Fotos: Renan FernandesRenan Fernandes
Problemas crônicos de infraestrutura e limitação orçamentária voltaram a dar as caras esta semana no Centro de Ciências da Saúde e no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Foram dias de suspensão de atividades por falta de profissionais de limpeza, de reivindicação de estudantes por melhores condições de estudo, além do susto provocado por um estrondoso incidente. Os episódios representam um impacto direto no ensino, na pesquisa e no atendimento à comunidade. A repercussão negativa nos veículos de imprensa e nas redes sociais ainda contribuem no processo de dilapidação da imagem da universidade junto à sociedade.
A Faculdade de Odontologia precisou fechar as portas quando se viu sem trabalhadores terceirizados para garantir a limpeza de banheiros, laboratórios e consultórios. O problema é reflexo da falta de pagamento dos funcionários da empresa Ágil, que notificou a UFRJ sobre a incapacidade de manter o contrato por ausência de repasses de diversos contratantes.
No Hospital Universitário, dois episódios chamaram atenção. Primeiro, na semana em que a cidade registrou temperaturas na casa dos 44°C, estudantes de Medicina divulgaram carta aberta clamando por soluções para o desconforto climático no interior do HU. Dias depois, uma operação de descida de um elevador em reforma provocou um incidente que assustou quem estava no hospital na manhã de quarta-feira.
A reportagem do Jornal da AdUFRJ ouviu docentes, técnicos e estudantes envolvidos para entender cada caso.
ODONTOLOGIA FECHADA DURANTE DEZ DIAS
A crise no pagamento de salários e benefícios dos trabalhadores terceirizados da limpeza do CCS — noticiada na edição retrasada do Jornal da AdUFRJ — causou o fechamento da Faculdade de Odontologia durante dez dias. As aulas do Período Letivo Especial (PLE) da graduação, programas de pós e o atendimento clínico e cirúrgico de pacientes estavam interrompidos desde o dia 10 e só foram retomados na sexta-feira, 21.
“A interrupção afetou pesquisas clínicas e laboratoriais e pode causar atrasos na finalização de dissertações e teses”, afirmou a professora Aline Neves, diretora adjunta de pós-graduação da faculdade.
A decisão sobre o fechamento da unidade foi tomada depois que os nove funcionários responsáveis pela limpeza do prédio não receberam pagamento. “Temos atividades clínicas que demandam grande atenção à limpeza e biossegurança e não temos como oferecer isso sem a equipe responsável”, disse o professor Elson Braga, diretor da unidade.
A empresa Ágil comunicou à UFRJ no final de janeiro sobre a incapacidade de dar continuidade ao contrato de prestação de serviço assinado em dezembro. Os terceirizados ficaram sem o salário de janeiro, benefícios e o adicional de insalubridade.
A universidade precisou assumir os vencimentos dos trabalhadores. Em paralelo, a Pró-reitoria de Gestão e Governança (PR-6) deu início a um processo de contratação emergencial, convocando outras empresas classificadas na licitação para apresentarem novas propostas.
“Esse é o maior contrato de limpeza da UFRJ. São mais de R$ 9 milhões, 163 trabalhadores. Não é simples fazer um novo contrato desse porte tão rápido”, explicou Daniele Delgado, superintendente-geral PR-6.
A ordem de pagamento aos trabalhadores foi emitida pela reitoria na quarta-feira, 19. Com a expectativa de retorno dos profissionais, a Faculdade de Odontologia emitiu uma portaria revogando a suspensão das atividades.
ALUNOS DA MEDICINA RECLAMA DO CALOR
O Centro Acadêmico Carlos Chagas, que representa os estudantes de Medicina da UFRJ, expôs em carta aberta um velho problema do Hospital Universitário Clementino Fraga FIlho: o calor nos corredores, auditórios, ambulatórios e enfermarias. O documento, divulgado nas redes sociais no último domingo, 16, denuncia a falta de climatização adequada que afeta a saúde e compromete a qualidade da formação médica.
Na quarta-feira, 19, terceiro dia consecutivo com alerta de calor vigente na cidade do Rio, a máxima prevista de 38 °C já indicava mais um dia de sofrimento. “Os auditórios do décimo andar estão sem ar e fica um calor absurdo. Alguns alunos passam mal e precisam deixar as aulas para se recuperar”, afirmou a estudante Ana Beatriz Rosa, do sexto período.
A reivindicação dos estudantes já deu resultados. “Hoje, tive aulas transferidas para locais com ar no 12º andar e para o Núcleo de Enfrentamento e Estudos de Doenças Infecciosas Emergentes e Reemergentes (Needier)”, relatou Ana.
A administração do hospital informou estar empenhada para resolver o problema. “Medidas já estão sendo tomadas para redistribuição das aulas dos Anfiteatros para outras salas e estamos em contato com a Faculdade de Medicina para solucionar a questão”, disse o superintendente geral da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) na UFRJ, Amâncio Paulino de Carvalho.
A assessoria de comunicação da Ebserh informou que a ampliação da climatização depende de adequações na carga elétrica do prédio e que já existe uma equipe de projetos contratada em atuação para a reforma da parte elétrica. Desde a adesão da UFRJ à Ebserh, está previsto um investimento em infraestrutura de aproximadamente R$ 115 milhões nas três unidades geridas (HU, IPPMG e Maternidade Escola), pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
ELEVADOR QUE CAIU ESTAVA EM REFORMA
Manhã de susto, dia 19, no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Um elevador que passa por reforma caiu durante a manobra de descida. A queda de cerca de três metros, do primeiro andar ao subsolo, ocorreu por um problema no sistema de frenagem. Não houve feridos.
A queda provocou um estrondo e uma nuvem de poeira nos arredores do poço do elevador. “Esses elevadores estão interditados há pelo menos cinco anos. Por segurança, a área já estava isolada com tapumes”, afirmou o engenheiro mecânico do Complexo Hospitalar da UFRJ, Jefferson Rios.
“O elevador estava sendo baixado da casa de máquinas, no 13º andar, até o subsolo, para os técnicos concluírem o desmonte”, explicou Rios. O engenheiro estima que o chassi pesava em torno de uma tonelada e meia.
A administração do HU se reunirá com o engenheiro da empresa responsável pela reforma para discutir estratégias para evitar novos incidentes.
A obra é parte da modernização de quatro elevadores iniciada em janeiro e com previsão de entrega para o fim de 2026.