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jersonFoto: LÉCIO A. RAMOS / FAPERJA comunidade científica do Rio de Janeiro reagiu de forma rápida e contundente à notícia da exoneração do pesquisador Jerson Lima da presidência da Faperj. Mas não bastaram os apelos, atos públicos, audiências, tuitaços e reuniões convocadas pelos cientistas. O governador Cláudio Castro publicou a troca no comando da Fundação na última quinta-feira (7). Sai o professor da UFRJ e pesquisador 1A do CNPq, reconhecido internacionalmente por suas pesquisas sobre o câncer; entra a pedagoga Caroline Alves da Costa, até então presidente da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec).
A oficialização das trocas no Diário Oficial ocorreu depois de uma reunião entre o governador Cláudio Castro e representantes da comunidade científica. Na ocasião, Castro ouviu os argumentos dos pesquisadores, se comprometeu a manter todos os editais de fomento da Faperj, mas avisou que nomearia Caroline.
No encontro, que aconteceu na tarde de quarta-feira (6), o governador informou, ainda, que irá apoiar o Projeto de Lei 4328/2024, da deputada estadual Dani Balbi (PCdoB). O texto prevê que a presidência da Faperj tenha um mandato e que a escolha passe pelo Conselho Superior da instituição. Uma lista tríplice deverá ser encaminhada ao governador, que ficará delimitado aos nomes indicados pela comunidade científica.
“É uma forma de protegermos a fundação, para que ela não se torne instrumento de acordos políticos espúrios, que em nada contribuem para o desenvolvimento científico e tecnológico do nosso estado”, declarou a autora do projeto, durante audiência pública na Alerj, na semana passada. O texto ainda depende de tramitação e aprovação na Alerj.
Caroline foi a segunda opção do secretário de Ciência e Tecnologia do estado, Anderson Moraes, do PL, para presidir a Faperj. Antes da Faetec, a pedagoga ocupou por um ano e meio a vice-presidência de Educação a Distância da Fundação Cecierj, até janeiro de 2023.
Em seu lugar, na Faetec, assume o bolsonarista Alexandre Valle, candidato do PL derrotado quatro vezes nas eleições municipais de Itaguaí. Valle não tem ensino superior, mas tinha sido a primeira indicação do secretário de C&T. A grita da comunidade científica e a rejeição do próprio compliance do governador afastaram Valle da Faperj.
“Essa é uma troca muito ruim para nós”, afirmou a professora Ligia Bahia, conselheira da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no Rio de Janeiro. A docente defende manter a mobilização para acompanhar os próximos passos da nova presidência da instituição e também do governador. “Nós nos mobilizamos para tentar evitar uma crise, que é iminente pela distância que há entre a pessoa nomeada e o mundo da pesquisa”, explicou. “Agora deveremos acompanhar os desdobramentos dessa nomeação e a própria crise na qual se encontra o governador Cláudio Castro, ameaçado de prisão”.
Natália Trindade, diretora da Associação Nacional de Pós-Graduandos, também lamenta o descaso de Castro com os cientistas. “O governador tomou uma decisão. Nos resta seguir organizados”, disse. “Não é a primeira vez que se partidariza uma agência de fomento. Nosso papel é apresentar para toda a sociedade quem de fato tem compromisso com a ciência e quem não tem”, avaliou. “Nossa luta agora é pela aprovação da lista tríplice na Alerj, que tem maioria do governo. Eles terão uma segunda chance para mostrar se estão a favor ou contra a comunidade científica”.
A AdUFRJ participou ativamente das mobilizações em defesa da Faperj e também critica a escolha de Castro. “A diretoria da AdUFRJ lamenta que o governador tenha desconsiderado a comunidade científica do Rio de Janeiro”, declarou a professora Mayra Goulart, presidenta da seção sindical. “Os pesquisadores seguirão vigilantes para que a Fundação mantenha-se alinhada aos princípios republicanos que balizam a pesquisa e a inovação no estado”. afirmou.
O gabinete do governador e a Secretaria de Ciência e Tecnologia não retornaram às tentativas de contato da reportagem.
O professor Jerson Lima foi procurado pelo Jornal da AdUFRJ para comentar a exoneração e os planos futuros, mas preferiu se manifestar por carta. Leia a íntegra abaixo.

CARTA DE DESPEDIDA DO PROFESSOR JERSON

Chegou o momento de despedida, e gostaria de compartilhar uma mensagem detalhada sobre as experiências vividas nos últimos anos. São muitos os agradecimentos que desejo fazer, mas, diante da limitação deste espaço, expresso em poucas palavras tudo o que vivi e o quanto sou grato.
O sucesso da FAPERJ não seria possível sem a maior riqueza deste estado: seus cientistas, inovadores, criadores e empreendedores de todas as áreas — das ciências exatas à cultura —, de todos os gêneros e cores. Nos últimos cinco anos, a ciência e a inovação no estado cresceram graças a milhares desses atores, desde pesquisadores sêniores a juniores, incluindo pós-doutorandos, doutores Nota 10, dedicados pós-graduandos e alunos de iniciação científica e empreendedores.
Minha gratidão também vai aos governadores Claudio Castro e Wilson Witzel, pelo apoio e confiança depositada em mim e em minha equipe ao longo de quase seis anos, e por seguirem a determinação da constituição estadual, liberando integralmente os recursos para a Ciência, Tecnologia e Inovação. Trabalhamos arduamente — presidente, diretores, funcionários e assessores da FAPERJ —, e sempre afirmei que essa foi a decisão política mais importante do governo. A FAPERJ é uma agência de estado que deve se manter conectada às necessidades regionais. Durante esses anos, a FAPERJ alcançou destaque nacional e internacional, tornando-se a segunda maior agência estadual de fomento do país.
Agradeço também ao Deputado Dr. Serginho, com quem compartilhei a presidência sob sua Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação. Sua gestão como Secretário garantiu a autonomia necessária para que o Conselho de Diretores e o Conselho Superior conduzisse os programas das diretorias científica e tecnológica. Não posso deixar de agradecer aos demais Secretários com quem trabalhei durante esse período: Leonardo Rodrigues, que me convidou em 2018, junto com o Governador Witzel, para liderar a FAPERJ; professora Maria Isabel; João Carrillo; Mauro Azevedo; e Anderson Moraes.
Fazer da FAPERJ um expoente no fomento à ciência e à inovação no estado só foi possível graças a uma equipe excepcional de diretores, cientistas assessores, colaboradores e, principalmente, um grupo de funcionários altamente comprometidos com a missão da Fundação. A lista de agradecimentos é extensa e ocuparia muitas páginas, mas não posso deixar de mencionar os diretores Eliete, Maurício, Aquilino, Maria Cláudia, Denise e os assessores Consuelo, Vânia, Vitor, André, Caio, Egberto, Luciana, Liana, Patrícias, Claudia e Letícia. Agradeço especialmente às minhas secretárias, Maria Cláudia, Sulamita e Kátia. Em nome da Consuelo, estendo meu sincero agradecimento a todos os integrantes da Fundação. Um agradecimento especial ao Conselho Superior, que tem sido um guia para a agência, avaliando e aprovando os editais e ações da diretoria. Em nome de sua Presidente, Alice Casimiro, agradeço a todos os membros desse conselho, formado por reitores, pró-reitores, pesquisadores e empresários, que pensam a Ciência e a Inovação de forma estratégica e essencial para o desenvolvimento científico, tecnológico, econômico e social do estado e do país.
Embora seja impossível mencionar todos, destaco também as parcerias com agências federais como CNPq, FINEP, CAPES, DECIT; com o CONFAP; com agências privadas como o Instituto Serrapilheira e Ciência Pioneira, IDOR/Rede D’Or; e com diversas parcerias internacionais. Meu agradecimento especial à minha Alma Mater, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, aos membros do meu laboratório, alunos e pesquisadores, aos institutos IBqM e CENABIO e a todas as sociedades científicas das quais faço parte, incluindo a Academia Brasileira de Ciências, a Academia Nacional de Medicina e a SBPC.
Governador Claudio Castro, quando a comunidade se manifesta diante de mudanças, meu olhar de cientista e poeta vê nisso a confirmação de que a FAPERJ se tornou um patrimônio intangível, fruto dessa administração e de um trabalho inter e multidisciplinar. Esse esforço envolveu Universidades, Institutos de Pesquisa, Federações como FIRJAN e ACRJ, a ALERJ, além de várias secretarias do governo, em uma atuação discreta que alcançou tanto a excelência das nossas instituições quanto o interior do estado e as comunidades urbanas e favelas.
Concluo esta mensagem, que pretendia ser breve, desejando muito sucesso à nova Presidente Caroline Alves da Costa e aos diretores Eliete Bouskela e Mauro Azevedo, que certamente manterão a FAPERJ em sua trajetória de sucesso. Estarei sempre à disposição para colaborar como membro da comunidade científica, visando ao pleno desenvolvimento científico e tecnológico do estado e do país. Escrevi esta mensagem olhando para a foto de um dos meus Mestres, o Professor Carlos Chagas Filho — patrono da FAPERJ —, para uma homenagem recente da UENF, a Medalha Darcy Ribeiro, este que foi ex-presidente da FAPERJ, e para as centenas de mensagens eletrônicas e escritas à mão, inclusive em guardanapos de papel, enviadas por pesquisadores do estado e do Brasil.
Por fim, agradeço de forma especial à minha família — minha esposa, meus quatro filhos e meus dois netos — pelo apoio e suporte incondicionais durante essa jornada da qual tanto me orgulho.

Minha eterna gratidão a todos e todas!

Jerson

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