja nos hospitais universitários ou nos biotérios) como atividades essenciais e que, portanto, deverão ser continuadas. “Outros casos considerados como excepcionalidades serão avaliados pela Comissão de Ética do Comando Local de Greve”, explicou Luiz.

À reportagem do Jornal da Adufrj, o servidor também comentou a decisão recente do Consuni de não suspender o calendário acadêmico: “A suspensão do calendário era muito importante para que não houvesse pressão sobre os técnicos-administrativos quanto à realização de algumas atividades, como previsão de turmas, fechamento de semestre etc. Dois segmentos da universidade estão em greve. E o que foi decidido não garante a uniformidade do calendário acadêmico”.

Francisco de Assis, coordenador geral do Sintufrj e também integrante do CLG dos técnicos-administrativos, informou que já são mais de 50 universidades em greve da categoria. “A paralisação tem sido crescente. Estamos buscando envolver também o segmento docente. Para nós, seria muito importante que os professores se somassem à greve, pois a pauta que nos une é social, já que os cortes do orçamento interferem nas políticas de assistência estudantil, faz com que pessoas trabalhem em regime de semi-escravidão e pioram as nossas condições de trabalho”.

 

Greve dos técnicos já alcança 63 Ifes

Além da pauta geral dos servidores públicos federais e da pauta nacional dos TAE das federais (cuja greve já alcança 63 instituições), os trabalhadores reivindicam os seguintes pontos internamente:

- regulamentação das 30 horas na UFRJ;

- política concreta de combate ao assédio moral;

- paridade para todas as eleições institucionais;

- paridade de representação nos conselhos superiores e órgãos colegiados da UFRJ;

- garantia do espaço de convivência previsto no Plano Diretor UFRJ 2020 para o Sintufrj.

Comparativo entre remunerações de certas profissões no serviço público federal mostra como os professores foram desprestigiados pelos governos ao longo dos últimos anos

Pesquisadores do MCT e do IPEA ganham mais

Sai governo, entra governo, mas o discurso a favor da Educação, com valorização de seus profissionais, não muda. Na prática, porém, não é isso o que se verifica em um levantamento feito junto às tabelas de remuneração dos servidores públicos federais, disponibilizadas pelo Ministério do Planejamento na página www.servidor.gov.br. A série existe desde 1998 (não existem os dados de 1999, ano para o qual foram repetidos os valores anteriores, para construção do gráfico).

Foram comparados dados de duas carreiras similares, no primeiro nível com exigência de doutorado, ativos: Professor Adjunto 1 com Doutorado em regime de Dedicação Exclusiva (hoje em dia, o salário é igual para o professor DIII 1 da carreira de EBTT); Pesquisador do Ministério de Ciência e Tecnologia, com doutorado. Os valores somam os vencimentos básicos com a máxima gratificação a que os servidores tinham/têm direito (algumas foram incorporadas, ao longo dos anos, como a GED dos professores). Para evidenciar a diferença de tratamento com os docentes, vale comparar os vencimentos do primeiro nível da carreira de Pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), para a qual não existe necessidade de doutoramento.

Em 1998, um professor, nessas condições, recebia um pouco mais que os colegas das outras carreiras: R$ 3.388,31, contra R$ 3.128,25 do pesquisador do IPEA e R$ 2.662,36 do pesquisador do MCT. Essa situação perdurou até 2003, quando os quadros do IPEA passaram a receber mais. Em 2009, os docentes federais foram ultrapassados também pelos pesquisadores do MCT. Desde então, apesar de apresentarem uma ligeira aproximação com os servidores do ministério de Ciência e Tecnologia, os professores continuaram desprestigiados.

Confira na tabela ao lado a série histórica das diferenças salariais entre essas carreiras. 

Tendência preocupante

Esta tendência à desvalorização é preocupante, sobretudo por não haver nenhuma previsão de reajuste salarial para os professores federais a partir do ano que vem. O Andes-SN chama a atenção para este fato que, a médio prazo, compromete a dedicação exclusiva e o caráter público da universidade. Trata-se de uma importante pauta da greve nacional em curso, pois esta tendência precariza as condições de trabalho dos professores federais da mesma maneira que ocorreu com a carreira dos professores do estado e do município.

Tabelacomprativo de greveB

Após Consuni, novas mobilizações agitam a greve do segmento

Samantha Su. Estagiária e Redação

Após o Consuni que reconheceu a legitimidade da greve estudantil (leia mais na página 3 desta edição), mas não suspendeu o calendário acadêmico de 2015, o segmento realizou assembleia na tarde do dia 11, na Escola de Música. E o corpo discente da UFRJ deliberou por mais mobilização: “Nós não vamos nos submeter à decisão do Consuni. Todas as falas foram para indicar a intensificação da greve e voltar para as pautas primordiais: a assistência estudantil e o absurdo corte de verbas na educação”, declarou Gabryel Henrici, representante do DCE.

DSC 5483Alunos protestam durante a última reunião do Conselho Universitário. Foto: Samuel Tosta - 11/06/2015

Neste sentido, os alunos propuseram, para esta segunda, dia 15 (data do fechamento desta edição), uma assembleia comunitária junto de professores e técnicos-administrativos, às 14h, no hall da reitoria (assim que possível, seu resultado será divulgado no site e nos perfis da Adufrj-SSind nas redes sociais) e, logo depois, uma reunião do Comando Estadual de Greve, às 17h, no IFCS. Além disso, estão marcadas duas atividades: um para lembrar o descaso com os cursos novos, frutos do Reuni (“Quem Entrou Quer Ter Lugar”), para o prédio da reitoria, às 16h do dia 18; outro, um ato unificado no estado pela “Educação e Assistência Estudantil - Passe Livre Intermunicipal Já!”, com início na Candelária, dia 19 (ainda sem horário).

 

Uerj: alunos vão “enterrar” o reitor

Nesta terça-feira, dia 16, o reitor da Uerj, Ricardo Vieiralves, será simbolicamente enterrado pelo movimento estudantil. O evento pretende escancarar as críticas à gestão da universidade. A atividade foi deliberada em assembleia do corpo discente, em 11 de junho. Nova reunião, em 25 de junho, decide sobre possível deflagração de greve estudantil. 

Está prevista uma ocupação cultural na Concha Acústica da universidade, logo após o “enterro” do reitor. E um ato no Hospital Universitário Pedro Ernesto, às 10h de quarta-feira, 17, em defesa da Saúde Pública. No fim da tarde da mesma data, ocorre o evento “Por que somos contra a redução (da maioridade penal)”, no campus Maracanã. (Samantha Su)



 
Pensando a crise na universidade
Atividade, na PV, fez parte da agenda da greve estudantil

Silvana Sá. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Os Centros Acadêmicos de Relações Internacionais e Economia realizaram uma atividade conjunta na noite de 8 de maio, no Teatro de Arena da Praia Vermelha. O objetivo foi debater com estudantes e professores a crise que se instalou na universidade pública. Para a atividade, foram convidadas as professoras Tatiana Brettas (ESS) e Renata Flores (CAp) e os professores Elidio Alexandre Borges Marques (NEPP-DH) e João Batista Ferreira (IP). A mediação foi feita por Bianca de Moura e Lucas Ferreira, estudantes representantes dos dois CAs.

Os professores alertaram para a necessidade de os segmentos universitários se organizarem na defesa da universidade pública e do direito à educação de qualidade e contra os ataques sofridos pela classe trabalhadora. Tatiana chamou atenção para articulações econômicas que retiram sistematicamente direitos dos trabalhadores e que, na prática, são instrumentos para a manutenção dos privilégios dos mais ricos. 

Renata Flores apontou para as articulações políticas que, somadas às medidas de austeridade do governo federal, completam o quadro de ataques aos direitos conquistados historicamente. “O pensamento hegemônico é de que só o privado tem qualidade. Assim se consegue desmontar a estrutura pública. Nossa luta é para fortalecer a educação pública”.

Para o professor Elidio Marques, o discurso hegemônico indica que a economia deve seguir o caminho dos cortes e medidas de austeridade: “O tipo de saída da crise visa concentrar ainda mais riquezas”. Segundo o professor, a sonegação fiscal só neste ano já é da ordem de R$ 200 bilhões! “O sonegado é mil vezes o orçamento da universidade”, comparou.

A influência do modo de organização contemporânea para a saúde do trabalhador foi abordada pelo professor João. Para ele, o momento é de banalização das injustiças e da precarização das relações de trabalho. “A terceirização é vendida como uma modernização, como ampliação de direitos, mas é a institucionalização da precarização. A flexibilização é, em última instância, a dos direitos dos trabalhadores”, alertou. Ele deu alguns dados importantes: trabalhadores terceirizados recebem 24% a menos; a taxa de rotatividade é superior em 63%; o risco de morte é maior entre terceirizados; calotes das empresas é uma realidade comum.

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