As mudanças climáticas foram o tema da 13ª Semana de Integração Acadêmica (Siac) da UFRJ, realizada de 25 a 29 de novembro. Foram apresentados 6.495 trabalhos de todos os campos do conhecimento na edição deste ano. Oficinas, minicursos e conferências completaram a programação voltada para a comunidade acadêmica e público externo.
A falta d’água que atingiu unidades da UFRJ por dois dias não impediu a realização das atividades. Os estudantes mostraram com louvor os resultados de suas pesquisas nos campi do Fundão, Praia Vermelha, Caxias e Macaé. O desabastecimento foi provocado pela manutenção do Sistema Guandu e impactou o Rio de Janeiro e a Baixada Fluminense.
Gustavo Makhoul, por exemplo, estuda uma doença negligenciada chamada Crypto Coccus Deuterogatti. Mais conhecida como doença do pombo, ela causa graves implicações à saúde – como pneumonias e meningite. Não há tratamento específico e as complicações podem levar o paciente à morte. “A gente estuda a evolução e meios de combater a enfermidade. Ninguém fala sobre essa doença, então é muito importante o papel da UFRJ de buscar tratamentos adequados à população atingida por essa e outras doenças negligenciadas”, disse.
Para Bárbara Calderano, o ponto mais forte da UFRJ é a possibilidade de aprofundar suas investigações e interagir com pesquisadores de renome. “A universidade nos oferece essa troca contínua. É ótimo participar da Siac e conversar com outros estudantes, professores ou pós-graduandos sobre a pesquisa, ouvir suas sugestões, abrir novos caminhos de estudo”, conta. “Muitas vezes, quando temos dúvida sobre algum artigo, a gente consegue tirar essa dúvida com o próprio autor. Isso enriquece bastante a nossa formação”.
Paula de Paiva completa: “A Siac é a concretização de tudo aquilo que a gente faz no laboratório. É muito gratificante poder mostrar o resultado daquilo que a gente estuda”, diz. A aluna tem planos para o futuro e vê a Semana como oportunidade. “É importante ser avaliada não só pelos meus professores, mas por outras pessoas. É um treinamento para a pós-graduação”.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
A conferência inicial discutiu os desafios impostos pelas mudanças climáticas para o Sul Global (o termo designa os países em desenvolvimento localizados na América Latina, África e Ásia). “O ano de 2024 está caminhando para ser o mais quente observado desde o período pré-industrial”, destacou a professora Renata Libonati, do Instituto de Geociências. A velocidade das mudanças climáticas e seus impactos foram tema de sua apresentação. “A gente já ultrapassou 1,5°C acima da média normal do nosso planeta”.
Segundo a pesquisadora, ainda há margem para mitigação, mas é necessário agir agora. “Um grau e meio acima da média em um único ano nos emite um alerta importante. O planeta irá continuar, mas somos nós, humanos, que não iremos aguentar”, afirmou. “O aquecimento global aumenta a incidência de eventos extremos, como ondas de calor, secas e tempestades. A população mais vulnerável a esses eventos é a que está localizada nos países do Sul Global”, explicou.
O calor, para a Renata Libonati, tem o mesmo efeito das conhecidas doenças negligenciadas: ele mata silenciosamente. “Analisamos 14 metrópoles no país nos últimos 20 anos e houve 50 mil mortes relacionadas a ondas de calor. Esse número é 20 vezes maior do que o de mortes por deslizamento de terra no mesmo período e não há ainda protocolos de adaptação e enfrentamento a ondas de calor no Brasil”, advertiu a professora. A pesquisa da docente apontou que os grupos em maior risco são mulheres e idosos negros, de baixa escolaridade e economicamente vulneráveis.
ABERTURA
Pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa, o professor João Torres representou o reitor Roberto Medronho e festejou a realização de mais esta edição do evento. “A Semana de Integração Acadêmica me emociona muito. É nesse evento que eu vejo a universidade florescer, mesmo em meio a tantas adversidades que nós enfrentamos”, afirmou. “Mesmo diante das dificuldades, a universidade resiste, como um mandacaru no sertão”, comparou. “A Siac é um momento de exuberância. Estudantes, servidores e professores mostram a força da arte, da ciência e do conhecimento”, disse.
O docente apresentou outros números que reforçam a grandeza da Siac. “Temos 3.059 docentes envolvidos, 8.475 estudantes de graduação, 1.569 de pós-graduação, 89 do ensino médio, 388 técnicos-administrativos, 539 pessoas de outras instituições”, revelou. “Ao todo, são mais de 14 mil pessoas envolvidas com a Siac, o nosso exuberante mandacaru, que floresce em meio às adversidades”.
“Eu diria que o nosso mandacaru está florescendo sem a chuva”, completou a Pró-reitora de Extensão, professora Ivana Bentes. “Ou seja: sem orçamento, com déficit orçamentário gigante e a sociedade brasileira precisa saber disso”, reforçou. Ela elogiou a crescente articulação pedagógica entre a pesquisa e a extensão na universidade. “Quando esse trabalho acontece, potencializa o impacto das ações universitárias nos territórios”, destacou.