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Fotos: Renan FernandesRenan FernandesA entrada do edifício Jorge Machado Moreira virou uma enorme galeria de arte entre 3 e 5 de dezembro. Arte à moda antiga, com obras feitas pelos alunos no velho e bom papel em aquarelas, guaches, têmperas, colagens, desenhos e sketchbooks. Todos expostos na 1ª Semana de Arte Sobre o Papel da Escola de Belas Artes.
As amigas Marina Aguinaga e Nayara Rufino, alunas do terceiro período do curso de Pintura da UFRJ, viveram a experiência de expor suas obras pela primeira vez. “Estou muito feliz de expor meu trabalho para que gente de todo lugar possa ver. Já tínhamos conversado sobre nossa vontade de expor nossas obras e, quando a professora falou sobre essa oportunidade, a gente aproveitou”, disse Marina, que expôs uma tela em óleo sobre papel que teve a colega como inspiração. “Vi um vídeo dela no TikTok e achei que estava linda. Printei a tela e pensei que aquela imagem combinava com a estética que gosto de fazer”.
O projeto é a primeira edição de uma ação de extensão coordenada pelas professoras Lourdes Barreto, Luana Manhães e Martha Werneck. Entre os 80 artistas selecionados, a maior parte é de alunos e ex-alunos dos cursos da EBA, mas também participaram estudantes vinculados a outras universidades e a cursos livres de artes.
A professora Luana Manhães, do Departamento de Análise e Representação da Forma da EBA, trabalha com disciplinas de desenho e na formação básica de todos os cursos da escola. “Nossa ideia é resgatar uma atividade importante que tínhamos aqui na EBA que era a Semana da Aquarela, expandindo também para outras técnicas que tenham o papel como matriz”.
Manhães destacou a relevância da feira para que os estudantes compreendam a importância do processo de criação do desenho. “Da Vinci falava que o mais importante do desenho era o seu processo. Sempre digo para os estudantes que eles não precisam ficar preocupados nem com o início nem com o final, mas em como chegar ao resultado final”.
A ação estimulou estudantes a praticar suas técnicas artísticas. “Muitas vezes, a gente olha uma tela em branco e é engolida por aquele vazio. Não adianta estudar o desenho apenas na teoria. É a prática do desenho que nos leva à compreensão de conhecimentos expressivos e poéticos. Então, só entendemos a questão formalista da imagem, fazendo”, explica a professora Luana.
Em um mundo cada vez mais digital, a docente considera que a valorização de técnicas mais tradicionais é uma validação de todas as possibilidades de arte. “As técnicas podem ser complementares. Podemos usar a arte criada por uma inteligência artificial como uma ferramenta para desenvolver outros trabalhos com nossa autoria. Tudo é parte da expressão visual”, explicou.
As amigas Marina e Nayara estão acostumadas a difundir seus trabalhos nas redes sociais. “Na internet é diferente. A pessoa vê sua arte, dá um like e esquece para sempre”, comentou Rufino. A mostra trouxe uma nova experiência no contato entre artista e público. “Faz toda diferença o público conseguir ver a técnica usada, o relevo. Fora a possibilidade de ter um contato pessoal com o artista para elogiar, perguntar e tirar dúvidas. A exposição é uma experiência artística mais completa”, explicou Marina.
ILUSTRADOR E INFOGRAFISTA
Além da exposição, a feira contou com palestras e oficinas. Alessandro Alvim, editor executivo visual do jornal O Globo, participou do primeiro dia de evento. Ex-aluno do curso de Gravura, Alvim falou do desenho como instrumento de mudança de destinos a partir de sua experiência pessoal.
O designer lembrou com carinho de professores da UFRJ que foram importantes durante sua formação. “Lembro bem do Marcos Varela, Wladimir Machado, Ricardo Newton, já falecidos. Do Roberto Cruz, Adir Botelho, Kazuo Iha, aposentados. E da professora Lourdes Barreto ainda ativa”, recordou. “Quando eu tinha 15 anos, um professor da escola montou um cursinho de arte e tinha alguns alunos da EBA. Descobrir que existia a possibilidade de estudar arte foi importante para mim. E depois, entrar na universidade e aprender desenho foi fundamental para me diferenciar como ilustrador e infografista”, concluiu o profissional.
O sistema de avaliação da Capes terá uma grande novidade a partir do próximo ano. Os artigos científicos não serão mais classificados apenas pelo grau de importância atribuído aos periódicos nos quais foram publicados. Outros critérios, como o número de citações, ganharão mais relevância no ciclo entre 2025 e 2028.
Hoje, dois artigos diferentes publicados na renomada revista Nature — considerada como A1, o máximo conceito do sistema — recebem a mesmíssima avaliação. “Mas esses artigos podem ter impactos diferentes nas suas áreas. No próximo ciclo – além de estar em uma revista de grande prestígio, um aspecto que vai permanecer na avaliação –, haverá atributos que irão diferenciá-los”, explica a presidente da Capes e ex-reitora da UFRJ, professora Denise Pires de Carvalho.
Um desses atributos poderá ser o número de citações, dependendo da área. Um artigo na revista Nature ou equivalente, com apenas uma citação, poderá valer menos que um artigo publicado em uma revista nacional importante, com maior número de citações, por exemplo. A medida, de acordo com a dirigente da Capes, poderá valorizar os periódicos nacionais. “Revistas nacionais, indexadas e com projeção internacional, poderão valer mais, porque não só a revista valerá, mas o conteúdo do artigo e suas citações”, completa.
A injusta competição internacional nesse mercado editorial é outro fator que pode ser atenuado com a ampliação da sistemática de avaliação. “A competição as vezes não é justa com o pesquisador brasileiro nessas revistas de maior renome”, afirma Denise. “Com foco mais na produção acadêmica e não nas revistas, vamos valorizar a pesquisa brasileira e o seu impacto, valorizar o pesquisador brasileiro e possivelmente também as revistas brasileiras. É isso que a gente pretende”.
Outro ponto que poderá ser levado em conta na classificação do artigo será o impacto na sociedade, como a divulgação no noticiário e repercussão nas redes. “Estão dizendo que o pesquisador vai virar um Youtuber. Não é nada disso. É a divulgação científica tão necessária. A divulgação científica vai fazer com que a sociedade fique perto dos cientistas e vai diminuir o negacionismo”, conclui Denise.
Os critérios comuns do próximo ciclo de avaliação da Capes aprovados pelo conselho técnico científico serão publicados pela diretoria de avaliação no início do próximo ano. As fichas de avaliação de cada área com critérios específicos serão divulgadas em março de 2025 (leia mais no quadro abaixo).
OTIMISMO
Integrante do CTC da Capes desde 2018 na área de Engenharia I e professor da Coppe, Rômulo Orrico está otimista com as mudanças que estão sendo desenhadas para o próximo ciclo. “A primeira expectativa é que seja evitado o excesso de publicações. O foco será a produção de algo correto, concreto. O que eu quero é qualidade”, afirma.
O docente também espera a redução da competitividade na Academia. “Se eu buscar publicar meus artigos nas melhores revistas, vou entrar num processo competitivo com meus colegas. E nem todos recebem as bênçãos dos deuses do Olimpo, não é?”, brinca. “Ciência é cooperação. Ninguém aprende nada sozinho. Ou se aprende pouco sozinho”.
O professor também aposta na valorização dos bons periódicos nacionais. “Buscar boas revistas já será de bom tamanho. Aquela loucura para publicar numa revista estrangeira que custa R$ 12 mil ou R$ 15 mil não faz sentido para nós, brasileiros. Aliás, acho que não faz sentido também para os americanos e europeus”, completa.
Mas nem todos estão satisfeitos com as mudanças. Em postagens que circulam pela internet, há quem argumente que o maior peso para as citações irá beneficiar autores com nome estabelecido na Academia. Ou aqueles que colocarão os alunos para citar o próprio trabalho.
Rômulo discorda. “É o contrário. A gente não vai ficar disputando citação. Quem fica puxando citações são as revistas, as empresas. Claro que deve ter uma meia dúzia de pesquisadores que não age de forma adequada. Mas citação cruzada ou autocitação não têm valor. Não é por aí que vamos medir a qualidade do artigo”.
Também integrante do CTC e professora da Escola de Química da UFRJ, Verônica Calado é outra apoiadora da classificação dos artigos por meio de algum índice. “Publicar na Nature continuará sendo importante, mas você irá além na avaliação”, diz.
Esse ir além não será baseado em critérios subjetivos. “Existem vários critérios. Daí sairá a classificação final”, diz a coordenadora da Engenharia II. Cada área vai definir os critérios. “Por exemplo, uma área pode utilizar um índice chamado FWCI (Field Weighted Citation Impact), que compara o número de citações do seu artigo com o número de citações de artigos similares na mesma época, na mesma área, no mundo inteiro. Assim, vamos fazer comparações mais justas do que o chamado índice H, que acumula o número de citações do artigo ao longo dos anos”, observa.
“Se o FWCI for maior do que um, o artigo está sendo mais citado do que a média mundial naquele tópico e naquele ano. Ou seja, dois artigos publicados na mesma revista — portanto, com o mesmo fator de impacto — podem ter classificações diferentes”, explica a professora.
“Temos de nos preocupar com o impacto do artigo ou produto para a sociedade de forma geral”, defende Verônica. “O jornalismo científico é fundamental para a divulgação dos trabalhos desenvolvidos nas universidades”.
AVALIAÇÃO DA AVALIAÇÃO
O anúncio de mudanças antes de um ciclo da Quadrienal da Capes não é novidade. O sistema está em constante processo de aprimoramento. “A avaliação da pós-graduação é um patrimônio do Brasil. A pós chegou aonde chegou, pois, desde o início, é avaliada. Só que a avaliação que se fazia lá no início não é a mesma do início dos anos 2000, quando o Qualis periódico foi introduzido”, afirma Denise, em referência a uma das ferramentas utilizadas para a análise da produção bibliográfica dos docentes e discentes dos programas de pós.
“E que vem evoluindo muito bem nesses 20 anos. Em 2018, o modelo do Qualis já foi atualizado. O que não quer dizer que não pode haver mudança. Não conheço nenhum processo de avaliação que seja mantido para sempre”, completa.
A presidente da Capes enfatiza que todas as mudanças são amplamente discutidas. “Não é uma decisão monocrática do presidente ou diretor de Avaliação da agência. É uma decisão do Conselho Técnico-Científico da Educação Superior, um dos mais qualificados do mundo, que tem cientistas de reconhecimento internacional”, defende.
Em 2023, o CTC começou a discutir as mudanças implantadas na última quadrienal (com o chamado Qualis Único). Foram criados cinco grupos de trabalho — o relacionado ao Qualis se chamava “GT Classificações da Produção Intelectual em Qualis Periódicos”. Todos os relatórios aprovados pelo CTC-ES serão divulgados agora em dezembro.
Foto: Silvana SáA diretoria da AdUFRJ e o setor jurídico do sindicato participaram de uma reunião com o reitor Roberto Medronho e a pró-reitora de Pessoal, Neuza Luzia, na terça-feira (3). A extensa pauta tinha uma prioridade: discutir a isonomia entre professores do Magistério Superior e do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico. A diretoria pediu que a reitoria se abstenha de cobrar folha de ponto para o EBTT, já que os professores do Colégio de Aplicação também desenvolvem atividades de ensino, pesquisa e extensão, tal qual os docentes do MS, que são isentos de assinatura de ponto.
A reunião foi motivada pela Portaria 996 que regulamenta o monitoramento e registro da frequência dos servidores da UFRJ. De acordo com o texto da portaria, “a folha de ponto é o método de monitoramento da assiduidade adotado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro para todos os servidores, exceto os Docentes do Magistério Superior, exceções na forma da lei, e os agentes públicos aderentes e participantes do Programa de Gestão de Desempenho da UFRJ (PDG)”.
O documento determina, ainda, que a chefia de cada unidade envie mensalmente à PR-4 o Boletim de Frequência Positiva, via processo SEI, “informando os dias devidamente trabalhados por cada servidor”. Esse boletim deve ser preenchido com os nomes de todos os servidores, neste caso, incluindo também os docentes do Magistério Superior.
O advogado da AdUFRJ, Renan Teixeira, apresentou um parecer com histórico de toda a legislação que rege a carreira docente para subsidiar a tese de equivalência de funções. Vice-presidente do sindicato, a professora Nedir do Espirito Santo reforçou a importância e abrangência do trabalho dos professores do EBTT. “Muitos estão envolvidos em programas de pós-graduação, orientam estudantes de graduação, fazem seu trabalho com excelência. As atividades não se resumem à sala de aula”, defendeu.
A administração central explicou que precisa que as chefias locais atestem mensalmente a presença de todos os servidores por meio do Boletim de Controle de Frequência Positivo . “É uma cobrança do Tribunal de Contas da União. Do ponto de vista prático, não vai mudar nada para os técnicos e para os docentes – todos os docentes”, frisou o reitor. Neuza completou: “Está para acontecer em breve uma auditoria do TCU e a universidade precisa se preservar e preservar seus servidores”, explicou. “Há uma cobrança sistemática dos órgãos de controle que recai sobre a administração central”.
Presidenta da AdUFRJ, a professora Mayra Goulart insistiu que o pleito dos docentes do EBTT é legítimo. “Avançar nesta pauta é importante para toda a universidade”, disse. A reitoria acolheu a demanda, mas pediram que o parecer jurídico da AdUFRJ fosse encaminhado formalmente para análise da Procuradoria da UFRJ. O sindicato já enviou o documento e aguarda resposta do órgão.
O fim da cobrança de ponto para os docentes do EBTT foi um dos pontos de pauta da greve nacional e houve acordo com o governo. A ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, e o ministro da Educação, Camilo Santana, já assinaram o processo que libera esses profissionais do ponto eletrônico. O documento está na Casa Civil desde o final de outubro e aguarda oficialização.
FALTA DE ÁGUA NO IFCS
A recorrente falta d’água no prédio que abriga os institutos de História e de Filosofia e Ciências Sociais também foi pauta da reunião com a reitoria. A presidenta Mayra Goulart ilustrou o grau de insalubridade a que professores e toda a comunidade acadêmica do Largo de São Francisco de Paula estão submetidos. “Há alguns comunicados oficiais com dispensa das atividades, mas, mesmo em dias teoricamente normais, falta água”, contou. “Ao longo do dia as torneiras vão secando e no cair da noite os banheiros já estão completamente sem condições de uso”, denunciou.
O reitor informou que a administração central destinará R$ 17 mil para as trocas de 11 barriletes (conjunto hidráulico para distribuição de água) que apresentam vazamentos. “Acreditamos que após essa intervenção e, depois, a impermeabilização da cisterna, o IFCS/IH não terá mais problemas com o abastecimento de água”. Medronho informou que a reavaliação da cisterna será feita ainda nesta semana e a troca das tubulações nos próximos dias.
Também houve cobranças sobre a reforma elétrica do prédio histórico, anunciada pelo prefeito Eduardo Paes em maio. A reitoria, no entanto, informou que não há novidades sobre este tema, mas segue pressionando a prefeitura para que o convênio seja oficialmente celebrado. “Um dos entraves era o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural), mas o órgão já autorizou a obra. Agora precisamos que a Prefeitura do Rio finalize seus trâmites internos para iniciarmos, enfim, esse importante projeto para a nossa universidade”.
O Jornal da AdUFRJ entrou em contato com a assessoria do prefeito Eduardo Paes. O órgão não respondeu os questionamentos da reportagem até o fechamento desta edição.
PRAIA VERMELHA
As péssimas condições de trabalho dos professores que dão aulas no Palácio Universitário também foram pauta do encontro. No final de novembro, o Conselho Regional de Administração encaminhou ofício à reitoria e à AdUFRJ em que denuncia a precariedade das instalações do Palácio.
O reitor reconheceu que a universidade vive um drama de infraestrutura que esbarra no orçamento insuficiente. “O ETU está fazendo um levantamento sobre todas as nossas instalações. A estimativa é de que sejam necessários R$ 1,1 bilhão para deixar todas as nossas instalações em perfeitas condições de uso”, revelou. “Nosso orçamento para o ano que vem é maior apenas 4% do que recebemos esse ano. Cobrirá, no máximo, a inflação do período e seguirá insuficiente para nossas demandas”, lamentou o dirigente.
A UFRJ entra na reta final de 2024 com um olho na calculadora e outro, em Brasília. Com uma estimativa de déficit de R$ 186 milhões até o final do exercício, a reitoria tenta aumentar os recursos para a universidade na tramitação da Proposta de Lei Orçamentária (PLOA) de 2025. Mas, pelo menos por enquanto, a notícia não é boa: a verba disponível para despesas de funcionamento básico da instituição cresce apenas R$ 16 milhões (de R$ 308 milhões este ano para R$ 324 milhões no próximo).
“A melhora é pequena, porque temos um passivo de anos de subfinanciamento”, afirma o reitor Roberto Medronho. As despesas estimadas este ano com água e energia totalizam R$ 136 milhões, o que representa 44% do orçamento para funcionamento da UFRJ. Outros gastos importantes são vigilância, limpeza e alimentação, que somam R$ 175 milhões, ou seja, 57% do orçamento.
Apenas o custeio desses cinco serviços supera em R$ 3,5 milhões o orçamento da UFRJ. Isso sem contar outras despesas fundamentais, como manutenção (urbana, predial e de equipamentos), atividades da graduação em campo (transporte, alimentação e estadia), bolsas acadêmicas, transporte estudantil intra e intercampi, entre outras.
“A gente entende que há uma crise. Existe a necessidade de se fazer alguns equilíbrios na economia do país. O que me causa indignação é que uma grande parte do orçamento ficou com o Congresso Nacional, através de emendas. Não é o governo, seja ele qual for, que vai fazer a política pública”, diz o reitor.
A previsão é que o orçamento seja votado no plenário do Congresso no dia 13. E tudo indica que haverá uma briga intensa por cada centavo. O valor total para as emendas em 2025, fixado na legislação, é de R$ 50,5 bilhões. Mas já foram apresentadas 7.201 emendas no valor de R$ 141,4 bilhões, informa a Agência Câmara de Notícias.
ORÇAMENTO INTERNO
Com mais ou menos recursos, a universidade também precisa se organizar para gerir seus gastos do próximo ano. O Conselho Universitário será convocado para discutir o tema ainda em dezembro. Só que ainda não está prevista em qual sessão será apresentada a proposta orçamentária da reitoria. “Quando você tem dinheiro, a distribuição é fácil de fazer. Quando o recurso é aquém das necessidades, o problema é definir onde vai ter que cortar. Estamos estudando detalhadamente”, afirma o reitor.
O dirigente antecipa que será necessária a colaboração do corpo social para reduzir as despesas. E dá um exemplo: “Se todo mundo se preocupar em desligar o ar-condicionado ou as luzes, quando sai de uma sala, isso ajuda. Pago quase R$ 70 milhões de luz. Se conseguirmos reduzir em 10% de energia, são R$ 7 milhões que terei para investir nos prédios da universidade”, defende. “E pagamos R$ 70 milhões não porque somos perdulários. Fazemos pesquisa. Equipamentos consomem muita energia. A pesquisa não pode parar”.
A gestão da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) em três unidades de saúde (HU, IPPMG e Maternidade-Escola) desde o fim de maio está sendo levada em consideração no redimensionamento das despesas. “Acreditamos que, deixando de pagar uma série de custeios dessas unidades, vai ajudar a reduzir o déficit. Não vai resolver o problema”.
Um problema que continua é o pagamento de funcionários extraquadros, de vínculo precário com a instituição. “Gostaria que a Ebserh assumisse os extraquadros. São R$ 25 milhões por ano. Enquanto não são substituídos por concurso, quem paga é a UFRJ”.
andifes MOBILIZADa
A assessoria de imprensa da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) encaminhou à reportagem um vídeo gravado pelo presidente da entidade, professor José Daniel Diniz Melo (UFRN). O reitor relata as articulações da entidade sobre o orçamento.
Uma dessas movimentações ainda mira 2024: o Projeto de Lei do Congresso Nacional nº 22/2024 busca liberar uma suplementação orçamentária para as instituições. “A informação que obtivemos é que o PLN será aprovado nesta semana”, disse o reitor. Não foi informado o valor esperado.
“Fomos ao gabinete do senador Sérgio Petecão(PSD-AC), que é o relator setorial da Educação, e apresentamos a necessidade de mais orçamento para as universidades federais no próximo ano. Após, tivemos reunião com o senador Angelo Coronel (PSD-BA), que é o relator do orçamento. Apresentamos todo o histórico das nossas instituições. Saímos daqui com a expectativa de que tenhamos boas notícias na aprovação do orçamento do próximo ano”, afirmou o presidente da Andifes.
RESPOSTA DO MEC
Em nota enviada à reportagem, o Ministério da Educação diz que tem trabalhado, desde janeiro de 2023, para recompor ou mitigar as reduções
orçamentárias ocorridas nas universidades nos últimos anos.
“Reafirmamos que a necessidade de mais orçamento para manutenção das universidades federais não é um problema atual e decorre da política implementada nos últimos anos (desde 2016) que reduziu drasticamente os valores para manutenção das instituições federais de ensino superior (IFES)”, diz a nota. “Com a incapacidade orçamentária neste período, a necessidade orçamentária foi aumentando, o que gerou um passivo, que está sendo objeto de atuação do MEC desde 2023”.
O MEC informa que, até o momento, foram repassados à UFRJ, excetuando-se o orçamento de pessoal, R$ 474,7 milhões, sendo R$ 437,6 milhões de orçamento discricionário e R$ 37 milhões de emendas parlamentares. Além desse valor, foi repassado R$ 1,9 milhão, via termo de execução descentralizada (TED), para ações emergenciais.
O reitor da UFRJ faz uma ressalva sobre o dinheiro repassado pelo ministério. “O MEC nos repassou o valor em todas as rubricas. Tem rubrica que não posso mexer. O dinheiro que vai para o Museu Nacional entra via PR-3 (Pró-reitoria de Finanças). O recurso PNAES é da assistência estudantil. Dos 400 e tantos milhões, discricionariamente temos R$ 308 milhões. Não fecha”, explica.
O mesmo argumento é utilizado para esclarecer por que o painel orçamentário da própria universidade ainda registrasse R$ 38 milhões como disponíveis, no início de dezembro. “Não são verbas que podemos usar discricionariamente. E só para a Light, sem contar novembro e dezembro, devemos R$ 35 milhões”, lamenta Medronho. “Obviamente, o MEC é solidário. Sempre que pode, nos ajuda. Mas ele também tem o limite orçamentário dele”.
A Ciência incomoda o autoritarismo. A prova mais recente é a ação movida pelo Partido Novo junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) contra o Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab), da UFRJ. O partido acusa o NetLab de receber verba pública para “defender o governo Lula”. Criado em 2013, o laboratório se tornou referência nos estudos sobre desinformação e tem sido importante ator na desarticulação de notícias falsas nas redes sociais veiculadas por perfis de extrema direita. O grupo também estuda os efeitos dessas fake news na sociedade brasileira. Outro eixo de suas pesquisas demonstra como as grandes empresas de tecnologia se associam e lucram com a desinformação.
O Partido Novo questiona especificamente um convênio firmado em 2023 com o Ministério da Justiça e o Ministério das Mulheres, no valor de R$2,3 milhões. A pesquisa investiga a “indústria da desinformação e seu impacto nas relações de consumo do Brasil”.
O que o Partido Novo faz tem nome. A prática é conhecida como lawfare (guerra jurídica). O termo representa o uso do Direito como arma de ataque e tem sido largamente usado nos Estados Unidos. Por lá, a extrema direita conseguiu fechar as portas de laboratórios que também investigavam o fenômeno da desinformação pelos altos custos dos processos.
A denúncia do Novo foi acatada pelo ministro do TCU, Augusto Nardes. De biografia questionável, ele determinou o envio de dados e depoimentos de pesquisadores vinculados ao laboratório. Rose Marie Santini, professora associada da Escola de Comunicação e diretora do NetLab, é uma das investigadas pelo TCU. Nesta entrevista, ela explica o que está em jogo.
Jornal da AdUFRJ - O NetLab é reconhecido por suas pesquisas e análises sobre os impactos das fake news. Acha que esse é o motivo dos ataques que vem recebendo?
Foto: Thiago DezanRose Marie Santini - Certamente. O que está em questão é que esses estudos têm incomodado muito a estratégia de governar da extrema direita. Eles entendem que os atrapalhamos e por isso entraram com essa estratégia de “lawfare”. Houve tantos processos nos Estados Unidos, que alguns laboratórios que desempenhavam pesquisas semelhantes às nossas fecharam. O de Stanford, por exemplo, foi um que encerrou suas atividades. O laboratório também era liderado por uma mulher. Os pesquisadores americanos estavam censurados e com medo. A gente passa por todo o procedimento científico, com avaliação do nosso trabalho por pares, mas eles não têm apreço pela Ciência. Isto não é diferente do que já aconteceu em outros momentos da História, quando a Ciência questionava os poderes absolutos, o funcionamento do universo, e se tornou alvo de ataques.
Como o NetLab recebeu a notícia da abertura de investigação pelo TCU?
Nós ficamos muito assustados porque eles dizem que colocamos pessoas para trabalhar em eleição. O que é uma completa inverdade. Eles estão questionando o mérito do projeto e querem politizar o nosso trabalho. Nós estamos sendo perseguidos mesmo, inclusive aumentamos as nossas medidas de segurança. Vivemos esse cenário de censura do trabalho dos pesquisadores e ameaças à liberdade de cátedra.Nós somos acadêmicos. Somos um grupo de pesquisa ligado à pós-graduação. Os alunos estão com medo, não querem aparecer, fecharam seus perfis nas redes sociais. Nesse momento em que precisamos estimular os alunos a falar, escrever artigos, a aparecer, essa situação os deixa paralisados.
A senhora e os demais pesquisadores já foram ouvidos pelo TCU?
Ainda não. Estamos aguardando a fase de apresentar as informações para a Corte e sua área técnica.
O Novo afirma que o grupo de pesquisa realizou estudos enviesados com dinheiro público. Como a senhora responde a este tipo de acusação?
É uma completa falácia. Nosso estudo é técnico. A gente lida com dados, com Big Data. Esses estudos são avaliados por pares. Setenta por cento do nosso financiamento é via filantropia privada. Há um duplo interesse. De um lado, um grupo político que quer dizer que tudo é opinião. Por outro lado, as big techs dizem que nós não temos dados para realizar esses estudos. Tudo isso para não desvelar os danos sociais que essas big techs causam e que esses grupos políticos implementam. A desinformação é parte do negócio. Fica claro que esse é um modelo de governar. Eles querem manipular sem que ninguém conte a estratégia de comunicação deles. Nós não vamos ceder. Temos autonomia universitária e liberdade de cátedra. Aceitar isso é dizer que a política pode definir a pesquisa. O que está em questão é o que vamos fazer diante dessas tentativas de censura aos pesquisadores que estão sendo perseguidos e ameaçados – inclusive fisicamente.
O partido questiona especificamente um convênio com o Ministério da Justiça. Qual foi o escopo desse projeto e quais resultados a pesquisa apontou?
Foram R$ 2 milhões do Ministério da Justiça e R$ 300 mil do Ministério das Mulheres. O nome do projeto é “Observatório da Indústria da Desinformação e seu Impacto nas Relações de Consumo no Brasil”. Nós mostramos o uso de perfis de políticos com serviços de publicidade para a realização de golpes e fraudes. As big techs são sócias disso porque ganham dinheiro com esse tipo de ação. São várias entidades vítimas desses golpes, que incluem imagens também de celebridades para lesar consumidores. Também fizemos o estudo com o Programa Desenrola Brasil. A gente mostrou que estelionatários utilizaram o programa para dar golpes, como se fosse uma negociação de dívida. Nós colocamos esse debate na agenda nacional, com a produção de mais de cem matérias na imprensa. Estamos mostrando que são necessárias medidas e políticas públicas para que esses consumidores deixem de ser lesados.
O que espera a partir deste episódio?
Espero uma coalizão da comunidade científica. É importante que a gente se mobilize enquanto universidade, porque atacar o NetLab é atacar a UFRJ, é atacar os pesquisadores. Nos Estados Unidos, as universidades que lidam com laboratórios de pesquisa como o nosso são privadas e ficou muito caro lidar com esse lawfare. Houve um cálculo financeiro mesmo. A gente precisa entender que a pesquisa de ponta tem que permanecer na universidade pública, que é a instituição que pode resistir a esse tipo de ataque. O Partido Novo acredita no fundamentalismo de mercado e está aliado às big techs, que são as grandes financiadoras deste discurso. Eles se aliam de maneira ideológica. Então, precisamos entender a missão da universidade pública especialmente nesse momento histórico e estar mais unidos. Faz parte do nosso trabalho essa luta incessante pela democracia e em defesa do nosso próprio trabalho. Precisamos pensar no que fazer para impedir esse tipo de perseguição.
Como vê o cenário nesse campo da desinformação para 2026?
Eu já estou preocupada com 2025. Já temos agora, em 2024, o Trump eleito. Ano que vem, um dono de big tech assume o governo. Haverá o debate sobre a regulamentação das redes, por exemplo. O debate sobre a manipulação e a desinformação, que prepara o que será 2026, já vai começar agora. Tudo isso é construído muito antes. A extrema direita está criando cultura, visão de mundo e isso leva tempo, não é do dia para a noite. Se não reagirmos, vai haver aqui uma versão piorada do que houve lá nos Estados Unidos.
É possível pensar em algum avanço em meio a tanto retrocesso?
Estamos num governo progressista, somos uma universidade pública e temos importância e inserção no debate social. Precisamos aproveitar o governo democrático que temos para criar soluções, para criar trincheiras e resistir. Essa é a nossa chance.
QUEM É AUGUSTO NARDES
A biografia de Augusto Nardes mostra que o ministro que abriu o processo contra o NetLab tem lado. E não é o da democracia. Administrador por formação, ele iniciou sua carreira política pelo Arena, como vereador, na ainda na década de 1970. Foi deputado estadual e federal até 2005 por siglas que substituíram o Arena e se fundiram até o atual Progressistas.
Assumiu como ministro do TCU em 2005, após pressão do então presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti. Em 2015, foi o relator da análise das contas presidenciais e rejeitou as contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff. O veto deu o enredo necessário ao golpe contra a primeira mulher a presidir o Brasil.
Em 2022, Augusto Nardes teve áudios vazados em que demonstrava apoio aos atos antidemocráticos que pediam golpe militar no Brasil, após a derrota de Jair Bolsonaro. Com a repercussão, afirmou que gravou as mensagens “apressadamente” para um grupo de amigos e pediu licença médica.