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WhatsApp Image 2023 02 16 at 20.37.42 2Milene Gabriela

Professoras, alunas, técnicas-administrativas, terceirizadas e demais colaboradoras da universidade ganharam um canal específico para denunciar casos de violência de gênero. A UFRJ acaba de criar uma Ouvidoria da Mulher.
“A Ouvidoria da Mulher contará como um espaço de acolhimento, escuta ativa e também de orientação, ao receber essas manifestações”, esclarece a ouvidora-geral da UFRJ, Luzia Araújo, que vai acumular a nova função.
Números preocupantes impulsionaram a iniciativa. Somente no ano passado, a Ouvidoria-geral, responsável por receber todas as manifestações — dúvidas, reclamações, elogios ou denúncias na UFRJ —, registrou 44 denúncias de assédio moral e 11 de assédio sexual. Desde a divulgação neste ano, a Ouvidoria da Mulher já recebeu quatro denúncias de assédio moral.
As vítimas que procurarem o serviço estarão protegidas pelo anonimato. “A garantia do anonimato dessa manifestante é um pré-requisito para operação de qualquer canal de denúncia. Somente a partir dessa condição, o público vai se sentir seguro para nos procurar e não sofrerá nenhuma retaliação”, reitera Luzia.
“Cabe ressaltar que muitas vezes as denúncias anônimas podem não permitir a apuração completa dos fatos, seja pela insuficiência de dados ou pela não apresentação de provas sobre o fato”, completa a ouvidora. “O acesso a essas informações será restrito aos agentes públicos que estão legalmente autorizados e que têm necessidade de conhecer essa demanda para então nos ajudar nesse tratamento”, completa.
O recém-criado órgão tem uma equipe de seis mulheres e contará com o apoio do Centro de Referência para Mulheres Suely Souza de Almeida. Vinculado ao Núcleo de Políticas Públicas em Direitos Humanos (NEPP-DH), o CRM atende ao público em geral desde 2004.

CRIME NA FEDERAL DO PIAUÍ
O anúncio da nova ouvidoria, que já estava sendo estudada desde o fim do ano passado, praticamente coincidiu com a notícia do assassinato da estudante Janaína Bezerra, de 22 anos, na Universidade Federal do Piauí. A jovem foi estuprada e morta durante uma calourada no último dia 27. Thiago Mayson da Silva Barbosa, que gravou o próprio crime, mestrando em matemática, está preso, indiciado pelo estupro e feminicidio.
“É desesperador, porque a gente espera que a universidade seja um lugar seguro, seja um lugar de encontro, mas é mais uma faceta nua e crua da vida em sociedade patriarcal”, afirma Natália Trindade, representante da Associação de Pós-Graduandos da UFRJ. “Uma sociedade que desumaniza mulheres e que violenta. O caso acaba sendo alarmante para todo mundo, para todas as comunidades acadêmicas, já que a universidade não é uma ilha e ela não está fora desse espectro da sociedade.”
No primeiro semestre de 2022, aproximadamente 700 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil. Uma média de quatro mulheres por dia, de acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
“Para mim, enquanto representante da pós-graduação, a Ouvidoria da Mulher da UFRJ é uma iniciativa muito importante, porque cria um canal direto e temático para tratar dessas denúncias”, afirma Natália. A estudante espera maior divulgação do novo serviço e cobra resultados. “Quando alguém se disponibiliza a denunciar, especialmente um grupo vulnerável, há uma expectativa de resolução. Ter uma ouvidoria é muito importante, representa muito sobre a valorização que a UFRJ dá a ter mulheres nesse espaço, mas a implantação por si não basta”.

É PRECISO FAZER MAIS
É a mesma opinião de Maria Walkiria Cabral, professora adjunta de Ética Pública e de Direitos Humanos do curso de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social (GPDES). “Falta ainda a criação de protocolos de acolhimento em todos os níveis: na sala de aula, nas reuniões, nos institutos, departamentos e decanias. E como isso pode chegar na Ouvidoria da Mulher, por iniciativa da mulher, claro, mas com auxílio, apoio e acompanhamento desses ‘microambientes’, para ação mais rápida e eficiente. Assim, diminuindo os níveis de violência institucional, que ainda surgem nessa caminhada da mulher violentada”.
A professora destaca que outros projetos universitários precisam caminhar junto da Ouvidoria da Mulher para que mais pessoas tenham acesso ao serviço. “Quantas estão passando por isso? Quantas não têm ideia de que aquilo não está certo? Que se sentem culpadas, muitas vezes, e não conseguem acessar ou não sabem que a gente tem uma ouvidora, que antes de ser uma ouvidora da mulher, já era ouvidora e já estava disposta a conversar? Quantas na universidade sabem que existe o Centro de Referência para Mulheres e que podem ir lá conversar?”, questiona Walkiria.

“NÃO SE DEIXEM SILENCIAR”

A criação da Ouvidoria da Mulher foi uma das últimas portarias assinadas pela agora ex-reitora Denise Pires de Carvalho. Em sua despedida do Conselho Universitário no último dia 9, a professora foi enfática. “Quero deixar um recado para as mulheres da nossa comunidade acadêmica. Não se deixem silenciar”.
Para não silenciar, as mulheres devem entrar em contato com a recém-criada ouvidoria pelo email Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. É necessário o agendamento prévio. O atendimento será feito, presencial ou remotamente, de segunda a sexta, das 9h às 16h. O órgão conta ainda com um número de WhatsApp para orientações: (21) 99782-4462.

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