Por Renan Fernandes
Com o tema “Lutas e resistências femininas”, a edição especial do Cine Cidadania ganhou um significado especial, na última terça-feira (25). A exibição do filme “O mensageiro”, de Lucia Murat, colocou em pauta a anistia aos torturadores do regime militar. “É simbólica a exibição deste filme no dia em que defensores de torturadores estão sendo julgados”, exaltou a professora Christine Ruta citando o julgamento da denúncia contra Bolsonaro e aliados por envolvimento na trama golpista de 8 de janeiro de 2023.
O filme narra a história de Vera, jovem militante presa em 1969, após a implementação do AI-5. Em paralelo, a saga de sua mãe, Maria, para conseguir informações sobre o paradeiro da filha e garantir sua sobrevivência a aproxima de Armando, o carcereiro que alterna momentos de empatia com cenas de crueldade. A história da protagonista é inspirada na trajetória da própria diretora, que foi estudante do Instituto de Economia entre os anos de 1967 e 1968, antes de passar à clandestinidade na luta contra o regime.
O tema da ditadura é recorrente na obra de Lucia. “Faço filmes em função das minhas angústias. Cada filme que faço sobre a ditadura falam também da época em que foram feitos”, revelou. A motivação da cineasta neste último trabalho foi a percepção de uma crescente polarização na sociedade brasileira nos últimos anos. “Pensar no mensageiro, é pensar na possibilidade de diálogo com o outro. Havia uma demonstração de humanidade em meio a todo aquele horror”, afirmou Murat.
A historiadora Andrea Queiroz, diretora da Divisão de Memória Institucional do Sistema de Bibliotecas e Informação da UFRJ, pesquisa os impactos do regime militar na universidade. Entre os 45 professores cassados, Queiroz destacou a forma como as mulheres eram tratadas nos dossiês. “As mulheres eram tratadas de forma pejorativa, com um olhar de vulgarização e objetificação. Grandes cientistas como Eulália Lobo, Maria Yedda Linhares e Marina São Paulo de Vasconcelos”, explicou.
“Onde estaríamos se o 8 de janeiro não tivesse fracassado? Que nível de agressividade, de potência autoritária nós estaríamos submetidos?”, questionou a professora Eleonora Ziller, diretora da Universidade da Cidadania. A docente destacou a perspectiva didática na abordagem do tema. “É profundo e necessário, uma pedagogia de reeducação sobre o significado dessa fase da nossa história”.