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Eleito no final de julho como presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), o professor Marcus Vinicius David (foto), reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) enfrenta um cenário de desafios sem precedentes. O orçamento das universidades federais para 2021 não é suficiente para que elas continuem funcionando, e com o agravante do planejamento de retomada das aulas presenciais no contexto da pandemia. A pesquisa científica é WhatsApp Image 2021 08 06 at 21.48.42alvo de um desmonte operado pelo governo federal. Além disso, o presidente Jair Bolsonaro ataca a autonomia das universidades nomeando reitores que não foram escolhidos pela consulta pública às comunidades acadêmicas. Já são mais de 20 instituições sob intervenção. Eleito reitor em 2016 e reconduzido ao cargo em 2020, Marcus David foi vice-presidente da Andifes entre 2020 e 2021. Nesta entrevista ao Jornal da AdUFRJ, o novo presidente da associação falou de seus planos.

 

Jornal da AdUFRJ — Quais são as primeiras medidas que a sua gestão pretende tomar?
Marcus David — Vamos ter que, imediatamente, debater as questões de orçamento. Em agosto, o governo fecha o Projeto de Lei Orçamentária Anual para enviar ao Congresso. O MEC tem um prazo para enviar para o Ministério da Economia, então já começamos com o tema do orçamento como emergencial. E não só o de 2022, pois ainda estamos tentando recompor algumas perdas de 2021. Vamos tentar viabilizar alguma recuperação para as universidades.

Passado esse momento imposto pelo calendário, quais serão as próximas ações da gestão?
Um tema muito forte neste momento é a retomada de atividades presenciais. É um tema muito complexo que envolve, além da avaliação do cenário epidemiológico, as medidas de adaptação que as universidades terão que adotar. E o cenário é muito diverso entre as universidades, com calendários diferentes. Algumas universidades estão conseguindo manter um calendário não muito defasado, mas há outras que ultrapassam um ano de atraso. Buscar soluções conjuntas é importante.  

Com relação ao orçamento, a Andifes pretende atuar diretamente junto ao Parlamento?
Vai ter um debate político. Primeiro sobre quais áreas do governo serão beneficiadas. Depois que tivermos uma definição do que a Educação recebe, também haverá um debate dentro da Educação para saber para quais áreas esses recursos irão. Há primeiro uma etapa no Executivo, e depois que o Executivo mandar o projeto de lei, tem a possibilidade de um trabalho no Congresso para algumas alterações.  

Estamos diante de um governo cujo comportamento com as instituições de ensino federal é conflituoso. Há espaço no Executivo para esse diálogo?
Através da Secretaria Executiva do MEC, temos mantido um diálogo bastante intenso nos últimos meses. Nessa etapa em que estávamos lutando pelo desbloqueio dos orçamentos, fazíamos reuniões sistemáticas com a Secretaria Executiva e a de Ensino Superior. O que precisamos fazer é conseguir convencer a dar prioridade aos investimentos à Educação, Ciência e Tecnologia. Se esse debate não tiver êxito dentro do Poder Executivo, aí entra o esforço no Parlamento.

Em 2019, as primeiras grandes manifestações contra o governo Bolsonaro foram provocadas por cortes nos orçamentos das universidades e institutos federais de ensino. A Andifes pretende atuar para sensibilizar a sociedade civil na defesa dessas instituições?
Nós respeitamos as diferenças de senso de atuação. A atuação dos movimentos sindicais é diferente da que a Andifes mantém, que é junto aos canais institucionais. Mas a Andifes mantém um diálogo muito aberto com as entidades, esclarecendo o tempo inteiro a situação orçamentária para que tenham clara ideia do que está ocorrendo. Esse canal de diálogo é importante para a Andifes porque são instâncias diferentes de atuação política, e as duas precisam se somar e atuar juntas.

Além da recomposição do orçamento e do debate sobre a retomada das atividades presenciais, quais são as outras prioridades da sua gestão?
Ano que vem é ano de eleições gerais, e a Andifes entende que é um importante espaço para confecção e elaboração de políticas de Educação Superior e de Ciência e Tecnologia que possam ser apresentadas para os candidatos. A ideia é que isso envolva uma ampla participação dos reitores e reitoras. Pretendemos trabalhar nessa linha para apresentar para todos os candidatos.  

Temos uma crise de financiamento muito grave na pesquisa. Há intenção da sua gestão de trabalhar para que esse orçamento seja recomposto?
Sem dúvida. Além de constar na nossa proposta de política, também temos algumas atuações específicas. Tivemos debates importantes e conseguimos aprovar uma lei que transforma o FNDCT em um fundo financeiro. Estamos trabalhando junto ao CNPq, com a SBPC, com a ABC, na linha de defender que recursos sejam aportados na pesquisa dentro das instituições universitárias e de pesquisa pública.

Há um grande debate no meio acadêmico sobre os reitores nomeados pelo governo que não foram escolhidos pelas comunidades. A Andifes pretende entrar nesse debate?
A Andifes já participa desse debate, que nos atinge diretamente, e defende alguns princípios universitários, como a autonomia e os processos democráticos e participativos dentro das instituições. A Andifes é contra toda medida que possa ir contra esses princípios, mesmo que esteja amparada em preceitos legais. Vivemos em uma realidade na qual, a partir do momento em que nomeações se dão dentro da legalidade, mesmo que ocorram fora de alguns princípios que nós defendemos, temos que lidar com isso e respeitar a legalidade dessas decisões. Naturalmente, a partir do momento em que temos reitores que foram nomeados sem que tenham vencido as eleições, os debates ficam mais acalorados dentro da Andifes.

Na semana passada, cinco reitores, todos nomeados sem terem vencido a consulta pública nas suas universidades, pediram desfiliação da Andifes. Como o senhor pretende trabalhar para unificar a associação?
Posições divergentes de dirigentes são comuns na história da Andifes. O que precisamos fazer é manter a unidade.

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