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Ana Beatriz Magno e Silvana Sá

Quem frequenta os corredores movimentados do Centro de Tecnologia não imagina o que se passa bem debaixo dos seus pés. Entulho, fios expostos,WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.56.00 equipamentos descartados, obras abandonadas, água, lama, insetos, ratos estão a um tropeço das saídas de emergência de laboratórios de ponta da Coppe.

O local, um estacionamento nunca concluído, com trechos em terra batida, percorre toda a extensão do Bloco I e tem ramificações até as escadas dos fundos dos blocos C ao G do CT. “Trabalho aqui há 16 anos e sempre foi assim. Na realidade, melhorou um pouco. Antes não era possível caminhar por aqui”, conta um trabalhador da manutenção que pediu para não ser identificado.

“Quando a Boate Kiss pegou fogo, um professor da Coppe foi entrevistado pela Globo, para falar de segurança. Pensei: será que ele não conhece o subsolo de onde ele trabalha?”, lembra.

Quando chove, a água alaga os corredores. Bombas ficam encarregadas de drenar todo o volume acumulado para fora do prédio. Canos com descarte de água de diferentes naturezas são direcionados para uma “vala”. Alguns aparentam ser descarte clandestino de esgoto.

O Setor de Segurança do Trabalho do CT faz vistorias recorrentes. “Sempre documento tudo, fotografo tudo, peço providências”, relata a gerente do setor, a engenheira de segurança Rosane Detommazo. “A diretoria da Coppe tem conhecimento, a decania do CT também. É um ambiente insalubre tanto pelo risco à saúde quanto pelo risco de incêndio”, conta a engenheira. “Ali existem laboratórios que não deveriam estar no subsolo, mas as coisas vão se expandindo sem planejamento”.

“A gestão desse espaço é do Centro de Tecnologia”, defende-se o professor Ericksson de Almendra, diretor de Planejamento, Administração e Desenvolvimento Institucional da Coppe. “É claro que existem queixas, mas o subsolo do Bloco I é uma das situações que mais melhoraram nos últimos dez anos”, afirma. Ele fez uma visita guiada com a reportagem. “Classifico o subsolo do Bloco I em cinco níveis, desde o nível A, que é o laboratório de primeira linha, até o nível E, que é o pântano”, reconhece. “Nossos laboratórios têm saída de emergência, têm circulação de ar forçada”.

A Coppe entregou à decania do CT um novo projeto para ocupação de mais uma parte do subsolo. O “pântano” existente entre os blocos E e F será transformado em depósito. A obra, segundo Ericksson, deve ficar pronta em três meses.

“A política do CT é não ocupar o subsolo”, rebate o decano do centro, professor Walter Suemitsu. “Não é o local apropriado para ter atividades”, reforça. “Manter um laboratório no subsolo é muito caro. Exige impermeabilização potente, ventição mecânica, reformas bastante caras. Consome muitos recursos”.

Um dos problemas observados pela reportagem, o entulho que se acumula nas galerias do subsolo, é problema antigo, segundo o decano. “Já tiramos vários caminhões de entulho lá de baixo, mas o problema volta. Pedimos apoio aos coordenadores de curso e diretores das unidades para que não haja descarte naquele local”, diz.

Em relação às subestações de energia, que ficam em áreas alagadiças, o decano afirmou que o projeto é retirá-las do subsolo, mas faltam recursos. “É um trabalho que demora bastante e exige orçamento.”

WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.49.26Alexandre Medeiros e Beatriz Coutinho

Acenderam a luz no quarto escuro e encontram uma infestação de mosquitos. É assim que se sentem pesquisadores brasileiros frente ao aumento de casos de dengue no país, no início deste ano. O último boletim do Ministério da Saúde, publicado em 6 de maio, aponta 654.800 casos prováveis de dengue até o dia 30 de abril, com taxa de incidência de 307 casos por 100 mil habitantes. Em comparação com o mesmo período de 2021, o aumento foi de 135,1%.
O Centro-Oeste é a região que mais acumula casos, com taxa de 1.054,6 casos por 100 mil habitantes, seguida pelo Sul, com 539,5 por 100 mil habitantes. Alguns governos estaduais, como o do Paraná, e municipais, como os de Natal, Itabuna (BA), Araraquara (SP) e Blumenau (SC), já decretaram formalmente a epidemia de dengue. A Prefeitura de Goiânia, capital com maior número de casos no país, decretou estado de emergência na saúde pública.
No estado do Rio de Janeiro, segundo levantamento da Coordenação de Vigilância Epidemiológica, foram registrados 2.839 casos até 30 de abril, um aumento de 115,6% em relação ao mesmo período de 2021. “Diante do cenário epidemiológico da dengue, ficou caracterizado um aumento expressivo de casos registrados em alguns municípios do estado, sinalizando para uma possível situação de alta transmissão”, alertou, em nota, o secretário de Estado de Saúde, Alexandre Chieppe.
Para Ademir Martins, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, da Fiocruz, há três hipóteses que podem justificar o aumento dos casos. A primeira é a subnotificação. Em dois anos de pandemia, os sistemas de vigilância de doenças, não só da dengue, ficaram muito prejudicados. Ou seja, houve uma falha nesses diagnósticos, ao mesmo tempo em que muitas pessoas não buscaram assistência médica. Agora, as pessoas têm procurado os postos de saúde por outras questões além do coronavírus. “Essa é uma hipótese, de que esses números de hoje sejam reais, porém o aumento não seja real”, aponta Martins.
A segunda hipótese é que haveria, sim, um aumento real. Nessa ideia, o diagnóstico teria acontecido corretamente durante a pandemia. Como as pessoas estavam mais tempo em casa, elas também conseguiram se atentar mais a possíveis criadouros de mosquitos, como vasos de planta e caixas d’água. O contato das pessoas com o mosquito teria, então, caído, assim como o número de casos da doença.
A terceira hipótese é relacionada ao clima. Martins aponta que a influência do fenômeno La Niña — que, na América Latina, acarreta em seca em alguns países e maior volume de chuva em outros — fez com que o ciclo de desenvolvimento de larva até o mosquito adulto tenha sido encurtado nos períodos mais quentes, o que favorece a proliferação desses vetores. “Se você tem mais mosquito, há possivelmente mais transmissão do vírus. Então, pode ser uma mistura desses três fatores e outros”, analisa o pesquisador.

NOVA CEPA
Em 5 de maio, o Instituto Oswaldo Cruz, da Fiocruz, em parceira com o Laboratório Central de Saúde Pública de Goiás (Lacen-GO), detectou um novo genótipo (linhagem ou cepa) do vírus da dengue. A linhagem cosmopolita, a que mais circula pelo mundo, foi diagnosticada em um morador de Aparecida de Goiânia (GO). O cosmopolita é um dos seis genótipos da dengue 2. A doença é dividida em quatro sorotipos: 1, 2, 3 e 4. Esses sorotipos podem apresentar diferentes linhagens. No Brasil, já circula uma cepa do tipo 2, denominada asiático-americana. Nessa nova onda de dengue, concentram-se os sorotipos 1 e 2 pelo país.
Pesquisadores apontam que, apesar da nova cepa poder apresentar potencial de maior transmissibilidade, a sua detecção foi precoce. Motivo de vigilância, mas não ainda de preocupação. Para Roberto Medronho, epidemiologista da UFRJ, o foco no momento é entender qual a nossa resposta imunológica ao vírus. Apesar da premissa de que quem contraiu um sorotipo da dengue fica imune para o resto da vida, Medronho é cuidadoso: “Ainda não temos certeza se nossos anticorpos são suficientemente robustos para neutralizar a infecção pelo dengue 2 deste genótipo cosmopolitano”. Para o professor, é fundamental que haja vigilância epidemiológica e genômica, a fim de identificar se o cosmopolitano está ou não se espalhando pelo Brasil. “O Rio de Janeiro, por ser um polo de turismo, favorece a entrada de novos sorotipos”, observa o epidemiologista.
A novidade não deve gerar pânico. Ademir Martins acredita até que, em certa dose, a preocupação pode virar proteção: “Com a covid-19, a gente evitava a doença usando máscara. Agora, estamos na época das arboviroses (doenças transmitidas pelos arbovírus, como dengue, zika, chikungunya e febre amarela) e nós as evitamos não deixando o mosquito se proliferar dentro das nossas casas”. Medronho segue a mesma linha preventiva. Para ele, a forma de se combater o vírus é concreta, como evitar água parada dentro de casas, borracharias e ferros-velhos.

Vacina nacional é esperança no horizonte

Na semana passada, foi dado mais um pequeno passo na longa caminhada em busca da vacina contra a dengue no Brasil. Começaram a ser recrutados, nas cidades gaúchas de Porto Alegre e Pelotas, 700 voluntários que vão participar de um novo subestudo da vacina da dengue do Instituto Butantan. No momento em que os casos da doença explodem no país, esse subestudo se propõe a avaliar a resposta imune de três diferentes lotes de produção da vacina em desenvolvimento no Butantan. A pesquisa começará no mês que vem, será randomizada e faz parte do ensaio clínico de fase 3, que é o estudo principal do imunizante e que está em andamento desde 2016.
Os voluntários serão homens e mulheres sadios ou com doença clinicamente controlada, com idades entre 18 e 59 anos. Em Porto Alegre, o trabalho será feito em parceria com o Hospital São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), e em Pelotas, com o Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Os participantes receberão uma dose do imunizante de um dos três lotes, ou de placebo, e serão acompanhados por até 52 semanas.
A vacina em desenvolvimento no Instituto Butantan, em parceria com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID) e a farmacêutica Merck, é a mais promissora frente de imunização em curso no país. Ela utiliza vírus enfraquecidos que induzem a produção de anticorpos sem causar a doença e com poucas reações adversas. Será tetravalente e vai proteger contra os quatro tipos de dengue. Estudo publicado no dia 15 de março na revista científica Human Vaccines & Immunotherapeutics mostra que a vacina induziu a geração de anticorpos em 100% dos indivíduos que já tiveram dengue e em mais de 90% naqueles que nunca haviam tido contato com o vírus. Os estudos foram iniciados em 2009 e o acordo do Butantan com o NIAID prevê que o instituto produza e distribua o imunizante em território brasileiro. A previsão é que a pesquisa seja concluída até 2024.
De acordo com a pesquisadora Simone da Costa, da Fiocruz, há diversos grupos no Brasil que estudam vacinas contra a dengue, usando várias estratégias e em diferentes estágios de evolução. Esses grupos estão em unidades da Fiocruz em vários estados, em universidades federais e estaduais. Ela lembra que desde 2015 há uma vacina licenciada contra a dengue, mas para um público restrito. “Ela é direcionada a indivíduos entre 9 e 45 anos. Foi aprovada em cerca de 20 países, incluindo o Brasil. É recomendada para pessoas que já tiveram dengue ou contato com o vírus”, diz Simone, mestre em Genética pela UFRJ e doutora em Biologia Celular e Molecular pela Fiocruz.
Para Simone, o longo caminho até a vacina contra a dengue se explica porque ela tem que induzir altos níveis de proteção por longo período contra os quatro sorotipos virais. “Se ela não é eficiente contra um dos sorotipos, você aumenta a chance de a pessoa vacinada, ao ser infectada pelo vírus, desenvolver um quadro mais grave da doença, em vez de estar protegida”, sustenta.
A mesma opinião é compartilhada pelo epidemiologista Roberto Medronho, da UFRJ: “Sabemos que uma vacina contra a dengue, para ser eficaz, deve ter proteção contra os quatro sorotipos da doença. E que seja uma proteção robusta. Porque se ela só protege contra um ou outro sorotipo, e proteger menos contra outros, podemos ter até um agravamento de casos, pela teoria da infecção sequencial, já há muitos anos consagrada. Então, uma vacina, para ser realmente segura e eficaz, precisa proteger contra os quatro sorotipos”.

Kelvin Melo e Beatriz Coutinho

No Centro de Ciências da Saúde, a salubridade do ambiente acadêmico deveria ser um princípio básico. Mas a realidade é outra, como mostra esta segunda parte da série de reportagens do Jornal da AdUFRJ sobre os problemas de infraestrutura da universidade.
Risco de incêndio, biblioteca interditada por contaminação de fungos, infestação de cupins, salas sem ventilação adequada, goteiras e banheiros fechados desafiam o cotidiano da comunidade acadêmica. Ao indigesto cardápio de obstáculos, soma-se a insegurança nos estacionamentos em torno do prédio. Enquanto trabalhava na terça-feira, dia 10, um professor teve o carro arrombado. O estepe foi levado. A decania do CCS respondeu sobre os estacionamentos, mas não atendeu aos demais questionamentos da reportagem.

Estacionamento: furtos, buracos e escuro

WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29Professor do Instituto de Biologia, Fábio Hepp é uma das vítimas mais recentes da conhecida insegurança dos estacionamentos do Centro. No dia 10 de maio, enquanto o docente trabalhava, seu carro da marca Kwid foi invadido e o estepe, furtado. “É horrível a sensação de alguém ter entrado no carro”, disse.
Como o estepe precisou ser desaparafusado e o interior do carro estava mexido, o docente acredita que o furto levou um certo tempo. A área, perto do Banco do Brasil, é mal iluminada. “A pessoa entrou no carro e conseguiu fazer tudo com calma, porque não havia iluminação adequada”, afirmou. “Estou muito frustrado. O estacionamento está uma bagunça. Está difícil de lidar com a quantidade de carros e as pessoas estacionando de forma irregular”, completou.
Michelle Melo, pós-doutoranda de Farmácia, concorda. “Dependendo do horário que você chega aqui, não tem vaga”. A estudante tem evitado se deslocar de carro para o Fundão. “Primeiro pela questão do custo. Mas também por que não é seguro. A iluminação em frente ao prédio novo da Farmácia é péssima, é muito escuro”.
“Nós estamos fazendo o recadastramento de usuários dos estacionamentos”, respondeu o decano do CCS, professor Luiz Eurico Nasciutti. “Como tivemos cortes importantes no número de vigilantes, não temos condições de deslocar ninguém para os acessos dos estacionamentos. Mas a reitoria está com um edital para ser lançado para contratação de porteiros”. Em conjunto com a Prefeitura Universitária, a decania está instalando refletores nos prédios.
Há ainda muitos buracos no estacionamento, que colocam em risco a segurança dos usuários. Uma técnica já se machucou no local. “Estamos contando com a ajuda da Prefeitura Universitária para a reposição de asfalto nos estacionamentos. Infelizmente, isto depende da Prefeitura Municipal e estamos aguardando”.

Brigadistas chamados 150 vezes em 9 anos

WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29 1Desde a criação, em 2013, a Brigada Voluntária do CCS já atuou em 110 incêndios ou princípios de incêndio e 40 acidentes químicos. Os números refletem um prédio degradado. “Desses 110 casos, 90% ocorreram por falha elétrica”, esclarece um dos coordenadores da brigada, Lucas Pinho. Só na semana passada, o grupo enfrentou dois princípios de incêndio e um vazamento de gás.
O último incidente, contido em 20 minutos, foi seguido de uma onda de desinformação. Tuítes nas redes sociais diziam que as aulas haviam sido suspensas e que o prédio estava sendo evacuado. Nada disso ocorreu. “Para resolver este problema, vamos lançar no segundo semestre o plano de emergência e evacuação do CCS. Ele já deveria estar pronto, mas a pandemia atrapalhou”, diz Lucas, que também ocupa a função de coordenador de biossegurança do Instituto de Biofísica.
Será um plano dentro das possibilidades orçamentárias da universidade. “Ainda vai faltar alarme, ainda vai faltar rede de água. Não temos rede de água aqui. São R$ 18 milhões para fazer esta adequação”, afirma Lucas. “Ilhas” com extintores podem ser vistas pelos corredores, mas a brigada dá preferência a um spray antichama, nas ações. No bloco N, mais novo, há rede de água, mas as mangueiras foram roubadas.
Para diminuir riscos, Lucas estima que o prédio deveria contar com mais de 500 brigadistas voluntários — hoje, são 150. Mas não se trata de um problema de adesão de pessoal. “Quando abrimos vagas, elas costumam lotar no primeiro dia. Mas oferecemos poucas vagas, porque nosso orçamento é zero, há quatro anos. Antes, a gente usava o dinheiro de edital de eventos, que não existe mais. Hoje, vivemos de doações e resto de orçamento da decania”. A última aula prática do curso custa R$ 9 mil por cada grupo de 30 alunos, em um centro credenciado. “Treinamos 30, mas temos capacidade para treinar até 360 brigadistas por ano”, lamenta Lucas.
Enquanto a brigada voluntária luta contra as chamas e contra a falta de dinheiro, a comunidade acadêmica não esconde o receio com um futuro incidente. Amada Andrade, estudante do 3º período de Farmácia, projeta as dificuldades que teria no caso de algum incêndio no subsolo do prédio, onde tem aulas. “São poucas saídas e as escadas são apertadas. É bem preocupante”, afirma.

Biblioteca interditada desde 2017

WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29 2Uma joia da UFRJ, a Biblioteca Central do CCS foi interditada em setembro de 2017 devido a uma contaminação por fungos. E até hoje não reabriu plenamente, à espera de higienizações e reformas que precisam ser feitas no local. Desde abril de 2018, apenas um espaço temporário funciona para retirada dos livros mais consultados pelos alunos.
“Todo o resto, como obras raras, teses e revistas, está interditado”, afirma a diretora da biblioteca, Celeste Torquato. “Volta e meia, recebo telefonema de um pesquisador de outro estado qualquer e não tenho a menor condição de atender”, diz, sobre o acervo mais antigo.
O saldo deste problema é uma geração inteira de alunos que não teve a oportunidade de conhecer os 6 mil m2 da biblioteca, como Patrick Medeiros, já no 7º período da Biomedicina. Ele, que tinha acabado de pegar um livro emprestado, iria estudar no prédio da Farmácia. “De vez em quando, vou para o CCMN ou CT, que têm bibliotecas”.
Do outro lado do corredor onde fica a biblioteca, improvisou-se uma pequena sala de estudos. Mas é pouco. “Os alunos foram muito prejudicados. A perda é muito grande”, lamenta Celeste. Para minimizar os prejuízos à formação dos estudantes, em abril começou uma obra para reabrir mais um trecho da biblioteca, ainda este ano. A reforma só ocorre graças a uma emenda parlamentar obtida no ano passado.

Goteiras em vários pontos

Goteiras e infiltrações no prédio interditam espaços e prejudicam as atividades acadêmicas. Um exemplo WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29 5 é a sala do subsolo que estava sendo preparada para receber a coleção entomológica do Departamento de Zoologia. Está tomada por fungos. Durante a pandemia, não foi possível fazer a transferência e a sala ficou fechada. “Se tivéssemos feito essa transferência, teríamos perdido grande parte da coleção. Certamente, o crescimento desses fungos é consequência de uma infiltração que vem da parte externa do prédio”, afirma o professor Nelson Ferreira Júnior, do Instituto de Biologia.

Bichos indesejados

WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29 3Ambientes fechados durante a pandemia, com mobiliário de madeira, favoreceram a infestação de cupins. No laboratório didático do Instituto de Biologia, de seis armários, três foram bastante comprometidos pela ação dos insetos. “O meu armário já não tinha prateleiras. Tinham desmoronado. Como sou chefe de Departamento, levei o assunto à direção. A expectativa é desmontar esses armários e montar estantes de metal, no lugar, na próxima semana”, explica o professor Paulo de Paiva. “Vi que as estantes de metal já estão no corredor. Acredito que os armários serão trocados logo”.
Mas os cupins não são os únicos bichos indesejados no CCS. Alguns locais também recebem visitas de ratos. Duas funcionárias do serviço terceirizado de limpeza relataram à reportagem a presença dos roedores dentro das lixeiras do bloco A. Parte da tampa de uma delas estava carcomida.

 

Calor e falta de banheiros dificultam aulas

Salas sem ar-condicionado, especialmente no subsolo, e falta de banheiros em boas condições desgastam quem trabalha ou estuda no CCS. WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29 4
Doutoranda em Anatomia Patológica, Joana Vicentini enfrenta interrupções da água no prédio, há três semanas. “Quando falta água no CCS, é muito complicado. Principalmente porque os banheiros ficam interditados. Isso traz também um problema sanitário muito grande para os alunos e para os professores que têm atividades práticas”, afirma.
A pedido dos próprios alunos, a professora Alice Simon, da Faculdade de Farmácia, conseguiu remanejar a turma de uma sala sem ar-condicionado, no dia 10. “Não tem nenhuma janela. Aqueles basculantes nem sei se abrem. É muito difícil trabalhar em dias de temperaturas altas. Na semana passada, meus colegas deram aulas na outra sala e saíram pingando de suor”.

bandeira adufrjDiretoria da AdUFRJ

Fazer política hoje é lutar contra a ruptura da ordem democrática e contra a disseminação do ódio pelas hordas bolsonaristas. E não há nada mais distante do esgoto a céu aberto, que é o bolsonarismo, do que a universidade pública com suas metas republicanas, suas políticas inclusivas pautadas pela ciência, pela educação e pela cultura. Portanto, um ato político fundamental hoje é manter essa universidade funcionando, é manter alto o moral dos estudantes, professores e técnicos. Mas, para isso, precisamos de condições mínimas de permanência na UFRJ.
Na terça-feira, Cláudio Cerqueira Lopes, professor titular do Instituto de Química, ficou uma hora e vinte minutos preso no elevador do bloco A do CT, junto com outros quatro colegas. Cardíaco, idoso, com problemas no joelho, o docente passou mal no acidente. Não se trata de um acaso: na semana passada, denunciamos o problema no nosso jornal. Esse é um assunto recorrente há anos, conforme alertam os mais de 400 docentes, técnicos e alunos que, na última quinta-feira, entregaram carta à reitoria. O presidente da AdUFRJ é um dos signatários.
No CCS, a situação também é preocupante. Os estacionamentos estão sem controle, cheios de buracos nos quais servidores caem e se ferem. Os carros são frequentemente arrombados e assaltados. A biblioteca não funciona integralmente desde 2017 e há vários registros de incêndios no prédio.
Caro colega, não lidamos apenas com problemas de infraestrutura. Professores e técnicos hoje enfrentam também uma política desastrosa com relação ao pagamento de direitos trabalhistas referentes a adicionais de insalubridade e periculosidade. São direitos assegurados por lei, mas que hoje não são respeitados pela Coordenação de Políticas de Saúde do Trabalhador, CPST, órgão da PR-4 responsável pela concessão e retirada desses adicionais e que hoje se pauta por uma interpretação das normas legais da qual discordamos frontalmente.
Se um professor que trabalha na bancada manipulando produtos químicos perigosos assume um cargo qualquer na UFRJ, imediatamente o benefício é cortado. Nós já discordamos disto! Na grande maioria das vezes, uma chefia não significa um gabinete com ar-condicionado e cafezinho. Significa trabalhar no novo cargo dentro do laboratório. Mas o pior é que, quando os colegas saem do cargo mencionado, a celeridade que existe para o corte do benefício não se manifesta no restabelecimento do pagamento. E, assim, vários colegas que “cometeram o erro” de aceitar um cargo na UFRJ nunca mais receberam um benefício ao qual têm direito. Em breve, faremos uma edição do Jornal exclusiva sobre o assunto.
Sabemos que a UFRJ tem o orçamento mais baixo dos últimos 20 anos. Sabemos que a tática do bolsonarismo e seus aliados é sufocar a universidade. Mas os problemas não podem ser escamoteados ou escondidos sob o argumento de que falar sobre e mostrá-los fragiliza a universidade. Temos que explicitá-los, discuti-los e buscar soluções. Esse é nosso papel enquanto sindicato. Precisamos zelar tanto pela infraestrutura da UFRJ quanto pelos direitos dos professores para que a universidade cumpra seu papel civilizacional e, consequentemente, tenha o impacto político tão necessário neste momento da história brasileira.
Boa leitura!

WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.55.57As condições de trabalho e ensino na UFRJ preocupam a comunidade acadêmica. Um mês após a volta das aulas presenciais da graduação, são muitas as queixas sobre a infraestrutura da universidade. Nesta semana, um professor titular do Instituto de Química ficou preso no elevador do Bloco A do Centro de Tecnologia com outras quatro pessoas (leia aqui). O incidente motivou uma carta de reivindicações, redigida por professores da unidade e assinada por mais de 400 pessoas. O documento foi parcialmente lido pela decana do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, professora Cássia Turci, no Conselho Universitário de 12 de maio e enviado à reitoria.

“Se providências não forem tomadas, nós seremos obrigados a suspender todas as atividades do Instituto de Química”, diz trecho da carta lida pela decana. “Nós temos quatro cursos de graduação, vários de pós-graduação. Além dos nossos cursos, atendemos outras dez unidades”, continuou Cássia, que também é professora titular do Instituto de Química. “Ou seja, nós temos 4.400 estudantes que circulam naquela área”, afirmou. “Como estamos no quarto, quinto, sexto e sétimo andares, sofremos mais com a questão dos elevadores”, concluiu a professora.

Representante dos associados do CCMN, o professor Carlos Riehl também criticou as condições precárias dos elevadores e reclamou da iluminação insuficiente no Fundão. “Ali na região atrás do Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobrás) está sempre sem luz. Ficamos várias semanas sem luz alguma no estacionamento do CT”, destacou. “Isso coloca toda a comunidade em risco. Solicito que a reitoria melhore a iluminação. Quem tem que sair à noite está sempre sujeito a imprevistos”. O problema foi tema de reportagem do Jornal da AdUFRJ na semana passada, assim como os elevadores do CT. Esta semana, o jornal continua a série de reportagens sobre condições de trabalho.

Pró-reitor de Gestão e Governança, André Esteves deu alguns informes sobre o drama dos elevadores. “A PR-3 pediu aporte ao MEC para a correção desse problema, mas ainda não houve resposta. Há uma licitação geral em curso, para toda a UFRJ, que inclui esses elevadores”, disse André. “Há, também, um processo contra a empresa que faz a manutenção dos equipamentos”, acrescentou. “E há uma análise de preços em andamento para renovação e compra desses elevadores”.

O pró-reitor aproveitou o momento para falar sobre os bandejões que apresentaram, segundo ele, nos últimos dias, uma redução de filas com estabilização do atendimento em 25 minutos. “O CT2, antigo Burguesão, deve iniciar as operações, no máximo, até julho”.

“A reitoria está atenta”, declarou a reitora, professora Denise Pires de Carvalho. “É muito difícil a nossa situação, mas a gente vai continuar avançando”. Ela atribuiu os problemas de infraestrutura à crise orçamentária das universidades federais, promovida a partir de 2016 e aprofundada no governo Bolsonaro. “O financiamento insuficiente leva a esses problemas, mas quero fazer um apelo para que os gestores da universidade tragam à administração central as solicitações”, pediu. “As pró-reitorias estão tentando atender ao máximo possível as demandas, com solicitações de orçamento emergencial e pedidos de complementação ao MEC”, revelou.

MEDALHA DO MÉRITO
A professora Anita Leocádia Prestes, aposentada do Instituto de História da UFRJ, será agraciada com a Medalha Minerva do Mérito Acadêmico. A indicação do IH foi aprovada por aclamação pelo Consuni. A honraria é concedida a docentes que se destacam por sua produção acadêmica e relevância social. É dada a professores que não são titulares e, por isso, não podem se tornar eméritos da universidade. Anita se aposentou como associada.

Filha de Luís Carlos Prestes e Olga Benário Prestes, sua vida se confunde com sua trajetória política e acadêmica. “É muito importante que a UFRJ homenageie hoje uma cientista, uma mulher, uma historiadora, uma comunista”, afirmou o professor Fábio Lessa, titular do Instituto de História.

A reitora, professora Denise Pires de Carvalho, se emocionou. “A honra é toda minha. Imagino que será uma cerimônia presencial muito bonita, uma festa da democracia, uma festa da justiça social”, declarou. “Vamos conseguir construir um futuro melhor para todos nós sem perdermos as referências do passado”.

Na mesma sessão, foi aprovada – também por aclamação – a emerência do professor titular Frederico Augusto Liberalli de Góes, aposentado da Faculdade de Letras. O docente é um dos expoentes da universidade e do país em sua área.

Já o pintor Oscar Araripe é o mais novo Doutor Honoris Causa da UFRJ. Egresso da Faculdade Nacional de Direito, o artista é uma personalidade reconhecida nas artes plásticas. Antes de se dedicar à pintura, foi escritor, tradutor e crítico de teatro.

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