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Um grande palco montado aos pés dos famosos Arcos da Lapa reuniu representantes das forças da esquerda que até pouco tempo atrás não conseguiam dialogar. O 1º de maio unificado, que não ocorria há muitos anos no Rio de Janeiro, foi motivado pela luta contra o Projeto de Lei 4.330 (que amplia a terceirização no país) e contra as Medidas Provisórias 664 e 665 (que restringem direitos trabalhistas eprevidenciários).

Assim, foi possível ao público ouvir, por exemplo, um representante da CUT e, logo depois, um dirigente da CSP-Conlutas. Um orador da Assembleia Nacional dos Estudantes - Livre (ANEL) foi precedido por um diretor da UNE. Lideranças dos partidos que dão base ao governo (PT e PCdoB) revezaram o microfone com nomes de legendas que fazem oposição à gestão Dilma Rousseff, como PSOL, PCB e PSTU.

 

Claro que as divergências apareceram: “farpas” foram trocadas aqui e ali (“Como explicar os cortes na Educação ou a escolha da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, pelo governo?”, questionaram uns; “Esse discurso é da Globo, é da Veja; o verdadeiro inimigo são os bancos, é o capitalismo, é a mídia golpista”, responderam outros). Mas, ao longo da tarde/noite, prevaleceu o argumento de que somente a unidade dos trabalhadores poderá impedir a perda de direitos duramente conquistados.

Como ficou nítido na intervenção do diretor da Regional Rio de Janeiro do Andes-SN, Wellington Augusto da Silva: “Há uma intensa retirada de direitos, uma extrema militarização da polícia; uma mercantilização da própria vida. Somente a unidade dos trabalhadores pode evitar esta situação”, afirmou. Docentes de várias universidades do Rio reforçaram o ato.

Consenso mesmo apareceu na saudação à luta dos professores e servidores públicos do Paraná contra o governo tucano de Beto Richa. Também foram lembrados os garis demitidos pelo governo Eduardo Paes (PMDB) do Rio de Janeiro e a resistência à discriminação racial, em Baltimore (nos EUA).

Na plateia, circulavam panfletos e informativos com os nomes e fotos dos parlamentares fluminenses que votaram, contra os trabalhadores, a favor do PL 4.330, na Câmara.

A noite caía sobre a Lapa, mas ainda houve espaço para uma autocrítica da esquerda: a sub-representação feminina no palco. De todos os oradores das mais diversas centrais, correntes políticas, movimentos sociais e estudantis, havia apenas duas mulheres: uma do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e uma da União Estadual dos Estudantes.

 

Samuel Tostad800 157Fotos: Samuel Tosta

 

Samuel Tostad800 180Fotos: Samuel Tosta

Entrevista/PL da Terceirização

RODRIGO CARELLI/Professor da Faculdade Nacional de Direito e Procurador do MP do Trabalho

Projeto de lei traz sérias ameaças aos trabalhadores

Professor da FND com pesquisa no campo do Direito do Trabalho, Rodrigo Carelli discute o ataque aos trabalhadores, por diferentes vias, contido no Projeto de Lei 4.330, em tramitação no Congresso Nacional

Degradação das relações de trabalho é ampliada

Elisa Monteiro. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Um dos argumentos utilizados pelos lobistas pró-PL 4.330 é o de que dezenas de milhares de trabalhadores se encontram em um modelo de trabalho não regulamentado. A lei atende a esse setor?

Os terceirizados não estão em modelo de trabalho não regulamentado, eles estão em um modelo proibido. Há exceções, mas problemáticas. Se o projeto quisesse, verdadeiramente, tratar dos problemas, criaria instrumentos para salvaguardar essas exceções. O que este projeto faz é liberar a subcontratação para todas as atividades da empresa, aumentando de maneira exponencial o que deveria ser uma exceção regulamentada com garantias. A lei é péssima, pois libera a terceirização sem atacar seus pontos cruciais. Fica claro que a motivação da lei é baixar o custo da mão de obra à custa da renda e de direitos dos trabalhadores.

A CLT não protege o trabalhador terceirizado? 

A terceirização admitida pela CLT é a contratação de serviços especializados, realizados de forma autônoma pela empresa contratada, não o monstrengo que querem aprovar. Na terceirização, o trabalhador é um celetista como outro qualquer, como um contratado diretamente pela empresa. O grande problema é que, com a terceirização, não há uma só categoria que se ligará a um só sindicato, os trabalhadores ficam fragmentados. Isso é algo de que não se fala, mas a terceirização, no Brasil, tem efeitos mais danosos do que em outros países porque nosso sistema sindical, de sindicato único (unicidade sindical), é autoritário. Na prática, os trabalhadores não poderão se unir por melhores condições de trabalho.

Se o PL for aprovado, os sindicatos serão cada vez mais fracos. Não é à toa que os empresários estão pagando propaganda no horário nobre da televisão a favor do projeto. A tentativa é de se evitar greves e o empoderamento dos trabalhadores. 

A lei melhora ou piora as condições de trabalho?

A lei piora. A partir do século XX, temos um pacto no qual a empresa que explora mão de obra, reconhecendo a subordinação e os trabalhadores como sujeitos de direitos, cuja defesa será realizada pelo sindicato. A terceirização rompe essa relação porque os trabalhadores serão empregados em outra empresa. Isso gera o caos na empresa, fragmenta a classe trabalhadora e reduz custos pela contratação da mão de obra. A empresa contratante impõe o preço do contrato e a contratada deve se adequar a esse preço. 

O que pode ser terceirizado?

O trabalhador nunca pode ser terceirizado. O que pode ser terceirizado é uma atividade econômica especializada, destacável da atividade principal. Por exemplo, eu tenho um setor de contabilidade na empresa. Eu posso terminar esse setor e contratar uma empresa especializada que vai me entregar o serviço pronto. A empresa que contrata não pode se imiscuir em nada na empresa contratada. O serviço que é contratado.

A expectativa de que a terceirização criará mais empregos procede? A remuneração melhora?

Não há aquecimento de mercado de trabalho. Há a mera substituição de mão de obra mais estável por uma instável, precária, com alto nível de redução de direitos, baixa salarial e alta rotatividade. Todos perdem menos a empresa contratante.

Como se saíram os países que facilitaram as terceirizações?

Nos países onde foi regulamentada a terceirização, não há unicidade sindical. Nesses países, os trabalhadores das terceirizadas podem ser vinculados ao sindicato da empresa contratante em função da liberdade sindical. Além disso, há isonomia de direitos, diferentemente do Brasil. Mas, de qualquer forma, a terceirização é um fenômeno de precarização exportado pelo Brasil e aceito no mundo regido pelas regras neoliberais. Aliás, esse tipo de relação de trabalho precário é conhecido na Europa como “trabalho à brasileira”.

Em um curto espaço de tempo vimos uma série de duros golpes aos direitos trabalhistas (como a aprovação das Medidas Provisórias 664 e 665, a aprovação do PL 4.330 pela Câmara dos Deputados, a recente decisão do Supremo sobre a constitucionalidade da contratação no serviço público via Organizações Sociais (OS) e a discussão da flexibilização do conceito de trabalho análogo à escravidão, no Congresso. Estamos diante de uma contrarreforma trabalhista?

Estamos diante de tempos conservadores no qual a força do poder econômico imporá suas reformas, pois não vê os trabalhadores como uma ameaça. Eles detêm o controle do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal na implantação completa do ideário neoliberal.

Como fica a questão fiscal com a redução dos recolhimentos de encargos trabalhistas?

 O governo sabe que haverá redução na arrecadação, seja pela redução da renda do trabalhador, seja pela sonegação das empresas fantasmas contratadas como terceirizadas. Tanto é verdade que tentou negociar o recolhimento de tributos diretamente pela empresa contratante.

No projeto em tramitação no Congresso, a terceirização foi excluída das “empresas públicas”, mas isso impede alguma forma de terceirização das “funções públicas”? Professores ou técnicos-administrativos poderão ser terceirizados?

As empresas e órgãos públicos estarão contemplados, seja nesse projeto, em outro específico ou por meio de interpretação do Supremo Tribunal Federal. Querem acabar com o concurso público, pois não há como ganhar dinheiro com concurso público, a corrupção nasce dos contratos. A corrupção anda de mãos dadas com a terceirização, se adoram.

Roberto Leher (chapa 20) e Denise de Carvalho  (chapa 30) expressam visões diferentes de universidade

Da Redação

A UFRJ decide quem será seu reitor de 2015 a 2019 (nesses dias 4, 5 e 6) entre dois projetos de universidade opostos na essência.  Roberto Leher (chapa 20) e Denise de Carvalho (chapa 30) expressam leituras divergentes acerca da origem dos problemas que sufocam a instituição. E os dois debates realizados neste segundo turno da disputa serviram para deixar mais nítidas as divergências para enfrentar a crise. 

Roberto Leher afirma que a situação das universidades é resultado do desmonte da autonomia universitária iniciada ainda nos anos 1990. Um quadro, segundo ele, hoje agravado pela política de ajuste fiscal “que paralisou financeiramente” as instituições. Segundo o candidato a reitor da chapa 20, a crise da UFRJ não pode ser enfrentada com “um choque de gestão”.

Para neutralizar o impacto que essa política econômica impõe, e que atinge todas as Ifes, Leher diz ser preciso que a universidade recupere “sua capacidade de autogoverno”, por meio de processos coletivos. É nesse contexto que ele apresenta a proposta de uma estatuinte e da convocação de um congresso da UFRJ.

Roberto Leher diz que a amplitude da crise nas universidades federais (e não só na UFRJ) não pode ser enfrentada apenas por soluções gerenciais. O professor da Faculdade de Educação afirma que um reitor, legitimado pela confiança da comunidade universitária, deve ter uma atitude ativa de quem foi investido de uma autoridade política assegurada na Constituição. 

Ele defendeu uma série de ações corretivas, em alguns casos, articuladas com reitores das demais Ifes. Citou, por exemplo, a criação do fórum de reitores na defesa das universidades. 

Leher propõe que uma das primeiras medidas para enfrentar de forma consequente a falta de verbas é modificar a matriz Andifes (Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) de financiamento.

Ele propõe, ainda, a criação de uma pró-reitoria específica para tratar da assistência estudantil. O candidato diz que vai alocar imediatamente mais verbas para políticas de permanência dos alunos no lugar de questões menos urgentes e que são negociáveis no médio prazo.

“Mãos dadas”

Os caminhos de Denise de Carvalho são outros. Ela propõe uma política de “mãos dadas”. A professora sublinha que o futuro e “o sucesso” da universidade dependem “da união e do diálogo permanentes”, de “mais convergências do que divergências”. 

Ao abordar a questão orçamentária, a professora aponta para a necessidade de melhor organização e transparência. Ou seja, a professora do Instituto de Biofísica situa o assunto no campo da gestão. Ela propõe, por exemplo, a criação de uma comissão permanente de orçamento. 

As soluções apresentadas se concentram no âmbito de iniciativas internas como, por exemplo, a criação “de imediato” de uma comissão permanente de orçamento. Ela diz que “não é possível mais” a UFRJ conviver com “orçamentos discutidos em último momento, sem muita clareza”. Também propõe o fortalecimento do sistema de alocação de vagas de docentes e de funcionários ou uma lista de iniciativas relacionadas à assistência estudantil.

A professora defende uma gestão propositiva, “livre de interesses particulares”. Disse, também, que a UFRJ precisa recuperar a sua autoestima. Ela diz que para a UFRJ voltar a ser “referência frente às demandas da sociedade” é necessário combater “sua fragmentação”.

Denise de Carvalho sintetiza em três eixos duas propostas: gestão transparente, democrática e participativa; na administração, compromissos pautados por valores éticos, humanitários e justos e, por fim, política de permanência e acesso para os estudantes.

 

A missão da universidade

Assuntos polêmicos foram recorrentes no curso da campanha. A candidata da chapa 30, Denise de Carvalho, teve várias vezes que se explicar sobre dois temas incômodos: a sua participação na equipe do interventor José Henrique Vilhena, em 1998, e sobre sua posição pró-Ebserh, assunto muito caro aos setores da comunidade universitária que defendem a autonomia. Um vídeo gravado pela TV Adufrj (http://goo.gl/yQLrwV) com mais de 10 mil visualizações e em circulação nas redes sociais, registrou frase também polêmica da candidata da chapa 30. Ao falar sobre as relações da universidade com as empresas, disse: “A formação de pessoal qualificado para fazer pesquisa no âmbito das empresas é a principal missão da universidade”.

 

Angela Rocha diz qual é o seu projeto de universidade, mas não declara voto

A professora Angela Rocha, que disputou a primeira fase da consulta para a escolha da nova reitoria da UFRJ, declarou que defende “uma universidade pública, gratuita, de qualidade, democrática, inclusiva, consciente de sua função social”. Ela acrescentou: “apoiamos aqueles que defendem este mesmo projeto”. Angela, porém, não explicitou o apoio a nenhuma das chapas que disputam este segundo turno da pesquisa. 

A docente aproveitou para agradecer os 3.219 votos recebidos pela Chapa 10: “Gostaríamos de agradecer àqueles que nos apoiaram e honraram com seu voto no primeiro turno. Neste processo, não existem vencedores ou vencidos. Só existe um vencedor: a UFRJ. Findo o processo e escolhido o próximo reitor estaremos prontos a colaborar com o nosso trabalho e dedicação em prol da universidade, como fizemos durante toda a nossa vida acadêmica”, declarou. A chapa recebeu 931 votos de professores, 1.048 de técnicos-administrativos e 1.240 de estudantes. 

 

Quem decide ainda é o MEC

O segundo turno da consulta acontece nos dias 4, 5 e 6 de maio. No dia 7 será realizada a apuração dos votos. No dia 8, o Colégio Eleitoral, composto pelos conselhos superiores da universidade (Consuni, CEG, CEPG e Conselho de Curadores) se reúne para montar as listas tríplices (uma para reitores e outra para vice-reitores) para serem enviadas ao Ministério da Educação. É praxe do ministério acatar os nomes mais votados na consulta interna, mas é sempre bom lembrar que o governo FHC, em 1998, designou o interventor José Henrique Vilhena, que ficou em terceiro lugar na consulta à comunidade.

Na eleição do atual reitor Carlos Levi, as outras chapas que participaram da disputa no primeiro e no segundo turno não apresentaram seus nomes ao colégio eleitoral para comporem as listas tríplices. Quando isto acontece, outros professores, mesmo que não tenham participado da consulta, podem apresentar seus nomes para que sejam formadas as listas tríplices. Ainda no primeiro turno, a professora Angela Rocha (Chapa 10) e o professor Roberto Leher (Chapa 20) durante um dos debates se comprometeram a não comporem a lista tríplice caso não fossem escolhidos pela comunidade acadêmica, deixando claro o respeito às decisões da universidade. 

 


2015050452Foto: Marco Fernandes - 17/04/2015


Entenda como é a contagem de votos

Candidato a reitor pela Chapa 20 “UFRJ Autônoma, Crítica e Democrática”, Roberto Leher recebeu 8.885 votos. Quase 3.500 a mais que a Chapa 30 “Somos Todos UFRJ”, que disputa com ele o segundo turno da consulta à comunidade universitária. A Chapa 30, encabeçada pela professora Denise de Carvalho, obteve 5.398 votos. 

Leher teria alcançado o segundo turno da pesquisa em primeiro lugar, não fosse a fórmula de cálculo ponderado dos votantes. A eleição é paritária, no que diz respeito a cada um dos segmentos (professores, técnicos e estudantes) terem peso de 1/3 no resultado final. O que significa dizer que, quanto menor for o universo de uma categoria, maior preponderância este grupo terá sobre os demais. Assim, o voto docente vale mais que o dos técnico-administrativos, que, da mesma forma, têm prevalência sobre os estudantes.

Outro fator que interfere na votação é o comparecimento às urnas: ganha mais força o segmento que mais se aproximar do seu universo total de votantes. No primeiro turno, os professores compareceram em 75,576% do total (4.078) de eleitores docentes. Os técnicos-administrativos tiveram participação de 50,637% do total (8.865) de seu segmento. Os estudantes tiveram o comparecimento de 19,427% em relação ao total de mais de 53 mil. Os estudantes, portanto, ficam em desvantagem quando somados o primeiro e o segundo critérios, pois precisam mobilizar muito mais pessoas às urnas para equilibrarem um pouco mais o seu peso na escolha da nova reitoria.

Roberto Leher recebeu boa votação entre professores e técnicos, mas ficou em segundo lugar na disputa desses dois segmentos. O docente teve expressiva votação entre os estudantes, o que foi suficiente para resultar na distância, em números absolutos, da Chapa 30. Esta, apesar de ter menos votos, acabou assumindo o primeiro lugar na disputa pelo segundo turno.

Trabalhadores terceirizados da universidade fundaram, dia 29, associação que defenderá seus direitos

Atual sindicato da categoria defende patrões

Silvana Sá. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

A data de 29 de abril já é memorável para a história de lutas da universidade: neste dia, no auditório A do CCS, foi fundada a Associação de Trabalhadores Terceirizados da UFRJ (Atofrj). O objetivo da nova entidade é representar os interesses desse segmento de funcionários que cresce a cada dia na instituição. Além disso, a organização coletiva possibilitará mais força aos profissionais nas negociações e reivindicações com as empresas e com a reitoria.

Waldinéa Nascimento, que despontou como uma das lideranças dos terceirizados durante a greve do início do período letivo, explicou a razão pela qual o segmento tomou a iniciativa de criar a entidade: “Fizemos diversos atos e vimos que somente juntos conseguimos os nossos direitos. Infelizmente, temos um sindicato que não nos representa, que não nos defende. Aqui (na associação) ninguém vai nos oprimir. Chega de medo. Precisamos saber que somos fortes”.

Terezinha da Costa, outra liderança do movimento dos trabalhadores terceirizados e que foi recentemente demitida (ela cumpre aviso prévio) sem nenhuma explicação, deu o tom do encontro: “Perdi meu emprego, mas não perdi minha dignidade. Não me arrependo de estar na luta. Estamos vivendo uma escravidão moderna, com trabalhadoras e trabalhadores recebendo um salário mínimo, quando recebem. É lutando que a gente consegue alcançar nossos objetivos”.

Uma mesa composta por representantes do DCE Mário Prata, Sintufrj, Soltec UFRJ (Núcleo de Solidariedade Técnica) e Adufrj-SSind saudou a iniciativa dos trabalhadores. Cláudio Ribeiro, presidente da Seção Sindical dos Docentes, declarou estar emocionado com a força e coragem de tantas mulheres e homens em não se deixarem calar. “Vocês hoje vêm nos dizer: ‘Somos terceirizados, mas somos, acima de tudo, trabalhadores e temos coragem de nos organizar’. Esse momento nos diz que a universidade pública só exerce sua função social se não reproduzir desigualdades. Não podemos ter uma universidade que realiza suas ações à custa de pessoas”.

Meses sem salário

Alguns trabalhadores também falaram sobre sua experiência como terceirizados na UFRJ. Uma funcionária relatou: “Estou na luta como vocês. Vivemos mesmo uma escravidão. Não temos corrente nos aprisionando, mas não temos salário. Meu FGTS não é depositado desde o mês três do ano passado! Meu último salário recebido foi em dezembro. Não há posicionamento nem da empresa, nem da universidade para solucionar meu problema e de meus colegas de almoxarifado”. Ela trabalha na empresa APX. 

Na ocasião, foi aprovado o Estatuto da Associação e a composição da diretoria. Waldinéa e Terezinha são, respectivamente, presidenta e vice-presidenta da entidade. Nesta semana, haverá uma nova reunião, dessa vez organizativa, na qual serão divididas as funções dos outros trabalhadores que ajudarão a compor a diretoria da entidade.

 
 
Manifesto contra o PL 4.330/04

A Rede Nacional de Pesquisas e Estudos em Direito Social (Renapeds), formada por grupos ligados ao Direito do Trabalho e ao Direito da Seguridade Social, instituídos em diversas universidades do país (USP, UFRJ, UNB, UFPE, UFMG, UFPR, UniBrasil/PR, UVV, UFC e PUC-Minas), lançou manifesto de oposição ao PL das terceirizações (nº 4.330). “Tal projeto de lei, a despeito de prometer a efetividade dos direitos trabalhistas e a ampliação das oportunidades de emprego, serve, na verdade, para dividir ainda mais a classe trabalhadora, a tal ponto de impossibilitar sua organização e mobilização sindical. Com isso, favorece a redução concreta dos direitos dos trabalhadores, o que contraria, frontalmente, o objetivo da Constituição Federal, que é o da melhoria da condição social e econômica da classe trabalhadora”, diz um trecho.
 
A Renapeds repudia qualquer argumento baseado em dificuldade econômica ou melhoria da competitividade que tenha como propósito inverter os princípios constitucionais dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, da dignidade da pessoa humana e do desenvolvimento econômico conforme os ditames da justiça social. “A terceirização, presente no cenário das relações de trabalho no Brasil há 22 anos, já deu mostras suficientes dos danos que gera à classe trabalhadora com os diversos casos de trabalho em condições análogas a de escravo, elevado número de acidentes do trabalho, jornadas excessivas, baixos salários, não recebimento de verbas rescisórias, além do natural efeito da invisibilidade a que são conduzidos os terceirizados, tudo isso sem nenhum benefício concreto para as empresas tomadoras de serviços e para a economia em geral”, informa outro trecho do manifesto.

Caso venha a ser aprovado o PL 4.330, os coordenadores dos grupos ligados ao Direito do Trabalho e ao Direito da Seguridade Social avisam que farão todos os esforços jurídicos pertinentes “para inviabilizar a concretização da ofensa aos princípios constitucionais e a institucionalização da barbárie”. 

CARTAZ 1º DE MAIO

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