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WhatsApp Image 2023 05 17 at 19.53.43Foto: Fernando SouzaÉ possível que a atual direção do Andes e a chapa 1 tratem quase como uma hagiografia o processo eleitoral que se encerrou oficialmente na terça-feira (16), com a proclamação do resultado oficial. Mas, no mundo real, o que se viu foi uma sucessão de medidas que favoreceram a vitória do mesmo grupo que controla o Andes há mais de 20 anos. E talvez a melhor tradução desse processo seja um paradoxo. O presidente eleito da chapa 1, o professor Gustavo Seferian, não recebeu sequer um voto de sua base. Ele é da UFMG, onde os eleitores foram impedidos de votar por uma decisão da Comissão Eleitoral Central (CEC). Dirigentes do Andes e representantes da chapa 1 formam a maioria da comissão.
O veto ao voto dos docentes da UFMG foi uma das anomalias listadas pela chapa 3 — Renova Andes em recurso impetrado junto à CEC. A chapa do principal movimento de oposição à direção do sindicato nacional foi a segunda colocada no pleito, com 6.763 votos (41,36%), 295 a menos do que a chapa 1, que venceu com 7.058 votos (43,17%). A chapa 2 — Andes-SN classista e de luta teve 2.253 votos (13,78%). No recurso, a chapa 3 pediu para que fosse feita uma eleição complementar na UFMG e na UFSCAR — cujos eleitores também foram impedidos de votar — e que o resultado só fosse proclamado depois disso. O recurso foi negado pela CEC.

PROCESSO VICIADO
De acordo com o recurso da chapa 3, “o viés favorável à chapa 1 pode ser constatado no histórico de deliberações da CEC e que ao longo do processo vai se evidenciando cada vez de forma mais nítida”. A principal deliberação criticada foi o veto aos eleitores da UFMG e da UFSCAR, mas o recurso listou outras intervenções da CEC. Uma delas foi a tentativa de impugnar uma integrante da chapa 2 (a professora Danielle Dias da Costa, da UEAP), fora do prazo regimental para impugnações, sob a justificativa de que ela estaria inadimplente. Além disso, a CEC suspendeu a campanha da chapa 2 por alguns dias.
“Ocorreu uma sequência de práticas reproduzidas como o hegemonismo, a unilateralidade e a negação do contraditório para impedir a participação da chapa 2, tal como homologada”, critica a professora Marinalva Oliveira, da Faculdade de Educação da UFRJ, candidata a 3ª vice-presidenta da chapa 2. Segundo Marinalva, as comissões eleitorais do Andes sempre atuaram “dentro do princípio da razoabilidade”, como método de resolução de eventuais problemas “e não de punição”. “Desta vez, a CEC desrespeitou Regimento e Estatuto do Andes-SN ao ‘desomologar’ candidata da nossa chapa, porém manteve a homologação da chapa com 82 pessoas. Após vários recursos à CEC, o único caminho que encontramos para reparar a injustiça com a candidata foi recorrer à Justiça. E fomos vitoriosos”, diz a docente.
De acordo com a professora Eleonora Ziller, da Faculdade de Letras da UFRJ, candidata a secretária-geral da chapa 3, ficou evidenciada a intervenção da CEC a favor da chapa 1. “É muito cirúrgica a exclusão dos colégios eleitorais da APUBH (UFMG) e da ADUFSCAR do processo. Em uma eleição com diferença de 300 votos, esses colégios eleitorais excluídos de maneira arbitrária, abusiva e ilegal poderiam mudar o resultado da eleição. Foi um processo muito viciado, que culmina com a comemoração de vitória pela chapa 1 antes mesmo da promulgação do resultado. Politicamente, nós não reconhecemos o resultado. Essa atual direção sai apequenada deste processo eleitoral”, diz Eleonora.
O recurso da chapa 3 lembra que o potencial de votantes da UFMG é maior que a diferença entre as chapas 1 e 3. “Portanto, a inclusão ou exclusão da UFMG do pleito pode causar impacto sobre o resultado eleitoral, tendo a decisão pela exclusão desses docentes um vício de origem: foi tomada após a divulgação dos manifestos de apoio às chapas e por uma instância composta majoritariamente por apoiadores da chapa 1”, anota o documento.
Da mesma forma, o recurso destaca a exclusão dos eleitores da ADUFSCAR. “As chapas 1 e 3 tinham dentre seus membros colegas docentes da UFSCAR, e seus nomes foram aceitos pela CEC na homologação de suas chapas mediante comprovação de filiação (e adimplência) à ADUFSCAR. No entanto, a CEC mais adiante decidiu por maioria não atender o pedido da base local da UFSCAR para que a Regional Andes-SP organizasse ali a eleição”, registra o recurso.

PRÓXIMOS PASSOS
A coordenação do fórum Renova Andes convocou uma reunião para o próximo sábado (21) para avaliar o que fazer diante da negativa do recurso da chapa 3 por parte da CEC. Em comunicado aos integrantes do fórum, a coordenação reafirma as críticas “a uma eleição sindical onde se lançou mão de toda sorte de manipulações e manobras para garantir um resultado artificial”. E prossegue: “Não reconhecemos legitimidade em uma diretoria eleita desta forma, cuja presidência é ocupada por uma pessoa que, segundo decisão da maioria da própria Comissão Eleitoral Central, não é eleitor no pleito que venceu”.
Para a professora Erika Suruagy (UFRPE), candidata a 1ª tesoureira da chapa 3, uma eventual derrota, caso confirmada, não abaterá os integrantes do fórum Renova Andes. “Essa é a terceira eleição de que o Renova participa, e temos demonstrado um melhor desempenho a cada eleição. Perdemos em 2018 com uma diferença de 1.500 votos, que caiu para 1.400 votos em 2020. E agora perdemos por menos de 300. E isso sem considerar a exclusão da UFMG e da Federal de São Carlos, duas bases que dariam uma ampliação de votos da chapa 3”, lembra Erika. “O Renova continuará nas lutas em defesa do Serviço Público Federal, das universidades, pela nossa recomposição salarial, para enterrar de vez a PEC 32 (reforma administrativa). Vamos seguir atuando para garantir que o sindicato nacional reassuma o protagonismo que perdeu”, garante a professora.
Marinalva Oliveira avalia como positivo o desempenho da chapa 2: “Nossa campanha foi vitoriosa em muitos sentidos. Cumprimos a tarefa de defesa de um Andes autônomo e de luta, com pautas necessárias à categoria docente e ao conjunto da nossa classe. Durante o processo, também demonstramos que, em tempos de tamanho abandono da vida política, não é pelo punitivismo ou pelo silenciamento que um sindicato deve se guiar. Esse movimento continuará defendendo o Andes e se posicionando contra decisões recuadas ou que se alinham a governos, reitorias ou partidos políticos. Permanecemos no lugar de onde nunca saímos, na base, nas ruas e nas lutas”.
Presidente eleito do Andes, o professor Gustavo Seferian enalteceu a vitória de sua chapa. “Num contexto de crise nas organizações da classe trabalhadora, no Brasil e no mundo, contar com mais de 16 mil professores votantes é algo muito significativo. Os mais de sete mil votos que nos levaram à vitória expressam um sentimento de reconhecimento das lutas que vêm sendo travadas, da necessidade de que nosso sindicato siga sendo revolucionado desde as suas bases por seus anseios. Foi um processo eleitoral bastante duro, mas que expressou as diversas posições das chapas concorrentes. E a posição política da chapa 1 foi triunfante”, avalia o docente.
Gustavo também falou sobre as críticas à CEC e sobre o futuro mandato: “Houve críticas à condução do processo pela CEC. Críticas são importantes e legítimas, porque as decisões nem sempre nos contentam por completo. O problema é a deslegitimação da CEC, composta por decisão congressual, não questionada por nenhum grupo no último congresso. A CEC merece ser respeitada em suas decisões. Felizmente o processo eleitoral teve o seu desfecho com a proclamação do resultado. E somados os votos das chapas 1 e 2 temos uma manifestação contundente de nossa categoria no sentido de rechaçar um projeto político que fragilizava a autonomia e a independência do sindicato nacional para com gestores, governos e partidos. Oposição é sempre bom, desde que feita de forma leal, transparente e ética. Isso fortalece o sindicato. No seu mandato, a chapa 1 vai construir uma política para o conjunto da categoria”.
O Jornal da AdUFRJ encaminhou as críticas e questionamentos à CEC, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

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