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Arte adaptada de Gisele PazA UFRJ, mais uma vez, terá ampla atuação na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). A 22ª edição do evento será realizada de 9 a 13/10. Nesta edição, o autor homenageado será João do Rio, pseudônimo mais famoso de Paulo Barreto, cronista e jornalista, um dos autores mais importantes do Rio de Janeiro no início do século XX.
A participação da UFRJ será nos dias 9 e 13 de outubro, na Casa da Favela. No dia 9, em conjunto com a Agência de Notícias da Favela (ANF), a UFRJ promoverá a mesa “Novos Cronistas do Rio: Influenciadores, Mídias Comunitárias e Digitais”, às 17h30. Já no domingo, dia 13, às 10h, a UFRJ promoverá a mesa “UFRJ na Flip: Ações e Letras”. Além das duas mesas, a UFRJ vai expor e vender livros da Editora UFRJ. O estande estará aberto durante todo o festival, das 10h às 18h.
A Casa da Favela fica na Rua da Matriz, nº 23, no centro histórico de Paraty.
Em meio à crise financeira da UFRJ, a reitoria pediu a decanos e diretores para adiantar os gastos de tudo que receberam ao longo do ano. O orçamento ainda disponível nas unidades e não empenhado até 15 de outubro será recolhido ao caixa da administração central para ajudar nas despesas de funcionamento básico da instituição. No levantamento realizado pela reitoria, esses recursos totalizavam R$ 11,6 milhões, no dia 23.
“Se não for feito o recolhimento, os recursos serão devolvidos ao MEC. E, na situação em que estamos, não estamos em condições de devolver nenhum centavo”, afirmou o pró-reitor de Finanças, professor Helios Malebranche.
A UFRJ, informou o dirigente, demandou ao MEC esta semana uma suplementação orçamentária emergencial de mais de R$ 60 milhões para pagamento de serviços de água, energia, vigilância e limpeza. “Como a gente pode estar, ao mesmo tempo, demandando suplementação e devolvendo recursos, por não ter utilizado?”, questionou. “Espero que eu não recolha nada, que as unidades corram para realizar suas despesas que são todas necessárias”, completou.
No Consuni do dia 26, o decano do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, professor Cabral Lima, solicitou a dilatação do prazo de recolhimento do orçamento em pelo menos 20 dias. O docente justificou o pedido em função da demora da definição sobre a distribuição do orçamento participativo neste ano — a partilha só foi aprovada no início de junho. “Isso resultou num período de tempo muito diminuto para gastar o orçamento recebido. Um processo que é muito trabalhoso e demorado”, afirmou. O docente observou que este pedido não é só do CCMN e que outros decanos já se manifestaram no mesmo sentido.
O pró-reitor Helios disse à reportagem que a decisão caberá ao reitor, mas defende a não dilatação do prazo. “O máximo que pode haver é estudar um ou outro caso pontual, tramitando em fase avançada”.
O recolhimento em período posterior, mais próximo ao fim do exercício, passaria a dificultar o uso dos recursos pela reitoria nos gastos com toda a instituição.
VERBA DA PÓS NA MIRA
O recolhimento também será aplicado nas verbas do Programa de Apoio à Pós-graduação (PROAP). Mas com um prazo maior: até 15 de novembro. Estas verbas, que têm destinação específica, passariam a ser gerenciadas pela pró-reitoria de Pós-graduação. O valor descentralizado aos programas foi de R$ 2,89 milhões.
A situação não é inédita. Ano passado, o que “sobrou” foi utilizado para a compra de gases que são de uso comum para vários laboratórios, esclareceu o pró-reitor João Torres. (Kelvin Melo)
Foto: Kelvin MeloRenan FernandesDesde julho deste ano, 2.151 alunos da Uerj perderam a Bolsa de Apoio à Vulnerabilidade Social de R$ 706. O número, obtido pelo Jornal da AdUFRJ a partir de planilhas oficiais da universidade, mostra o tamanho do estrago do Ato Executivo de Direção Executiva (AEDA) 38, que mudou os critérios de concessão do benefício. A medida mudou o “teto” da vulnerabilidade social de 1,5 para 0,5 salário mínimo de renda familiar per capita.
A Uerj justificou os cortes em resposta enviada pela assessoria de comunicação. “As alterações definidas em julho garantiram que os estudantes da faixa mais vulnerável pudessem continuar recebendo o auxílio emergencial que havia sido implementado durante o contexto de pandemia. Como essas bolsas foram implementadas sem previsão orçamentária, não havia mais como manter financeiramente a continuidade para os alunos em vulnerabilidade, com renda entre 0,5 a 1,5 salários mínimos familiar per capita”.
Ainda pelo AEDA 38, todos os alunos cotistas do campus Maracanã perderam o auxílio-alimentação de R$ 300. A justificativa é que o local possui bandejão com tarifa zero para o segmento.
A alteração nos critérios de distribuição das bolsas foram o estopim das manifestações e da ocupação da reitoria pelos alunos. Após negociação com representações estudantis, novos Atos Executivos estabeleceram um regime de transição para os alunos impactados pelos cortes. Foi criada uma bolsa de transição de R$ 500 que será paga até dezembro. Para projetar 2025, a reitoria espera a aprovação da proposta orçamentária na Alerj.
HISTÓRIA
A inclusão de estudantes negros e de baixa renda é parte da identidade construída pela Uerj nas últimas duas décadas. A primeira Lei de Cotas implementada no Brasil foi no Rio de Janeiro. A Assembleia Legislativa do estado aprovou em 2001 a lei que reservava 40% da vagas de graduação na universidade estadual para estudantes autodeclarados negros e pardos.
A medida transformou o perfil discente da universidade. Para garantir a inclusão e a permanência desses novos estudantes, foram criadas políticas de assistência que distribuem bolsas e auxílios aos estudantes cotistas ou em vulnerabilidade social. Segundo o DataUERJ, em 2023, 9.774 dos 24.345 - 40,3% - estudantes da graduação recebem algum tipo de bolsa.
COMPARAÇÃO COM UFRJ
Na UFRJ, a distribuição de bolsas de assistência estudantil é mais tímida. Dados da pró-reitoria de Políticas Estudantis (PR-7) mostram que, dos 47.169 estudantes de graduação, 5.988 (ou 12,7%) recebem auxílio da universidade. Esse número de auxílios atinge somente 52,2% dos alunos que ingressaram por meio de cotas de renda.
O pró-reitor Eduardo Mach garante que a universidade não vai passar pelo mesmo problema da Uerj, mas alertou para um desequilíbrio que pode afetar as contas a partir de 2025. As alterações nas regras de ingresso do SiSU determinaram que os candidatos cotistas concorram primeiro na ampla concorrência. Assim, a entrada de estudantes em situação de vulnerabilidade social não fica restrita aos 25% de vagas reservadas.
“No primeiro semestre de 2023, 375 alunos tiveram direito ao auxílio permanência de R$ 700. Com a mudança da lei do ingresso a partir de 2024, esse número aumentou para 657 alunos. Tudo está garantido para esse ano e estamos tentando equacionar para o ano que vem”, disse o pró-reitor.
DEPOIMENTOS
Temendo represálias, estudantes que perderam auxílios só aceitaram dar os depoimentos em anonimato
G., 9º período, Direito
“Perdi o auxílio alimentação de R$ 300 com a alegação de que o campus tem restaurante universitário (RU). Mas o RU não suporta todos os estudantes nos horários de pico. Quem tem hora para chegar ao estágio não consegue comer aqui. É comum esperar uns 45 minutos na fila só para entrar. Por isso, muitas vezes a gente come na rua, compra alguma coisa para ir comendo no trajeto. Então, pode parecer pouco para muita gente, mas R$ 300 faz uma diferença enorme para muitos. Olha a minha situação: moro em São Gonçalo, perco mais de três horas no trânsito entre ida e volta e ainda gasto quase R$ 20 reais por dia nos ônibus. Sou cotista, recebo a bolsa permanência de R$ 700 e o auxílio transporte de R$ 300, que não dá conta de tudo que gasto com passagem. Esse mês já não recebi. Tranquei algumas matérias para ter mais tempo livre e voltei a trabalhar como tatuador e artista plástico para complementar a renda e conseguir pagar as contas no fim do mês. É triste porque isso vai atrasar a minha formatura, mas é isso ou abandonar”.
M., 6º período, Artes Visuais
“Os cotistas do campus Maracanã estão sofrendo com esse corte. Hoje (24) é o primeiro dia da volta às aulas e tenho colegas que não apareceram e nem sei se vão aparecer. A bolsa auxílio é parte da nossa renda, a gente se planeja com esse dinheiro para sobreviver e continuar na universidade. A tarifa zero no RU não supre a função do auxílio alimentação que perdemos. Trabalho durante o dia em uma escola e quando chego à noite para estudar, não tenho intervalo entre as aulas para ir comer. Tenho que fazer uma escolha entre jantar ou assistir à aula. Geralmente, acabo comendo um salgado. Ou seja, gasto dinheiro e me alimento mal. Qual vai ser o próximo passo? Cortar o auxílio transporte? Moro no São Carlos, lá no Estácio. Vou ter que caminhar durante uma hora depois das 22h para voltar para casa? Hoje tenho medo de não conseguir me formar, de ter que trancar o curso. Ou vou terminar em uma jornada tripla fazendo docinho em casa para vender aqui nos corredores e ganhar uns trocados. De qualquer forma, é lamentável esse corte repentino no meio do ano”.
Foto: Kelvin MeloProfessores, alunos e técnicos da Escola de Educação Física e Desportos protestaram, no Consuni da última quinta-feira (26), contra as precárias condições de trabalho e estudo. A unidade ainda está com as instalações interditadas após dois desabamentos do telhado — um, em setembro de 2023; o segundo, em maio deste ano. O grupo levou um bolo e balões pretos para marcar o “desaniversário” do primeiro acidente e cobrar respostas da reitoria.
As aulas estão espalhadas por salas do CCS, CT, CCMN e Letras, na piscina do Clube dos Empregados da Petrobras (CEPE) e no Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro, na Tijuca, para os cursos de Dança. “Estamos vivendo um momento muito difícil e precisamos reverberar o verbo esperançar, como disse Paulo Freire. E para os jovens que sonham em cursar o nível superior na UFRJ, e ser até o primeiro da sua família na federal, como eu sou, deixo um recado: estamos lutando pelos nossos sonhos!”, disse a estudante Alessandra Vasconcellos, do nono período de Educação Física, lendo uma carta do coletivo.
Na tentativa de minimizar os prejuízos à formação dos alunos, boa parte das atividades práticas da Educação Física foi deslocada para meados de outubro, na expectativa de uma volta parcial à sede. A ideia seria utilizar os blocos C, D e E, onde ficam localizados os ginásios. Os espaços possuem uma estrutura independente dos trechos desabados (A e B).
Mas o aproveitamento dos espaços também depende de obras. Avaliação do Escritório Técnico da Universidade de julho deste ano verificou a necessidade da demolição de uma parede construída no segundo pavimento do ginásio do Bloco E e a manutenção das redes de proteção nos tetos de todos os ginásios.
No protesto do Consuni, a comunidade da Escola cobrou celeridade para estas obras e a instalação de cinco contêineres, que funcionariam como vestiários. A professora Luciana Peil, do Departamento de Jogos, participou do ato no Consuni e expôs a indignação com a falta de uma solução por parte da reitoria. A docente está dando uma disciplina de Sociologia do Esporte, teórica, no CCMN, mas não tem um lugar para lecionar Fundamentos do Basquetebol. “Não estão enxergando a EEFD como parte da UFRJ. O maior curso de Educação Física do país, a primeira Escola de Educação Física civil do país, não consegue funcionar. É inadmissível”, disse.
Já o caso dos cursos de Dança é um pouco diferente. Além das teóricas espalhadas por vários Centros, as aulas práticas vêm acontecendo no Centro Coreográfico da Tijuca ou em espaços improvisados. “Sem piso adequado, sem ventilação. Estamos sobrevivendo”, relatou a coreógrafa Denise de Sá. A liberação da área dos ginásios também melhoraria a situação da Dança.
RESPOSTAS
A pró-reitora de Graduação, professora Maria Fernanda, disse que acompanha de perto a crise da Escola, inclusive com o levantamento de espaços disponíveis em outras unidades para as aulas teóricas. Deu o exemplo de destacar um servidor apenas para atender as demandas da EEFD no Sistema de Gerenciamento Acadêmico. “Em momento nenhum, a gestão tem estado à parte desta situação”.
Superintendente geral de Gestão, Daniele Delgado disse que a equipe da pró-reitoria de Governança está ciente da prioridade de todos os processos relativos à Escola. O serviço de manutenção das telas deve ser iniciado nos próximos dias. Em relação à demolição da parede, uma empresa prepara o estudo para enviar o orçamento.
Por outro lado, a notícia sobre os contêineres não é positiva. “O aluguel ou compra do contêiner-vestiário ainda não chegou para a licitação. Está ainda na fase de elaboração do projeto”, explicou. “Temos que trabalhar com a realidade. O contêiner não estará pronto em outubro. Até porque tem uma obra civil por fazer: parte elétrica, parte hidráulica. É um produto que será fabricado por encomenda”.
E OS DEMAIS BLOCOS?
A Escola é dividida em cinco partes. Os desabamentos aconteceram nos blocos A e B, que são compostos pelo mesmo sistema estrutural de lajes com beirais, e sua liberação depende de trabalhos de sustentação. Até o momento, houve o escoramento interno emergencial do primeiro trecho que desabou (em dezembro do ano passado) e da parte externa dos beirais de todo o bloco B, em junho último. “Nós estamos aguardando o escoramento interno do segundo trecho que desabou, além da parte externa dos beirais de todo o bloco A”, informou a diretora, professora Katya Gualter. O segundo escoramento interno tem previsão de conclusão até o final de outubro. O escoramento externo dos beirais do bloco A começa “tão logo tenhamos recursos disponíveis”, completa a diretora.
ENTREVISTA I DEPUTADO FEDERAL GLAUBER BRAGA, PSOL-RJ
Houve negociação com a PM antes de sua prisão e dos estudantes?
O Batalhão de Choque não aceitou qualquer tipo de negociação. O fato é que eles já chegaram com extrema violência desde o momento em que eu entrei no portão da universidade, e depois quando eu fui ao encontro dos estudantes na ocupação. Lá houve uma tentativa de não criminalização do movimento estudantil, mas entre a minha fala e a entrada do Batalhão de Choque foram só seis minutos.
Como agiu a polícia assim que chegou ao local?
A polícia agiu de forma truculenta. O comandante do Choque se colocou como se fosse dono da universidade. Isso, evidentemente, foi corromper a autonomia universitária. E essa é uma responsabilidade direta da reitoria. Tanto é que ele não estava querendo que eu passasse do portão da universidade. Quem é um comandante de Choque para definir quem entra ou quem não entra em uma universidade pública? Ainda mais eu que estava no papel de procurar agir e dialogar para que os estudantes não sofressem violência. Esse foi o cenário.
Chegou a presenciar agressões a estudantes? Como foram tratados na Cidade da Polícia os detidos?
Sim, presenciei, e há vídeos circulando que mostram essas agressões. A violência de um ataque como aquele que foi feito pelo Choque, para além do que eu presenciei pessoalmente com relação aos estudantes, é algo inconcebível. Na Cidade de Polícia nós aguardamos até que todos os depoimentos fossem dados. O delegado apresentou uma postura razoável, de procurar ouvir, mas o pessoal do Choque continuou fazendo muita pressão por autuação de estudantes, coisa que felizmente não aconteceu, graças a uma ação decisiva e importante de advogados e advogadas populares que estavam lá.
Como se sente agora, diante do ocorrido?
É um episódio lamentável, triste, onde foi corrompida a autonomia universitária para a entrada de um Batalhão de Choque. Mas, ao mesmo tempo, fico orgulhoso de quem, no movimento estudantil, está lá lutando pela educação pública, pela Uerj, lutando para permanecer na universidade, pela permanência estudantil. Temos que dar uma salva de palmas para esses estudantes.
Vê alguma ingerência política em sua prisão, seja do governador Claudio Castro, seja do presidente da Câmara, Arthur Lira?
Não tenho como afirmar isso. Evidentemente o Batalhão de Choque sabia que eu era parlamentar. Tanto é que eu entrei na ocupação nessa condição. E a minha presença ali tinha como objetivo evitar o sofrimento de mais violências por parte dos estudantes. Mas isso aparentemente não era uma preocupação do batalhão.
O que achou da postura da reitoria da UERJ no episódio?
A postura da reitoria foi o que levou a essa situação. Não há meias palavras: é inconcebível incentivar, autorizar e legitimar a entrada de Batalhão de Choque contra estudantes na Uerj ou em qualquer outra universidade.