facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2022 02 04 at 17.42.22Pioneiro e líder em Astrofísica de Alta Energia e Física de Astropartículas no Brasil, o professor Ronald Cintra Shellard mobilizou uma reunião de depoimentos carregada de emoção durante o webinário promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), em parceria com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na terça-feira (1). Além da excelência acadêmica, Shellard era conhecido pelo viés humanista e comprometimento político. “É uma grande perda científica. Mas também perdemos uma liderança importante na luta pela ciência, tecnologia e inovação no país. É o sentimento geral entre a comunidade acadêmica”, avaliou o presidente da ABC, Luiz Davidovich.
“Houve uma comoção muito grande nessa partida”, lamentou a professora Débora Foguel, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ. Ela e a pesquisadora do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), Ana Tereza Vasconcelos, ambas da ABC, articularam o encontro. “Não é adequado falar em celebrar, mas gostaríamos de agradecer, na presença da Maria Elisa [viúva], a Shellard, por ter incentivado diversas gerações, impulsionado jovens cientistas, abrindo as portas para a Física”, completou, com a voz embargada.
Na história da Ciência brasileira, o físico deixou impressões digitais importantes. Dentre elas, Carlos Escobar — professor titular da Unicamp e amigo nos últimos 52 anos — escolheu destacar o engajamento de Shellard na consolidação do Observatório Pierre Auger e do Observatório de Raios Gama Southern Wield-field (SWGO). Outro legado importante para a colaboração internacional foi a ponte estabelecida com o Cherenkov Telescope Array Consortium, projeto do qual Shellard participou desde os estágios iniciais.
Ildeu Moreira, presidente de Honra da SBPC, registrou ainda os esforços do colega na divulgação científica. “Ele tinha uma visão humanista e acreditava que as pessoas tinham direito a compartilhar das descobertas científicas”, pontuou. Além de uma vasta publicação de artigos científicos, Ildeu lembrou que Shellard foi um entusiasta da aproximação entre o público jovem e a comunidade científica por meio do projeto “SBPC vai à Escola”. A iniciativa, de 1995, chegou em 2022 com a mesma vitalidade original.
Já à frente do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), desde 2015, Shellard apostou em diversas investidas, como o Mural-Grafite da Ciência, o maior grafite urbano científico do mundo, com 240 metros quadrados pintados a partir de temas relacionados à ciência, tecnologia e inovação. Até o falecimento do pesquisador, foram quase trinta anos de colaboração na instituição.
O diretor em exercício do CBPF, Márcio Albuquerque, compartilhou parte dessa trajetória. E, em sua visão, a gestão do amigo acertou em muitos aspectos. Por exemplo, em ser “sempre um entusiasta da popularização da ciência”. Contudo, as lições que mais o marcaram foram a disposição ao diálogo e o bom humor. “Ele fazia canais internos [de comunicação] que funcionavam”, disse em relação à Ouvidoria da Mulher, mais recentemente criada. “Na pandemia, ele sabia que colocar uma instituição científica nas salas [virtuais] dependia do envolvimento de todos”.

Topo