Accessibility Tools
Na última semana, o discurso da indígena Txai Suruí na COP26, em Glasglow, na Escócia, tocou o mundo sobre a importância dos saberes tradicionais para enfrentar a crise climática. A filha do cacique Almir Suruí é a primeira integrante do povo Suruí a cursar Direito na Universidade Federal de Rondônia (Unir), e é também fundadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia. Na linha de frente do grupo, ela já liderou atos pedindo a saída do presidente Jair Bolsonaro e também denunciou o avanço da agropecuária sobre a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Em seu discurso — ela foi a única brasileira a falar na abertura da cúpula das Nações Unidas, que vai até o próximo dia 12 —, Txai enfatizou a necessidade de tomar outros caminhos, “com mudanças corajosas e globais”, para frear a crise climática que afeta de maneira devastadora as terras onde nasceu e cresceu.
“Os saberes indígenas não são só diferentes, mas são saberes que se relacionam de outra maneira com o meio ambiente e o mundo”, sustenta o professor de História do CAp-UFRJ e doutorando do Programa de História Social, João Gabriel Ascenso. “Os indígenas têm uma relação com o meio ambiente em que se reconhece a subjetividade dos elementos da natureza. Reconhecem que a natureza não são só bens para serem consumidos, não têm essa distinção de sujeito e objeto. Por reconhecer a subjetividade contida nos elementos naturais, não os destroem sem motivo. As cosmovisões desses povos representam uma alternativa à crise global que está acontecendo”, acredita João.
O desenvolvimento sustentável, uma das bandeiras do “eco-capitalismo” atual, é uma das dificuldades para a mudança, acredita o doutorando. “É possível ter um desenvolvimento sustentável? Muitas vezes o discurso parece ser: como fazer para continuar crescendo desse jeito e não destruir o mundo. A questão é que não dá. O mundo não está aguentando isso”, acredita. “Se a gente tem que crescer e produzir o tempo inteiro para economia continuar crescendo, não tem alternativa”, completa.
Para o ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes, o discurso traz a pauta da demarcação de terras indígenas. “É muito importante. O que for possível ser segurado, precisa ser segurado. E o que pode ser reflorestado, também precisa ser”, afirma o antropólogo. “Sou a favor que a humanidade pense em conjunto, que possa refletir caminhos e opções que consigam compatibilizar os povos que precisam de desenvolvimento e melhoria das condições econômicas”, diz.
Gomes não acredita que o mundo pode acabar em pouco tempo, por consequências da crise climática. “Quanto a essa história de fim do mundo, para mim é muita retórica. Acho que a Terra já foi muito devastada, temos que compatibilizar a realidade de quase oito milhões de pessoas que precisam ser alimentadas, e ao mesmo tempo num regime social que está sempre crescendo cada vez mais”, explica. “É preciso encontrar caminhos que perturbem cada vez menos a natureza”, conclui.
Txai Suruí alertou, também, sobre o assassinato de Ari Uru-Eu-Wau-Wau, seu amigo de infância encontrado morto em abril de 2020 na Linha 625 de Tarilândia, em Rondônia. “Sobre assassinatos de ativistas indígenas, isso é profundamente lamentável”, afirma o antropólogo Cesar Gordon, professor do IFCS/UFRJ. “Não é um fenômeno contemporâneo, muito pelo contrário, isso já ocorre há várias décadas, e tem muito a ver com o problema geral da impunidade brasileira”, explica. “Principalmente nas regiões mais afastadas dos centros urbanos, isto é, nas franjas da atuação do Estado brasileiro, regiões que ficam praticamente sem lei, é um fenômeno recorrente, não me parece que isso esteja ligado ao agravamento da crise”, acredita.
O DISCURSO
"Meu nome é Txai Suruí, eu tenho só 24, mas meu povo vive há pelo menos 6 mil anos na floresta Amazônica. Meu pai, o grande cacique Almir Suruí me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a Lua, o vento, os animais e as árvores.
Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo.
Uma companheira disse: vamos continuar pensando que com pomadas e analgésicos os golpes de hoje se resolvem, embora saibamos que amanhã a ferida será maior e mais profunda?
Precisamos tomar outro caminho com mudanças corajosas e globais.
Não é 2030 ou 2050, é agora!
Enquanto vocês estão fechando os olhos para a realidade, o guardião da floresta Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo de infância, foi assassinado por proteger a natureza.
Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui. Nós temos ideias para adiar o fim do mundo.
Vamos frear as emissões de promessas mentirosas e irresponsáveis; vamos acabar com a poluição das palavras vazias, e vamos lutar por um futuro e um presente habitáveis.
É necessário sempre acreditar que o sonho é possível.
Que a nossa utopia seja um futuro na Terra.
Obrigada!"
VICE-DIRETORA DA COPPE AVALIA PRIMEIROS DIAS DA CONFERÊNCIA
DivulgaçãoVice-diretora da Coppe, a professora Suzana Kahn participa da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Clima (COP26), em Glasgow, Escócia, como representante da UFRJ na Aliança Global de Universidades sobre o Clima (GAUC, da sigla em inglês) e como Diretora do Centro Brasil-China.
Já é possível registrar alguma surpresa, positiva ou negativa, nesses primeiros dias da Conferência?
Surpresa em termos de avanço com o “livro de regras” do Acordo de Paris não houve. A surpresa foi a quantidade de pessoas que compareceram à COP em Glasgow, no meio de uma pandemia, num dos países mais caros do mundo, com uma série de restrições. O que mostra o interesse do mundo em resolver a questão.
Como avalia a participação do governo brasileiro e, em especial, a meta anunciada de reduzir a emissão de gases pela metade até 2030?
Não espero nada do governo atual. Não cumpriu suas metas, que eram absolutamente factíveis. Ao contrário, aumentou sua emissão de carbono. Portanto, não acredito no que anunciam. Aliás, nem eu, nem a imprensa daqui. O país está completamente desacreditado.
O que achou do pedido de demissão do coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, Oswaldo Santos Lucon, durante a COP?
Nunca entendi como ele aceitou ficar tanto tempo! (Lucon, que é pesquisador, havia sido nomeado por Bolsonaro para o cargo em maio de 2019). (Kelvin Melo)

Na próxima semana, dia 9, irá ao ar o primeiro episódio da série Incontáveis, produzida pela Comissão da Memória e Verdade da UFRJ. A estreia vai abordar a repressão contra o mundo da educação durante a ditadura militar brasileira e será transmitida pelo canal do Fórum de Ciência e Cultura no Youtube, seguida de um debate com Dulce Pandolfi, da Universidade da Cidadania, Julia Polessa, da Faculdade de Educação, e Andréa Queiroz e Luciana Lombardo, da Comissão. Cada capítulo
abordará um tema relacionado à ditadura, tais como o racismo, a questão de gênero, os povos indígenas, os trabalhadores, o mundo da Educação e a população LGBTQIA+. “O objetivo é traduzir o conhecimento historiográfico de ponta que é produzido nas universidades em uma linguagem audiovisual, para fazer a disputa de memória e lutar contra o negacionismo”, explica Lucas Pedretti, um dos colaboradores.
Parent in Science vence prêmio internacional
O movimento brasileiro Parent in Science, criado em 2016 com o objetivo de fomentar a discussão sobre os impactos da maternidade e da paternidade na carreira acadêmica de cientistas do Brasil, foi a iniciativa vencedora do prêmio “Mulheres Inspiradoras na Ciência”, na categoria Science Outreach, pelo trabalho desenvolvido na sistematização de dados e na luta pela implantação de políticas de apoio às mães na academia. A vitória foi anunciada na quinta-feira (28) por uma das maiores editoras científicas do mundo, a britânica Nature, em uma cerimônia virtual. É a primeira vez que o prêmio é concedido a um grupo brasileiro, através de uma parceria da editora Nature com a companhia Estée Lauder. Com a premiação, o movimento ganhou US$ 40 mil, além do convite para apresentações e mentorias na empresa Estée Lauder.
Imagens: divulgaçãoO ambiente hoje inóspito e gelado da Antártica já foi palco de incêndios florestais. É o que aponta uma pesquisa liderada por cientistas brasileiros, com base na análise de vegetais fossilizados. Publicado no último dia 20 na revista norueguesa Polar Research, o artigo é o primeiro registro de paleoincêndios na ilha James Ross, localizada na Península Antártica. Os fósseis pertencem ao período Cretáceo, que ocorreu há 75 milhões de anos, e foram coletados em janeiro de 2006, em uma expedição do projeto Paleoantar. “Desde 2005, nós vamos todos os anos à Antártica, só não fomos no ano passado por conta da pandemia. Nesses anos todos, nós coletamos uma quantidade enorme de fósseis e microfósseis de troncos, folhas, animais marinhos e terrestres”, conta Juliana Sayão, professora da Seção de Museologia do Museu Nacional/UFRJ, vice-coordenadora do Paleoantar e uma das autoras do estudo.
Por meio da contínua análise desses fósseis, os paleontólogos podem recompor o ecossistema antártico do passado. “Era um cenário bem diferente de hoje em dia. A Antártica era verde, composta por florestas. E essas florestas eram banhadas por rios, que desembocavam no mar”, explica Juliana. Naquele período, também conhecido como “O Grande Fogo do Cretáceo”, as temperaturas eram mais altas que hoje em dia, devido principalmente às atividades vulcânicas em diferentes partes do planeta. “Havia ali, em James Ross, um vulcanismo, uma fonte de fogo muito ativa, que a gente encontra registrada nas rochas. Provavelmente esse vulcanismo acentuado da região provocava a faísca necessária para os incêndios”, comenta. Eventos similares, de queimadas espontâneas, já foram registrados praticamente no mundo inteiro.
TRABALHO DE CAMPO
Juliana era uma das cientistas que estava na atividade de campo em que o fóssil foi encontrado. Na ocasião, suas características semelhantes às
PARTE da equipe responsável pelo estudo em trabalho de campo na Antárticado carvão vegetal chamaram a atenção da pesquisadora. “Eu orientava uma aluna de doutorado que fazia uma análise de carvões desse período, para verificar se eles eram originários de paleoincêndios, e mostrei esses fósseis a ela”, lembra. Essa aluna era a paleontóloga Flaviana Lima, hoje professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que liderou a pesquisa. Além delas, também participaram do estudo pesquisadores da Universidade do Vale do Taquari (Univates), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Centro Paleontológico da Universidade do Contestado (Cenpaleo), de Santa Catarina, e Universidade Regional do Cariri (Urca), do Ceará.
“Quando esse material chegou nas minhas mãos, eu vi as estruturas externas e percebi que havia grandes chances dele ter sido queimado antes de fossilizar”, afirma Flaviana. O trabalho de análises microscópicas começou em 2017, e vem sendo realizado em colaboração pela equipe ao longo desses anos. Segundo ela, o material é difícil de ser encontrado porque não se parece com algum fragmento característico de planta, como um galho ou uma folha, mas se assemelha muito ao carvão utilizado em churrascos. “É preciso saber identificá-lo no campo, coisa que a Juliana soube fazer porque já conhecia os materiais que eu vinha analisando na minha tese de doutorado”, ressalta. Para que o material fosse considerado um “macro-charcoal”, ou seja, um carvão vegetal macroscópico, foi preciso identificar algumas características: o brilho, a cor preta, o traço que o carvão faz ao riscar uma superfície, e os raios da estrutura vegetal.
Na sequência, o material é separado em fragmentos e levado para o Microscópio Eletrônico de Varredura. “Aí começa a parte mais legal, que é vasculhar no microscópio”, diz Flaviana. Para confirmar a ocorrência de incêndios vegetacionais a partir daquele registro, é preciso paciência. “Para cada imagem, são necessários mais de dez minutos até obter uma boa resolução da área onde existam características suficientes para essa identificação”.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Flaviana comenta que a estrutura das paredes celulares é um importante indício para saber se aquele material foi queimado antes de ser fossilizado. “Geralmente, em uma planta viva, você encontra duas paredes celulares, separadas por uma lamela média. Quando ocorre uma queima, as duas paredes celulares se tornam uma coisa só, e a lamela média desaparece”, descreve Flaviana. Em seguida, os cientistas partem em busca de evidências que ajudem a identificar a família botânica do material analisado. A equipe conseguiu descobrir que o fóssil pertencia ao grupo de plantas denominado gimnospermas, e à família botânica chamada Araucariaceae — mesma família que inclui a espécie atual Araucaria angustifolia.
“Sabemos que era uma vegetação composta predominantemente por gimnospermas, um grupo de plantas que vem desde o Paleozoico. O que não se imaginava é que esses incêndios pudessem ocorrer com uma certa frequência”, destaca Flaviana. Até então, a maioria dos estudos relatava a presença de incêndios espontâneos durante o Cretáceo apenas no hemisfério norte.
Para Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional/UFRJ e coordenador do projeto Paleoantar, é essencial conhecer a dinâmica da Antártica para compreender as mudanças que ocorreram no Hemisfério Sul. “Essa descoberta mostra que as variações climáticas que ocorreram ao longo do tempo trazem profundas mudanças no planeta, como também em toda a biota. Isso acende um importante alerta diante das mudanças climáticas que são evidentes na atualidade”, completa. Agora, os pesquisadores do projeto procuram por novos registros de paleoincêndios em outras localidades da Antártica.
Existe prevenção para a doença que mais mata mulheres em todo o mundo. A campanha de conscientização “Outubro Rosa” possui o objetivo principal de alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e do câncer de colo uterino. No Brasil, essas campanhas acontecem desde 2002, mas foram instituídas por Lei Federal apenas em 2018. Na UFRJ, alguns setores se mobilizaram este ano para debater o tema.
O Centro de Referência para Mulheres Suely Souza de Almeida (CRM-SSA), projeto integrante do Núcleo de Estudos em Políticas Públicas em Direitos Humanos (NEPP-DH), e o Instituto de Ginecologia (IG) da UFRJ realizaram uma roda de conversa com especialistas, na última segunda-feira (25). “Câncer é uma doença superlativa, tudo que é referente é muito grande. A Organização Mundial de Saúde estima a mortandade de um para cada seis casos”, explicou o médico e professor do IG Jair Balen. É um consenso que as patologias atingem de maneira diferente as mulheres ao redor do mundo. “Nos países de alta renda, a canalização dos recursos para rastreamento e tratamento do câncer implica numa melhoria de resultados”, identificou Balen.
Débora Louzada, estudante do Serviço Social e estagiária do CRM-SSA, acredita que os determinantes
sociais influenciam diretamente o diagnóstico e o tratamento do câncer. “O adoecimento implica em vulnerabilidade social da mulher, que se agrava quando associada à precariedade das condições de vida e trabalho. Por isso, são necessárias políticas sociais específicas para seu enfrentamento”, afirmou. Entre as questões que impedem o rápido rastreamento da doença estão o processo de adoecimento versus condições de vida, o empobrecimento contínuo, a precarização das condições de trabalho e a ausência de proteção social.
Para a professora da pós-graduação do Instituto de Ginecologia, Livia Migowski, o maior impacto na prevenção do câncer de colo de útero e de mama é realmente o rastreamento adequado com busca ativa, que inclui, por exemplo, ligar para os pacientes. “Também a vacinação contra HPV e as práticas de sexo seguro são importantes”, completou. A médica, formada pela UFRJ, explicou na roda de conversa que nos países que desenvolveram uma política de rastreamento efetiva foi observada uma diminuição drástica nos casos de câncer de colo de útero. “A colpocitologia oncótica, ou exame do preventivo, mostrou ter um impacto muito grande. No Brasil, diminuímos bastante a incidência deste tipo de câncer, mas nos últimos dez anos não temos progredido”, informou.
O acesso efetivo às políticas públicas é um direito das mulheres brasileiras com câncer. “Muitos dos direitos sociais vêm de uma herança vinculada à questão trabalhista”, explicou Débora Louzada. Por exemplo, a Previdência Social pode ser ativada para auxílio-doença e aposentadoria por invalidez. No trabalho formal, é possível solicitar afastamento de até 15 dias; licença para tratamento de saúde; licença por motivo de doença em pessoa da família; saque do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e o saque do Programa de Integração Social (PIS). Para facilitar a mobilidade no transporte público, pode ser requerido o Tratamento Fora de Domicílio (TFD); Vale Social; Passe Livre Interestadual e o Riocard Especial, além do Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC) e a prioridade na tramitação de processos.
IMPACTOS NA PANDEMIA
No último ano foi observado um impacto nos diagnósticos de câncer de mama e colo uterino no país, devido à pandemia da covid-19. O tema foi tratado na roda de conversa que a Comissão Interna de Eventos da Decania do Centro de Tecnologia (CT) da UFRJ promoveu, no dia 13 de outubro. “Em abril de 2021, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) alertou que o tratamento e o reagendamento de consultas ginecológicas, em função da pandemia, geraram uma preocupante redução de diagnósticos dos cânceres de mama e colo de útero”, informou Riany Brites, enfermeira da Seção de Promoção e Prevenção em Saúde do Trabalhador da PR-4.
“Ao analisar os dados do Ministério da Saúde, nos períodos pré e pós pandemia, a entidade observou a redução de 23,4% na realização das mamografias e biópsias de colo de útero, dois dos principais exames para diagnóstico”, completou Riany. Segundo as estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), 82 mil mulheres desenvolveram essas neoplasias no último ano e 24.860 desconhecem a presença da doença.
Doutora em Enfermagem pela UFRJ e enfermeira do Inca, Iris Bazillo, a pandemia trouxe muitos desafios para quem lida com o câncer diariamente. “Primeiro, o medo e pânico de todos os profissionais, por conta das nossas pacientes que já têm o sistema imunológico debilitado. Houve também sobrecarga assistencial absurda, por uma demanda maior de atendimento, matrícula e internação”, contou. “Além de uma redução de funcionários, porque alguns adoeceram, outros foram para o trabalho remoto. Houve um momento em que determinados setores do hospital estavam funcionando apenas com 30% dos funcionários”, alertou.
A ginecologista e mastologista Cecília Pereira discorreu sobre a necessidade de fazer exames periodicamente, de maneira organizada, a partir dos 40 anos. “Todos os anos, independentemente da paciente ter ou não os sintomas”, pontuou. O autoexame não é mais recomendado como método de rastreamento. “A gente tem que incentivar a mulher a se reconhecer, se apalpar, mas ele não é mais confiável como rastreamento. A mamografia encontra lesões totalmente impalpáveis. E isso tem impacto na cura, é possível um diagnóstico precoce”, concluiu a médica.
Fotos: Fernando SouzaIndignada com o recente corte de mais de R$ 600 milhões no orçamento do CNPq, a comunidade acadêmica foi às ruas e redes de todo o país para protestar, na última terça-feira (26). Atos presenciais, debates virtuais e um tuitaço marcaram o Dia Nacional de Mobilização em Defesa da Ciência, organizado pela Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), com apoio da SBPC. No Rio, as manifestações também contaram com a participação e o apoio da AdUFRJ.
As diretoras Nedir do Espirito Santo e Eleonora Kurtenbach compareceram ao ato realizado pela manhã em frente à sede da Fiocruz, em Manguinhos, Zona Norte do Rio. “Essa mobilização vai surgindo naturalmente quando nos deparamos com um governo que toma medidas arbitrárias como as que temos assistido”, justificou a professora Nedir. “O ato foi muito importante. Dele participaram pesquisadores e vários integrantes de movimentos estudantis de pós-graduação e, inclusive, alunos de graduação, já que a pesquisa permeia toda a vida acadêmica”, observou.
Para Nedir, a participação da AdUFRJ em atos de defesa da Ciência e da Educação ajuda a mostrar aos jovens pesquisadores que o movimento docente se preocupa e atua em defesa de suas futuras carreiras como cientistas e professores. “O movimento tende a crescer. Esperamos reunir um grupo muito expressivo e que mostre, internacionalmente, o quanto os brasileiros estão contra as ações negacionistas do atual governo”, disse.
Eleonora (esq.) e Nedir no ato da Fiocruz.
Diretora da Associação de Pós-graduandos da UFRJ, Natália Trindade também avaliou as mobilizações de forma positiva. “Foi excelente. Serviu para a gente aglutinar forças”, afirmou. Natália explicou a escolha da Fiocruz como ponto de encontro dos manifestantes. “É um símbolo que unifica. Significa a defesa da vacina e de como a Fiocruz poderia ter feito mais, se houvesse maior investimento do governo”, afirmou.
À noite, na Lapa, houve projeções contra os cortesÀ noite, a criatividade deu o tom do protesto. Mensagens em defesa do CNPq e da valorização dos pós-graduandos foram projetadas no paredão da Escola de Música da UFRJ, na Lapa. A iniciativa, que contou com o financiamento da AdUFRJ, deve ser repetida em atos futuros. Já na internet, o tuitaço organizado pela ANPG colocou a tag #SOSCIÊNCIA no topo dos assuntos mais comentados do Twitter, no Brasil.