WhatsApp Image 2024 12 16 at 16.30.43 4Foto: Renan FernandesRenan Fernandes

A sétima edição do Encontro Brasileiro de Integridade em Pesquisa, Ética na Ciência e Publicações (Brispe, na sigla em inglês) debateu as possibilidades de uso das novas tecnologias de inteligência artificial na produção científica. Pesquisadores participaram de debates e apresentações sobre o tema “Integridade científica e inteligência artificial generativa: novas formas de fazer e comunicar a pesquisa”. O evento aconteceu entre os dias 5 e 6 de dezembro no auditório da Coppe, no CT2.
“Nosso foco esse ano é na IA generativa”, disse o professor Renan Moritz, do programa de Engenharia Biomédica da Coppe, presidente da organização do encontro. “A maior parte das pessoas não sabe se está utilizando essas ferramentas de uma maneira correta ou de forma contraprodutiva. Não usar uma tecnologia tão revolucionária corretamente é um desperdício”, completa.
O docente defendeu a criação de uma cultura de integridade da pesquisa no Brasil. “Nosso objetivo é contribuir para que as pesquisas sejam feitas com qualidade e ética, ou seja, fazer a pesquisa bem feita, com bons métodos, e boas intenções, semcometer falhas graves como o plágio e afins”, pondera Moritz.
Com mais de 200 inscrições, o evento contou com a participação de pesquisadores de todo o Brasil e também de outros países. O professor emérito da Universidade Livre de Amsterdã, Lex Bouter, fez parte do conselho consultivo do evento. O pesquisador é especialista em metodologia e integridade de pesquisa. “Esse congresso é muito importante porque mostra que as pessoas no Brasil estão preocupadas com a qualidade do trabalho de pesquisa desenvolvido aqui”, afirma.
O professor falou sobre as oportunidades abertas pela inteligência artificial no campo da pesquisa científica. “A tecnologia é uma oportunidade com lados bons e ruins. Novas oportunidades de trapacear e novas oportunidades de fazer melhor nosso trabalho.”
Dois anos após o lançamento do ChatGPT, a experiência de pesquisadores em todo o mundo com a tecnologia já aponta para pontos de convergência. “Precisamos aprender a lidar com isso, sem mudar os princípios e os padrões de integridade da pesquisa”. Para Bouter, o pesquisador nunca pode abrir mão da autoria do seu trabalho. “Devemos ser responsáveis como humanos. Se a IA cometer um erro e o pesquisador endossar esse erro, ele é o responsável e não a tecnologia”, completa.

CATALISADOR
O professor Moritz celebrou o sucesso do encontro e os resultados que podem ser semeados a partir das discussões. “Esse evento é um catalisador. As pessoas vêm para cá, contribuem e aprendem em discussões, e depois retornam para suas instituições com noções que passarão para seus colegas e alunos”
Uma das pesquisadoras que vieram de longe para o evento foi Elisabete Tomo Kowata, doutoranda do programa de Recursos Naturais do Cerrado da Universidade Estadual de Goiás. A cientista apresentou sua pesquisa sobre revistas predatórias e IA na sessão de pôsteres do encontro e avaliou bem a experiência. “É uma grande visibilidade para a pesquisa e uma oportunidade de trocar ideias. Recebi alguns feedbacks que vou levar para minha orientadora”, diz confiante na evolução da pesquisa.
O encontro reuniu pesquisadores de diferentes campos do saber. Mariana Ribeiro, pós-doutoranda do Instituto Nacional do Câncer, atua no desenvolvimento da linha de integridade científica dentro do INCA. A pesquisadora apresentou projetos educativos implementados nos cursos de pós-graduação do instituto. “Concluímos agora a primeira disciplina sobre integridade de pesquisa com foco em IA que se tornou obrigatória para todos os alunos”, conta Mariana.
Para o professor Leonardo Fuks, da Escola de Música, a experiência de estar em contato com cientistas de diferentes campos de pesquisa e lugares do Brasil e do mundo foi especial. Fuks atuou como avaliador das apresentações orais do congresso. “Sentei ao lado de uma professora que é filósofa da área de ciências biológicas. Do outro lado, um pesquisador referência no campo da computação. Não há nenhuma área da pesquisa que fique alheia a essas questões de integridade e ética”, avaliou.

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