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WhatsApp Image 2021 10 29 at 09.40.56O Dia de Mobilização em Defesa da Ciência, que denunciou cortes orçamentários e descaso com as políticas na área científica, realizado por entidades acadêmicas, na terça-feira (26), também enfrentou o tema do negacionismo. Presidente de Honra da SBPC e diretor do Museu da Amazônia (Musa), o físico Ennio Candotti afirmou, durante a aula magna “A importância da divulgação científica em tempos de charlatanismo”, que o ataque ao conhecimento científico atende a um projeto político e econômico antidemocrático. E que liberdade científica sem democracia é ilusão. “O poder escolhe o que é verdade, mesmo quando é mentira”, advertiu.
“Não adianta se escandalizar com a prescrição de remédios sem comprovação científica. O charlatanismo é funcional a um desejo de poder. Se Bolsonaro não fosse presidente, ninguém daria bola para as bobagens que ele diz. O problema está no grupo de poder que ele perpetua, que retira dos trabalhadores e dos mais humildes os recursos para viver e que retrocede em conquistas”, analisou o professor aposentado do Instituto de Física da UFRJ. “Não à toa a cloroquina, grande vilã da história, é fabricada pelo Exército. Qual maior demonstração de canhão contra a verdade?”, acrescentou.
Ennio Candotti defendeu a autonomia científica em relação a governos. Entretanto, ele também destacou que a postura não deve ser confundida com omissão ética. “Os direitos humanos estão no centro do nosso desafio”, considerou. Para exemplificar, destacou a distribuição desigual da vacinação no mundo. “A África tem 3% da população vacinada. A Europa, quase 60%. Os países pobres não têm direito à saúde?”, provocou, reforçando a constatação de que enquanto não estiverem todos vacinados sempre haverá risco coletivo. “Não adianta se trancar no seu prédio, fechar as portas, pois o vírus é pequeno e passa pelas frestas e se espalha”.  
Na visão do diretor do Musa, o esforço para a divulgação científica deve “não só buscar mais adeptos à Ciência” mas ainda “alavancar instrumentos para virar a Ciência a nosso favor e não contra nós”. E, nesse sentido, avaliou ele, a responsabilidade desses espaços cresceu a partir da pandemia. “É nos centros de Ciência e nos museus científicos que as pessoas vão descobrir se a cloroquina funciona ou não funciona”, justificou. “Os museus não são apenas retratos do passado, mas refletem a sociedade de hoje. Eles criam memória com registros orais e dos fatos que ocorreram nos municípios ou nas comunidades”.
Sobre o Brasil, Candotti foi cirúrgico. “Não é possível fazer ciência em uma sociedade tolhida, amarrada, tradicionalista, fechada. As três palavras: tradição, família e propriedade estão na base do charlatanismo. É preciso reconquistar o espaço histórico da Ciência para reconquistar a democracia plena no país”, concluiu.

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