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WhatsApp Image 2021 01 08 at 11.33.30Pesquisadora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva e ex-diretora da AdUFRJ, a professora Ligia Bahia propõe a criação de um fundo público para garantir a imunização de todos os brasileiros.  A ideia se espelha na Aliança da Organização Mundial da Saúde para distribuição de vacinas contra o coronavírus (Covax). E ela visa também mais transparência nas contas dos gastos públicos durante a pandemia.

Qual o objetivo de um fundo público para vacinação?
O Brasil está atrasado na vacinação e as duas frentes previstas para produção das vacinas — a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Butantan — somadas são insuficientes para as 450 milhões de doses que precisamos. A mídia está muito focada na questão do desenvolvimento das vacinas, mas pouco se fala em garantir as doses necessárias. Este é o foco do fundo.

Como funcionaria esse fundo?
A inspiração vem da Covax, programa da Organização Mundial da Saúde (OMS) para distribuição de vacinas contra o coronavírus nos países com renda baixa. A proposta é de um fundo com recursos públicos e privados. No caso do Brasil, é fundamental envolver agentes de peso como o Itaú e a Vale. É importante criar uma pressão social pela vacinação universal em um movimento que vá além da esquerda.

O recurso destinado pelo governo federal para aquisição de vacinas é insuficiente?
O que nós temos é um anúncio de uma medida provisória (MP) na casa dos R$ 20 bilhões para o Ministério da Saúde. Mas já foi sinalizado que o valor, na verdade, incluiria uma série de outras coisas como os gastos já realizados com as pesquisas. Não há muita informação sobre onde e como os gastos estão sendo feitos. Um fundo contribui também para mais transparência para essas contas, aumenta a vigilância sobre os gastos. Ele permite uma nova institucionalidade, diferente, que debata a compra de vacinas de forma mais republicana.

Qual é a sua avaliação sobre a organização para vacinação nacional em curso?
Não temos um plano nacional de vacinação. A vacinação está caminhando, como tudo durante a pandemia, de forma caótica. Temos iniciativas isoladas de governadores aqui e ali. Não temos mapas de nada. Na realidade, temos muito pouco. Hoje, temos milhões vacinados no planeta. Israel, por exemplo, vacinou 20% da sua população. Na América Latina, a Argentina, o Chile e o México já começaram a vacinação.

O governo federal aposta no peso financeiro de uma eventual compra. Ele argumenta que o Brasil é um mercado cobiçado por qualquer laboratório internacional...
Bolsonaro disse que a Pfizer deveria correr atrás do Brasil, mas não é verdade. O movimento é oposto, o momento é de alta competição pela compra. Mais: não se trata só de uma questão de dinheiro, prestígio também conta muito agora. Há um movimento global de mudança de perspectiva em relação às pandemias a partir da noção de que todos são afetados. A vacina contra o ebola foi desenvolvida pelos Estados Unidos. Enquanto isso, o Brasil tem se movido em sentido inverso e hoje se posiciona ao lado de países contrários à quebra de patente, por exemplo.

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