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O Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) teve uma agenda cheia nesta semana, com eventos de recepção de calouros, visitas guiadas e as primeiras aulas presenciais depois de dois anos de pandemia. “Universidade é aglomeração. Universidade é gente junta, pessoas se encontrando e conversando, e esse contato humano nada substitui”, disse o professor Antônio Carlos Jucá, diretor do Instituto de História. Ele conta que os problemas enfrentados nessa primeira semana foram aqueles típicos de um retorno às aulas e que já aconteciam antes da pandemia, como um computador sem funcionar e alguns problemas de acesso à internet.
Durante a visita guiada pelo Centro Acadêmico de Filosofia, os calouros puderam se familiarizar com o prédio histórico, o funcionamento do restaurante universitário, o uso da biblioteca e receberam até recomendações sobre quais bebedouros funcionam em cada andar e quais são os melhores banheiros da unidade. Thales Barreto é estudante do 5° período de Filosofia e faz parte do grupo de ingressantes do primeiro semestre de 2020, que aproveitou apenas uma semana presencial no IFCS antes da suspensão das aulas. Agora, ele retorna ao prédio para um recomeço tardio. “Eu não me sinto um veterano, sou um calouro disfarçado. Estou ajudando na organização da visita, mas ao mesmo tempo eu mal conheço o prédio. Não sei nem onde é o banheiro!”, contou.
“É claro que dois anos de prédios desocupados deixaram muitas sequelas, então a preparação foi grande, mas isso não impediu que, ao chegar e ocupar os espaços, as pessoas encontrassem problemas que não estavam aparentes justamente pela falta de ocupação e de uso”, explicou o professor Fernando Santoro, diretor do IFCS. “Mas o restaurante universitário estava funcionando e dando vazão para toda a comunidade, a portaria com controle de vacinação funcionou muito bem, sem criar filas ou impedimentos, as pessoas ocuparam as salas e, principalmente, os espaços coletivos, como o pátio e os jardins”, pontuou o diretor.
A partir do retorno presencial das atividades, o caminho de casa até a universidade volta a ocupar um tempo na rotina dos estudantes. Tainá Dias é estudante do 1° período de Ciências Sociais e contou sobre a urgência de tirar o Bilhete Único Universitário, especialmente após o aumento da passagem do metrô. “Eu venho para cá de trem e depois pego o metrô para descer aqui na Uruguaiana. Agora que aumentou, gasto R$ 23 por dia de passagem. Ainda tem a questão do horário, porque eu sou do noturno, então dá um pouco de medo na hora de voltar, tem que ser em grupo”, explicou. Por isso, os estudantes têm se organizado desde a primeira semana para fazer esse trajeto da unidade até o transporte em conjunto e de forma mais segura.
Fotos: Estela Magalhães RibeiroNa Faculdade Nacional de Direito, as atividades acadêmicas estão a todo vapor. “É uma sensação muito boa. Estou vendo meus alunos mais felizes, eles apresentam uma satisfação em estar de volta, de ver os professores ao vivo, ter interação”, contou a professora Carolina Pizoeiro, vice-diretora da FND. Algumas soluções do período de aulas remotas ainda têm lugar no retorno presencial, e a professora explicou que vai manter o Google Sala de Aula como ferramenta para disponibilizar materiais para os alunos, em vez de trazer de volta a pasta de textos impressos.
Estudantes também se mostraram aliviados com o retorno e contentes com a oportunidade de interagir com seus colegas, como é o caso de Isabela Barbosa, do 4° período. “Eu já estava saturada do remoto, nem me esforçava tanto para interagir mais. Era tudo meio solitário, se você estava surtando com alguma coisa não tinha ninguém ali pra te apoiar. Agora você olha pro lado e vê na cara da pessoa como ela está, tem um senso de coletividade, já dá um conforto”, desabafou.
O professor Daniel Capecchi, coordenador da graduação em Direito, falou sobre a emoção de estar de volta e ver as salas de aula cheias de estudantes. “Nós fizemos o melhor para recepcionar os alunos diante das possibilidades. O prédio está todo bem cuidado, fizemos algumas mudanças na estrutura, tem sido um esforço muito grande fazer esse retorno de uma maneira segura. É um desafio que nós estamos enfrentando e vamos conseguir”, disse.
Foto: Márcio MercanteA preocupação em receber os alunos, sobretudo os calouros e os que ainda não haviam tido aulas presenciais por conta da pandemia, foi a marca das ações de recepção organizadas por direções de unidades e centros acadêmicos da Praia Vermelha. Quem deu o tom foi professor emérito Marcio Tavares d’Amaral, da ECO, na abertura do Ecomeço, evento organizado para receber os novos alunos: “Nosso trabalho aqui, numa Escola de Comunicação, é afirmar na cara do mundo que a verdade existe e que nós a procuramos. Meu jovem coração de velho está indescritivelmente feliz de ver vocês aqui”, disse o professor, que acaba de completar 75 anos.
O Ecomeço recebeu os alunos no tradicional laguinho do Palácio, mas a recepção foi apenas uma das atividades previstas. Na segunda-feira (11), o professor Muniz Sodré deu a aula inaugural do curso. “É um super Ecomeço, feito para dar conta de acolher toda essa diferença, nesse contexto de fragilidade e vulnerabilidade em que estamos. De 1.280 estudantes de graduação, 600 nunca pisaram aqui”, explicou a professora Suzy dos Santos, diretora da Eco.
A semana também foi dedicada à recepção dos alunos no Instituto de Psicologia. O Centro Acadêmico organizou a Semana de Ambientação de Novos Alunos (Sana), com atividades de integração e apresentação do campus. A direção do instituto apoiou a iniciativa, e suspendeu as aulas da primeira semana. “A Sana já acontece há muitos anos. Normalmente ela é para os alunos do primeiro período, mas dessa vez expandimos”, explicou Mykaella Moreira dos Anjos, do CA da Psicologia.
Já a direção da Faculdade de Educação organizou um café da manhã para os alunos. A atividade também contou com apresentação de poesia e a confecção de cartazes, feitos pelos estudantes. “Estamos muito felizes e emocionados de ver o campus com essa alegria. Temos estudantes de terceiro período que nunca pisaram aqui. Achamos importante fazer essa inserção, para que eles sentissem que esse espaço também é deles”, contou a diretora da faculdade, profesora Maria Muanis.
O Instituto de Economia recebeu uma aula inaugural na segunda-feira, e manteve as aulas normais na primeira semana. O professor Carlos Pinkusfeld Bastos também não escondia sua animação, e brincou com o longo período afastado das salas de aula: “Espero não estar enferrujado”. Para ele, o momento é de celebração. “Estou feliz. Vai ser tudo muito diferente, dar aula para uma turma de quinto período na qual eu não conheço quase ninguém”, contou o professor.
Aluna do professor Carlos Pinkusfeld, Fernanda Maurelli entrou na UFRJ em 2020.1. Seu primeiro dia na universidade foi também o último das atividades presenciais. A experiência no remoto foi bastante complicada para ela, que acredita que não teve a experiência da universidade. “Eu sonhava com a UFRJ, e com aulas remotas eu perdi isso. Era como não estar na universidade. Está sendo uma realização”, contou.
ENTREVISTA
Paulo Vaz
(60 anos)
Professor da Escola de Comunicação da UFRJ e pesquisador 1A do CNPq
O senhor fez críticas à última edição do jornal, que celebrou o retorno presencial. Não concorda com a volta das atividades presenciais?
Eu acho que era necessário haver uma política de vulnerabilidade. Haver retorno presencial para aqueles não vulneráveis e deixar à escolha dos vulneráveis se desejassem voltar ou não. Não entendo por que [o ensino] não pode continuar remoto em algumas situações. Não sou contra a volta, só que nós temos um problema na forma de discussão sobre a covid-19 que não trata da questão maior que é a passagem da pandemia para a endemia. Isso não significa o fim do vírus, significa uma nova distribuição do risco e o fim das medidas de controle. Como criaremos condições para que os vulneráveis possam se proteger? A UFRJ não fez isso, não criou essas condições, obrigou todos a voltarem. Eu sou contra a volta ao presencial forçada, por isso me espanto com a AdUFRJ celebrar forçar.
Quais seriam as alternativas possíveis?
Não forçar, negociar, tornar a decisão local. Como o Conselho Universitário emite uma regra que obriga um imunossuprimido a ir ao Fundão ser examinado? Por que não aceitar uma autodeclaração? É uma caricatura de vigilância e punição, numa universidade pública. O equívoco fundamental é que os vulneráveis não se limitam aos imunossuprimidos e imunodeprimidos. A covid-19 é especialmente desastrosa para idosos. As congregações poderiam encontrar soluções. O Consuni acha que somos um bando de pessoas que não quer trabalhar?
Os estudantes pressionavam pela volta presencial. Não são eles a razão de a universidade existir?
Se eu fosse jovem, com certeza iria querer voltar ao campus. A vida universitária é tão maravilhosa que alguns nunca saem dela. Mas creio que poderiam ter meio-termos, estipular, por exemplo, que na sexta não teria aula presencial, que até 20% do curso pudesse ser remoto. Eu acho que faltou sensibilidade do Consuni, da reitoria. Você acha que os estudantes não seriam solidários se soubessem que aquele professor é vulnerável, que pode morrer?
Qual disciplina o senhor ministra? Quantos alunos estão matriculados?
Atuo com Psicologia, Comunicação e Filosofia e passei muito tempo da minha carreira discutindo fator de risco. Sou pesquisador 1A do CNPq, trabalho há muito tempo com Medicina e Comunicação. Tenho 40 alunos nesse semestre. O ideal era que eu tivesse uma turma de 20 para o espaço que terei de trabalho. Vou brigar para ter meu direito trabalhista respeitado. É preciso que a AdUFRJ dê apoio aos professores em vulnerabilidade. Só voltarei ao presencial se a universidade cortar meu pagamento, mas espero que isso não aconteça.
Fotos: Alessandro CostaO dia 11 amanheceu com abraços apertados e muitas selfies na entrada dos prédios do Centro de Tecnologia e do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza. Todo mundo queria trocar um afago com o colega ou com a colega que só viu na telinha de computador por mais de dois anos de pandemia. Calouros tiravam fotos em frente às fachadas ou na conhecida moeda gigante da Minerva, ao lado do auditório do CT. Não bastava estar na UFRJ. Era preciso levar um pouco dela para casa, mostrar para amigos e familiares nas redes sociais.
Após tanto tempo de afastamento, também era preciso acolher os que chegavam da melhor forma possível. A professora Nedir do Espirito Santo, diretora da AdUFRJ, distribuiu kits de boas-vindas do sindicato aos colegas, no saguão do bloco A do CT. “Foi comovente e até surpreendente a tamanha receptividade que as pessoas tiveram com os nossos materiais. Pareciam crianças recebendo presentes”, contou. “Foi uma atividade de aproximação também. Abraçar sem dar o abraço físico, de acolhimento”.
Outras iniciativas de acolhimento estavam espalhadas pela UFRJ. A Engenharia Mecânica preparou um lanche de recepção para “quebrar o gelo” com os calouros. O professor Vitor Romano, coordenador do curso, estava preocupado que não pudessem acessar os bandejões universitários, ainda por falta de uma carteira de identificação estudantil. “A gente sempre fez isso. É uma forma de aproximação. Alguns até almoçaram lá”.
Para a maioria da comunidade, foi muito mais complexo fazer uma refeição. O tradicional restaurante Burguesão, frequentado por muitos docentes, fechou as portas. Será transformado em um bandejão estudantil ainda este ano. “Fiquei muito triste quando soube que o Burguesão tinha fechado. Era um espaço muito agradável. E muitos dos trailers ainda não abriram”, relatou o professor Paulo Amorim, do Instituto de Matemática.
Já os estudantes penaram para acessar os bandejões. Fernanda Carrilho, do segundo período de Engenharia Civil, estava com amigos na fila do restaurante do CT, mas resolveu tentar a sorte no Bandejão Central. “Demorei duas horas e quarenta minutos na fila, debaixo de sol. Usei meu guarda-chuva como guarda-sol”, disse Fernanda, que perdeu a primeira aula da tarde.
A estudante ainda estava no bandejão quando o presidente da Academia Brasileira de Ciências, professor Luiz Davidovich, falou no auditório Roxinho (do CCMN) sobre a origem de boa parte dos problemas das universidades e institutos de pesquisa, nos últimos quatro anos. “Anos muito difíceis. Não só de cortes na Ciência, mas de negação da Ciência”, disse, na aula inaugural do Instituto de Física. “É importante entender que Ciência e Inovação se fazem através de décadas. São necessárias décadas de apoio contínuo e sustentado para ter resultados importantes para a população brasileira”.
ESCOLA DE QUÍMICA
Mas, na universidade, as lições não são exclusividade de auditórios, salas ou laboratórios. No salão nobre da decania do CT, a cerimônia de posse da primeira direção inteiramente feminina nos 88 anos da Escola de Química — formada pelas professoras Fabiana Valéria da Fonseca (diretora) e Andréa Salgado (vice) — , no dia 12, demonstrou isso. “Dizer o que isso representa nos tempos atuais é falar não só da importância e da sensibilidade feminina. Mas afirmar que cada mulher é sujeito da sua história, devendo ser respeitada e apoiada em suas escolhas”, disse Andréa em seu discurso. “Desafios não nos faltam. Mas, como dizia Sócrates, uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.
Foto: Alessandro CostaA saudade dos corredores cheios não escondeu os velhos problemas da maior unidade da UFRJ, o Centro de Ciências da Saúde (CCS). Os problemas crônicos – banheiros precários, goteiras e paredes com mofo – saudaram calouros e conhecidos da casa. No percurso para a faculdade, os ônibus lotados e BRTs com as portas abertas em movimento já prenunciavam as dificuldades. “Saímos com três horas de antecedência e não chegamos”, desabafa Luísa Cavalcante, estudante do 5º período de Enfermagem.
No bandejão, as filas gigantescas assustavam os estudantes, que ficaram debaixo do sol esperando por mais de uma hora.
Após dois anos de universidade virtual, calouro não é apenas o aluno do primeiro período. Quem cursou metade da graduação em casa também sentiu o frio na barriga de pisar na faculdade pela primeira vez: “Perdi todo o meu ciclo básico, mas estou feliz. O momento é agora”, conta determinada a estudante do 4º período de Ciências Biológicas, Letícia Nascimento.
As turmas cheias confirmam a saudade e animação. “Eles estavam ansiosos, perguntando muito. No remoto, são sempre os mesmos indivíduos que participam. No presencial, a participação é maior, mais democrática”, observa o professor Norton Heise, da Nutrição. Mesma opinião do professor Ricardo Reis, da Odontologia. “Desde segunda, quando a turma iniciou o curso, ela está cheia. Ou seja, claramente as pessoas querem voltar ao presencial. A UFRJ nunca esteve tão participativa”, comemora o professor, na frente da sala, com todos os alunos de máscaras.
Os problemas estruturais, no entanto, seguem graves no CCS. No auditório do bloco N, a palestra “Acolhimento UFRJ”, com o objetivo de apresentar o funcionamento da Universidade para os calouros, aconteceu no calor. Os dois aparelhos de ar-condicionado estavam quebrados. Na Escola de Educação Física (EEFD), a precariedade também continua.
“Nós temos um número de estudantes infinitamente maior do que o número de espaços disponíveis para a aula. Então, nós já tínhamos um problema; agora ele só aumentou, porque não foi resolvido”, explica a diretora da Katya Gualter. “Ainda assim, meu sentimento é profunda emoção. Chegar e encontrar esses corpos coabitando esses espaços revitaliza”, reconhece a professora, com o mesmo sentimento esperançoso da estudante Tamires Costa. “Tocar, sentir o cheiro sem estar mediado pela tela. É esperançoso voltar ao presencial”.
O prédio que reúne os maiores problemas estruturais da universidade é o edifício Jorge Machado Moreira, que abriga a reitoria e os cursos da Escola de Belas Artes (EBA), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR). Atingido por dois incêndios em cinco anos, o prédio ainda passa por reformas e reforço de pilares danificados pelo tempo. No primeiro dia de aulas, a decania do Centro de Letras e Artes, que funciona no térreo do prédio, montou uma atividade para calouros e veteranos.
“O acolhimento começou do lado de fora, com a organização dos alunos e esclarecimento de dúvidas sobre acesso e comprovante de vacinação”, conta a servidora Vânia Godinho. “Temos alunos do primeiro ao quinto períodos que estão inaugurando os espaços da universidade. Ficamos com medo que eles não se adaptassem, não encontrassem suas salas, acessassem algum espaço em obras. Era realmente necessário esse trabalho de orientação”, avalia a técnica-administrativa.
Dos quatro elevadores do prédio, apenas um funciona. “Damos prioridade para pessoas com mobilidade reduzida ou deficiência e orientamos todos os outros a utilizarem as escadas”, explica a servidora. A equipe também montou um mini manual do aluno, com orientações diversas sobre a UFRJ.
Apesar do esforço, ainda houve quem se perdesse. Laila dos Anjos, do segundo período da FAU, procurava uma sala. “Estou muito ansiosa com este retorno”, comemora. Ela começou a estudar na UFRJ em 2021.2 e viveu muitas dificuldades com o ensino remoto. “Na minha casa acontecem muitas coisas, eu não tenho estrutura para estudar lá”, conta a aluna. “Estar aqui presencialmente é um sonho. Espero que seja meu recomeço”.
Está chegando a hora do reencontro. Dois anos e 26 dias após a suspensão das atividades presenciais não essenciais da UFRJ por força da pandemia, milhares de pessoas voltarão a frequentar os campi da maior universidade federal do país. Para todos aqueles que ingressaram na instituição recentemente ou mesmo para refrescar a memória dos “veteranos”, o Jornal da AdUFRJ produziu este pequeno guia de serviços. (clique na imagem com o botão direito do mouse e abra em uma nova guia)
