Kelvin Melo e Renan Fernandes
A crise da UFRJ parece não ter fim. Menos de uma semana após os cortes de luz e água que atingiram instalações do Museu Nacional, da Praia Vermelha e do Fundão, as aulas foram suspensas no IFCS-IH por problemas na rede hidráulica (leia mais abaixo). A falta de orçamento para o funcionamento básico e a recuperação da precária infraestrutura da instituição desafia cada vez mais o cotidiano de milhares de professores, técnicos e estudantes.
“Estamos fazendo de tudo para não fechar. Estamos lutando para trabalhar, para produzir, para formar cidadãos. O servidor público precisa ser valorizado. Estamos ajudando a reconstruir este país. Esperamos o reconhecimento das autoridades ao nosso trabalho”, disse o reitor Roberto Medronho.
“Aguardamos suplementação orçamentária para não passar mais por este constrangimento. Nós não pagamos não por que não queremos; não pagamos porque não temos a verba. Por outro lado, o MEC também tem restrições orçamentárias. Mas precisamos priorizar educação e saúde”, completou o dirigente.
A última solicitação da administração superior ao ministério totaliza R$ 50 milhões para colocar em dia os débitos com as concessionárias Light e Águas do Rio: seriam R$ 35 milhões para energia e R$ 15 milhões para a água. Por enquanto, só chegou R$ 1,5 milhão.
Na segunda-feira (18), representantes da reitoria e do MEC realizaram uma reunião remota para discutir a crise. As conversas terão continuidade em Brasília, provavelmente na próxima semana. A ideia é mostrar que muitos dos recursos recebidos pela instituição são “carimbados”, ou seja, destinados para finalidades específicas e que não podem ser redirecionados para o pagamento de contas do dia a dia.
Em aula pública organizada em 13 de novembro, essas limitações foram apresentadas à comunidade e à mídia em geral. Despesas anuais relativas ao funcionamento mínimo da universidade giram em torno de R$ 500 milhões, diante de um orçamento de apenas R$ 308 milhões.
Para além dos serviços das concessionárias, os demais contratos também estão em risco, informa a pró-reitoria de Finanças. A situação independe dos 90 dias durante os quais as empresas deveriam continuar oferecendo seus serviços, mesmo sem os repasses da universidade, de acordo com a legislação federal. “O prazo é irrelevante, porque as empresas não conseguem sustentar os serviços, na prática”, afirma o pró-reitor Helios Malebranche.
OS CORTES
A energia começou a ser interrompida na editora da universidade, no campus da Praia Vermelha, às 14h de 12 de novembro. Os cortes de água foram iniciados no prédio da reitoria, na manhã de 13 de novembro. Ambos os serviços só foram normalizados às 21h30 de 14 de novembro, informa o prefeito Marcos Maldonado. “Foi a maior crise que enfrentei aqui nos meus cinco anos e meio à frente da Prefeitura Universitária”, disse.
Em uma das unidades atingidas, o Edifício Jorge Machado Moreira — sede da decania do Centro de Letras e Artes, da EBA, da FAU e do IPPUR —, o corte de energia poderia ter causado um prejuízo ainda maior que a suspensão das atividades acadêmicas e administrativas.
“Graças a um lençol freático na área, o subsolo precisa ser frequentemente drenado”, explica o decano Afranio Barbosa. Só que um dos geradores que alimentam as bombas d’água precisou de manutenção justamente no segundo dia da falta de luz, quando choveu bastante na cidade. “Ficamos no limite”, completou o decano.
“A sala onde fica o gerador de energia para as bombas d’água é no subsolo. Quando elas não dão vazão, a água danifica o próprio gerador, o que leva à inundação da casa de força, também no subsolo, podendo queimar dois transformadores”, informou o docente.
PROJETO DE LEI
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) apresentou na última quinta-feira (21) um projeto de lei para impedir que concessionárias de serviços essenciais interrompam o fornecimento por falta de pagamento em hospitais e laboratórios de pesquisa científica com seres vivos. O texto de justificativa do PL cita o caso da UFRJ com a Light.