Professora emérita da UFRJ e integrante da Academia Brasileira de Letras, a escritora e pesquisadora Heloisa Teixeira faleceu nesta sexta-feira (28), aos 85 anos. Com vasta produção acadêmica, Heloisa era reconhecida como uma das maiores pensadoras do feminismo brasileiro, e seus estudos nos campos das Letras e da Comunicação são referências nos cursos de graduação e pós-graduação. Nos últimos tempos, a professora dirigia o Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC-Letras/UFRJ), onde coordenava o Laboratório de Tecnologias Sociais, do projeto Universidade das Quebradas, e o Fórum M, espaço de debates sobre a questão da mulher na universidade.
“Que tristeza. Agora a saudade vai invadir as Quebradas”, lamentou o professor Fernando Santoro, diretor do IFCS, ao saber da morte de Heloisa. Criada em 2009, a Universidade das Quebradas (UQ), projeto abraçado por Heloisa, é um laboratório de tecnologia social tem mais de 800 participantes e se baseia na troca de saberes entre as comunidades, que produzem cultura fora das universidades, e a comunidade acadêmica. Entre suas múltiplas atividades, Heloisa tinha especial atenção à cultura produzida nas periferias das grandes cidades.
A professora Lilia Schwarcz, pesquisadora da USP, falou com saudade da amiga. “Acaba de nos deixar a querida Helô Teixeira. Ela deve estar agitando essa outra dimensão em que hoje está. E dando uma série de ideias para revolucionar tudo o que encontrar. Pois Helô era assim, uma pessoa sempre à frente do seu tempo. Uma visionária, uma revolucionária. Era também uma mulher inclusiva e plural. Foi ela que me ensinou a ser feminista, a querer sempre mais e a não me acomodar. Numa nota pessoal, preciso dizer que ela me inventou como pesquisadora acadêmica, nos idos de 1988. Inventou que cobriria as manifestações sobre o centenário da abolição em São Paulo. Ela era assim. Um furacão de conteúdo e ativismo”, contou Lilia.
Secretária municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio, a professora Tatiana Roque também lembrou o papel de Heloísa como desbravadora de caminhos. “Uma intelectual insubstituível que soube, como ninguém, levar a universidade para as quebradas, como ela gostava de dizer, e criou essa iniciativa linda: a Universidade das Quebradas. Heloisa entendia que o maior potencial que nós temos na universidade são as pessoas que vêm de diferentes territórios e que conseguem, nessas conexões de pensamento, criar o novo. E ela sempre incentivou e apoiou de todas as formas possíveis”, disse Tatiana.
Ex-aluna doutorado e colega de Heloisa na Escola de Comunicação da UFRJ, a pró-reitora de Extensão, professora Ivana Bentes, pontuou que a pesquisadora inovou também em termos de linguagem: “Te agradeço por todas as portas abertas, todas as vezes que viu e parou para ouvir tudo que emerge e se move. Com você aprendi que a pesquisa pode ser desengessada, ágil e falar a linguagem de todos. Um ensaísmo pop que nos liberta do academicês e nos autoriza a pensar sem amarras. Um privilégio ter sido tua contemporânea, estar nesse mesmo tempo que conecta muitas gerações e mundos!”.
Ivana destacou a importância de Heloisa na conexão entre as periferias e a universidade. “Heloisa criou e participou da Universidade das Quebradas, um programa de extensão na UFRJ que trouxe a produção cultural e de pensamento das periferias para o diálogo acadêmico. Mostrando quanto a extensão universitária pode impactar na vida da cidade e da produção de conhecimento”.
Paulista de Ribeirão Preto, Heloisa nasceu em 26 de julho de 1939, graduou-se em Letras Clássicas pela PUC-Rio em 1961, e foi admitida como professora da UFRJ em 1965. Tornou-se titular da instituição em 1969. Fez mestrado e doutorado em Literatura Brasileira na UFRJ, e pós-doutorado em Sociologia da Cultura na Universidade de Columbia, em Nova York.
Em 2023, mesmo ano em que foi eleita para ocupar a 30ª cadeira da Academia Brasileira de Letras (ABL), sucedendo Nélida Piñon, Heloisa tomou a decisão de trocar o sobrenome que herdara de seu primeiro companheiro, o advogado e galerista Lula Buarque de Hollanda, já falecido, pelo sobrenome materno: Heloisa Teixeira