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Foto: Fernando SouzaExistem pessoas cuja trajetória é tão grandiosa que pode ser observada por perspectivas distintas, e assim melhor compreendida. É o caso do professor Luiz Pinguelli Rosa, que faleceu em março deste ano. Para homenagear o mestre, a AdUFRJ organizou uma homenagem, tendo como ponto de partida sua autobiografia “Memórias — de Vargas a Lula: a resistência à ditadura e ao neoliberalismo”. Na mesa do evento, os professores Ildeu Moreira, Romildo Toledo Filho e Tatiana Roque enalteceram aspectos da trajetória de Pinguelli, sob a mediação do professor João Torres, presidente da AdUFRJ.
Todos na mesa, e parte da plateia que conviveu com Pinguelli, concordaram sobre como o professor era fiel às suas convicções, um interlocutor receptivo, uma pessoa generosa, entusiasta de boas ideias e um valente defensor do bem público. O professor Ildeu Moreira, presidente de honra da SBPC e um dos fundadores da AdUFRJ, falou um pouco sobre a trajetória política de Pinguelli. “Essa é uma homenagem, mas também um balanço da trajetória do Pinguelli. É poder olhar para a história da AdUFRJ e do Andes, e também pensar no futuro dessas entidades”, disse Ildeu.
O professor lembrou a criação da AdUFRJ, nos final dos anos 1970. A administração central da UFRJ formara uma comissão para discutir uma reforma da universidade e, em paralelo, os docentes começavam a se organizar para formar sua associação. No Instituto de Física, havia um movimento pela anistia dos professores que foram cassados pela ditadura. “O Pinguelli foi para a associação docente, e ela encampou o movimento. Aquilo se espalhou por algumas instituições do Rio, que começaram a se movimentar. Foi um grande ponto de partida”, contou Ildeu.
A trajetória de Pinguelli no movimento sindical é notável. Foi o primeiro presidente da AdUFRJ, entre 1979 e 1981, segundo presidente do Andes, de 1982 a 1984, e figura importante na greve de 1979, em plena ditadura militar. “Aquela greve foi muito importante porque ajudou a construir o movimento para uma greve posterior, que permitiu a construção da carreira docente. E o Pinguelli foi decisivo em todos esses momentos”, contou Ildeu. “Ele tinha uma energia e disposição imensas”, pontuou.
Pinguelli também foi presidente da Eletrobras entre 2002 e 2003. Sua saída do governo aconteceu por divergências na política econômica conduzida pelo então ministro da Fazenda Antônio Palocci. Para Ildeu, a trajetória que Pinguelli narra no livro serve de lição para Lula e a esquerda. “Eu acho que nós vamos ganhar essa eleição. Mas o Lula deveria ler o livro antes de assumir o governo, porque aqui há pontos em que ele chama atenção de erros que foram cometidos em 2002”, disse Ildeu.
Cinco vezes diretor da Coppe, Pinguelli já se destacava, desde muito jovem, na área de pesquisa nuclear. Quem lembrou esse aspecto da carreira do mestre foi Romildo Toledo Filho, diretor da Coppe. “Ele colocava a academia, nos colocava, no centro da discussão. Sempre trazia especialistas para as discussões. Ele sempre buscou estar cercado pelos melhores”, contou Romildo, que se dedicou a elogiar a inteligência de Pinguelli. “Ele sempre nos provocava a ver qualquer coisa diferente, estava sendo buscando uma visão nova. E fez isso por todas as áreas onde passou: na política, na luta pela universidade pública e na questão social”, contou o diretor.
Pinguelli colocava a universidade a serviço da sociedade. “Não havia nenhum assunto que ele achasse que a sociedade precisasse de esclarecimento, que ele não se posicionasse, e convocando os melhores especialistas para falar sobre o assunto”, lembrou Romildo, que ressaltou o trabalho de Pinguelli para o fortalecimento dos programas de Engenharia Nuclear, de Planejamento Energético e de Engenharia de Nanotecnologia. “Uma pessoa como essa tem uma enorme importância para todos nós”, disse Romildo, que terminou sua fala com uma frase curta, mas que mostra a importância da preservação da memória do professor: “Pinguelli vive”.
“Eu passei por caminhos abertos pelo Pinguelli em muitas frentes. Na minha trajetória como pesquisadora, na AdUFRJ e no Fórum de Ciência e Cultura. Mas acho importante falar de quem ele formou, desses caminhos que só existiram por causa de ações nas quais ele foi essencial”, ressaltou a professora Tatiana Roque, ex-presidente da AdUFRJ e ex-coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura. Ela contou que, nos anos 1990, houve um grande debate mundial sobre o papel da Ciência. “O que estava em questão era o lugar da Física-Matemática, toda a discussão da visão que se tinha sobre ela. Esse lugar de um pensamento determinista da Ciência estava sendo colocado em xeque”, explicou. E na UFRJ, esses debates eram organizados por Pinguelli no Fórum de Ciência e Cultura. “Nos grandes debates sempre havia a mão do Pinguelli. E a partir desses debates foram criados alguns programas de pós-graduação”, lembrou.
Foto: Isadora CamargoExcelente professor, cientista de prestígio internacional e liderança acadêmica. Não faltaram elogios na solenidade de entrega do título de emérito da UFRJ a Luiz Davidovich, docente titular do Instituto de Física. O Salão Nobre do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza ficou lotado para acompanhar a cerimônia realizada durante uma sessão solene do Conselho Universitário, na terça-feira, dia 5.
Presidente da Academia Brasileira de Ciências até o início deste ano, Davidovich não abandonou o tom político em seu discurso de agradecimento. “Estou certo de que o sonho de todos nós é de um país com igualdade de oportunidades para todas as suas crianças, independente do berço em que nasceram, Que incorpore sua população em uma sociedade ilustrada e inclusiva, democrática e produtiva. Esta é a visão que permeia nossas mentes e norteia nossos passos. A emerência é um rito de passagem, não é o final do caminho. Estamos juntos nessa luta”, afirmou.
Para este sonho vingar, Davidovich enfatizou a necessidade do investimento em educação e ciência, nos dias atuais. “É urgente mudar a agenda econômica e social deste país. Uma política econômica não se resume a um planilha de receitas e gastos. Ela deve estar articulada com uma agenda nacional de desenvolvimento sustentável e inclusivo, baseada em educação de qualidade, ciência, tecnologia e inovação”, afirmou.
O professor destacou ainda a importância de preservação da democracia. O emérito falou do alto da experiência de ter sido perseguido pela ditadura quando ainda era estudante. Por força do decreto 477, conhecido como o AI-5 das universidades, não completou seus estudos na PUC, em 1969. “Não consegui terminar o semestre. Fui expulso da universidade em junho do mesmo ano”.
Davidovich saudou os professores da universidade na figura do presidente da AdUFRJ e colega do Instituto de Física, João Torres, presente ao evento. “Essa associação cresceu nos últimos anos e se tornou representativa do melhor que existe nesta universidade. Cumprimento também a Tatiana Roque, que teve um papel importante na renovação da associação de docentes”, disse, em referência à ex-presidente do sindicato, de 2015 a 2017.
HOMENAGENS
Encarregado das homenagens iniciais, o professor titular Paulo Maia lembrou que o físico francês Serge Haroche, Prêmio Nobel de 2012, saudou Davidovich em seu discurso de premiação. E acrescentou: “Em conferências de que participo mundo afora, ouço frequentemente comentários de grande admiração por parte de colegas de diferentes países em relação ao nosso homenageado”.
O diretor do Instituto de Física, professor Nelson Braga, ressaltou a qualidade do homenageado na arte de lecionar e formar novos pesquisadores: “Sempre foi um professor excelente em todos os sentidos, desde os aspectos didáticos, mas principalmente por motivar nos alunos a curiosidade, a vontade de aprender e desvendar novos desafios”.
“É um momento de muito júbilo para nossa universidade porque ganhamos mais um professor emérito”, afirmou a reitora Denise Pires de Carvalho. “Todas as administrações centrais dependem muito, em alguns momentos, do posicionamento dos professores eméritos. Os senhores são a nossa esperança de que os ataques não serão bem-sucedidos. Farão isso em nome dos jovens professores, dos nossos estudantes e do futuro do nosso país”, concluiu.
Fotos: Alessandro CostaIsadora CamargoO ex-aluno e ex-professor André Rebouças “voltou” à Escola Politécnica da UFRJ. Dessa vez, como protagonista da ópera “O Engenheiro”, que encerrou seu ciclo de apresentações na última quinta-feira (7), no Auditório Horta Barbosa, do Centro de Tecnologia. O espetáculo começou às 13h, e os futuros engenheiros do CT aproveitaram o intervalo do almoço para lotar a plateia. Marcos Fernandes, estudante de Engenharia Naval, saudou a iniciativa: “A arte devia vir mais pra cá”.
A ópera “O Engenheiro” é uma composição de Tim Rescala, com direção geral de Andrea Adour, Homero Velho e Lenine Santos. Foi encomendada pelo Projeto Sistema Nacional de Orquestras Sociais (Sinos), produzida e executada com o Projeto Ópera na UFRJ. A trama é um retrato do engenheiro baiano André Rebouças (1838 — 1898), homem negro e personagem histórico do movimento abolicionista brasileiro. Rebouças tinha relações próximas com a Família Real, e partiu junto com ela para o exílio após a proclamação da República, em 15 de novembro de 1889.
Na peça, os bastidores da queda do Império ambientam as contradições e posicionamentos do protagonista frente à política nacional. “Fiquei encantada, o André é um exemplo para nós, de engenheiro, de tudo o que ele fez. Representa a luta que temos hoje por igualdade, das vagas ocupadas por pessoas que antes não poderiam estar aqui”, comentou Maria Alice da Rocha, diretora adjunta da Escola Politécnica, na qual Rebouças foi aluno (na antiga Escola Militar) e professor .
Todo o espetáculo foi produzido e executado pela universidade. A realização foi dos professores e alunos da Escola de Música (dos cursos de
Regência e Canto), da Escola de Belas Artes (dos cursos de Indumentária e Cenografia) e da Escola de Comunicação (do curso de Direção Teatral), juntamente com os projetos Orquestra da UFRJ, Sistema Universitário de Apoio Teatral (SUAT) e a Companhia Folclórica. Todos unificados pelo Projeto Ópera na UFRJ, que desde 1994 cria produções culturais.
A iniciativa é ainda contemplada pelo Programa de Apoio às Artes (PROART-UFRJ), e envolve os pilares de ensino, pesquisa e extensão. “Alguns alunos são bolsistas, outros estão fazendo da Ópera seu projeto de conclusão de curso”, contou Fabrícia Medeiros, produtora da orquestra. “Que se fomentem mais projetos como este, é a cara do que a universidade precisa”, concluiu.
Inicialmente, a peça não se apresentaria no CT, e teria encerrado a montagem na semana anterior, em Petrópolis. Foi por insistência de Claudia Morgado, diretora da Politécnica, que a produção se reorganizou para essa última exibição. “Eu falei: Não, tem que fazer lá na Engenharia! Vai falar do André Rebouças e os engenheiros não vão assistir?”. O convite foi aceito de bom grado, uma vez que a UFRJ é a “casa da peça”, como coloca o diretor cênico José Henrique Moreira. “Se você reparou, há menção de pelo menos três edifícios que hoje são da UFRJ: o próprio Palácio Imperial, a Escola Politécnica, que hoje é o IFCS, e o Senado do Império, que é onde fica a Faculdade Nacional de Direito hoje. Então, por mais que ela não tenha sido composta para nós, caiu como uma luva, como se fosse uma ópera nossa da UFRJ”, concluiu Moreira.
Foto: Fernando SouzaNo Salão Nobre do histórico prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), no Largo de São Francisco, Centro do Rio, foi lançado oficialmente nesta quarta-feira (6) o Comitê de Luta da UFRJ. Nada mais simbólico. O imponente prédio que abrigou a Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil serviu de palco ao nascimento de um movimento de defesa da Educação, da Ciência e da democracia no país — pilares atacados sem trégua pelo governo de destruição de Jair Bolsonaro. Esses ataques foram o tema do debate “Democracia e Universidade — Cortes e Financiamento da Educação”, que marcou o lançamento do comitê.
“Leva-se muito tempo para construir um sistema de Educação, Ciência e Tecnologia como o nosso. E o projeto do atual governo é destruir. Por isso, a missão desse comitê é tentar aglutinar as forças progressistas da UFRJ para que o Lula seja eleito no primeiro turno. E, se tiver um segundo turno, que outras forças políticas venham se juntar a nós”, defendeu o professor João Torres, presidente da AdUFRJ.
Segundo João, o protagonismo do sindicato no comitê é uma decorrência natural do que a atual direção vem defendendo desde a campanha eleitoral que a elegeu para comandar a AdUFRJ no biênio 2021-2023. “Na nossa campanha para as eleições na AdUFRJ, nós reafirmamos repetidas vezes que gostaríamos de encampar, uma vez empossados, a candidatura do campo democrático à Presidência da República que tivesse mais chances de vitória. Nesse momento, essa candidatura é a de Lula. Essa foi uma promessa de campanha. Precisamos de um governo de salvação nacional, como o que aconteceu em vários países depois de uma guerra, uma devastação. Temos que reunir todas as forças democráticas para isso”, disse João.
UNIÃO DE FORÇAS
Mediado por Neuza Luzia Pinto, técnica da Faculdade de Medicina da UFRJ, o debate contou com a participação dos professores Átila Freire, da Coppe, e Eduardo Raupp, pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças da UFRJ. Os cortes no orçamento do MEC, e em especial na UFRJ, foram o pano de fundo para falas em defesa da Educação, da Ciência e da democracia.
“Hoje (quarta-feira), nós fomos impactados pela notícia de que o projeto orçamentário do ano que vem virá com uma redução de 12,6% no nosso orçamento. Isso significa que a UFRJ terá certamente o menor orçamento de sua história. Estamos diante de um descompromisso estratégico do governo, um projeto de destruição lenta e gradual. A estratégia é fazer com que a gente continue funcionando precariamente, e que com isso tenha dificuldades de entregar aquilo que a gente tem que entregar, que a nossa missão não seja plena e que a gente vá sendo desacreditado. Até que soluções fantasiosas possam ser oferecidas em nosso lugar. Nada mais sórdido e mais eficiente para destruir a universidade pública”, descreveu professor Eduardo Raupp, para quem a situação da UFRJ é “dramática”.
Para o professor Átila Freire, um dos aspectos mais perversos dos cortes é a retração da pós-graduação. “A pós-graduação da UFRJ, que é emblemática no Brasil e é referência no mundo, foi dramaticamente destruída nos últimos anos. Foi um processo de construção de 50 anos, mas para destruir é muito rápido. Nós temos que reverter isso indo à luta, cada um de nós. Temos que mobilizar as pessoas. E esse comitê é um passo para isso”, convocou o docente.
A técnica Neuza Luzia Pinto observou que o movimento deve ganhar adesões ao longo dos próximos meses e se articular com outros grupos que defendem a democracia. “Acho que a defesa da democracia é o elo que une a todos nós que estamos aqui nesse comitê. Nossa perspectiva estratégica é nos somarmos a milhares e milhares de outros militantes em todo o país para mudar essa história. Temos que trazer para cá as pessoas que não estão aqui — ou porque estão acomodadas ou porque não conseguem enxergar que é possível lutarmos juntos —, os estudantes, os técnicos, os terceirizados, os professores. É um comitê aberto, suprapartidário. O que nos une aqui é a coragem de tentar trazer de novo o Brasil para o rumo da democracia. Temos que ser multiplicadores dessa ideia”, ponderou Neuza.
Emérito da Escola de Química da UFRJ e vice-presidente da AdUFRJ, o professor Ricardo Medronho alertou para a importância do comitê no processo eleitoral para a Presidência da República: “Não é possível a gente imaginar o que possa vir a ser o Brasil se esse governo for reeleito. O país já é pária internacional, o nosso presidente é motivo de chacota. Mais quatro anos desse governo é a destruição total do país. Por isso, é muito importante a criação desse comitê. Nós precisamos trazer outras pessoas para fazer com esse seja um movimento crescente”.
LULA FAZ LOTAR A CINELÂNDIA
Sob forte esquema de segurança — tapumes de 2,5m cercaram o perímetro do palco e houve revista com detectores de metal —, o pré-candidato do PT à Presidência da República, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez seu primeiro grande comício de campanha no Rio, no tradicional palco democrático da Cinelândia. Ao lado de seu candidato a vice, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB), Lula reafirmou seu apoio ao deputado federal Marcelo Freixo (PSB), pré-candidato ao governo do Rio. O deputado estadual André Ceciliano (PT), pré-candidato ao Senado, sentou na primeira fila do palco de Lula, reforçando sua posição na disputa com o deputado federal Alessandro Molon (PSB) pela indicação na chapa do ex-presidente.
Em seu discurso, Lula falou do desemprego e da fome que assolam o país, comparou esse cenário com o período de seus dois governos, e fez duras críticas a Bolsonaro. “Perguntem quanto que esse genocida que está governando o país investiu no Rio de Janeiro? Qual foi a grande obra que ele fez? Qual foi a escola técnica que ele fez? Qual a universidade que ele fez? Qual o dinheiro para a Medicina que ele colocou? Nada! Nada! Só tirar!”, disse Lula, sob aplausos de milhares de pessoas. A Polícia Militar registrou um único incidente durante o comício. Um homem arremessou um artefato explosivo com fezes para o interior da área cercada do palco. Ele foi preso.
A chapa 2, com 7.266 votos, venceu a eleição do DCE Mário Prata. A chapa 3 ficou em segundo lugar, com 2.784 votos, seguida pela chapa 4 (619). Houve ainda 36 votos brancos e nulos. A chapa vencedora ocupará três cadeiras no Consuni contra uma da chapa 3