Rodrigo Nunes da Fonseca
Prof. Associado da UFRJ,
Diretor do NUPEM 2014-2022
O Nupem chegou à maturidade. No dia 5 de maio, comemoramos os 30 anos da primeira Unidade Acadêmica da UFRJ fora da sede. Em três décadas, ele mudou de cara, de tamanho e de nome. Hoje chama-se Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade, mas conserva a utopia que nos tirou de casa no Fundão e nos trouxe até aqui – o sonho de fazer ciência com excelência no Norte Fluminense.
Tenho um imenso orgulho de integrar a equipe de docentes do Nupem desde 2009, e de maneira rápida, gostaria de mostrar nesse artigo como nos transformamos numa referência bem-sucedida de interiorização da UFRJ e um exemplo para o país. Parece-me que chave é simples e profunda: desde o início nos desdobramos para erguer pontes entre a academia e a sociedade.
Somos um modelo de construção coletiva de uma Unidade Acadêmica a ser replicado pelo país, em que o amor e a dedicação diária dos docentes, alunos, técnico-administrativos e membros da comunidade tem feito a diferença numa das regiões mais impactadas por uma atividade extrativista como a do petróleo.
A origem do NUPEM/UFRJ remonta a 1980, quando o grupo de pesquisa do professor Francisco Esteves estudava a ecologia das lagoas costeiras do Norte Fluminense. Em 1995, estabeleceu sua primeira sede em Macaé num galpão de ração cedido pela Prefeitura local.
Ali, Reinaldo Bozelli e Deia Maria junto com dezenas de alunos da UFRJ lecionaram cursos de educação ambiental entre 1995 e 2006 para professores e alunos das escolas públicas de Macaé e região, numa época em que a palavra extensão nem existia no dia a dia da UFRJ. Muitos desses alunos são hoje professores universitários e analistas ambientais das prefeituras do entorno, do IBAMA e ICMBIO.
Assim, ao contrário de muitas faculdades e institutos da UFRJ em que a criação de uma unidade acadêmica começou pelo ensino, o NUPEM nasceu pela pesquisa e pela extensão.
Há outro dado emblemático e que revela nosso pioneirismo. Antes mesmo do programa REUNI, a UFRJ já tinha o seu embrião da interiorização bem estruturado e conectado com a população de Macaé. Essa sintonia com os macaenses foi rapidamente acolhida pela Prefeitura da cidade que, em 2006, construiu nossa sede com laboratórios didáticos e de pesquisa, alojamento para visitantes e uma biblioteca.
Essa biblioteca leva o nome de Aloisio Teixeira — merecida homenagem ao reitor que cedeu as 13 primeiras vagas docentes de sua reserva técnica para o surgimento do primeiro curso de licenciatura em Ciências Biológicas da UFRJ fora do Rio. Todo esse sucesso levou, em 2006, ao reconhecimento do NUPEM como um Órgão Suplementar do Centro de Ciências da Saúde.
E assim, fomos abrindo caminho para novos cursos de Graduação em Macaé, como o Bacharelado em Ciências Biológicas, com ênfase em Meio Ambiente e Biotecnologia, criado em 2013. Seguindo o exemplo do NUPEM, nove cursos de Graduação foram estabelecidos no Centro Multidisciplinar de Macaé.
PÓS-GRADUAÇÃO
É importante mencionar que uma fração expressiva dos atuais professores e técnicos administrativos destes Institutos de Macaé realizaram suas pós-graduações em cursos estabelecidos no NUPEM/UFRJ.
Quatro programas de pós-graduação foram estabelecidos ao longo dos anos a partir de muitas parcerias com o Centro de Ciências da Saúde, como o PPG-Ciências Ambientais e Conservação, o PPG-Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento, o PPG-Multicêntrico em Ciências Fisiológicas e PPG-Educação em Ciências e Saúde, estes dois últimos cursos em Associação com a Sociedade Brasileira de Fisiologia e com o Instituto NUTES-CCS, respectivamente.
Assim, o NUPEM local tradicional das ciências ambientais tem se transformado cada vez mais numa unidade multidisciplinar, englobando a tríade meio ambiente, saúde e educação, no conceito de saúde única, um dos pilares do desenvolvimento sustentável atual (https://www.nature.com/articles/s41564-022-01076-1).
Dentro desse contexto de Saúde, o NUPEM/UFRJ foi recentemente protagonista durante a pandemia de COVID-19. Ajudamos Macaé a se transformar numa das melhores cidades do país no combate ao SARS-Cov2, mas também gerando publicações científicas em uma parceria com a Prefeitura de Macaé, Ministério Público Federal e do Trabalho, FAPERJ, Unimed e diversas empresas Off-Shore. Os mais de R$ 8 milhões obtidos em equipamentos, obras e bolsas levaram à construção do Laboratório Integrado de Doenças Negligenciadas, onde pesquisas inovadoras em COVID longa, coordenadas pela diretora Cintia Monteiro de Barros, têm sido publicadas em revistas internacionais de destaque.
Por último, é importante destacar o protagonismo do NUPEM/UFRJ na Educação de Macaé, a partir de diferentes projetos com o Centro de Formação Professora Carolina Garcia e diversas Escolas de Macaé. O Fórum do Norte Fluminense de Educação em Ciências tem se transformado num ponto de encontro e de discussões dos diversos projetos Universidade-Escolas.
Assim, o sucesso do NUPEM/UFRJ é uma lição para os pessimistas de plantão que não acreditavam na interiorização da ciência no Estado do Rio de Janeiro. Todo este sucesso somente tem sido alcançado a partir de ações coletivas envolvendo não somente o corpo social do NUPEM/UFRJ, mas também a população de Macaé e região. Espero que tenhamos sucesso e possamos contribuir na construção de uma Macaé sustentável, socialmente referenciada e com igualdade de oportunidades.
Vida longa ao NUPEM/UFRJ!