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Capes estabelece metodologia que prejudica repasses à área de Humanas

Samantha Su
Estagiária e Redação

A recente mudança no financiamento dos programas de pós-graduação, pela Capes, deixou indignada a área de Ciências Humanas das universidades. Na UFRJ, a medida prejudica, por exemplo, os cursos da Faculdade de Educação.

Em 2014, a verba do programa de pós da Unidade chegava a cerca de R$ 60 mil. Ano passado, foram recebidos apenas 25% deste valor. Para este ano, a nova metodologia indica um montante ainda mais reduzido, explica a coordenadora do programa de pós-graduação em Educação da UFRJ, Patricia Corsino.

Ela questiona a sobrevivência da pesquisa no Brasil, com a diminuição dos recursos para custear vindas de professores para as bancas; para a ajuda de custo para os alunos irem a eventos científicos divulgar suas pesquisas; para a compra de materiais e equipamentos e para a contratação de pequenos serviços de reparos de equipamentos, entre outras despesas: “Como faremos tudo isso com as reduções que estamos observando? Haverá queda nas produções para apresentação em eventos científicos? Faremos bancas compostas de pesquisadores só do Rio? Como continuar produzindo com condições de trabalho cada vez piores? Qual o impacto de tudo isso na nossa nota de avaliação quadrienal da Capes?”, questiona.

A coordenadora prossegue sua crítica: “A diminuição de recursos não atinge apenas a verba Proap (do programa de apoio à pós-graduação) e Proex (voltada para os programas de excelência acadêmica, com notas 6 e 7), mas o quantitativo de bolsas para estudantes e professores, os recursos destinados aos editais de pesquisa etc. Há um círculo muito complexo em curso que evidencia uma precarização da pós-graduação no Brasil”, observa.

Os novos critérios

Um dos novos critérios limita a concessão de recursos a um “teto” de alunos, por mestrado e doutorado (39 e 41, respectivamente). Ou seja, se o programa tiver 100 mestrandos e 60 doutorandos, vai receber o mesmo multiplicador de outro curso que tenha permanecido no limite estabelecido pela agência de fomento.

O cálculo teria sido feito com base na média total de matriculados nos programas de pós-graduação entre março de 2015 e março de 2016, conforme informado pela Plataforma Sucupira, banco de dados da própria Capes.

Em ofício, o órgão do governo justifica a mudança com o objetivo de “reduzir as desigualdades acentuadas entre cursos novos (com menor percentual de bolsistas) e cursos mais antigos.” Só que a medida resulta em cortes muito desiguais nas diferentes áreas, especialmente aquelas ligadas às humanidades.

“Só em 2016, tivemos 56 matrículas novas no mestrado e 37 no doutorado. Assim, como no mestrado o teto é 39, este é o multiplicador, independentemente, do número de entrada de alunos. Nosso programa tem aumentado gradativamente por duas importantes razões: pelo aumento no número de professores efetivos na Faculdade de Educação (hoje com cerca de 130), e demanda do campo educacional. Em 2015, foram mais de 500 candidatos (de mestrado e doutorado) e 93 (18% dos inscritos) conseguiram passar”, explica Patrícia Corsino. Segundo ela, hoje, menos de 20% dos alunos possuem bolsas. A nova regra da Capes deixa o cenário pior.

Patrícia ainda expõe que o fator limite de alunos irá prejudicar também o corpo docente de orientadores: “Hoje, temos 40 professores no PPGE. Não temos como oferecer apenas essa quantidade de vagas. Esbarramos no número mínimo e máximo de alunos que cada professor deve orientar. O que significa que estamos em um dilema: continuaremos a credenciar professores? Diminuiremos o número de matrículas para não ultrapassar muito o teto estipulado para o repasse de recursos?”, questiona. Segundo ela, a faculdade apostava no crescimento: “Temos optado por manter o aumento gradativo do PPGE com novos credenciamentos e com cada professor orientando entre 3 e 8 alunos. Temos clareza da importância da nossa produção de conhecimento e da nossa inserção social e estamos resistindo por acreditar na qualidade do que fazemos. Mas nos perguntamos até quando vamos poder resistir”, desabafa. 

Em artigo divulgado pela Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (Anped), o professor João Batista Carvalho Nunes da Universidade Estadual do Ceará analisou o impacto das recentes normas da Capes nos Programas da área. Segundo a pesquisa, dos 125 cursos de Mestrado Acadêmico em Educação, 92,8% sofrerão prejuízos. A mediana de mestrandos em educação no país é de 71 alunos. No doutorado, o prejuízo na pós-graduação em educação não é menor. Dos 67 cursos no país, 54 seriam prejudicadoss, 80,6% do total de cursos. A mediana dos alunos chega a ser 85,4% superior à concebida pela Capes, com 76 alunos.

Segundo dados da Anped, dos programas com nível 6 e 7 na área da educação — que recebem Proex e passam por um cálculo diferente —, somente 11% não terão mudanças drásticas por conta da alteração da Capes. A Anped enviou um ofício ao presidente da Capes, Abílio Baeta Neves, e aos pró- reitores de Pesquisa e Pós-graduação das universidades públicas do país solicitando a revisão dos critérios.

Medida dificulta o cumprimento do PNE

Para Patrícia Corsino, uma das perdas mais relevantes para o PPGE-UFRJ diz respeito à contribuição para a educação básica: “Uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) é, até 2014, formar 50% dos docentes da Educação Básica em nível de pós-graduação. Sem investimento nos PPG em Educação, não há como atingir tal meta. Cabe ressaltar que o PPGE-UFRJ há mais de quatro décadas vem qualificando professores, tanto para atuarem no nível superior (70% dos doutores egressos e 30% dos mestres egressos), quanto na Educação Básica (30% dos doutores egressos e 70% dos mestres egressos). Mais de 80% dos nossos egressos atuam na Educação Pública”, diz.

Diferença de valor também por área

Outro critério apresentado pela Capes na nova metodologia de repartição dos recursos é a diferenciação de valor de custeio por área. O primeiro grupo, das ciências biológicas, agrárias e exatas, da saúde e das engenharias, receberá 20% mais que o segundo, das ciências humanas, sociais e aplicadas, letras e artes.

A Capes considera que as áreas do primeiro grupo deveriam receber mais verbas, pois “envolvem mais experimentação, manutenção de laboratórios, saídas de campo, dentro outras atividades”. Patricia Corsino discorda: “Entendemos esta divisão como uma distorção do que seria prioridade em investimento de pesquisa. Uma forma dicotômica de pensar a Ciência, que coloca as Ciências Humanas e Sociais em segundo plano”.

A Anped forneceu dados sobre a participação das áreas de ciências humanas na pós sob os novos critérios: “A definição de prioridades entre as áreas para distribuição de recursos significou uma diminuição da participação dos recursos da área de ciências humanas de 15% do total em 2015, para 5% do total de 2016”, diz a nota da Anped, que critica a falta de diálogo da Capes para estabelecer os novos critérios de financiamento.

A nota da Capes por curso é a terceira regra do financiamento. Mas Corsino questiona a avaliação dos programas pela entidade: “O PPGE-UFRJ tem nota 5, portanto, recebe verba proporcional a esta nota. Temos conseguido avançar nas produções, mas na última avaliação, por exemplo, tivemos ‘muito bom’ em todos os quesitos, mas a nota se manteve em 5. Quando enviamos recurso à Capes, a resposta foi que a área havia dado nota 6, mas que o Conselho Técnico Científico da Capes havia mantido a nota 5. O que evidencia um limite pré-estabelecido para um número de programas 6 e 7”, conta a docente.

Segundo a Capes, um bolsista da área de humanidades pode ganhar de R$ 1.200 a R$ 1.400, conforme a nota da sua pós-graduação na Capes, enquanto um bolsista das áreas de saúde e exatas receberá, na mesma progressão de nota, de R$ 1.550 a R$ 3.000.


Ponte do Saber será fechada dia 18 de julho para veículos pequenos. Mudança, para facilitar o trânsito das equipes olímpicas, deverá complicar cotidiano da comunidade universitária

Samantha Su
Estagiária e Redação 

O tráfego no Fundão vai sofrer mudanças por conta das Olimpíadas. A Ponte do Saber será fechada a partir do dia 18 de julho, entre 6h e 15h, para veículos pequenos. Apenas transportes coletivos terão acesso à via neste horário; carros serão multados.

A mudança irá redirecionar o trânsito interno para as saídas da Linha Amarela e da Avenida Brasil. Mas o período das aulas ainda não estará formalmente encerrado, o que deve causar transtornos à comunidade universitária: “O fluxo diminui por conta do fim de semestre e das férias escolares. Sabemos que, de 18 de julho a 5 de agosto, quando iniciará o feriado olímpico, será ruim, mas é a única maneira, pois é determinação da Prefeitura do Rio”, afirma a assessoria da Prefeitura Universitária. Na mesma data do fechamento da ponte, caminhões serão proibidos de entrar na Cidade Universitária. Os acessos à Linha Amarela, do Méier até a Cidade Universitária, serão bloqueados a partir de 25 de julho.

Além das alterações nas entradas e saídas da Cidade Universitária, faixas de trânsito pintadas da cor verde já sinalizam onde os motoristas poderão transitar. A “faixa compartilhada”, tracejada, é liberada para o trânsito em geral, mas proíbe o estacionamento.  Haverá, ainda, “uma faixa prioritária”, com linha contínua, onde apenas carros autorizados, ônibus e táxis vão circular. A restrição passa a valer no dia 31 de julho, quando a CET Rio começará a aplicar as multas no valor de R$ 1,5 mil.

O objetivo, segundo a Prefeitura Universitária, é facilitar a via para os atletas, patrocinadores e equipes em geral. Nesta quarta (6), será divulgado um mapa com a demarcação das faixas no Fundão.


Colegas homenageiam Diego Vieira Machado

Com uma faixa estendida na entrada do Centro de Tecnologia, prédio onde ocorre a matrícula dos calouros, os estudantes da UFRJ prestam homenagem ao colega Diego Vieira Machado, nesta segunda-feira (4). Na noite de sábado, dia 2, o corpo de Diego foi encontrado com sinais de espancamento nas proximidades do alojamento, na ilha do Fundão.

A investigação preliminar da polícia indica crime motivado por preconceito. Diego era negro, LGBT e morador do alojamento. Formalmente matriculado na Letras, pretendia transferência para a Escola de Comunicação.

O DCE Mário Prata vai realizar uma série de atividades esta semana para cobrar mais segurança nos campi da UFRJ. O ponto culminante será um ato na próxima sessão do Conselho Universitário, às 9h de quinta-feira.


Diretoria da Adufrj lamenta morte de estudante

 

943976 10208572062569601 3744615269597541445 nFoto: reprodução do Facebook

A diretoria da Adufrj divulga nota (abaixo) sobre a morte do estudante Diego Vieira Machado, no último sábado (2). O corpo de Diego foi encontrado com sinais de espancamento nas proximidades do alojamento, na ilha do Fundão. 

Com muita tristeza e indignação, recebemos a notícia do brutal assassinato de Diego Vieira Machado, estudante da UFRJ, no Campus do Fundão. Vamos acompanhar a apuração do ocorrido e prestamos nossa solidariedade à família, às amigas e aos amigos.

Este é um momento de comoção e de muita preocupação para a comunidade universitária. Estamos à disposição para dar todo o apoio que for necessário e para participar da busca de soluções para os problemas enfrentados por nossa universidade, em especial pelas alunas e pelos alunos da UFRJ.

Diretoria da Adufrj


“Vista nossa palavra, Flip”

Evento paralelo à Feira Literária de Paraty promove visibilidade de escritoras negras

Samantha Su
Estagiária e Redação

“Arraiá da Branquidade” foi a expressão utilizada por Giovana Xavier, professora da Faculdade de Educação da UFRJ e coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas Intelectuais Negras da universidade, para definir a 14ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). O evento, que ocorre entre 29 de junho e 3 de julho, faz homenagem especial a uma escritora, Ana Cristina Cesar. Para esta Flip, também aumentou a participação feminina entre os convidados principais. Só que nenhuma das 17 autoras é negra.

Em manifesto, Giovana e a professora e educadora Janete Santos Ribeiro responderam à ausência como: “Um livro da supremacia branca, que se divide em muitos capítulos estruturados a partir das articulações entre racismo, machismo e transfobia”. E justificaram: “Em um país de maioria negra e de mulheres, portanto de maioria de Mulheres Negras, é um absurdo que o principal evento literário do país ignore solenemente a produção literária de mulheres negras como Carmen Faustino, Cidinha da Silva, Elizandra Souza, Jarid Arraes, Jennifer Nascimento, Livia Natalia e muitas outras”, declara o manifesto.

Segundo Giovana, a opção da Flip é uma consequência da negação da importância das autoras negras na construção da história brasileira. “É um desrespeito não só com quem escreve, mas a todas as mulheres negras que constituem e construíram esse país, em que somos maioria. A gente não tem lugar nessa história?”, questiona Giovana.

A professora é uma das idealizadoras, por meio do Grupo de Estudos e Pesquisas Intelectuais Negras da UFRJ, da campanha “Vista nossa palavra, Flip”, que surgiu em protesto contra a festa literária, mas também para fomentar espaços de visibilidade negra. “Nós somos mulheres negras, ativistas, autoras, pesquisadoras e leitoras e queremos assumir nosso papel na luta pela nossa visibilidade social”, declara.

Evento paralelo à Flip, neste sábado

O movimento organiza um evento paralelo à Flip durante todo este sábado, dia 2 de julho, em Oswaldo Cruz. Com a presença de diversas autoras, professoras e pesquisadoras negras debatendo literatura e visibilidade racial, a atividade terá início às 9h e só terminará depois da roda de samba Buraco do Galo, à noite.

O evento, para além da Flip, é um resgate da memória negra e de reafirmação cultural. “A campanha não se encerra com a Flip. Nós queremos nossa palavra e nosso texto na história. A gente não quer respostas como um ou outro negro presente, a gente quer visibilidade de nossas produções na proporção que ocupamos na sociedade. Nossa mobilização não é só de denúncia, mas é de criação de espaços em que possamos discutir sobre isso. Esses espaços não vão ser cedidos pelo mercado editorial, que é majoritariamente masculino e branco. Nossa literatura esteve sempre à margem do mercado literário, mas ela é viva e sofre com essa dupla invisibilidade, de gênero e raça”, explica Giovana.

Para mobilizar o “Vista Nossa Palavra, Flip”, foi aberto um convite a que diversas pessoas enviassem vídeos caseiros, lendo poetisas negras: “O intuito é fazer as pessoas individualmente mostrarem a sua relação com autores negros. Quais autoras negras você lê? Quantas você conhece? Nós recebemos mensagens de pessoas que diziam que ainda não tinham enviado seu vídeo porque iam, pela primeira vez, comprar um livro de uma mulher negra. É essa a discussão que a gente quer fazer e é algo que deve interessar a todos”, exemplificou a professora.

Outra atividade que gerou frutos positivos foi a oficina de “Escrevivências nas nossas escolas” que ocorreu, dia 29 de junho, na Escola Jornalista Escritor Daniel Piza. O colégio fica em Costa Barros, local onde ocorreu a chacina de cinco jovens negros alvejados dentro de um carro pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, ano passado.

A oficina, realizada em parceria com a professora de história da escola, Claudielle Pavão, contou com a divulgação de escritoras negras às crianças. Para Giovana, a atividade foi marcante e enraizou a necessidade de discutir educação pública e de qualidade pelo viés da diminuição das desigualdades sociais: “Sabemos que não adianta só mobilizar virtualmente, embora seja importante, mas o lugar de tratar da literatura e cultura negra é na escola. É o espaço da transformação”, pontua.

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