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Foto: Kelvin MeloO Conselho Universitário delibera no próximo dia 18 sobre o projeto que troca os 11 andares da UFRJ no edifício Ventura Towers por dez infraestruturas acadêmicas e de assistência estudantil. O anúncio foi feito pelo reitor Roberto Medronho durante a segunda audiência pública sobre o tema, na quarta-feira (10).
A conclusão de obras inacabadas — como o complexo CCJE-CFCH, ao lado da Letras — e mais dois restaurantes universitários (um no Fundão e outro em Macaé) fazem parte da lista de contrapartidas já noticiada na edição nº 1.323 do Jornal da AdUFRJ.
“No dia 18, está agendada a sessão especial para apresentação da Comissão de Desenvolvimento”, afirmou o reitor, citando a instância do colegiado responsável pela avaliação da proposta. “E o relatório da comissão é amplamente favorável ao projeto”, adiantou. A aprovação do Consuni é requisito básico para a alienação dos andares pela universidade, de acordo com a legislação federal.
Na audiência do dia 10, as dúvidas sobre os valores e o momento da negociação, o acompanhamento e custo de manutenção das contrapartidas e a necessidade de mais debate deram o tom da reunião realizada em um esvaziado Salão Pedro Calmon, no campus da Praia Vermelha.
Técnico-administrativo lotado no Centro de Tecnologia, Agnaldo Fernandes trabalhou na gestão do ex-reitor Roberto Leher, que iniciou este projeto. “Não sou contra, evidentemente, o projeto de valorização dos ativos”, afirmou. Mas questionou a não divulgação do valor do negócio envolvendo o Ventura. “O Conselho Universitário vai ter que decidir alienar este patrimônio sem saber quanto custa. Isso é um problema. O mercado sabe quanto custa”. Agnaldo sugeriu que, pelo menos, o valor das contrapartidas fosse informado para subsidiar o debate.
A preocupação com o acompanhamento das obras de contrapartida motivou a pergunta da professora Ana Lúcia Cunha Fernandes, da Faculdade de Educação. “Sendo aprovado, como será o processo de acompanhamento? Este é o aspecto mais delicado na UFRJ. As obras começam e não terminam”.
Já a professora Cláudia Piccinini, também da Faculdade de Educação, pediu a ampliação da discussão na UFRJ. “O método desta casa tem que ser o da gestão democrática. A gente vai apostar no debate?”, questionou “Serão estas audiências pontuais e esvaziadas ou vamos levar aos departamentos de cada unidade para que haja deliberação, via departamentos, do que a gente vai fazer enquanto opção política desta universidade?”.
RESPOSTAS
“Se vocês forem às atas de todas as reuniões do Conselho Universitário desde 2018, não encontrarão nenhum outro projeto que foi tão debatido, tão apresentado como este. Para além disso, reuniões como esta foram muitas”, disse o professor João Carlos Ferraz, integrante da comissão que assessora a reitoria na negociação.
Os valores da negociação não foram divulgados ainda para não “contaminar” a licitação, explicaram os defensores da proposta. A expectativa é que aconteça um processo semelhante ao da concessão de uso de área da Praia Vermelha para construção do equipamento cultural multiuso.
Na ocasião, o consórcio vencedor da disputa, além do “novo Canecão”, assumiu o compromisso de construir um prédio acadêmico e um restaurante universitário naquele campus e ainda pagou um ágio de R$ 4,350 milhões.
Houve dúvidas se este seria o melhor momento para negociar o Ventura. “Hoje, 45% do espaço da universidade não gera receita. Não tenho a menor ideia do que o futuro nos reserva. O mercado vai melhorar? Mas o custo das contrapartidas vai ficar o mesmo ou vai aumentar? Estão olhando um lado da equação, olhem o outro. A nossa contrapartida estará deteriorando. Então o custo de construir no futuro será maior”, afirmou Ferraz, em referência às obras inacabadas.
Sobre a fiscalização das contrapartidas, a pró-reitora de Governança, professora Claudia Cruz, informou que a reitoria constituiu recentemente uma comissão permanente de acompanhamento gerencial de obras de infraestrutura. “Faço parte desta comissão, junto da Prefeitura Universitária, Escritório Técnico e PR-3 (pró-reitoria de Finanças)”, disse. Será uma comissão responsável pela coleta de informações, que serão repassadas ao reitor e aos conselhos superiores da universidade.
Durante a audiência, também foi questionado como a universidade, hoje em apuros financeiros, poderá sustentar dez novas estruturas em funcionamento, se tudo der certo com o projeto. “Ou pensamos prédios melhores para o nosso funcionamento ou a gente fica até tudo desabar. Ou pegar fogo. A gente precisa ser honesto com as autoridades que estão acima de nós. Precisaremos de recursos para manter essas estruturas em condições adequadas”, completou a pró-reitora.
“O Ventura foi pensado para ser uma fonte de receita para a universidade. Ele já foi uma fonte maior de receita. Na minha opinião, não justifica manter um ativo que hoje tem gerado um volume muito menor de receita, enquanto a gente tem tantas estruturas em condições tão precarizadas”, concluiu a professora.
ReproduçãoEntre as dez contrapartidas previstas no projeto, a inclusão da obra de construção de um restaurante universitário em Macaé é o item mais recente. “O professor Medronho, a professora Cássia e a comissão reviram e acrescentaram o restaurante, quando retornou esta discussão. Ficamos muito felizes, porque a gente percebe que há um início de restabelecimento da justiça para a infraestrutura de Macaé, que é deficitária”, afirma o decano do Centro Multidisciplinar da UFRJ no município do Norte Fluminense, professor Irnak Marcelo Barbosa.
“Nós somos filhos do Reuni. Só que essa expansão não foi plena.
Até hoje, a gente (Nupem, Polo Ajuda e Cidade Universitária) depende de cessões de uso do município. Não existe um território próprio da UFRJ em Macaé”, explica Irnak.
Hoje, somando almoço e jantar, são ofertadas entre 900 e 1 mil quentinhas por dia, em Macaé. Mas as refeições não são produzidas no local. Com a construção do restaurante, o decano informa que há uma previsão de aumento de 25% a 30% do número de refeições.
Outro ganho é na diminuição do custo. “Com uma edificação, cai muito o valor. Faz-se um contrato com a empresa que não precisa montar uma cozinha”. Além do aproveitamento acadêmico: “Aqui temos um curso de Nutrição. Mais que um restaurante universitário, será um restaurante-escola”, diz.
Os representantes de Macaé no Consuni, de acordo com o decano, serão favoráveis à aprovação do projeto do Ventura. “Com a ressalva de que Macaé precisa ganhar mais protagonismo nas decisões estratégicas da universidade”.
Fotos: Fernando SouzaRenan FernandesO estudante Marcos Vieira carregava com dificuldade cinco sacolas repletas de livros, no cair da tarde do dia 11. Formado em Geografia pela UFRJ, ele não escondia a felicidade de visitar a I Feira do Livro Científico da universidade, na Casa da Ciência. “Estava ansioso para ver o que as editoras oferecem. Sentia falta de uma feira como essa no Rio porque vejo acontecer com frequência em São Paulo”, disse.
O aluno aproveitou os descontos de até 50% oferecidos para encontrar títulos que vão fazer parte de sua pesquisa no doutorado. “Estou montando um projeto sobre a geografia da saúde. Só da Fiocruz comprei mais de 20 livros. Também encontrei títulos legais da UFRJ e da UNESP”, afirmou.
Além dos títulos de que precisava para suas pesquisas, Marcos encontrou um ambiente aconchegante, com palestras, sessões de autógrafos, apresentações musicais e programação infantil. “As atividades planejadas, que incluem espetáculos musicais, mesas de debates e oficinas para crianças, tornam o evento acessível e atraente para todas as idades, incentivando a curiosidade e o interesse pelo conhecimento desde cedo”, afirmou a professora Christine Ruta, coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura, organizadora do evento que durou até o domingo (14).
“A Feira proporciona um espaço de encontro e troca de ideias, onde o público tem acesso a obras de alta qualidade e debates enriquecedores”, acrescentou Ruta. “O Fórum reafirma seu compromisso de estreitar os laços entre a Universidade e toda a sociedade, além de atuar na disseminação do conhecimento e na valorização da ciência e da arte”, completou.
O professor Marcelo Jacques, diretor da Editora da UFRJ, concordou. “Esse evento foi mais um canal de comunicação com a sociedade. O Fórum tem o sentido de fazer essa ponte da universidade com a sociedade e o livro é um canal importante. A universidade não produz livros apenas para o consumo interno”, avaliou.
O docente celebrou a iniciativa de reunir 26 editoras universitárias de diferentes partes do Brasil. “Já tínhamos a experiência de organizar feiras aqui na Praia Vermelha, mas sempre com editoras do estado do Rio. Esta é a primeira que conseguimos adesão massiva de editoras de grandes universidades como a USP, a Unicamp, a UFMG, entre outras”.
O professor Pedro Rocha, do Instituto de Relações Internacionais e Defesa, foi às compras ao final do dia de trabalho e elogiou o projeto. “Espero que seja o início de um evento que se repita com um número cada vez maior de editoras, ganhando projeção e alcance”. O docente adorou as instalações da Casa da Ciência da UFRJ. “O lugar é muito agradável”, aprovou.
O desejo de novas edições da Feira é compartilhado pelos organizadores. O professor Ismar de Souza Carvalho, diretor da Casa da Ciência, agradeceu os apoios que permitiram a realização do evento. “Ainda é experimental, mas a gente pretende repetir a cada ano ou a cada dois anos. O suporte financeiro da AdUFRJ, da Faperj e do CNPq foi fundamental para montarmos essa estrutura que traz muito do conhecimento científico publicado no nosso país”, disse.
A vice-presidenta Nedir do Espirito Santo representou a AdUFRJ na mesa de abertura da feira. “Passei pelo salão vendo as obras. Foi um ambiente muito convidativo. Precisamos divulgar mais a produção das editoras universitárias”, elogiou.
Vice-presidente da AdUFRJ, o professor Antônio Solé criticou, durante o Consuni desta quinta-feira (11), os ataques sofridos por docentes da UFRJ no exercício da profissão.
Solé leu uma carta em que reivindica mais cordialidade nas relações internas em busca do objetivo comum, o de melhores condições de trabalho na instituição. Abaixo, a íntegra da carta:
"No dia 10 de junho, em reuniao com reitores das instituições federais de ensino superior, o presidente Lula disse que as universidades públicas são feitas apenas para os ricos, não para os pobres. Essa declaração circulou amplamente, especialmente nos meios políticos de direita. E o presidente Lula, de fato, falou isso. Mas era ironia, usada para desmascarar o pensamento da elite política. Esse fato chama a atençao para o fenômeno perigoso das palavras e atos usados fora do contexto como arma política. E é disso que quero falar agora. O Brasil é um país majoritariamente conservador, com profundos racismo, machismo e LGBTfobia estruturais. É fundamental lutar contra esses preconceitos anacrônicos, por meio de leis e de denúncias. E é justamente por essa luta ser tão importante que devemos levá-la a sério, evitando seu uso indiscriminado e injusto como instrumento de opressão e assédio contra pessoas com as quais discordamos por outros motivos. Isso vale pra fora e pra dentro de nossa UFRJ.
A sociedade brasileira está polarizada, e ânimos se exaltam facilmente. Acusações falsas, baseadas muitas vezes em falas ou atos tomados propositalmente fora de contexto, têm sido usadas de maneira leviana por parte de alguns grupos militantes na nossa universidade para intimidar oponentes políticos, uma atuação que em muito se assemelha às práticas bolsonaristas denunciadas por estes mesmos grupos. Acusações falsas não são brincadeira: Luiz Cancellier, reitor da UFSC, acabou se suicidando ante o assédio moral e legal movido contra ele. Na minha opinião, devemos repudiar esse tipo de estratégia covarde dentro de nossa Universidade – inclusive neste Conselho - e devemos manter nossas discussões em um nível respeitoso, sem coerções ou violências físicas ou psicológicas. Em particular, acho lamentável que docentes, que, em suas Assembléias, escolheram majoritariamente não entrarem em greve, tenham sido constrangidos, em vários momentos, por membros de nossa comunidade acadêmica que haviam escolhido, também democraticamente, outra forma de luta.
É papel de todos nós, e em particular da nossa Associação Docente, lutar, de todas as formas, pela defesa de nossos professores contra assédios ou acusações levianas, fake news e outros tipos de agressões covardes. É nosso dever, também, permitir o exercício de nossa profissão, sem constrangimentos, barricadas ou acusações anônimas.
Ao mesmo tempo que exigimos respeito, clamamos a comunidade a reconhecer que estamos todos do mesmo lado, na defesa da Educação pública, gratuita e de qualidade. Podemos escolher formas diferentes de luta, podemos militar em campos políticos diversos, mas não devemos perder de vista nossos objetivos maiores de amor à UFRJ e de luta por melhores condições de trabalho, o que inclui nossa saúde mental de poder viver em um ambiente mais cordial em nossas relações."
Foto: Kelvin Melo
Foto: Renan FernandesRenan FernandesA AdUFRJ definiu em assembleia, na quarta-feira, 2, a delegação que enviará ao 67º Conselho do Andes (Conad). O evento acontece entre os dias 26 e 28 de julho, em Belo Horizonte, no campus Nova Suíça do CEFET. A professora Mayra Goulart, presidenta da AdUFRJ, foi indicada à vaga de delegada com direito a voto. A mesa recebeu a inscrição de 13 nomes para concorrer às nove vagas de observadores.
A assembleia contou com transmissão ao vivo pelo Youtube e intérpretes de Libras para garantir a acessibilidade às pessoas com deficiência auditiva. Contudo, a participação docente foi pequena. Trinta e três professores filiados assinaram a lista de presença e apenas 31 depositaram seus votos na urna.
“Me pareceu que uma parte simplesmente desistiu do sindicato, pelo menos nesse Conad. E isso não é bom”, disse a professora Eleonora Ziller Camenietzki, da Faculdade de Letras.
Eleonora estará entre os nove observadores da delegação da AdUFRJ. Ela comemorou ter recebido votos de todos os docentes que participaram do pleito. “Fiquei muito feliz, porque acredito que o nosso caminho precisa ser sempre o de caminharmos juntos, mesmo quando as divergências parecerem intransponíveis”, celebrou.
Mayra também acredita no diálogo como instrumento para avanços nas condições de trabalho da categoria e para a recomposição orçamentária das universidades. “Espero que as fraturas causadas pelas discordâncias quanto à estratégia grevista não se sobreponham às convergências que temos acerca da necessidade de mais orçamento para as universidades públicas”, afirmou.
O tema central do Conad em 2024 é “Fortalecer o ANDES-SN na luta por orçamento público, salário e em defesa da natureza”. O impacto da greve entrará em pauta para atualizar o debate sobre conjuntura e sobre o plano de lutas do movimento docente.