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WhatsApp Image 2021 03 19 at 17.25.561JOSÉ ROBERTO LAPA E SILVA
Faculdade de Medicina

 

A pandemia pegou a todos nós de forma radical, nos forçando a adaptações difíceis. Ainda mais para quem, como eu, é da velha guarda. Tenho 45 anos de docência. Em março de 2020, eu completei com minha turma de faculdade 52 anos de entrada na UFRJ. Meu forte hoje é a pós-graduação e a pesquisa. Mas sempre fui ativo, e sou até hoje, na graduação. E é sobre ela que vou falar. Passar do ensino presencial para o remoto foi como trocar o pneu com o carro em movimento. Entrei em isolamento no dia 12 de março, fiquei apenas uma ou duas semanas com minha turma de graduação de forma presencial. Vim com minha esposa para uma casa de praia que temos em Barra de São João (RJ), onde estamos até hoje.

A atividade de graduação no ensino da Medicina é fortemente tutorial. Sou docente de uma disciplina do sexto período, Medicina Interna 2, em que os alunos rodam pela minha especialidade, que é a Pneumologia. Ela tem que ser cara a cara, beira de leito. A parte prática é a mais importante para o treinamento dos alunos. Ela é dada na enfermaria, junto ao paciente e ao staff médico, e minha função é dar o suporte acadêmico aos alunos, ensinando a colher uma história, a fazer um exame físico, discutindo os exames, propondo a conduta para cada caso. Em tempos normais, pelo menos duas vezes por semana eu estou na enfermaria com eles. Sempre fui de sala de aula e beira de leito. Mas, sem esse contato direto, o que fizemos? Criamos um grupo de WhatsApp e passamos a conversar também via Discord, uma plataforma digital que funciona muito bem por celular, por sugestão dos próprios alunos. E uma vez por semana, entre março e junho, fizemos sessões de discussão sobre casos clínicos de várias áreas. Foi uma atividade possível sem contato com o paciente e na qual os alunos puderam aprofundar alguns conteúdos importantes, como a arquitetura das entrevistas e a natureza das doenças. Foi muito produtivo, até do ponto de vista emocional, para que os alunos não ficassem desmotivados.

Já a partir de julho, os alunos de internato, nos dois últimos anos do curso, onde as aulas são basicamente práticas, voltaram a ter atividades presenciais. E eles tinham que estar na linha de frente naquele momento, que era o pior da pandemia até então. É impossível ensinar Medicina só virtualmente. Se eles não estiverem na beira do leito, não vão aprender. Não é uma questão meramente cognitiva ou intelectual. É um treinamento emocional pelo qual eles precisam passar para exercer a profissão. Para mim, isso se traduz em uma angústia profunda. Com o cenário que temos hoje da pandemia, eu não tenho a menor ideia de quando é que vamos poder voltar de fato às aulas presenciais. E isso é extremamente angustiante, sobretudo para os alunos que estão sendo diretamente impactados pela ausência da prática.

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