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Foto: Fernando Souza
A AdUFRJ está de luto. Faleceu dia 3 de março, aos 80 anos, o professor emérito Luiz Pinguelli Rosa. Ele estava internado no Hospital São Lucas, em Copacabana. O velório ocorreu no Átrio do Palácio Universitário.Pinguelli foi fundador da associação docente e seu primeiro presidente. Alguém que teve a coragem de elevar a voz dos professores da UFRJ e representá-los a partir de 1979, ainda sob a tirania da Ditadura Militar. “No início da formação da Associação de Docentes da UFRJ, o maior desafio de nossa primeira gestão, sem dúvida, foi enfrentar a ditadura militar, que era repressiva. Era muito difícil, foi ainda antes da Anistia, mas enfrentamos com organização e mobilização”, lembrou o professor em depoimento que marcou o aniversário de 42 anos da entidade, em abril do ano passado.
O professor João Torres, atual presidente da AdUFRJ, lamentou a perda. “Pinguelli foi um cientista que conectou como poucos a atividade científica e intelectual com uma atuação política que teve resultados efetivos na sociedade”, disse. “Foi nosso primeiro presidente numa época onde fazer sindicalismo com postura crítica ao governo militar poderia trazer sérias consequências”, lembrou Torres, físico de formação, como Luiz Pinguelli Rosa.
Pinguelli vivia à frente de seu tempo. Nasceu em 19 de fevereiro de 1942 e ainda jovem decidiu se vincular às Forças Armadas. O sonho, no entanto, não durou muito. Pediu demissão em 1964, após ser preso por não apoiar o Golpe Militar. Foi aí que a UFRJ entrou em sua vida. Formou-se em Física em 1967. Dois anos depois, obtinha o diploma de Mestrado pela COPPE/UFRJ, em Engenharia Nuclear. Aliás, da COPPE ele foi diretor por quatro mandatos, além de compor outras áreas de gestão do Instituto. Atualmente era seu diretor de Relações Internacionais. Do Doutorado em Física, em 1974, pela PUC-Rio, foi para as salas de aula da UFRJ.
Se o ensino era um dos elementos de transformação social para o professor, a pesquisa era uma área estratégica para o desenvolvimento no Brasil. Especializado em
Foto: Marco Fernandespesquisa e gestão energética, ele escreveu seis livros, dentre eles “Tecnociências e Humanidades: novos paradigmas, velhas questões”, cujos dois volumes concorreram ao Prêmio Jabuti. Desde 1998 era integrante do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, instituição que ganhou o Nobel em 2007) e atualmente exercia a função de Secretário Executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. É ex-presidente da Associação Latino-Americana de Planejamento Energético. Foi membro do Conselho do Pugwash (1999-2001), entidade fundada por Albert Einstein e Bertrand Russel, que ganhou o Nobel da Paz em 1995. Foi presidente da Eletrobras entre 2003 e 2004, no primeiro mandato do ex-presidente Lula.
Também teve forte atuação internacional. Foi pesquisador e professor visitante das Universidades de Standford (SLAC), da Pennsylvania, de Grenoble, e de Cracóvia na Polônia, do Centre International pour l'Environnement et le Développement em Paris, do Centro Studi Energia Enzo Tasseli, do Ente Nazioanale per l´Energia Nucleare e Fonti Alternative, ambos na Itália, e da Fundação Bariloche na Argentina.
A UFRJ decretou luto oficial de 3 dias. “O Brasil perde um grande pesquisador, professor e Brasileiro. Um homem à frente do seu tempo. Que os seus ensinamentos e reflexões perdurem. Minha solidariedade aos membros da COPPE/UFRJ”, declarou a reitora, professora Denise Pires de Carvalho, em uma rede social.
Depois da tempestade veio o luto, a procura por desaparecidos e uma tentativa de reconstruir a vida em meio a um cenário de caos. Até o fechamento desta matéria, já
tinham sido confirmadas 209 mortes e 48 pessoas permaneciam desaparecidas em Petrópolis após as chuvas da semana passada, na maior tragédia da história da cidade. Mas o desastre poderia ser evitado ou mitigado, segundo especialistas ouvidas pelo Jornal da AdUFRJ.
Na avaliação da professora Ana Luiza Coelho Netto, do Departamento de Geografia da UFRJ, faltou planejamento. “As chuvas são esperadas, os deslizamentos são fenômenos naturais, mas o desastre não é natural, e sim consequência da falta de um planejamento adequado em bases racionais”, explicou a professora, que há 40 anos estuda processos hidrológicos e erosivos em encostas florestadas. Para ela, os deslizamentos sempre ocorreram, mas as interferências humanas na geografia do local fizeram com que a frequência com que eles acontecem tenha aumentado. “Antes das interferências humanas, o intervalo de ocorrência era de centenas de anos no mesmo local. Também temos evidências de que a grande devastação da Floresta Atlântica original também induziu a grandes taxas de erosão e mudou o regime de chuvas”, relatou.
Segundo Ana Luiza, uma floresta bem conservada desempenha, além das funções ecológicas de preservação da biodiversidade, um papel de regulação hidrológica e mecânica nas encostas. Uma pesquisa conduzida por ela mostrou que 85% dos deslizamentos ocorridos em 2011, quando a região serrana do Rio viveu uma tragédia de enormes proporções, foi em áreas de vegetação degradada. “As ocorrências de agora foram em área urbana, mas elas começaram em encostas que já perderam a vegetação”, explicou.
Para a professora, a solução do problema passa pela construção de um novo modelo de planejamento e gestão territorial. “O modelo em curso privilegia os interesses econômicos. Balancear o ajuste entre o modo de ocupação e os limites de estabilidade do terreno é fundamental”, defendeu. Ana Luiza ainda questionou os critérios para a elaboração de cartas de risco dos terrenos. Sua intenção agora é analisar as cartas de risco das áreas mais afetadas. “Suspeito que essas cartas não foram produzidas com uma metodologia apropriada. Elas olham só a geologia e o solo, sem avaliar o estado da vegetação. Também falta uma análise de vulnerabilidade social”, disse.
E o planejamento vai ser fundamental, porque as mudanças climáticas devem aumentar os efeitos em populações que vivem em áreas de risco. Quem explica o cenário é a professora Lise Sedrez, do Instituto de História da UFRJ. Especialista em História Ambiental Urbana, Lise faz parte de um grupo interdisciplinar, formado por cientistas de diversos países, que estuda o impacto das mudanças climáticas em comunidades vulneráveis. “Estamos vendo o modelo climático mudar, então teremos chuvas extremas, que já aconteciam, mas que começam a ser mais fortes, menos previsíveis e mais frequentes. Todo o modelo sobre o qual estamos acostumados a pensar o clima do planeta está se alterando”, explicou a professora. Por outro lado, as mudanças que a humanidade fez no ambiente também resultam em efeitos para a sociedade. “Temos que lidar com os dois lados. Ninguém vai parar de pedir para pavimentar áreas do Rio ou não vamos conseguir voltar ao clima de 150 anos atrás. Então vamos ter que mitigar quando for possível e nos adaptar”, defendeu Lise.
E o caminho para uma melhoria, segundo ela, é uma política de moradia articulada a uma política de transporte público, que leve em consideração a preservação ambiental. “Não adianta criar uma política que coloque as pessoas longe dos seus trabalhos sem que elas tenham acesso a um transporte público. E a política de moradia não pode prescindir da preservação ambiental”, avaliou Lise. Ela também ressalta a importância de engajar as comunidades locais na preservação e zeladoria locais, para que elas participem das políticas públicas. “Mas essas políticas de moradia têm que ser continuadas e consistentes. Quem volta a construir em um lugar que foi destruído é porque não tem opções”, afirmou.
A RECONSTRUÇÃO
A pesquisadora Natasha Barbosa também estuda História Ambiental Urbana. Doutoranda na Fiocruz, ela mora em Petrópolis, e está vendo de perto os movimentos que vem estudando ao longo da sua vida acadêmica. Ela investiga a história de grandes enchentes que aconteceram na cidade do Rio, e relata um fenômeno comum a elas.
“Passado um tempo, fica a instabilidade: para onde essas pessoas vão? Elas vão mudando de lugares, e nem sempre seguros. É um processo contínuo de vulnerabilidade socioambiental. Elas continuam em lugares de risco, até porque são pessoas mais pobres as afetadas por essas catástrofes”, contou a pesquisadora. Ela cita como exemplos famílias que foram atingidas pelas enchentes de 2011, e que já tinham sido vítimas de um episódio grave de enchentes e deslizamentos que aconteceu em 1988 na cidade. Segundo ela, as pessoas voltam a ocupar áreas de risco, ou mesmo reocupar áreas de onde precisaram ser removidas, principalmente por falta de alternativas, mas também movidas por um senso de pertencimento ao local e àquela comunidade.
“Não existe uma solução rápida e mágica. Obras estruturais podem levar cinco ou seis anos para fazer diferença. Desde 2011, tivemos mudanças muito tímidas, como a instalação de sirenes e obras de contenção”, contou Natasha. Mas ela acredita que falte um planejamento de infraestrutura que vá além de construir casas depois que a tragédia acontece. “As pessoas não existem apartadas dos espaços que elas ocupam. As ações têm que propiciar moradias mais seguras, um ambiente que faça essas moradias menos vulneráveis”, defendeu.
UNIVERSIDADE SOLIDÁRIA
Na última terça-feira (22), a UFRJ enviou dois caminhões de donativos a Petrópolis. As doações contabilizaram quatro toneladas e foram arrecadadas pela comunidade acadêmica. Roupas, calçados, alimentos não perecíveis, água, produtos de higiene e brinquedos estavam entre os itens mais doados. A universidade continua recebendo as doações até o dia 10 de março, sempre em dias úteis, das 9h às 16h, na sede da Prefeitura do campus, no Fundão (Praça Jorge Machado Moreira, 100, Cidade Universitária).
Por Beatriz Coutinho e Silvana Sá
O Grupo de Trabalho Multidisciplinar para Enfrentamento à Pandemia de Covid-19 da UFRJ (GT-Coronavírus) emitiu nota técnica na última semana em que recomenda a retomada de todas as atividades presenciais sem distanciamento social, a partir de 11 de abril, quando começa o primeiro período letivo de 2022. Como consequência, a universidade decidiu suspender o site Espaço Seguro, lançado em outubro passado. O aplicativo foi planejado para calcular a capacidade máxima de pessoas e tipos de EPI’s necessários, de acordo com o tamanho do ambiente e grau de segurança para transmissão da covid-19.
A flexibilização do distanciamento causou insegurança na comunidade acadêmica. “Apesar da suspensão do distanciamento de 1,5 metro, os protocolos falam dele. Zerar isso pode ser temerário judicialmente também”, advertiu a diretora da Escola Politécnica, Cláudia Morgado, durante a Plenária de Decanos e Diretores, dia 22. Para ela, a medida pode não ser bem vista na sociedade.
“As condições epidemiológicas permitem”, argumenta o vice-reitor, professor Carlos Frederico Rocha. Questionado sobre o esforço da universidade empregado na formulação do aplicativo Espaço Seguro, o vice-reitor compara a ferramenta a um termômetro em dias febris. “Quando a febre acaba, o termômetro fica ali. Não vai ser jogado fora, mas não vou utilizar o tempo todo”, exemplifica.
“Ele vai ficar operacional, porque a gente não sabe como vai ficar a pandemia”, completa o pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças, professor Eduardo Raupp. “O dimensionamento de aulas práticas também parou, porque voltarão a ser liberadas em sua capacidade máxima”, informa. Os cartazes que continham a capacidade de pessoas que poderiam ser aceitas simultaneamente nos ambientes, seguindo o distanciamento social de 1,5 metro, também serão retirados.
Especialista em epidemiologia e coordenador do GT-Coronavírus, o professor Roberto Medronho esclarece que esta decisão reflete o que aponta a Ciência. “Evidências mostram que é menos importante o distanciamento social do que a combinação de vacina e máscara”, argumenta o professor da Faculdade de Medicina. “Quando os indivíduos estão vacinados, e a taxa de transmissibilidade e número de casos caem sustentadamente, o distanciamento físico torna-se menos importante. A vacinação, uso de máscaras adequadas e medidas de higienização das mãos são os cuidados mais importantes, além de um ambiente que possua circulação de ar”, indica o especialista.
Os números apontam a tendência destacada por Medronho. No Rio de Janeiro, cidade que concentra a maior parte das unidades e campi da universidade, os números de casos e óbitos se mantêm em queda. A taxa de testes positivos despencou para 4,7% – em janeiro era de 51% –, enquanto a letalidade da doença está em 0,2%. Para efeitos de comparação, esse número era de 8,7% em 2020. Na rede SUS da capital, em 23 de janeiro havia 911 internados. Nesta semana, são 80. Em todo o estado, a média móvel de casos conhecidos é de 5.688 por dia, nos últimos sete dias, queda de 46% em comparação com duas semanas atrás. Já a média do número de mortes está em 62 por dia, o que representa queda de 14% em comparação com 14 dias atrás.
“A insegurança das pessoas é absolutamente natural, estamos vivendo um momento de muitas incertezas, mas acompanhamos diariamente a evolução da pandemia no Brasil e em ouras partes do mundo”, afirma Medronho. Ele explica que o distanciamento social foi fundamental quando não havia vacina disponível e quando a transmissão da doença estava muito alta. “Agora nós temos uma redução sustentada no número de casos e alta cobertura vacinal”, diz. O médico, no entanto, adverte que as recomendações podem mudar de acordo com a situação epidemiológica da pandemia. “Por exemplo, surgindo uma nova variante muito transmissível ou muito virulenta, a gente retoma as medidas de segurança. Como aconteceu em janeiro, com a ômicron, em que houve o retorno às atividades remotas”, lembra.
Os eventos fechados dos dias de Carnaval preocupam e podem mudar momentaneamente a curva de casos no país, sobretudo nas cidades em que há maior tradição festiva, como o Rio de Janeiro. “Pode haver, sim, um novo aumento no número de casos, mas esperamos que não evoluam com tanta frequência para uma internação entre os vacinados. Por isso não liberamos ainda o uso de máscaras em ambientes fechados, já que a circulação do vírus é baixa, mas ainda importante”.
Universidade mapeia reparos prioritários
A UFRJ realiza um levantamento junto às unidades acadêmicas e decanias para descobrir quais são as principais situações que impedem o pleno retorno presencial. A prioridade zero, de acordo com o pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças, professor Eduardo Raupp, é tornar todas as salas de aula operacionais para as atividades presenciais. “Nosso plano é que a universidade volte ao patamar do início de 2020. Muitos espaços ficaram fechados e se degradaram neste período. A ideia é definir o que é emergencial para o retorno presencial, tendo em vista o patamar no qual a gente parou”, explica o dirigente. “Evidentemente, não temos recursos para fazer todas as correções e recuperações estruturais históricas”, afirma.
A universidade ainda não tem o mapa de onde vão acontecer as intervenções, mas o pró-reitor espera ter todos esses dados em mãos nos próximos dias. “Ainda estamos recebendo as demandas, mas as principais que já chegaram são relacionadas a manutenção de ar-condicionado, infiltrações, reabertura de janelas, instalação de ventiladores”, conta. “Acreditamos que na semana após o Carnaval a gente já tenha definido esse plano de ação”, assegura.
As demandas são muitas e o cobertor é curto. Em 2022, a instituição ainda não recebeu seu orçamento integral. “O orçamento está vindo a conta-gotas. A razão que está sendo liberada é de 3/18 avos, e não 3/12 avos”, explica o pró-reitor. Ou seja, a universidade ainda não recebeu o valor total previsto por mês de seu orçamento. Ainda assim, Raupp garante que as obras e reparos emergenciais vão ser realizados com o orçamento da administração central, sem descontar do orçamento participativo das unidades. “Temos a expectativa de atender a praticamente 100% das demandas emergenciais. As decanias ainda poderão contar com o orçamento participativo para outras ações que julguem necessárias”, afirma.
A situação mais crítica conhecida é do Edifício Jorge Machado Moreira. “Há questões estruturais no JMM, com licitações em andamento na casa dos R$ 11 milhões”, revela. Apesar de ainda haver pendência com uma subestação de energia, o pró-reitor confirma que os prazos para entregas de salas de aula está mantido para abril. “Com a liberação do 3º, 4º, 6º e 7º andares de salas de aula, já haverá possibilidade de efetuar o retorno gradual nessas instalações. Vamos contratar também brigada de incêndio”. (Beatriz Coutinho e Silvana Sá)
A discussão sobre cobrar e de que forma exigir o passaporte vacinal também fez parte da reunião do Conselho de Representantes da AdUFRJ. O encontro aconteceu no dia 22, pela manhã, debateu os desafios para o retorno presencial aos campi e reuniu professores de mais de 20 unidades acadêmicas. Os docentes reclamaram que a cobrança do passaporte da vacina até o momento não tem seguido uma política clara nas unidades. “Temos algumas questões prementes”, afirmou o presidente da AdUFRJ, professor João Torres. “Estou muito preocupado com o passe vacinal, porque parece que se quer fazer dele uma questão política mais ampla, mas se quer evitar o desgaste interno na cobrança efetiva”, disse. “Sou contra que haja filas em frente a funcionários terceirizados responsáveis pela segurança patrimonial. É preciso que a universidade organize uma forma de cobrança institucional”, reiterou.
“Há muitas preocupações sobre o fornecimento de equipamentos de proteção individual e também em relação à cobrança do passaporte vacinal. Por exemplo, se a exigência da comprovação poderia acontecer pelo SIGA”, relatou a professora Christine Ruta, do Instituto de Biologia. O assunto foi tratado no Conselho de Centro do CCS. Seu centro sofre, ainda, com outros problemas de segurança. “Há problemas estruturais e de roubos de equipamentos”, contou a ex-diretora da AdUFRJ.
OUTROS DESAFIOS
O debate ocorre no momento em que UFRJ se prepara para a volta integral do ensino presencial. O problema é que os dois anos longe das instalações físicas da universidade geraram mais problemas de infraestrutura, além dos que já existiam antes da pandemia, e podem comprometer a volta plena dos mais de 55 mil alunos, 9 mil técnicos e 4,5 mil professores. As inquietações dos professores geraram um conjunto de medidas a serem tomadas pela AdUFRJ e pela reitoria da universidade (veja quadro com os encaminhamentos).
“Ainda nos restam muitas dúvidas. O que vai acontecer com os professores com comorbidades e as pessoas compreendidas na IN 90?”, questionou a professora Mônica Cardoso, do Instituto de Química. A Instrução Normativa 90, do Ministério da Economia, de outubro de 2021, estabeleceu os critérios para o retorno gradual de servidores do Executivo Federal ao trabalho presencial. O documento aponta alguns grupos que estariam autorizados a manterem o trabalho remoto, como pessoas acima dos 60 anos, com comorbidades, gestantes e responsáveis por crianças em idade escolar e pré-escolar que não estejam em ensino presencial.
“Temos muitos prejuízos que ficaram piores na pandemia, mas precisamos voltar porque nossos cursos são presenciais. O prejuízo para nossos alunos é muito grande, eles se inscreveram para cursos presenciais”, defendeu a professora Mônica.
A infraestrutura predial foi o principal ponto levantado pelo professor Cláudio Ribeiro, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. O edifício Jorge Machado Moreira, que abriga a unidade, sofreu dois incêndios nos últimos anos e apresenta graves problemas estruturais já noticiados em outras edições do Jornal da AdUFRJ. “Em meados de janeiro, realizamos uma assembleia virtual, da FAU e da EBA, com mais de 300 pessoas”, revelou. “Há reformas sendo feitas, mas ainda não temos segurança do retorno presencial pleno em abril. O nosso receio é que não exista um plano B caso haja mais atrasos”.
A professora Thaís Motta, do Colégio de Aplicação, cobrou atenção às especificidades da educação básica. “Retornamos em fevereiro com muitas dúvidas. Estamos com todos os estudantes na escola e fazendo processo seletivo para professor substituto neste momento, porque a UFRJ não abriu seleção em tempo de atender ao nosso calendário”, criticou. “Estamos com carga triplicada. Há todo um cuidado para o recebimento de licenciandos, mas o calendário não conversa com a graduação. São muitos descompassos em virtude de um esquecimento da educação básica”.
Representante da Coppe, a professora Leda Castilho sugeriu constituir uma lista de problemas que impedem ou dificultam o retorno presencial seguro e separá-las em ações emergenciais, de médio e longo prazos. “A gente deve tentar separar o que impede o retorno seguro; o precário, que já existia e exige intervenções de médio-grande porte; e ações de pequeno porte que podem impactar na melhoria das condições para o retorno”, elencou. “Fornecimento de EPIs, força-tarefa para abrir janelas bloqueadas; instalação de ventiladores são alguns exemplos”, sugeriu. “Essa lista vai nos permitir indicar as condições para o retorno seguro”.
O que foi decidido pelo Conselho de Representantes
- Elaboração de questionário para que os membros do Conselho de Representantes respondam às questões prementes de cada unidade;
- A reitoria deve produzir uma cartilha de volta às aulas, com orientações aos professores sobre pontos como passe vacinal, uso de máscaras e demais recomendações de segurança;
- Força-tarefa emergencial para tornar adequada a ventilação das salas;
- Fornecimento de máscaras pela Universidade;
- Cobrança do passe vacinal de forma explícita de alunos, professores e técnicos;
- O GT Coronavírus deve acompanhar as condições epidemiológicas em tempo real;
- A diretoria da AdUFRJ fará campanha de valorização dos professores e da universidade pública;
- A IN90 precisa ser revogada para que a universidade tenha condição de voltar plenamente às aulas presenciais.
Em menos de cinco semanas, choramos a tortura e a morte de Moïse, sentimos dor e revolta por mais uma tragédia humana e ambiental em Petrópolis e, desde a última terça-feira, dormimos e acordamos com medo dos efeitos dramáticos da Guerra na Ucrânia. Todo esse labirinto de notícias terríveis multiplicado por dois anos de pandemia, com quase 650 mil mortos, e quase quatro de governo Bolsonaro, fragiliza nossa saúde mental, mas precisamos encontrar formas de resistir. Há batalhas urgentes que precisamos travar na universidade. Devemos caminhar juntos, minimizando diferenças e somando nossas capacidades criativas.
Estamos nos preparando para retornar às aulas presenciais em abril, mas os cortes orçamentários castigam a estrutura da UFRJ e ameaçam nossas condições de trabalho. Há problemas graves nos prédios do campus da Praia Vermelha, danos estruturais sérios que comprometem a segurança na Escola de Belas Artes e na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, no Fundão, além da gigantesca demanda por melhorias de ventilação nos enclausurados laboratórios do CCS e nas salas do CT.
Na última terça-feira, em reunião com o Conselho de Representantes da AdUFRJ, ouvimos os relatos angustiados de nossos colegas com a situação da universidade. De um lado, a falta de condições sanitárias se soma a um cenário vigoroso de desgaste de nossos salários, que já acumulam quase 20% de perdas apenas nos três anos do governo Bolsonaro. Do outro, vemos uma vontade gigante de retornar às aulas presenciais e acolher nossos alunos, muitos deles jovens que venceram enormes obstáculos para entrar no ensino superior, mas que ainda não experimentaram a maravilhosa aventura universitária.
Na mesma terça-feira, participamos de uma reunião da diretoria do Andes com as seções sindicais das universidades federais. A direção da AdUFRJ era a maior delegação, com quatro diretores. Representantes de entidades docentes de várias partes do país relataram a insegurança com a possibilidade de deflagração de uma greve em um contexto de desmobilização e desgaste junto à sociedade civil em virtude do ensino remoto. Ao final do encontro, a direção do Andes encaminhou um indicativo de greve por tempo indeterminado para o dia 23 de março: 33 seções sindicais concordaram, nenhuma foi contra. Três se abstiveram. Nós entre elas.
A direção da AdUFRJ concorda com a pauta salarial, mas discorda da eficácia de uma greve neste momento, em que nos preparamos para o retorno presencial após dois anos de ensino remoto. E, por isso, decidimos convocar uma assembleia para o próximo dia 18 com o objetivo de debater com todos os colegas se essa é uma boa hora para paralisarmos a universidade por tempo indeterminado. Achamos que essa não é a melhor estratégia neste momento e vamos encaminhar na assembleia a nossa posição de não aderir à greve nacional dos servidores públicos federais a partir do dia 23. Entendemos que há outras formas de nos mobilizarmos pela reposição salarial e contra os ataques que sofremos desse governo fascista.
Além dos temas que mobilizaram a UFRJ nesta semana, o Jornal da AdUFRJ traz também reflexões ricas de professores e pesquisadores sobre a tragédia de Petrópolis e a guerra na Ucrânia. São leituras instigantes que procuram interpretações diferenciadas sobre realidades que estão na mídia, mas que, por vezes, escapam de olhares mais analíticos. Esperamos que o leitor aprecie e também envie outras sugestões de pauta para nossos jornalistas pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. Lembramos que na próxima semana não haverá jornal, em virtude do feriado de Carnaval.
Bom feriado e boa leitura.
PS: Por fim, uma boa notícia. Estamos preparando um debate para celebrar o Dia Internacional da Mulher. Quatro diretoras da AdUFRJ vão conversar com as reitoras da UFRJ e da Universidade Federal do Sul da Bahia, em debate virtual no dia 8, às 10h, pelos canais da AdUFRJ no Facebook e no Youtube. Será um debate intenso sobre os desafios e as conquistas de liderar universidades num contexto tão adverso como o nosso. Participe!