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Foto: Arquivo pessoalRenan FernandesEm tempos difíceis para os cientistas na América, um pesquisador brasileiro ganhou motivos para sorrir. No início de abril, o professor José Garcia Abreu, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, em missão científica na Harvard Medical School, teve um projeto de pesquisa contemplado com um prêmio oferecido pela Fundação Lemann em parceria com a instituição de Cambridge. O financiamento busca estimular a interação entre pesquisadores e subsidiar trabalhos científicos que tratam de desafios atuais no Brasil.
O projeto “Ciência avançada, divulgação e educação: explorando a biodiversidade brasileira via sequenciamento de células únicas” planeja difundir no Brasil a tecnologia de célula única, bioinformática e aprendizado de máquina desenvolvida sob a coordenação do docente. O trabalho será realizado no laboratório do departamento de Biologia de Sistemas de Harvard para caracterizar espécies de anfíbios nativas.
O investimento na casa dos 200 mil dólares permitirá a compra de insumos, a montagem de equipamento no Brasil e o treinamento de pessoal. “Queremos apresentar a pesquisadores brasileiros essa ferramenta para que eles possam entender o poder que ela tem”, disse o pesquisador.
O Jornal da AdUFRJ conversou com o professor Abreu sobre sua relação com Harvard e a importância do prêmio para o desenvolvimento da pesquisa.
Jornal da Adufrj - Como é sua relação com a Universidade de Harvard?
José Garcia Abreu - Em 2023, pesquisadores do Departamento de Biologia de Sistemas da Harvard Medical School me pediram a indicação de um pós-doutor para trabalhar com o anfíbio Xenopus, uma rã de origem africana, que é um dos principais modelos de estudo no campo da Embriologia.
“Pode ser eu?”, respondi em tom de brincadeira. Estava em um momento indeciso quanto a minha carreira no Brasil, entrando na fase final do meu tempo na UFRJ — são mais de 30 anos de serviço prestados à universidade —, saindo dos anos de pandemia em que fui diretor do ICB, período que trouxe sequelas para quem atuou como gestor, afastando-se do trabalho de pesquisa. Eu estava para baixo, vendo muitos alunos desistindo da pós-graduação e da pesquisa.
Primeiro me responderam que não, porque Harvard tem uma série de regras para trazer professores seniores, é um processo demorado e precisavam de alguém imediatamente. Uma semana depois, me contataram novamente dizendo que, se realmente quisesse ir, poderiam me oferecer uma vaga de professor visitante, porque era a pessoa ideal para o trabalho.
Quando cheguei, fiquei muito entusiasmado em produzir um livro e poder arredondar minha carreira pensando nas contribuições que vou deixar, no meu legado.
Que trabalho é esse?
A ideia é criar uma fonte material de acesso à comunidade científica sobre todo o desenvolvimento embrionário de um anfíbio específico, o Xenopus Iaevis. É um atlas de célula única que descreve todos os estágios de desenvolvimento até etapas da vida adulta. O que a gente quer é mostrar computacionalmente e nos embriões íntegros quantas células são necessárias para formar as estruturas que geram os tecidos e os órgãos do embrião e, depois no adulto, quantas células existem em cada órgão. Quantas células ele tem no fígado, no coração, no osso, na pele, no cérebro.
Queremos ainda mostrar os genes que compõem cada uma das células das estruturas do embrião. Quais genes são expressos numa célula de músculo ou numa célula do sistema nervoso quando elas são vizinhas, em que momento esse gene aparece e como ele pode ser visualizado dentro de uma célula em uma determinada etapa do desenvolvimento. Estamos combinando diferentes ferramentas para individualizar, capturar e sequenciar células utilizando microscopia de alta resolução, aprendizado de máquina e bioinformática.
Esse trabalho dedicado à Embriologia tem desdobramentos, pode ser aplicado à pesquisa sobre o câncer, por exemplo. Aqui no laboratório, temos uma forte pesquisa combinando o desenvolvimento embrionário ao envelhecimento.
Como surgiu a possibilidade de ganhar esse prêmio?
O projeto que recebeu o prêmio é um pequeno apêndice dentro desse enorme projeto que está sendo desenvolvido aqui. Esse financiamento é oferecido aos professores de Harvard para que eles encontrem docentes no Brasil com interesses em comum. Quando cheguei aqui, me apresentaram essa possibilidade de aplicar um projeto para concorrer ao prêmio. Para ganhar, temos que consolidar bem uma ideia original e mostrar que ela é vantajosa para Harvard e para o Brasil.
A ideia é caracterizar algumas espécies brasileiras de anfíbios. Não é apenas para desenvolver uma tecnologia de Biologia Quantitativa e Embriologia, mas também difundir a importância desses animais. Mais de 90% das espécies de anfíbios do planeta estão no Brasil.
Por enquanto, o que temos é um plano. Espero que possamos organizar em breve um workshop no Brasil para apresentar e difundir essa ferramenta aos pesquisadores locais. Trazer pessoas que trabalham na fronteira entre a biologia do desenvolvimento, biólogos, zoologistas e ecologistas.
O que significa conquistar esse financiamento em um momento de cortes?
Todos no corredor me param para dar os parabéns. Os colegas ficaram felizes que alguém conseguiu algum sucesso nesse momento tão duro que estamos vivendo. O fomento à pesquisa nos Estados Unidos atravessa um momento de dificuldades, como o Brasil atravessou durante o governo passado e na pandemia. Então, ao mesmo tempo em que estamos felizes no laboratório por ganhar esse projeto, tentamos entender o que vai acontecer à medida que os recursos se tornam escassos numa das maiores referências de ensino e pesquisa do mundo.
Fundada em 26 de abril de 1979, a AdUFRJ se consolidou como importante instrumento político de luta em defesa da democracia e pelos direitos d@s docentes da UFRJ.
Fotos: Alessandro CostaA UFRJ e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) celebraram, na sexta-feira (11), acordo para o financiamento de oito projetos de preservação e recuperação de acervos científicos, históricos e culturais da universidade, no valor total de R$ 15,6 milhões. O acordo foi assinado na sala de entrada do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, onde está o meteorito Bendegó, um dos símbolos da restauração do museu, consumido por um incêndio em setembro de 2018. Três dos oito projetos financiados são ligados ao Museu Nacional, com recursos da ordem de R$ 5 milhões.
“Quero agradecer profundamente à Finep por apoiar a preservação desses acervos, pois isso vai nos ajudar a cumprir duas missões: formar cidadãos e produzir e difundir conhecimento. O Museu Nacional faz isso com muita excelência”, disse o reitor da UFRJ, professor Roberto Medronho, que representou a universidade na cerimônia, ao lado do pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa, João Torres, da coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura (FCC), Christine Ruta, e do diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner.
O presidente da Finep, Celso Pansera, disse que o apoio da agência abre um novo capítulo no incentivo à Ciência e à Cultura no país. “De 2016 a 2022, a Finep ficou quase à míngua. Já em 2023, com o governo Lula, tivemos um orçamento de R$ 9,8 bilhões, que foi a R$ 12,7 bilhões em 2024. Para este ano, teremos R$ 14,7 bilhões, o que nos permite fazer editais como este. Reservamos R$ 500 milhões para investimentos nessa linha de resgate de acervos, que contemplam também instituições como o Museu Histórico Nacional, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, a Biblioteca Nacional”, anunciou Pansera.
A professora Christine Ruta destacou que o aporte da Finep beneficiará a recuperação de acervos importantes. “Há algumas raridades, de valor inestimável, como algumas espécies de nossa fauna, descritas por pesquisadores de nossa universidade. Uma delas é o ratinho-goytacá, que é endêmico na região de Macaé, no Norte Fluminense”, lembrou Christine. “Com apenas dez centímetros de corpo e endêmico das restingas fluminenses, ele revela a fragilidade e a riqueza da nossa fauna”.
A coordenadora do FCC citou obras valiosas do acervo documental da UFRJ beneficiadas pelos recursos da Finep: “Temos também uma das obras fundadoras da Ciência tropical, Indiae Utriusque Re Naturali et Medica, de Willem Piso. Escrita no século XVII, a partir da experiência do autor no Brasil, essa obra reúne conhecimentos de Botânica, Zoologia, Medicina e Etnografia, articulando saberes indígenas, africanos e europeus em um momento em que a ciência moderna ainda nascia”.
Fotos: Fernando SouzaValorização dos servidores públicos, reforma da administração federal, inteligência artificial, mercado de trabalho e os impactos na economia global com a guerra tarifária iniciada pelo governo Donald Trump foram alguns dos temas em debate na roda de conversa da ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, com professores e estudantes no Teatro de Arena do campus Praia Vermelha da UFRJ, na tarde de segunda-feira (14). O encontro foi organizado pelo Instituto de Economia (IE) e pelo Centro Acadêmico Stuart Angel.
Com o Teatro de Arena lotado, a ministra se emocionou ao receber flores dos alunos do Instituto de Economia e, sempre sorridente, disse se sentir em casa no Palácio Universitário: “Para mim é muito importante estar aqui fazendo essa troca. Já participei da gestão federal de 2011 a 2016, voltei a atuar aqui no Instituto de Economia, e agora estou no governo de novo. A bagagem que você leva e traz de volta muda seu olhar em termos de experiência e de pesquisa, é enriquecedor. Tenho muito orgulho de ser professora da UFRJ”, disse ela, ao abrir a roda de conversa, ao lado do diretor do IE, professor Carlos Frederico Leão Rocha.
Em sua fala inicial, a ministra contou que a própria criação do MGI, neste terceiro governo Lula, sinalizou o compromisso do Executivo com a reconstrução do Serviço Público Federal, duramente atacado na gestão de Jair Bolsonaro. “Ainda na transição, o presidente Lula decidiu criar um ministério voltado para a gestão pública para remontar muitos instrumentos necessários ao desenvolvimento do país, depois do período de ataques que o Serviço Público sofreu na gestão anterior”, lembrou ela.
Esther destacou que o MGI tem entre as suas prioridades a valorização dos servidores públicos, a digitalização de processos e a reorganização da máquina estatal: “A realização de um concurso público unificado se incluiu nesse processo de retomada do papel do Estado e da valorização do servidor. O trabalho do governo é de reconstrução dos instrumentos de desenvolvimento”. A ministra respondeu a perguntas dos alunos em parceria com Norberto Montani Martins, assessor especial do MGI e, como ela, ex-aluno e professor cedido do IE.
Ela falou sobre o trabalho que vem sendo feito para resgatar o papel primordial do Serviço Público para o país, no momento em que o governo de Donald Trump vai na direção oposta, perseguindo e demitindo servidores federais. “Vemos com preocupação o que está sendo feito nos Estados Unidos. Tudo o que estamos fazendo aqui em termos de reforma do Estado nada tem a ver com a reforma administrativa prevista na PEC 32. Defendemos incondicionalmente a estabilidade do servidor porque ela é uma proteção do Estado. A volta dos concursos também tem a ver com o fortalecimento do Serviço Público. A área de Meio Ambiente, por exemplo, estava destruída, estamos recompondo os quadros”.
Os estudantes se revezaram ao microfone para fazer perguntas que foram desde o tarifaço do governo Trump à “pejotização” crescente nas empresas. David Ousmane, aluno do sétimo período de Economia da UFRJ, perguntou sobre os impactos da inteligência artificial (IA) no mercado de trabalho e como o governo federal atua na regulação das relações trabalhistas. “Acho que a IA vai diminuir trabalhos que são mais repetitivos e, por outro lado, vai abrir mercado de trabalho para a formação em novas competências. É um novo ciclo de tecnologia”, disse ela. “Sobre a guerra tarifária, como eu queria estar agora de volta na universidade para discutir isso! É um debate muito legal para as aulas”, comentou, arrancando risos da plateia.
Antes de deixar o Palácio Universitário, já atrasada para pegar o voo para Brasília, Esther ainda fez questão de conversar mais um pouco e posar para fotos com alunos do IE. Nada como se sentir em casa.
O professor Ismar de Souza Carvalho, titular do Instituto de Geologia e diretor da Casa da Ciência da UFRJ, é um dos finalistas na categoria Ciência e Saúde do Prêmio Faz Diferença 2024. Os vencedores serão definidos pelos votos de um júri de jornalistas, ganhadores de 2023 e leitores. A votação já está aberta no site do jornal O Globo e vai até o dia 27 de abril.
Ismar Carvalho foi autor de um estudo revolucionário que indica o Brasil como último refúgio dos grandes mamíferos da Era do Gelo. A pesquisa mostra que eles estiveram muito mais perto dos nossos antepassados do que a Ciência acreditava. Havia um consenso de que os grandes mamíferos foram extintos em massa entre 11 e 12 mil anos atrás. Mas os estudos liderados pelo professor Ismar apontam que eles viveram no Brasil até 3.500 anos atrás. A descoberta transforma o modo de olhar para o passado e para as mudanças de era do nosso planeta. A próxima edição do Jornal da AdUFRJ apresentará o perfil do professor e mais detalhes de seus estudos.
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Quem são os finalistas na categoria Ciência e Saúde?
O professor titular da UFRJ Ismar Carvalho; o professor associado de Medicina em Harvard e diretor de Transplante Renal no Massachusetts General Hospital, Leonardo Riella; e professora titular da Faculdade de Medicina na USP, Ludhmila Hajjar.