Faleceu no último dia 10 de março Maria Eloisa Guimarães, professora aposentada da Faculdade de Educação. Formada em Pedagogia pela UFMG e tendo feito o mestrado e o doutorado na PUC-Rio, entrou na UFRJ em 1984 como professora do Departamento de Administração Educacional, onde ministrou disciplinas como Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º graus e Currículo e Programas. Eloisa foi minha professora na segunda metade da década de 1980 e convivi com ela de forma mais próxima quando fui monitora daquele departamento.
Era bastante exigente e nos ensinou muito. Fazia parte de um grupo de professoras (a maior parte do corpo docente da FE à época era composta por mulheres) que marcou a nossa geração de estudantes e com as quais algumas de nós, suas ex-alunas, mantemos contato até hoje. Numa época em que o curso de Pedagogia sofria algum preconceito justamente por ser muito “feminino”, tais professoras foram um exemplo de inteligência, autonomia, independência e, sobretudo, compromisso com o trabalho acadêmico.
Professoras como Lúcia Siano, Helena Ibiapina, Sérvula Paixão, Luciane Falcão, Maria de Lourdes Fávero, entre outras, nos mostravam que o trabalho acadêmico não era uma mera “distração” para abstraírem das responsabilidades domésticas, mas sim uma escolha de vida que elas tinham feito engajando-se na vida da universidade, lecionando, desenvolvendo pesquisas, assumindo cargos de gestão.
Eloisa liderou uma pesquisa sobre a implantação dos CIEPs financiada pelo CNPq da qual participaram duas das minhas colegas daquela época: Rosita Mattos e Anna Rosa Amâncio. Tal pesquisa ocorreu logo no primeiro ano da implantação daquele projeto e seu objetivo era trazer para a reflexão acadêmica o funcionamento da escola de ensino fundamental.
Sua tese de doutorado Escola, Galeras e Narcotráfico, defendida em 1993 e publicada em livro pela editora da UFRJ em 1998, constituiu um estudo inovador para a época sobre violência urbana no cotidiano escolar e os padrões de relacionamento entre a escola pública e o meio urbano na cidade do Rio de Janeiro. Suas pesquisas sobre o tema da violência a levaram a formular, juntamente com outros pesquisadores, em 1996, a organização de cursos para a formação de delegados da Polícia Civil do Rio de Janeiro, numa época em que se começava a falar em direitos humanos.
Ana Lúcia Fernandes
Diretora da AdUFRJ