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Estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado em setembro, revelou que os professores brasileiros têm os piores salários iniciais entre os 40 países do bloco — 37 integrantes e três parceiros. Em média, um docente brasileiro do Ensino Fundamental recebe US$ 13,9 mil por ano, enquanto nos demais países membros e parceiros da OCDE essa média é de US$ 35,6 mil. Na Alemanha, o valor supera os US$ 70 mil.
Segundo a pesquisa, os docentes brasileiros no início de suas carreiras recebem menos do que docentes em países como México, Colômbia e Chile. Apesar de receberem os maiores salários, os profissionais universitários no Brasil têm uma remuneração 48,4% inferior em relação à média mundial. (Estudo da OCDE, setembro de 2021)
As mulheres dominam a profissão na educação básica, chegando a ocupar 88% das salas de aulas da educação infantil, mas estão mal representadas na educação superior, com apenas 46% dos postos de trabalho em 2019. (Estudo da OCDE, setembro de 2021)
Pesquisa feita pela Associação Nova Escola aponta que a saúde mental dos professores melhorou em 2021, em comparação com 2020: 47,8% dos profissionais da Educação Básica avaliam que a saúde mental atualmente está “boa” ou “excelente”. Em 2020, eram 26%. A pesquisa foi feita com quatro mil professores, coordenadores pedagógicos e diretores da educação básica em todo o país, entre agosto e setembro de 2021.
Os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor: intérpretes de sonhos.
Rubem Alves

Feliz aquele que
transfere o que sabe
e aprende o que ensina.
Cora Coralina
O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram.
Jean Piaget
A tarefa essencial do
professor é despertar
a alegria de trabalhar
e de conhecer.
Albert Einstein
Ser professor é apostar
na esperança. É trabalhar com algo que não está pronto ainda.
É entender-se parte de um processo de transformação.
Leandro Karnal
A aprendizagem resultante do processo educativo não tem outro fim, senão o de habilitar a viver melhor, senão o de melhor ajustar o homem às condições do seu meio.
Anísio Teixeira
Ser professor é poder ajudar os alunos a lidar com a própria humanidade deles.
Luiz Felipe Pondé
O educador se eterniza em cada ser que educa.
Paulo Freire
O homem não é nada além daquilo que a educação
faz dele.
Immanuel Kant
Foto: Fernando Souza/Arquivo AdUFRJO Conselho Universitário começou a discutir mudanças na Resolução 07/2020, que regulamenta internamente o trabalho remoto. A motivação é a Instrução Normativa 90, do Ministério da Economia, que indica o retorno gradual de todos os servidores públicos federais a partir de 15 de outubro. Não houve deliberação sobre o tema, já que muitas dúvidas surgiram, principalmente se não seria possível a universidade instituir um sistema híbrido de retorno, com rodízios entre quem atua presencialmente e quem permanece em casa. Além disso, não se chegou à conclusão sobre como seria computada a presença nos casos em que o ambiente de trabalho não permitisse o retorno de todos ao mesmo tempo. Outra dúvida levantada foi em relação à universidade poder ou não barrar docentes, técnicos, estudantes e terceirizados que tenham recusado a vacina. O vice-reitor, professor Carlos Frederico Leão Rocha, sugeriu agendar uma sessão extraordinária do Consuni para deliberar sobre a nova redação da resolução. O assunto deve voltar à pauta na próxima semana.
Neste último capítulo de nossa série sobre o balanço da atual diretoria, relembramos as ações de solidariedade e apoio a pessoas, instituições e entidades da sociedade civil ao longo da pandemia. Os apoios tiveram três eixos principais: o primeiro, emergencial, como as doações de insumos e equipamentos para hospitais e laboratórios da UFRJ. Um segundo eixo consistiu em ações de solidariedade junto a coletivos e grupos em vulnerabilidade social. O terceiro correspondeu à atuação política do sindicato, em atividades junto ao comitê “Fora Bolsonaro”, além do apoio a entidades estudantis, culturais e movimentos sociais. “A gente participou dessas ações contribuindo com a mobilização coletiva. Entramos completando esse esforço, que todos os sindicatos fizeram, em âmbito nacional. Destinamos recursos inclusive para o Amapá”, destaca a presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller. De março de 2020 a 5 de outubro de 2021, a AdUFRJ destinou um total de R$ 614.504,37 a ações gerais de apoio e solidariedade. “Todas as entidades foram checadas antes de receber os recursos. Houve muita responsabilidade ao lidar com um dinheiro que não é nosso, mas dos sindicalizados”, afirma Eleonora. “Muito da economia gerada por não estarmos em atividade presencial foi direcionada às doações. O sindicato deu uma resposta ao hiperindividualismo, construindo uma cultura coletiva de solidariedade e ajuda mútua”. Para Eleonora, a AdUFRJ também conseguiu resgatar a dimensão do sindicato “como instrumento de proteção a quem trabalha”. “A gente investiu muito em voltar a fortalecer o sindicato nesse aspecto, como instrumento de defesa, de atuação coletiva. Estamos entregando uma gestão que teve uma delegação recorde no Congresso do Andes, teve um quórum recorde na eleição do Andes, um quórum recorde na sucessão da diretoria, conseguiu duplicar o caixa”, elenca. “Só foi muito difícil alcançar os docentes que não estavam sindicalizados, exatamente por conta da atuação remota”. Os desafios já eram enormes há dois anos. O professor Pedro Lagerblad, também diretor da seção sindical, relembra a sensação de quando tomou posse. “Havia um sentimento de ‘e agora, José?’ entalado na garganta. Assumíamos um sindicato importante, da maior universidade federal do país, no meio de um governo que fala em nome da ignorância, da brutalidade e de um projeto de destruição nacional. Enfim, um governo inimigo declarado da universidade”, resume. A chegada da pandemia trouxe desafios extras. “Tentar construir canais de ação, de reunião, responder a demandas que não existiam e criar esperança nesse cenário foi algo que nunca conseguiremos esquecer”. O professor Jackson Menezes, também diretor da AdUFRJ e representante da gestão em Macaé, destaca a resiliência de professores, técnicos e estudantes neste período tão adverso. “O ponto que mais me marcou foi a capacidade do corpo social da UFRJ em se organizar para atender à demanda da população durante a pandemia e, em especial, a capacidade dos alunos, técnicos e docentes em se adaptarem ao ensino remoto emergencial”, afirma. Manter-se presente nas lutas da universidade, ele reforça, não foi tarefa simples. “Houve muita força da atual diretoria em manter a mobilização sindical mesmo de forma remota”. Lagerblad completa: “A AdUFRJ era uma parte da luta diária. Sobrevivemos. Um dia de cada vez”.
HOSPITAIS
A AdUFRJ fez doações de equipamentos para o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho no valor de R$ 100.110,00. Para o Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, as doações foram de materiais médicos, no valor de R$ 100.120,00. “A AdUFRJ não foi uma patrocinadora dos hospitais. Esta é uma atribuição do Estado. Mas entendemos que, naquele primeiro momento, era urgente colaborar para que a população pudesse ser atendida”, explica a professora Eleonora Ziller.
LABORATÓRIOS
A AdUFRJ doou insumos para pesquisa, para realização de testes de covid-19 e para a fabricação de álcool 70º. Os materiais, para laboratórios do Rio e de Macaé, somaram R$ 111.200,00. Desse montante, R$ 74.200,00 foram doados em 2020.
CESTAS BÁSICAS
Era preciso aplacar a fome das camadas mais vulneráveis. Foram R$ 160.492,00 em doações de cestas básicas, principalmente para trabalhadores terceirizados e estudantes que perderam renda nos meses mais críticos de isolamento social e se mantêm em situação financeira instável até os dias atuais. Além disso, houve também doações para coletivos de bairros e favelas.
APOIO AOS COLETIVOS
Houve destinação de recursos para coletivos negros atuantes na universidade e apoio político na formação de coletivos docentes de professores negros e de parentalidade. “Tudo o que nos foi solicitado pelos coletivos nós transmitimos aos nossos sindicalizados. A gente tentou fazer toda essa costura, inclusive com o coletivo das mães docentes de Macaé que se transformou no GT Parentalidade”, conta Eleonora Ziller.
APOSENTADOS
A AdUFRJ teve atenção especial aos professores mais idosos, que poderiam necessitar de algum suporte específico durante o período de isolamento. Um dos serviços oferecidos foi o de transporte para os locais de vacinação. Os professores foram contatados um a um. “Felizmente, a gente não encontrou um quadro de mais necessidade, mas houve esse esforço de localizar, nos nossos quadros, se havia algum tipo de vulnerabilidade”, lembra Eleonora.
ADUFRJ NO RÁDIO
Uma novidade da gestão foi o programa AdUFRJ no Rádio, veiculado na rádio UFRJ. Desde que estreou, em 16 de outubro de 2020, foram produzidos 47 programas. “Não tínhamos muita ideia de qual seria o impacto, mas, sem dúvidas, foi muito bom ter essa experiência. Foi mais um canal de comunicação aberto para falarmos à universidade e à sociedade. Muito recompensante do ponto de vista intelectual e sentimental”, descreve o vice-presidente, professor Felipe Rosa.
PLANOS INTERROMPIDOS
A pandemia não permitiu que a AdUFRJ desse sequência ao censo idealizado para traçar o perfil de todos os professores da UFRJ. “Isso mudaria qualitativamente nosso trabalho. A pandemia aprofundou a noção de bolha. A gente só conseguiu maior contato com os sindicalizados, mas há mais de dois mil professores aos quais não conseguimos chegar”, lamenta a presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller.
Outro projeto que não pôde sair do papel foi a ampla campanha de sindicalização. “Ela dependia bastante do censo para saber quem somos nós e o que queremos ser”, argumenta Eleonora. Na avaliação da presidente, a seção sindical foi se afastando gradativamente da categoria, sobretudo após a era FHC. “Com a perda desse contato, a gente não sabe mais o que pensam principalmente os jovens professores”.
Finalmente, uma sala de convivência e atendimento jurídico aos professores estava planejada para ser inaugurada na Praia Vermelha. Outro plano suspenso pela necessidade de isolamento social. “Mas a cooperação com o CCJE para a realização da revista Versus continua acontecendo, e a gente espera que continue de pé e que renda frutos. Esta foi outra forma de apoio que a gente inaugurou nessa gestão”, orgulha-se a docente.
ARTIGO
CHRISTINE RUTA
Professora do Instituto de Biologia e 2ª vice-presidente da AdUFRJ
No dia 11 de março de 2020, o estado do Rio de Janeiro decretaria a adoção de isolamento e quarentena, entre outras medidas, para o combate ao novo coronavírus. Quando assumimos, em outubro de 2019, imaginamos inúmeros cenários possíveis para a nossa gestão. Só não sabíamos que iríamos enfrentar uma pandemia com medidas tão drásticas de distanciamento social para o controle da doença que nos afetariam até hoje. Durante 19 meses da nossa gestão de dois anos, conduzimos de modo virtual o sindicato da maior universidade do Brasil. Estamos prestes a encerrar o nosso mandato e sairemos com a sensação de dever cumprido, mas é inegável que nós, diretores engajados com a defesa da universidade pública e da carreira docente, fecharemos a nossa gestão com a sensação do “gostinho de quero mais”.
O modo remoto, sem o obstáculo da distância entre os espaços, possibilitou à nossa gestão uma vasta aproximação junto aos docentes dos mais diferentes campi e cursos da nossa universidade. O saldo do remoto também é positivo no sentido de que diversas ações sindicais foram menos custosas financeiramente, sem, contudo, deixarmos de atuar em diversos locais, inclusive outros estados. Por outro lado, não há como negar que uma gestão a distância trouxe a necessidade de adequação a esse novo tempo, sobretudo nos eixos de ação coletiva sindical que sempre foram organizados de maneira presencial e, muitas vezes, na forma de grandes movimentos. Tivemos que nos reinventar, e já no nome da nossa chapa deixávamos clara a mensagem: “Não vamos parar nem voltar atrás”. Neste sentido, destaco a seguir três de nossas ações anteriores ao período do confinamento e como nos adaptamos para continuar o trabalho sindical nestas ações.
Na luta contra os ataques e o desmonte da universidade pública, em dezembro de 2019, representamos a AdUFRJ na audiência convocada pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados com o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, que se notabilizou como o “pior ministro da história” (https://www.adufrj.org.br/images/WEB-STANDARD_1112.pdf). Na Câmara, iniciamos as nossas primeiras articulações in loco com deputados e outros atores do cenário político. Durante o período de confinamento, toda a nossa agenda sindical na capital federal foi obrigatoriamente cancelada. Mas seguimos em frente! Conseguimos nos articular e fortalecer a AdUFRJ junto aos nossos pares das demais seções sindicais, principalmente via Observatório do Conhecimento, e outras entidades e movimentos sociais por meio de reuniões virtuais. A quarentona AdUFRJ foi inserida na era da comunicação digital e redes sociais. Aprendemos a ir “pra rua” por meio das projeções luminosas durante a campanha do 15 de maio de 2020 contra as infâmias e a estupidez do então ministro da Educação (https://www.adufrj.org.br/images/WEB-STANDARD_1128.pdf).
É uma sensação compartilhada por toda a diretoria: as ruas fizeram muita falta durante a pandemia! No dia 9 de março de 2020, ocupamos o Centro do Rio de Janeiro junto com mais de 30 mil mulheres no Dia Internacional das Mulheres pela igualdade de gênero. A AdUFRJ empunhou uma enorme faixa que se destacou pelo tamanho e pela vibração. Agitamos intensamente a faixa pelas ruas do Rio de Janeiro, nosso símbolo para expressar a vontade coletiva de varrer esse governo Bolsonaro, que desde o início atacava as mulheres em todos os campos. Em 2021, no dia 8 de maio, nos reinventamos. Mesmo sem levar nossos corpos para a rua, e novamente por meio das projeções luminosas, ocupamos diversos espaços urbanos no Rio de Janeiro e em outros estados. Fomos além da imagem. A voz emblemática da icônica Elza Soares, cantando “Dentro de cada um”, nos representou nesta ação (https://www.adufrj.org.br/index.php/pt-br/noticias/arquivo/21-destaques/3624-na-ciencia-e-na-vida-a-forca-das-mulheres).
Por fim, podemos destacar também a reunião do dia 12 de novembro de 2019 junto aos professores substitutos, a primeira reunião exclusiva com essa categoria para discutirmos sobre a contratação temporária na universidade, entre outras questões que atingem o setor precarizado dos substitutos. Havíamos planejado uma agenda de trabalho junto a esses docentes, mas a dinâmica da pandemia acabou por absorver essa frente de atuação. Durante todo o nosso mandato, estivemos abertos aos docentes de todas as unidades. Por meio do nosso Jornal da AdUFRJ, conseguimos dar voz dos substitutos aos aposentados. Como mencionou o professor substituto Bruno Clarkson, do Instituto de Biologia: “Não vou esconder que fiquei frustrado de ter a minha primeira experiência como professor na UFRJ em um cenário que exige distanciamento dos alunos e ensino remoto. Mesmo assim, para mim é gratificante, em um momento como esse, ter participado de alguma forma do combate à pandemia e da manutenção do ensino em uma das melhores universidades do país” (artigo veiculado na edição especial 1170 - https://www.adufrj.org.br/index.php/pt-br/noticias/arquivo/81-antigas/3651-depoimento-bruno-clarkson-mattos-instituto-de-biologia).
De certa forma, é o sentimento que me invade também no que toca à gestão da ADUFRJ. Espero que esta nossa frustração de trabalhar no modo remoto tanto tempo impulsione os colegas que tomarão posse na semana que vem para que a transformem em pura energia sindical!
Por 24 votos a 19, o Conselho Universitário do dia 14 de outubro negou o recurso da professora Valéria Silva Matos, da Escola de Música, que pleiteava retroação dos efeitos funcionais de progressões e promoções ao longo da carreira. A docente, apoiada pela assessoria jurídica da AdUFRJ, solicitava ser declarada como adjunto 1 e adjunto 2 em períodos anteriores aos registrados em sua ficha funcional. A professora Valéria também pedia progressão múltipla até Adjunto 4. No pedido, ela abria mão da retroação dos efeitos financeiros da progressões e promoções.
Após longo debate prevaleceu, por pequena margem, o entendimento defendido pela Pró-reitoria de Pessoal e constante de um dos pareceres analisados, que a UFRJ, desde 2020, não permite mais mudança retroativa de data de progressão. Também foi argumentado que a universidade se sustenta em pareceres da Advocacia-Geral da União e da Procuradoria da UFRJ, além de regulamentação própria, que impedem progressões múltiplas.
Os pareceres favoráveis ao pleito da docente, no entanto, indicavam vasta jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça reconhecendo o direito a diversos docentes. Nesses casos analisados, a justiça compreendeu que o docente, ao cumprir o interstício de 24 meses em cada nível e tendo as respectivas avaliações dos períodos, cumpriram todos os requisitos necessários para a progressão. Dois votos nulos e duas abstenções completaram o resultado da sessão que não reconheceu o direito da professora.
Estuário de memórias afetivas de gerações e gerações de professores, alunos e funcionários da UFRJ, o restaurante Burguesão, no bloco H do Centro de Tecnologia (CT), precisa de apoio. Com o fechamento imposto pela pandemia, desde março de 2020, a Associação de Assistência Alimentícia (AAA), que gere o restaurante, vem enfrentando dificuldades para manter o pagamento dos 18 funcionários. “O auxílio emergencial do governo, quando existe, alivia a situação. Mas, como complemento, as empresas devem pagar parte dos salários aos seus funcionários. Com faturamento zero desde meados de março de 2020, isto tem sido simplesmente impossível para a AAA”, conta o professor Afonso Celso Del Nero Gomes, da Coppe, presidente da associação sem fins lucrativos, criada em 1983. Os diretores atuam de forma voluntária.
Diante desse quadro, um grupo de nove professores do CT, entre eles Del Nero, lançou uma campanha de doações em prol dos funcionários, alguns com mais de 30 anos de casa, como a pernambucana Maria Barbosa, a Rosinha. Ela chegou ao Burguesão ainda adolescente, em 1987, e se emociona ao falar de sua ligação com o restaurante. “Passei minha adolescência lá, cresci lá, fiquei grávida das minhas duas filhas lá. Vi alunos se formando, voltando como professores. Fui convidada para muitas formaturas de alunos, tinham um carinho grande por mim. Nem consigo falar, porque me dói saber que o restaurante está fechado. Não é só pelo dinheiro, claro que preciso, mas o restaurante fez muito por mim”, diz Rosinha, que tem feito trabalhos temporários para sobreviver.
A criação de laços afetivos entre clientes e funcionários é lembrada por muitos frequentadores, como o professor Fernando Duda, da Coppe, um dos idealizadores da campanha de doações. “Eu cheguei ao Rio para fazer meu mestrado nos anos 1990 e desde então comecei a frequentar o Burguesão. E nem sempre era para comer. As instalações do Fundão eram precárias e muitos alunos do CT usavam os banheiros do Burguesão, que eram os mais decentes. Mas o mais importante foi mesmo a convivência com os funcionários, em maioria nordestinos, como eu. Levei algumas vezes meus filhos lá, quando eram crianças. E os funcionários foram acompanhando o crescimento deles, até entrarem na universidade como alunos. Meu filho terminou Engenharia Civil e minha filha fez dois anos de Mecânica na UFRJ. Coisa difícil de você encontrar fora do ambiente familiar. É uma relação muito forte”, lembra Duda.
Uma das frequentadoras mais antigas do Burguesão, a presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller, apoia a campanha e só tem boas recordações do restaurante. “Tenho uma história afetiva gigantesca com o Burguesão. Quando a Faculdade de Letras mudou para o Fundão, em março de 1985, eu era aluna e entrei como sócia no Burguesão, que funcionava como uma cooperativa. Foi ali que comecei a conversar com o Fernando, almoçávamos juntos, fomos construindo uma relação que deu em casamento. Foi o início da minha vida no Fundão. Fizemos muitas reuniões políticas, lá, tomamos decisões importantes. Muitas coisas nasceram e se fortaleceram ali. E foi onde aprendi a gostar de comida vegetariana. São memórias afetivas, políticas e pedagógicas”.
Outro idealizador da campanha, o professor José Henrique Sanglard, da Escola Politécnica, ressalta que, mais que um restaurante, o Burguesão se tornou um ponto de encontro democrático para a comunidade acadêmica. “O restaurante se tornou uma referência para as pessoas de outros centros também. E entre almoços, lanches e cafés naquelas mesas rolaram inúmeras reuniões e articulações políticas dos movimentos organizados das três categorias, incluindo a AdUFRJ, além dos processos eleitorais para chefias de departamentos, diretorias de unidades, decanias e reitorias. E ainda discussões relevantes sobre educação pública, universidade, ensino, pesquisa e extensão. O significado, a importância e o patrimônio deixado pela AAA para a UFRJ, portanto, transcende, em muito, a ideia de um simples local para comer e beber. Vai muito além, sob todos os aspectos”, observa Sanglard.
O professor Del Nero ressalta o caráter plural do Burguesão. “A arquitetura do restaurante é peculiar. Uma das quatro paredes dá para a cozinha, as outras três são totalmente envidraçadas, do piso ao teto. E isso dá uma sensação de abertura, eu me sinto aconchegado lá dentro. Talvez isso explique o fato de que as pessoas não vão lá apenas para comer, mas para ficar lá, como se estivessem numa sala de estar. É um lugar aberto e propício a encontros. Eu encontrei a minha esposa no Burguesão. Ela era funcionária lá e chegou a ser gerente, então foi um encontro muito importante para a minha vida. É um ambiente muito agradável e democrático”. Segundo Del Nero, o total arrecadado pela campanha de doações será destinado ao suporte aos funcionários (veja no quadro a seguir como contribuir).
Para Marilia Costa Muniz, gerente administrativa do Burguesão, ainda há esperança de que o restaurante viva de novos seus melhores dias. “Entrei lá em 1992, como atendente. Dali fui para o caixa, para a parte de compras, fui auxiliar de gerente e assumi a gerência administrativa. Foi um livro pra mim, entrei lá crua, só com um curso técnico de contabilidade, e consegui administrar um restaurante. Para mim, o Burguesão é uma família, tive meus dois filhos trabalhando lá. Hoje sinto como se algo faltasse em mim. Criei muitos vínculos ali. Perdi meu marido em março para a covid-19, fiquei sem trabalho, sem suporte, até me emociono ao falar do Burguesão. Somos 18 funcionários, já fomos 31. Alguns ainda me perguntam se o restaurante vai voltar. Tomara que a gente volte a ficar juntos um dia”.
COMO COLABORAR
As contribuições para a campanha de apoio aos funcionários do Burguesão podem ser feitas por meio de depósitos na seguinte conta: Banco Itaú, agência 8189, conta 06491-1, CNPJ 28.057.115/0001-31. Envie cópia do depósito para o e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. para que o grupo de professores possa gerenciar as distribuições. O grupo sugere as seguintes faixas:
Auxílio Platina: R$ 500
Auxílio Ouro: R$ 400
Auxílio Prata: R$ 300
Auxílio Bronze: R$ 200
Auxílio Coração: até R$ 100
Auxílio Burguesão: + de R$ 500