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CEPG do dia 28 de novembro discute crise das bolsas - Foto: Silvana SáA UFRJ perdeu 700 bolsas de doutorado e 600 de mestrado do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os números retratam o período de 2018 a 2025. Os dados são da Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PR-2), mas o problema já vinha sendo alertado pelas coordenações dos programas de pós da universidade.
Para tentar recompor parte dessas perdas, a PR-2 mudará temporariamente os critérios para a distribuição de bolsas de sua cota do CNPq. A ideia é dar peso maior a programas de excelência, que foram os mais prejudicados pelas mudanças na concessão de bolsas financiadas pela agência. “Nós não queremos que os programas mais bem avaliados da UFRJ caiam de produção, por isso essa saída provisória”, explica o pró-reitor João Torres.
A próxima distribuição de bolsas já trará essas mudanças para tentar equalizar os prejuízos. A agência de fomento disponibilizará em 2026, para a cota da PR-2, 82 bolsas de doutorado (41 por semestre) e 144 de mestrado (72 por semestre). O número, no entanto, segue sendo insuficiente. “Veja, 41 bolsas é o número que apenas um dos programas perdeu do CNPq”, observa o pró-reitor.
Também houve uma redução absoluta de 106 bolsas da Capes em 2025, fruto de novos critérios de distribuição que reverberam a queda de bolsas do CNPq. “Os critérios da Capes levam em conta o Índice de Desenvolvimento Humano do município onde o programa está localizado e um multiplicador ligado ao número médio de defesas de teses e dissertações por ano do programa”, explica João Torres. “A combinação dos fatores acaba afetando os programas da UFRJ”.
A ideia de usar o IDH é estimular a pesquisa acadêmica para o desenvolvimento das regiões mais empobrecidas do país. Porém, o alto IDH do Rio de Janeiro reduz a pontuação da UFRJ em comparação com universidades localizadas em regiões de baixo IDH. Os programas, de acordo com o pró-reitor, entraram num ciclo vicioso. “Além do multiplicador do IDH, a redução de bolsas do CNPq diminui a entrada de novos alunos. Menos alunos geram menos defesas, ou seja, há queda também nesse multiplicador, e isso gera menos bolsas da Capes no ciclo seguinte”, ilustra. “Esse efeito é observado sobretudo nos programas de excelência da UFRJ que historicamente tinham muitas bolsas do CNPq”, analisa o pró-reitor.
A pró-reitoria ainda não definiu como estabelecerá o peso diferente para tentar refrear essa espiral negativa. “Ainda não fechamos. Temos 136 programas de pós-graduação e um número insuficiente de bolsas”, observa João Torres. “O que tentamos é atuar da maneira mais republicana e igualitária possível”, afirma o pró-reitor. “No entanto, percebemos que neste momento os programas 6 e 7 precisam de mais apoio”.
Mais bolsas
Representante do Centro de Ciências da Saúde no CEPG e coordenadora de pós-graduação do CCS, a professora Cláudia Pinto Figueiredo, do Instituto de Biofísica, propõe que das 82 bolsas que serão destinadas pelo CNPq à PR-2, 50 sejam distribuídas para os programas que foram mais prejudicados no Centro. “Queremos essas bolsas para corrigir emergencialmente as perdas acumuladas”, pleiteia a professora Cláudia.
A docente afirma que sem esse fomento vários programas 6 e 7 não terão condições de abrir seleção para o doutorado. “Se esses programas caem, toda a UFRJ cai junto. Não é bom para ninguém essa crise”, diz. Ela destaca a importância de um esforço coletivo: “Está todo mundo do mesmo lado. Estamos todos trabalhando pelo mesmo objetivo: fortalecer a universidade e garantir condições equilibradas para todos os programas”.
Para a docente, a fórmula da Capes deixa de ver as perdas que os programas tiveram com as bolsas do CNPq. “A Capes tratou como se fosse um problema só do CNPq, quando, na verdade, reverbera em todo o sistema de pós-graduação”, aponta a professora. “Ao invés de a PR-2 corrigir esse problema, o aprofundou. Não há como tratar diferentes de forma igualitária. É preciso tratar com equidade. Dar mais bolsas a quem perdeu mais”, defende.
Ela dá dois exemplos: no caso da cota CNPq, um dos programas do CCS perdeu 60% de suas bolsas e a PR-2 repôs 6,2% desses benefícios. Em contrapartida, outro programa que não tinha bolsas (e por isso não teve perdas) recebeu 6 bolsas. “A PR-2 colocou suas cotas de maneira aleatória, sem olhar de maneira estratégica para os PPGs que vem sendo desmontados”, critica a professora Cláudia Figueiredo. “A cota da PR-2 é para ser estratégica, discricionária. É para equalizar os prejuízos”, acredita. “Os programas que estão agonizando são os maiores da UFRJ”, afirma.
O professor João Torres rebate e argumenta que a PR-2 tem critérios. “Não é aleatório. Nos baseamos nas bolsas utilizadas, nas bolsas já distribuídas e em uso, na demanda de bolsas que inclui os ingressantes e, em ordem decrescente, por notas do PPG”, explica o pró-reitor. “Outra informação relevante e não falada é que, em 2021, quando ainda não estávamos na reitoria da UFRJ, a universidade já tinha perdido 400 bolsas de doutorado”.
Evasão de bons alunos
Também muito afetado pelos cortes, o Programa de Pós-Graduação em Química (PGQU), o mais antigo do país na área, viu o número de ingressantes cair vertiginosamente. “Em 2025, foi a primeira vez em 63 anos que a gente teve um processo seletivo com zero bolsa de doutorado. Isso era inimaginável”, conta a professora Sabrina Baptista Ferreira, coordenadora do PGQU. “Perdemos alunos para a USP e para a UFMG porque lá eles tinham bolsa. Estamos vendo nossos bons alunos, formados nas nossas graduações, irem embora”, lamenta.
A queda no número de bolsas afeta muito mais os programas experimentais por uma razão: os estudantes não conseguem conciliar essa formação com outra ocupação formal. “O aluno precisa estar no laboratório gerando resultado e não consegue ter outro emprego. Então, ele precisa da bolsa para se manter”, justifica a professora Sabrina.
“Antigamente os programas tinham cotas de bolsas do CNPq. Quando veio a mudança, implementada em 2019, todos os programas perderam essas cotas. Quando os alunos defendem, essa bolsa não volta mais para a gente, como voltava antes”, explica a professora.
“Atrelado a isso, tivemos cortes de bolsas da Capes. Isso virou uma bola de neve. Como não temos bolsas, temos impacto nas entradas de novos alunos. A gente tinha processos seletivos com 200 alunos e entravam na ordem de 40 de doutorado e 30 de mestrado”, lembra. “Temos 64 docentes e, ao longo de todo o ano passado, recebemos 16 alunos de doutorado e 26 de mestrado. Muitos professores não estão conseguindo ter seus orientados, desenvolver seus projetos, porque faltam alunos”.
A notícia da revisão da fórmula da PR-2 agradou a professora. “Eu acho excelente. É importante colocar nessa conta o tamanho do programa. Se você coloca todo mundo na mesma regra, você distorce a realidade. Se você tem mais professores, precisa de muito mais alunos para fazer a máquina girar”, avalia. “O que está ocorrendo é um balizamento por baixo e os programas 6 e 7 são os que mais estão sofrendo. Vai cair a produção da UFRJ como um todo”.
O que dizem Capes e CNPq
A presidente da Capes, professora Denise Pires de Carvalho, ex-reitora da UFRJ de 2018 a 2022, afirmou que a agência mantém, desde 2020, o mesmo modelo de distribuição de bolsas. Ele é baseado em quatro parâmetros. “Nesse modelo, os cursos de doutorado com notas 6 e 7 e que titulam acima da média da área recebem maior número de bolsas”, explica. “A quarta dimensão, o IDHM, não altera a distribuição entre os PPGs da UFRJ localizados na cidade do Rio de Janeiro, pois todos se encontram na mesma faixa de IDHM, que permaneceu inalterada entre 2024 e 2025”, pondera a dirigente.
De acordo com os dados da Capes, entre 2020 e 2024 houve aumento do número de bolsas na UFRJ. “Tanto pela aplicação do modelo quanto, especialmente, porque a partir de 2024 a Capes passou a conceder para a PR-2 as cotas relativas aos Programas Proex, algo que não ocorria antes. A UFRJ é muito beneficiada pela ação, uma vez que quase metade dos seus programas acadêmicos são de excelência”, diz a professora Denise. “É importante destacar que as cotas repassadas às pró-reitorias, seja com base na Demanda Social ou no Proex, são distribuídas internamente de maneira discricionária, conforme critérios de cada pró-reitoria”.
Segundo a presidência da Capes, a agência também autorizou que, entre 2024 e 2025, as pró-reitorias remanejassem, de forma igualmente discricionária, as bolsas não utilizadas entre PPGs da mesma instituição para evitar que ficassem ociosas e fossem retiradas do sistema no ano subsequente. “No total, a UFRJ perdeu 123 bolsas de 2024 para 2025: 98 de doutorado e 25 de mestrado, devido à falta de utilização das cotas em 2024, as quais poderiam ter sido remanejadas pela PR-2 entre os PPGs para evitar ociosidade”, critica.
O CNPq não respondeu aos questionamentos da reportagem até o fechamento desta edição.
Sonho de várias gerações de professores da UFRJ, a construção de uma sede para a ADUFRJ na Cidade Universitária está cada vez mais perto de sair do papel. No último dia 26, em decisão unânime, o Conselho de Curadores da UFRJ — que é a instância deliberativa para assuntos de patrimônio da instituição —, aprovou a concessão do uso de um terreno para a obra. A Procuradoria da universidade também já autorizou a concessão. Agora, só falta a assinatura do contrato. O terreno, localizado entre o Horto Universitário e o Espaço Cultural do Sintufrj (veja foto acima), possui uma área total de 579,06 m².
A diretoria da AdUFRJ fará uma reunião do Conselho de Representantes e uma assembleia geral de docentes para discutir o tema. O CR será na próxima sexta-feira. A ideia é que o projeto seja executado por docentes e alunos da Faculdade de Arquitetura.
A sede da ADUFRJ reforça a concepção de um sindicato como local de encontro e reflexão dos professores, anunciada pela diretoria durante a posse de outubro. “Essa caixa de descompressão que vai ser a ADUFRJ, nós pensamos que vai ser um lugar para a gente tomar café, para a gente se encontrar, para a gente aprender, para a gente ensinar também. Vai ser um lugar para a gente fazer exposições de arte, para a gente inventar, com criatividade, novas possibilidades para a universidade, e novas possibilidades para o Brasil também”, afirmou a presidenta do sindicato, professora Ligia Bahia.