Accessibility Tools

facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

orlalompa ft zoguimaraes 4790Fotos: Zô GuimarãesRenan Fernandes

Quem chega diariamente à Cidade Universitária de carro ou de ônibus não conhece outro ângulo pouco usual da Ilha do Fundão. A vista do campus a partir da Baía de Guanabara é um privilégio dos pescadores que tiram das águas do entorno o ganha-pão de cada dia.
Na sexta-feira (6), o projeto Orla Sem Lixo organizou um evento na Prainha, aos fundos da Faculdade de Letras, que apresentou a Enseada do Fundão para a comunidade acadêmica. Além de passeios de barco, uma feira de Ciências ao ar livre mostrou todas as frentes de ação do programa. O evento fez parte das celebrações da Semana Mundial do Meio Ambiente.
O projeto, que nasceu em 2020, instalou barreiras na Prainha e no mangue da Enseada de Bom Jesus, próximo ao Parque Tecnológico. O objetivo dos projetos-piloto é a recuperação dos ecossistemas nessas duas regiões. “Aqui chega muito lixo. Nossa estimativa é de que aqui chegue uma tonelada de lixo por dia”, disse a professora Susana Vinzon, coordenadora do projeto Orla Sem Lixo.

SABERES TRADICIONAIS
A multidisciplinaridade é uma marca do trabalho desenvolvido pelos pesquisadores. “A ideia é agregar professores e grupos que tenham interesse em desenvolver pesquisas dentro dessa temática que abrange muitas áreas”, explicou Vinzon. “É um projeto orgânico que cresce em função do financiamento e do interesse de pessoas que querem investigar dentro do universo do impacto do lixo na costa”, completou.
A comunidade de pescadores também é parte fundamental do desenvolvimento do projeto. Mensalmente, os pesquisadores organizam o “Café com Orla” para ouvir as contribuições de quem tem o conhecimento prático.“Os pescadores constroem e participam de todo o processo. Eles têm a vivência e isso é essencial”, pontuou a docente.
A integração entre pessoas e saberes diferentes é o grande desafio do psicólogo Jairton da Silva, estudante de mestrado do Núcleo Interdisciplinar para o Desenvolvimento Social, envolvido no projeto desde 2021. “São grupos que, muitas vezes, não conversam”, revelou sobre o trabalho de sentar com pesquisadores de diferentes áreas e com os pescadores. “Juntar todas essas pessoas representa um avanço no pertencimento e na valorização de saberes tradicionais”.
O trabalho desempenhado pelos pesquisadores do projeto é um fio de esperança para as águas da Guanabara. “As barreiras são efetivas e as melhorias já são evidentes”, afirmou a professora Vinzon. A pescadora Ana Paula Amorim confirmou o avanço na qualidade da água na Prainha. A paraibana trabalha no entorno da Ilha do Fundão desde 2005. “Tem espécies de peixes voltando a entrar aqui”, celebrou. “Antes tínhamos que ir longe para conseguir pescar, agora a gente joga a rede por aqui mesmo e pega tainha, robalo, siri, camarão”.orlalompa ft zoguimaraes 4930ORLA SEM LIXO Para Susana Vinzon, a vivência dos pescadores é essencial no projeto
A Prainha é mais que apenas lugar de trabalho para a pescadora. Moradora da Maré, Ana Paula leva os filhos ao local nos momentos de lazer. “Não precisamos ir para longe tendo uma praia maravilhosa ao lado de casa. O que precisamos é que esse trabalho tenha continuidade para manter essas boas condições”, disse, esperançosa.
A preocupação com a saúde mental e as condições de trabalho dos pescadores está entre os temas discutidos pelos pesquisadores. “A Cidade Universitária foi construída a partir do aterro de sete ilhas onde viviam comunidades de pescadores”, apontou a professora Vinzon. “Esse é também um trabalho de resgate”, definiu.
Com o apoio da Petrobras, está em estudo a construção de uma base de apoio para os pescadores na Prainha. Será a primeira estrutura do Parque da Orla que consta no Plano Diretor 2030 da UFRJ. “O conceito é trazer a biodiversidade, o ambiente natural e soluções modernas que ajudem na conscientização das pessoas sobre a importância do meio ambiente”, explicou Susana Vinzon.
Roberto Guedes é um dos pescadores que serão beneficiados com a construção da estrutura de apoio. Morador de Belford Roxo, Roberto pesca na Prainha há 28 anos. Todo domingo, o pescador e a esposa Livânia pegam a cadelinha Pimenta e embarcam na Kombi do casal em direção ao Fundão, onde montam acampamento para trabalhar até quarta-feira. “Temos que trazer água potável, bateria para ter luz, um fogareiro para cozinhar e gelo para armazenar os peixes”, contou sobre a rotina.
Os passeios de barco fizeram sucesso com o público. Caroline Dantas, estudante de Engenharia Civil, participou do roteiro que levou os visitantes até a Ilha do Catalão, na outra extremidade da enseada. A jovem conheceu o projeto em uma ação realizada na Ilha do Governador, perto de onde mora. “É importante conhecer o entorno de onde a gente vive e estuda”. A estudante ficou impressionada com a quantidade de lixo retida pelas barreiras instaladas pelo projeto. “Sabia que a baía é poluída, mas só vendo a quantidade de lixo boiando é que se tem noção real do problema e da importância de ações como essa”, refletiu.

 

Topo