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WhatsApp Image 2022 09 11 at 14.12.49 1Por Estela Magalhães e Júlia Fernandes

Chega de andar em ônibus com vidros trepidando, fazendo barulho, poluindo o ar. O sonho de trafegar pela Cidade Universitária no silencioso MagLev, trem de levitação magnética da UFRJ, ficou um pouquinho mais próximo de se tornar realidade após um concurso realizado em parceria entre a Coppe, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e a Escola Politécnica.

Um dos pré-requisitos da disputa era a criação de nova rota ligando o Parque Tecnológico ao prédio da FAU. O trecho tem por volta de um quilômetro — contra os 200 metros da linha existente na Coppe — e funcionará como uma prova de fogo do MagLev, com o mínimo necessário para mostrar sua aplicação em qualquer lugar da cidade. “O trajeto vai permitir que a gente teste velocidades maiores e mostre o desempenho do veículo nas inclinações e em curva”, explica o professor Richard Stephan, orientador do concurso e coordenador do Projeto MagLev-Cobra.

A professora Patrícia Lassance, da FAU, coordenadora do concurso, destacou a interdisciplinaridade proporcionada pela competição. “É muito importante que os estudantes tenham essa experiência do contato com outras profissões. A cabeça do arquiteto e urbanista precisa ser multidisciplinar. A universidade é lugar de unir conhecimentos”, diz. “Os estudantes propuseram um estudo inicial das estações, assim como o design das vias elevadas. Esperamos que possamos implementar o projeto vencedor junto com professores especialistas no assunto, e estamos batalhando para isso”, completa.
WhatsApp Image 2022 09 11 at 14.14.13 1EQUIPE VENCEDORA “Caminhos Sustentáveis”pensou toda a estrutura, incluindo estações e espaços de lazer da nova rotaFormada por estudantes de graduação e pós de diferentes cursos, a equipe “Caminhos Sustentáveis” pensou toda a estrutura, incluindo estações e áreas de lazer, e venceu o concurso. “A gente tentou reduzir ao máximo o impacto ambiental do concreto. Utilizamos resíduos provenientes de construção e demolição de casas e edifícios”, explica Matheus Tinoco, doutorando em Engenharia Civil e coordenador da equipe. “Em relação à energia, utilizamos painéis solares ao longo de toda a via elevada, e também no próprio MagLev, para que ele fosse autossuficiente. Nas estações, utilizamos coletores de água da chuva para reaproveitá-la nos banheiros”, acrescenta.

O material do trem também foi pensado para ser diferente do convencional. “Como um dos quesitos da competição era trazer esses materiais inovadores, para a estrutura do veículo, resolvemos adotar um polímero reforçado com fibra de vidro, que é um material semelhante àqueles usados em aviões e em cascos de navios.”, afirma Matheus. Apesar do gasto inicial maior, é um investimento. “Como se tem menos manutenção, o custo acaba sendo menor. A gente também tem que pensar a longo prazo, fazer uma estrutura durável que não precise ficar pintando ou construindo o tempo todo”.

PREÇO COMPETITIVO
Colocar o projeto em prática é um desafio, ainda mais em tempos tão duros para a Ciência. Mas a ideia é competitiva no mercado. Segundo o professor Richard Stephan, o custo de implementação do projeto seria de R$ 50 milhões para o trecho de um quilômetro. Uma tremenda vantagem em relação ao VLT, do Centro do Rio, que custou por volta de R$ 80 milhões pela mesma distância.

WhatsApp Image 2022 09 11 at 14.14.13VOLTA EM 2023 O professor Richard (à esq.) apresenta uma parte do MagLev, que passa por reformaPresente no Plano Diretor 2030 da UFRJ, o Maglev deveria ligar a estação do BRT ao Parque Tecnológico. “Queremos concretizar essa linha, que poderá ser expandida para obedecer às diretrizes do Plano Diretor e transformará a Cidade Universitária num exemplo de cidade do futuro, colocando a Ilha do Fundão no circuito turístico da cidade do Rio de Janeiro”, explica o professor. “Que as pessoas não venham só visitar o Corcovado, mas também a Cidade Universitária”, propõe.

MAGLEV EM REFORMA
O trecho existente do MagLev foi inaugurado em 2015 e transportou mais de 20 mil pessoas. Liga os prédios do Centro de Tecnologia (CT1 ao CT2) e está paralisado desde 2020 por conta da Covid-19. Agora, a linha passa por uma reforma e voltará a funcionar em outubro de 2023, no Dia do Professor. “O veículo será automático. Não vai depender de um piloto como o antigo. Vamos mudar de um veículo artesanal para um industrial”, explica o professor Richard. Ele também poderá ser usado diariamente, e não só em demonstrações como era antes.

Técnico de manutenção do MagLev, Edeval Vieira destaca a importância desse trecho para o desenvolvimento do projeto. “Saiu do laboratório, fizemos esse trecho, agora existe o projeto para um espaço ainda maior. Essa é a evolução, e tudo começa no laboratório”, diz.

O MagLev, sigla para “Magnetic Levitation”, indica que ele funciona por meio da força magnética. Tem baixo consumo de energia, não emite gases poluentes, e é mais silencioso que os outros transportes sobre trilhos. “A roda é um símbolo de evolução humana, um verdadeiro salto, mas hoje em dia já temos coisas melhores. Todo o peso dos trens está concentrado nos pontos de contato, das rodas com os trilhos. No MagLev, o peso é distribuído ao longo do veículo, o que torna a infraestrutura mais leve e as vias elevadas mais esbeltas”, explica o professor Richard. A tecnologia de levitação magnética já é utilizada comercialmente em três países: China, Coreia do Sul e Japão. No entanto, essses projetos empregam uma técnica de levitação com forças atrativas, que exige sistemas de controle, sensores, atuadores e suporte em caso de falta de energia. A proposta do MagLev-Cobra aproveita novos materiais disponibilizados apenas na virada do século XX para o Século XXI (supercondutores e ímãs).

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