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WhatsApp Image 2022 02 04 at 17.42.23Professor Fernando CastroEstela Magalhães

Pelo menos 140 pessoas trans foram assassinadas em 2021, sendo que dessas, 135 eram mulheres trans e travestis. A expectativa de vida para pessoas trans no Brasil é de 35 anos e, no ano passado, 80 pessoas até esta idade foram mortas. Esses são os dados do dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra) publicado este ano. Apesar da queda de 20% no número de assassinatos em relação a 2020, o Brasil continua sendo o país que mais mata pessoas trans pelo 13º ano consecutivo, segundo a ONG Transgender Europe. A pesquisa também registra 79 tentativas de homicídio de homens e mulheres trans.
Diante da extrema vulnerabilidade social a qual pessoas trans e travestis estão submetidas, Fernando Castro, que foi professor substituto nos departamentos de Genética e de Microbiologia da UFRJ, propõe um debate sobre o acesso à universidade e a inclusão de cotas para essa população: “Não dá pra dizer que a gente concorre igualmente por uma vaga de graduação ou de pós-graduação, sendo que muitas pessoas são expulsas muito cedo de casa e têm que se submeter a uma série de situações para sobreviver”, explica.
É nesse sentido o trabalho recente de Fernando na Casa Nem, um centro de acolhimento para pessoas LGBTQIA+ em vulnerabilidade social. O projeto PreparaNem é um pré-vestibular gratuito oferecido para os participantes da comunidade, e é onde Fernando começou a dar aulas de Biologia: “É muito bonito ver como essa iniciativa dá esperança de que pessoas trans binárias e não binárias, travestis, intersexos, LGBTQIA+ de qualquer forma em vulnerabilidade podem e devem estar onde eles quiserem estar. Uma das aulas mais emocionantes que eu dei foi lá no Prepara”, conta.
Em seu tempo como docente na universidade, Fernando participou da criação do Comitê de Apoio à Diversidade no Instituto de Biofísica. Ele funciona como uma ouvidoria e promove palestras estimulando a pluralidade no ambiente acadêmico. “Podem ser incorporadas iniciativas para ensinar as pessoas a lidarem com a existência das pessoas trans binárias e não binárias nesses espaços. A gente vem de uma sociedade que não está pronta para lidar com as nossas existências”, explica. O professor também conta um pouco da sua história como homem trans dentro da universidade: “Fui para a Microbiologia exatamente no período que eu estava fazendo a transição dos meus documentos. Entrei com o nome antigo ainda sendo mencionado, mas ao longo do meu contrato eu consegui desenvolver essa força para me abrir perante o corpo profissional, e foi na própria Microbiologia que me assumi como homem trans”.
A professora Danieli Balbi defende um acesso universal ao ensino superior no Brasil: “É claro que a universidade reproduz sexismo, transfobia e racismo, todos os problemas da sociedade. Mas por força da complexidade de pensamento e da politização, que é um dos fatores que incide sobre a universidade como resultado da qualidade do pensamento crítico nela, alguns temas são tratados de forma muito menos violenta do que são tratados fora da universidade”, explica.
Ela conta que quando entrou para a graduação, em 2007, já se identificava no gênero feminino, mas sentia uma maior dificuldade pela baixa difusão de conhecimento sobre as formas adequadas de tratar pessoas trans. Além disso, com a onda conservadora no país a partir de 2018, a professora se sentiu mais apreensiva: “Eu, que sempre fiz questão de me marcar como mulher transexual, comecei a ter mais receios”, conta. Por outro lado, ela fala de uma mudança positiva no tratamento de pessoas LGBTQIA+ na universidade, em função dos movimentos políticos da universidade. “Cada vez mais com esses corpos e essas corpas ocupando a universidade e se afirmando enquanto pessoas trans e não binárias, a universidade vai naturalizando, no melhor sentido do termo, essas experiências como parte dela e da produção de conhecimento”, encerra.

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