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UnB repudia ataques fascistas


Ato no dia 20 foi em resposta à invasão de grupos extremistas no dia 17. Estudantes foram alvos de injúrias raciais e homofóbicas

Fotos: União Nacional dos Estudantes
Texto: Silvana Sá

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Um grande ato na Universidade de Brasília no dia 20 repudiou os ataques fascistas organizados por um grupo de extrema-direita na sexta-feira (17). A atividade foi convocada por 35 centros acadêmicos e pelo Diretório Central dos Estudantes da UnB. Professores e servidores técnico-administrativos também participaram.

Diversas unidades e centros acadêmicos se manifestaram por meio de notas de repúdio. A Associação dos Docentes da UnB também condenou os ataques: “A ADUnB manifesta sua preocupação com a propagação de demonstrações de desrespeito à democracia, diversidade e tolerância”, disse a direção, em trecho.

Ex-decana de Ensino de Graduação, a professora Márcia Abraão pede urgência na apuração dos fatos: “Nossos estudantes ficaram com muito medo. É urgente que se tomem medidas em todas as instâncias contra este tipo de manifestação. A UnB foi criada para ser uma universidade de vanguarda, defensora dos direitos humanos, com a cultura da paz. Para nós, é particularmente muito grave o que aconteceu”, disse.

Além dos ataques à liberdade, a docente aponta outro problema: “Estamos vendo com muita preocupação este episódio, não só pelas violações, mas também porque demonstra a vulnerabilidade de nossa segurança. Somos um campus aberto. A menor parte dos agentes é da instituição e cresce o número de seguranças terceirizados, que têm atuação apenas patrimonial. Isto acaba se refletindo numa situação dessas”, completou.

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A comunidade acadêmica apresentou uma nota de repúdio: “É  muito  preocupante  que  tal  fato  ocorra  em  uma  Universidade pensada  por  Darcy  Ribeiro  e  Anísio  Teixeira  com  a  aspiração  de pensar o Brasil  com  a  liberdade de  pensar,  pesquisar  e  ensinar.  Consideramos  inadmissível  qualquer  tipo  de  discriminação  e  agressão, especialmente  voltadas às entidades  de representação  das/os  estudantes”. Veja a carta completa: http://www.noticias.unb.br/images/Noticias/2016/Documentos/Carta-da-comunidade-universitaria.pdf

A reitoria da UnB manifestou-se na própria sexta, também por meio de nota, na qual afirmou que “as ocorrências de natureza agressiva e intolerantes são devidamente apuradas e, quando se trata de ações que extrapolam a alçada administrativa da Universidade, os órgãos competentes são acionados”. A administração central pediu que todos os vídeos e fotografias do ataque sejam encaminhadas formalmente para os órgãos de investigação da universidade. Em pronunciamento na tarde do dia 21, o reitor Ivan Camargo fez uma dura fala contra as agressões. “Nós não vamos admitir qualquer retrocesso. Repudiamos com muita força e com muita coragem qualquer ato de intolerância. Vamos continuar atuando com toda serenidade para combater a intolerância, combater atos de racismo e homofobia”, disse.

O ataque

No dia 17, um grupo vestido de preto invadiu o campus da universidade. Com armas de choque, bombas caseiras e porrete, eles pediam a volta da ditadura, gritavam ofensas homofóbicas e tentaram depredar o Centro Acadêmico de Sociologia. Um estudante foi agredido.

Apontada como organizadora do evento, a jovem Kelly Cristina Cardoso, mais conhecida como Kelly Bolsonaro, foi denunciada no Ministério Público do Distrito Federal. Ela teria feito a convocação do ataque pelo Facebook após professores da Associação dos Docentes da UnB sugerirem levar ao congresso do Andes-SN uma proposta de greve até que Dilma Rousseff voltasse ao governo federal. A UnB e a Polícia Civil investigam o ataque.

*Com informações do site da UnB e do Congresso em Foco

 

 

Professor: profissão em perigo


Projeto “Escola sem Partido” avança no Legislativo e ameaça atuação plena da categoria, em todos os níveis da Educação

IMG 5914 1Da esq. para a dir.: Carlos Oliva, Carmen Teresa, Cristina Miranda e Fernando Penna - Foto: Claudia Ferreira

Kelvin Melo
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Um projeto perigoso para o pleno exercício profissional dos professores, em todos os níveis da Educação brasileira, avança nas casas legislativas federal, distrital, estaduais e municipais. Sob o pretexto de evitar a “doutrinação” dos alunos, o “Escola sem Partido” tenta retirar dos docentes a liberdade de ensinar.

Na noite de 20 de junho, o salão Pedro Calmon, no campus da Praia Vermelha, recebeu um debate promovido pela Faculdade de Educação da UFRJ para compreender melhor esta ameaça e articular estratégias para enfrentá-la.

Coube ao professor Fernando Penna, da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, apresentar o “Escola sem Partido”. Ele observou que este movimento, para o qual poucos deram atenção de início, surgiu em 2004. Mas a iniciativa só ganhou impulso nos últimos dois, três anos, quando, por sugestão da família Bolsonaro, seus organizadores criaram e passaram a divulgar um anteprojeto para ser copiado e utilizado por qualquer parlamentar.

Desde então, a proposta tramita no Congresso Nacional, apresentada pelo deputado federal Izalci (PSDB-DF), no Distrito Federal e na assembleia legislativa de mais dez estados, fora os municípios — nos quais o monitoramento dos projetos é mais difícil. Em Alagoas, já virou lei a nº 7.800, desde maio deste ano.

De acordo com Fernando Penna, o projeto é francamente inconstitucional. Seu artigo primeiro versa sobre princípios da Educação que já estão estabelecidos na Carta Magna. Ele chamou a atenção para alguns itens, como o que diz que o “Programa Escola sem Partido” atende ao princípio da “liberdade de ensinar e de aprender”. Ou seja, reduziram o inciso segundo do artigo 206 da Constituição que fala em “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber”: “Quer dizer, cortaram as atribuições do professor”, afirma Penna. O palestrante destaca que os efeitos nocivos do projeto não se limitam às salas de aula, mas também aos livros didáticos e paradidáticos; às avaliações para o ingresso no ensino superior; e às provas de concurso para ingresso na carreira docente e aos cursos de formação de professores, entre outros pontos.

O professor criou uma página no facebook contra o projeto, que pode ser encontrado em https://www.facebook.com/contraoescolasempartido/. Segundo ele, o perfil está recebendo diversos comentários ofensivos: “Dizem que isso é normal na internet, mas não vejo assim. E está saindo da internet e indo para a realidade”, falou, em referência ao episódio da invasão da Universidade de Brasília por um grupo fascista, na última sexta (17).

“Esse é um jogo político muito sério”

Na sequência do debate, a diretora da Faculdade de Educação, Carmen Teresa Gabriel disse estar estarrecida com o projeto e seus desdobramentos. Ela destacou as caricaturas encontradas no site da Escola sem Partido, que provocaram risos na plateia: “É um absurdo tão grande, que provoca esse riso amargo. Vivemos tempos difíceis. Mas é um jogo político muito sério”, disse.

A professora chamou à responsabilidade os colegas da faculdade e do Colégio de Aplicação para enfrentar este projeto: “Temos de construir este debate. Não podemos fingir que não está acontecendo”, disse. Ela também criticou um dos pilares da iniciativa, que pretende evitar a discussão de gênero nas escolas: “Como não falar de gênero nas escolas? Como não falar de racismo nas escolas? Se a família não está de acordo, estamos privatizando, de alguma forma, o saber. A escola não pode virar as costas para o conhecimento científico”, disse.

Projeto contraria educação de direitos humanos

Iniciar uma reação imediata foi a indicação de Carlos Eduardo Oliva, professor de Sociologia do Colégio Pedro II, na parte final do encontro. Ele conclamou todos, educadores, estudantes e pais de alunos, a pressionarem os parlamentares contra o “Escola sem Partido”. Para ele, ao supostamente tentar eliminar um caráter ideológico dos colégios, o projeto contraria uma educação de direitos humanos: “Querem uma escola absolutamente ideológica. Politizada da pior forma, comprometida com a manutenção das desigualdades”, disse.

Também representante do Observador da Laicidade na Educação (OLÉ), Carlos leu uma nota de repúdio da organização contra o “Escola sem Partido”: “Existem diversos pontos controversos e extremamente graves defendidos por este grupo, dentre eles a noção, combatida pela educação crítica e progressista, de que estudantes são desprovidos de ideias, pensamentos próprios e que são por isso, conforme o projeto por eles defendido, ‘vítimas passivas’. Acreditamos que os estudantes não são folhas em branco às quais o professor preenche, mas sim agentes, seres pensantes, que interagem e refletem sobre os temas através da mediação dos professores”, diz um dos trechos.

Ministro interino criticado

Diretora do Colégio de Aplicação da UFRJ, Cristina Miranda foi a mediadora da mesa. Antes do início do debate, a professora informou que o Conselho de Coordenação do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), em reunião realizada no dia 13, criticou os primeiros atos públicos do novo ministro interino da Educação, Mendonça Filho. Por meio de notas enviadas ao MEC e à Comissão de Educação da Câmara, o CFCH questiona a opção de Mendonça Filho receber representantes de grupos como a coalizão neoconservadora “Escola sem Partido”. Também observa que uma audiência pública na Comissão de Educação sobre a Base Nacional Comum Curricular, no fim de maio, interditou a participação das principais entidades científicas nacionais.

Confira o vídeo do debate, na íntegra, em http://tinyurl.com/hgqdsuy



“UFRJ livre do comunismo”

Durante sua apresentação, Fernando Penna causou espanto ao público do Pedro Calmon, quando mostrou que proliferam páginas no Facebook favoráveis ao programa do “Escola sem Partido” em universidades públicas. Uma delas chama-se “UFRJ livre do comunismo” e traz postagens atacando a atuação da Adufrj, crítica ao programa. A reportagem enviou mensagem ao administrador da página, sem resposta até o fechamento desta matéria.

 

 

Jornada de debates mantém IFCS/IH mobilizado contra medidas do governo Temer

Uma jornada de debates realizada no prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais/Instituto de História, no dia 16, manteve bem acesa a mobilização da comunidade universitária contra medidas retrógradas do governo interino de Michel Temer.

Foram vários os temas em discussão: pela manhã e início da tarde, “Gênero, Juventudes e Violências”; depois, o projeto “Escola sem Partido”; por fim, “Nenhum direito a menos: a resistência popular ao golpe de 2016”.

Diretor da Adufrj e professor do IFCS, Fernando Santoro avaliou positivamente a atividade. Ele informou que houve, ainda, a participação dos alunos que ocupam o gabinete da direção do instituto, muito preocupados com o projeto “Escola sem Partido”.

Reivindicações dos alunos
O movimento dos alunos começou no dia 13. Entre outras medidas, eles reivindicam: política de alimentação para os alunos das unidades do Centro, reforma curricular, cotas raciais na pós-graduação e democratização da internet para todo o instituto. 


O Senado vota hoje o PLS 798/2015, que regulamenta o Ciência sem Fronteiras. Segundo a SBPC, a definição do artigo referente às fontes permanentes de financiamento “está vaga, imprecisa e aberta o suficiente para que o Programa venha a ter problemas tanto de orçamento como de liberação de recursos”
 
Em carta a senadores, a SBPC solicita maior detalhamento e precisão dos termos que se referem às fontes permanentes de financiamento do Ciência sem Fronteiras no Projeto de Lei do Senado (PLS 798/2015), que institui em definitivo o Programa. O PLS, de autoria da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT), que propõe que o Programa, instituído por meio de um decreto, passe a ser regulamentado por lei, será votado hoje (21/06).
 
Enfatizando seu apoio à iniciativa da CCT e aos propósitos do PLS 799/2015, a SBPC chama a atenção para o artigo 9º do Projeto, referente ao financiamento do CsF. De acordo com a entidade, a maneira de definir as fontes permanentes de financiamento ao Programa descrita no artigo “está vaga, imprecisa e aberta o suficiente para que o Programa venha a ter problemas tanto de orçamento como de liberação de recursos”. 
 
Na carta, a SBPC observa que este foi o principal problema do Programa: “Se, no início, os recursos totais para o Ciência sem Fronteiras foram repassados diretamente do Tesouro, nos anos mais recentes uma parte expressiva de seus custos foi – de forma ilegal e desastrosa – bancada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), o que provocou e vem provocando sérios problemas de financiamento a programas e projetos de pesquisa em todo o País”.

Intelectuais negras em foco


Seminário conquista público dentro e fora da universidade

Elisa Monteiro
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Era para ser apenas mais um trabalho de final de disciplina da Faculdade de Educação, mas o seminário “Intelectuais negras: escritas de si”, realizado nos dias 16 e 17 na Casa da Ciência da UFRJ, extrapolou o circuito universitário. “Quando vimos, havia gente de todas as partes do país colocando links de passagens aéreas, oferecendo hospedagem solidária e coisas do tipo. Falamos: ‘Nossa, o que está acontecendo?’”, afirmou Giovana Xavier Nascimento, professora da unidade e organizadora do evento.

Em duas semanas, mais de 200 pessoas confirmaram presença na página do evento no facebook. “Não gosto da expressão de mercado, mas isso sinaliza que há uma demanda reprimida”, disse a professora.

Marina Maria, jornalista do portal PenseSUS da Fiocruz, concorda: “Mais que pertinente, esse debate sobre o protagonismo da mulher negra na Academia é supernecessário. Principalmente neste momento político de dissolução das secretarias de mulheres e de igualdade racial (pelo governo de Michel Temer)”. Sem vínculo com a UFRJ, a jornalista com mestrado em comunicação e saúde soube do evento pelas redes sociais e disse ter ficado instigada pela proposta do “falar de si” do seminário. “Achei incrível a programação visual, usando as imagens e mensagens das próprias mulheres negras”.  

Em uma das mesas, “Experiências em educação feminista e comunicação visual na universidade”, a designer gráfica e ativista do movimento pela cultura afro-brasileira Maria Julia Ferreira explicou a logomarca (veja a reprodução ao lado), que utilizou as letras iniciais do seminário “Intelectuais Negras”: “Não quis trabalhar com a imagem mais comum do corpo ou do cabelo das negras”.logo seminário

Além da identidade visual, o encontro foi repleto de cuidados pouco comuns na universidade. “Tivemos três preocupações fundamentais: o acolhimento, os laços com os movimentos sociais e o protagonismo”, explicou Giovana Xavier. “Reconhecemos que a intelectualidade não se restringe à universidade. Queremos abrir espaço para a produção de conhecimento produzido por essas mulheres seja no trabalho, nas comunidades ou igrejas”.

Do “Quarto de despejo” à Casa da Ciência

Com a mistura das redes de ativistas e de pesquisadores sobre intelectuais negros, Giovana espera que o que começou com uma disciplina eletiva em 2015 possa se consolidar como o primeiro grupo de pesquisa sobre intelectuais negras na UFRJ.

“Do ‘Quarto de despejo’, livro de Carolina (Maria de Jesus) — leia mais no quadro —, à Casa da Ciência da UFRJ, nós sabemos que é para nós estarmos entrando na universidade pela porta da frente. E não mais meramente como objetos. Definitivamente, não somos objetos”, falou a docente na abertura do evento. “O desafio é narrar nossas histórias nos nossos próprios termos”.

A Adufrj foi representada no encontro por Liv Sovik (ECO). A professora da Escola de Comunicação afirmou que a inclusão do negro é fundamental para transformar a universidade. Para ela, parte da Academia mostra dificuldade para absorver linguagens fora do padrão tradicional europeu. Um exemplo citado foi o do teórico cultural jamaicano Stuart Hall, que, segundo Liv, teve a escrita rechaçada por muito tempo na Academia por conter uma linguagem mais musical.

Liv saudou a realização do seminário sobre intelectuais negras. Para ela, o debate logo após a realização do I Encontro Nacional de Estudantes e Coletivos Universitários Negros (EECUN) — realizado em maio —, ambos na UFRJ, “é sinal dos novos tempos” para a universidade.


Quem foi Carolina de Jesus?

Carolina Maria de Jesus (1914-1977) nasceu em Minas Gerais, numa comunidade rural. Moradora da favela do Canindé, zona norte de São Paulo, ela trabalhava como catadora e registrava o cotidiano da comunidade em cadernos que encontrava no lixo. Um deles deu origem ao livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, publicado em 1960. Após o lançamento, seguiram-se três edições, com um total de 100 mil exemplares vendidos, tradução para 13 idiomas e vendas em mais de 40 países.

Ela é considerada uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do Brasil.

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