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WhatsApp Image 2021 09 03 at 22.45.35SINTONIA: Davi e o músico Paulinho Moska, um dos padrinhos do projeto - Foto: divulgaçãoÉ preciso renascer das cinzas. Davi Lopes, um bombeiro que atuou no combate às chamas que incendiaram o Museu Nacional, decidiu reaproveitar madeiras dos escombros para transformá-las em instrumentos musicais. Sua realização foi acompanhada por uma equipe de filmagem, que fez dessa história um documentário para mostrar a trajetória do brigadista, que é também músico e luthier. “Na ocasião do incêndio, eu juntei todos esses sonhos e paixões de vida com a minha vontade de ajudar ao museu”, afirmou Davi, em uma live realizada pelo Museu Nacional no dia 30, para conversar sobre a história que deu origem ao documentário.
Nomeado “Fênix: O Voo de Davi”, o filme foi lançado na plataforma de streaming Globoplay na sexta-feira (2), mesma data em que o incêndio do Museu Nacional fez três anos. O amor de Davi pelo museu, no entanto, começa muito antes. “Ele faz parte da minha vida desde a infância. Eu gostava de ir para lá no dia do meu aniversário, em visitas da escola, ou quando eu pedia para meus pais”, contou o bombeiro. O carinho pelo local também foi transmitido para suas filhas, quando elas eram crianças. “No dia do incêndio, eu estava chegando em casa quando minha filha me disse que o museu estava pegando fogo. Quando eu vi o tamanho do incêndio, imediatamente fui para o quartel colocar meu uniforme e ajudar de alguma forma”, afirmou.
Davi e muitos outros bombeiros auxiliaram no combate ao incêndio até o dia seguinte. “No dia 3, o sentimento era somente de chorar pelas perdas”, disse. Contudo, foi naquele momento que Davi teve a ideia de reaproveitar as madeiras dos escombros para produzir instrumentos. “A partir do dia 4, eu comecei a ir ao museu todos os dias, carregando um violão que eu já havia feito com madeiras reaproveitadas, para observar o que seria feito com aquelas madeiras dos escombros”, completou.
Sua paixão pela música se iniciou ainda quando criança. Aos dez anos, Davi já estudava e tocava saxofone. “Quando eu entrei no Corpo de Bombeiros, por concurso em 1997, eu já era músico, apaixonado pelo violão e pelas madeiras. Ali eu comecei a perceber que tinham madeiras nos incêndios que poderiam ser reutilizadas”, lembrou Davi. Segundo ele, muitas mobílias e construções do Rio Antigo foram feitas com madeiras nobres, ótimas para a luthieria, que é a confecção, de modo artesanal, de instrumentos musicais.
“Em 2000, eu comecei a recolher e juntar essas madeiras abandonadas na rua, em incêndios e em demolições, mesmo sem saber ainda construir”, explicou. Em 2007, depois de dez anos de serviço como bombeiro, Davi tirou uma licença e foi até São Paulo para fazer um curso com o luthier Regis Bonilha, que lhe deu os primeiros ensinamentos. “Estudei também com outros luthiers, em Minas e no Rio, e fui adquirindo as técnicas com o uso daquelas madeiras que eu já vinha juntando”.
Em suas visitas diárias ao museu após o incêndio, Davi passou a tocar violão e explicar sua ideia para os guardas. Sua história se tornou conhecida pelos funcionários, até chegar a Fernanda Guedes, coordenadora de comunicação do Museu Nacional. Ela foi a responsável por abrir as portas para a ideia do bombeiro. Fernanda mediou a live, que contou também com a participação de Vinícius Dônola e Roberta Salomone, que fizeram o roteiro e a direção do filme, ao lado de João Rocha.
As madeiras resgatadas dos escombros foram utilizadas para construção de cinco instrumentos: um cavaquinho, um bandolim, um violino e dois violões. O filme mostra o processo de confecção, e a testagem desses instrumentos por parte de grandes artistas brasileiros. “Nós pegamos esses instrumentos e os levamos para um dos nossos padrinhos, o Paulinho Moska. Ele já estava encantado com a história do Davi, mas ainda não sabia da qualidade dos instrumentos”, contou Vinícius Dônola.
Segundo Roberta Salomone, Paulinho Moska e todos os outros músicos escolhidos se encantaram com a beleza e qualidade sonora dos instrumentos. São eles Paulinho da Viola (violão), Gilberto Gil (violão), Hamilton de Holanda (bandolim), Nilze Carvalho (cavaquinho) e Felipe Prazeres (violino). Os padrinhos já planejam turnês com seus respectivos “afilhados”. Inicialmente, a equipe havia pensado em leiloar os instrumentos para arrecadação de fundos, mas chegaram ao entendimento de que eles são um patrimônio do museu. “Eles serão expostos para que as pessoas possam conhecer de perto, mas não podem ficar parados, eles precisam ser tocados”, comentou Roberta. Ela acredita que os instrumentos carregarão uma forte simbologia onde quer que estejam. “Eles são representantes do museu, da arte, da nossa cultura, desse sonho do Davi e desse renascimento que está todo mundo buscando”, finalizou.

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