Com placar de 546 a 272, os docentes expressaram que acham precoce iniciar um movimento grevista sem que as negociações com o governo tenham sido esgotadas. Houve, ainda, 38 votos nulos e quatro brancos.
A decisão da UFRJ foi seguida pelas outras universidades federais do Rio de Janeiro: a Rural (UFRRJ), a Fluminense (UFF) e a UniRio, que também rejeitaram a greve já em assembleias ocorridas nos últimos dias.
A assembleia da UFRJ foi multicampi. Aconteceu simultaneamente no Fundão, na Praia Vermelha e em Macaé. “O resultado demonstrou que a diretoria da AdUFRJ está alinhada à maior parte dos docentes da universidade”, resumiu a professora Mayra Goulart, presidenta da AdUFRJ, que enfrentou severas críticas pessoais e profissionais durante a condução da mesa diretora do Fundão.
Nos informes das unidades, ficou claro que a greve pode ser um instrumento de pressão a ser avaliado em um segundo momento, mas que parar a universidade por tempo indeterminado nesse momento seria um ato precipitado, que afastaria a opinião pública e geraria prejuízos principalmente aos estudantes.
Apesar de serem contra a greve, os docentes expressaram o desejo de ampliar ações de mobilização e de defesa da universidade. “Há um ponto de consenso sobre a necessidade de mobilização dos professores de Macaé para a construção da greve”, pontuou a professora Camila Souza, do Centro Multidisciplinar.
“Fizemos reunião presencial e consulta on line aos docentes do Centro de Tecnologia. Apenas 11,3% optaram por aderir integralmente à proposta do Andes”, informou o professor Ricardo Medronho, da Escola de Química. “Entre os contrários à greve, 51% querem manter um estado de mobilização com nova assembleia em maio ou junho para reavaliar o cenário”, argumentou. O modelo de votação adotado pela diretoria foi por cédulas depositadas em urnas abertas nos três locais de assembleia, das 12h às 16h. A pergunta “Você é a favor da deflagração da greve a partir de 15 de abril, conforme proposta do Andes?” foi baseada em circular enviada pelo sindicato nacional.
Os primeiros momentos da assembleia multicampi foram marcados por falhas no som da Praia Vermelha – por cerca de uma hora os docentes de lá não ouviam os outros campi – e por grande tumulto gerado por um grupo de professores que exigia que a votação em urna amplamente divulgada pela diretoria aos sindicalizados e não sindicalizados, fosse mudada para votação em plenário ao fim dos debates. A diretoria garantiu que o processo não fosse modificado.
“A votação ter começado na hora foi o que garantiu a maior votação do Brasil e um grupo de docentes infelizmente tentou fazer com que dois terços dos professores não tivessem possibilidade de expressar sua opinião”, critica o professor Pedro Lagerblad, do Instituto de Bioquímica Médica.
“Eu esperava que a diretoria não conduzisse a discussão com esse reducionismo, com cédula”, rebate a professora Selene Alves, do Instituto de Matemática. Não é uma questão de ‘sim ou não’.”
Tensão. Esse é o substantivo que resume as seis horas de assembleia da AdUFRJ na sexta-feira, 5. Na Praia Vermelha, problemas técnicos no áudio potencializaram as desevenças políticas. Parte dos docentes favoráveis à greve tentou reagendar a assembleia ao perceber que não ganharia a votação. O microfone chegou a ser retirado da mesa conduzida pelas professoras Nedir do Espirito Santo e Verônica Damasceno.
O mesmo grupo, depois, exortou os colegas ao voto nulo diante dos problemas de som e por discordarem da pergunta da cédula. No Fundão, sucessivas questões de ordem citando o regimento da AdUFRJ, gritos e agressões verbais atrasaram o início do debate. Os fatores somados fizeram muitos docentes abandonarem o encontro antes do começo da votação.
“Mas conseguimos dois pontos positivos: conseguimos garantir o direito ao voto dos docentes e fizemos a maior assembleia do país, com mais de 900 assinaturas nos livros de presença e 860 votos”, resume Rodrigo Fonseca, diretor da AdUFRJ e coordenador da Mesa da Assembleia em Macaé, local em que assembleia transcorreu com menos tensão.
DEBATE
O ambiente só acalmou após duas horas do início da reunião, após as falas dos representantes do Andes, do Sintufrj e do DCE Mário Prata. Em seguida, falaram os docentes sorteados para o debate.
Vice-presidente da seção sindical, Antonio Solé argumentou que a greve atinge sobretudo os estudantes. “Tivemos greves que nos permitiram ganhos, mas outras num contexto político que gerou muitos prejuízos”, disse, ao lembrar da greve de 2015.
Alessandra Nicodemos, da Faculdade de Educação, protestou contra a pergunta da cédula. “Não concordamos com a pergunta, mas queremos contribuir de fato com um processo de mobilização. Nós votaremos nulo’”
Docente do Instituto de Economia, Marta Castilhho se posicionou contra a greve. “Minha fala se baseia numa experiência de que as últimas greves da UFRJ foram de esvaziamento, e isso tem forte impacto sobre nossos estudantes”, disse. “Nossos alunos, hoje, dependem mais da universidade”, afirmou.
Cristina Miranda, aposentada do Colégio de Aplicação, reconheceu que a UFRJ não tem condição de deflagrar greve em 15 de abril. “Infelizmente não temos mobilização suficiente para uma greve, mas poderíamos aprovar um dia de paralisação das atividades no dia 15, para marcar a mobilização nacional”, sugeriu.
Do Instituto de Física, o professor Felipe Rosa destacou a pujança da UFRJ neste início de ano letivo. “A universidade está cheia como não a víamos desde 2019. Vamos esvaziar a universidade de novo? Não vamos parar de forma açodada”, pediu Felipe, ex-vice presidente da AdUFRJ.
RODRIGO
FONSECA
Diretor da AdUFRJ e professor do NUPEM/Macaé
Para os professores de Macaé, a assembleia foi muito importante. Cerca de 20% do corpo docente de Macaé teve oportunidade de participar das discussões. Foi a primeira assembleia multicampi desta diretoria e tivemos alguns problemas técnicos que serão trabalhados para que não se repitam em outras ocasiões. Apesar dos problemas, o saldo com certeza foi positivo. Tivemos uma assembleia bastante representativa. Em Macaé, todos que se inscreveram tiveram fala e se expressaram livremente. No país, as universidades estão divididas sobre a greve, o que demonstra que a nossa avaliação, de que a greve neste momento é precipitada, está correta. Seguiremos em mobilização.
SELENE
ALVES
Professora do
Instituto de Matemática
Falo como professora que exerce a docência há 47 anos nesta instituição. Essa era uma assembleia vital para que discutíssemos nossas condições de trabalho, de carreira, infraestrutura e o que fazer diante desse cenário. Ao invés disso, a diretoria optou por uma cédula. Quando vi aquele cenário de desunião, de fragmentação, eu fiquei consternada e pedi que a discussão fosse restabelecida dentro de parâmetros republicanos. Faltou muita tolerância. Houve truculência por parte da diretoria e também da oposição. O antagonismo existe, a luta política é legítima, mas não foi isso que aconteceu ali. Vimos comportamentos inomináveis em que todos perdem.
PEDRO
LAGERBLAD
Professor do
Instituto de
Bioquímica Médica
Fizemos a maior assembleia do país em números absolutos e em percentual de votantes em relação à categoria. Precisamos pensar que dois terços dos professores se recusaram a entrar no debate, mas tinham posição e foram votar. Houve estratégia coordenada de um grupo para apresentar uma série de questões de ordem. Uma orquestração com objetivo de tumultuar a assembleia. Houve profunda misoginia por parte de quem atacou a mesa e que foi normalizada por muitos dos presentes. Uma postura inaceitável. Aquilo não pode se repetir. Lamento não termos discutido encaminhamentos e me parece que isto se deu por conta da dinâmica da assembleia, o que é um prejuízo.
MARTHA
WERNECK
Professora da
Escola de Belas Artes
Meu curso de Pintura vive situação muito precária. Estou em péssimas condições de trabalho. Eu fui até a assembleia para ouvir, para entender sobre as negociações, para discutir se é realmente o momento de parar ou se a greve pode fortalecer o discurso da extrema direita. Mas eu saí ainda confusa, pois não deram o espaço necessário à representante no Andes.
A mesa não informou nada aos sindicalizados. Houve questionamentos por conta de desrespeitos ao regimento. Percebi autoritarismo da mesa, que inviabilizou outras construções da luta. Não admito ser chamada de golpista. Saí triste, sem vontade de voltar. Me senti desrespeitada.
BRUNO SOUZA DE PAULA
Professor do
Instituto de Física
Houve muita agressividade das pessoas, muitos ataques graves à mesa, que acabou respondendo de forma também ruim. A questão das falhas do som acabou contribuindo para acirrar os ânimos. Decidi ir embora e voltar depois só para votar porque minha opinião já estava formada e aquela discussão não geraria nenhuma informação nova para mim. Aquele clima me afastou e com certeza afastou outros colegas. A assembleia multicampi é uma ideia legal, mas para assuntos delicados como esse talvez fosse melhor ser virtual, porque dá possibilidade de mais pessoas participarem e menos espaço para o clima agressivo. Desrespeito não fortalece o coletivo.
GREVE PELO BRASIL: 23 FEDERAIS APROVAM; 43 REJEITAM OU ENTRAM EM MOBILIZAÇÃO
Aprovaram greve a partir do dia 15
UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ - UFPA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA - UNIR
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA - UFRAM
INSTITUTO FEDERAL DO PIAUÍ
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
UNIV. FED. DE CAMPINA GRANDE – UFCG - CAJAZEIRAS
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - UFMA
UNIVERSIDADE FEDERAL
DO SUL DA BAHIA - UFSB
UNIVERSIDADE DE
BRASÍLIA - UNB
CEFET MG
CEFET RJ
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO - UFES
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ – UNIFEI
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA - UFJF
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO – UFOP
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFU
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ - UFPR
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS – UFPEL
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Rejeitaram greve a partir do dia 15
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - UFAM
UNIVERSIDADE FED. DE CAMPINA GRANDE – UFCG – PATOS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE – UFCG
UNIVERSIDADE FED. RURAL DE PERNAMBUCO - UFRPE
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - UFPI
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO – UFERSA
UNIVERSIDADE FED. DO VALE DO S.FRANCISCO – UNIVASP
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - UFMT
UNIVERSIDADE FED. DE MATO GROSSO DO SUL - UFMS
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF
UNIVERSIDADE FEDERAL DE S. PAULO - UNIFESP
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - UNIRIO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC
UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL – UFFS
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS
Indicativo sem data /mobilização/ estado de greve
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ – UNIFAP
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA - UFRR
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA
UNIVERSIDADE
FEDERAL DE JATAÍ
UNIVERSIDADE
FEDERAL DO ABC
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO R. DE JANEIRO
UFRRJ
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI – UFSJR
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO – UFTM
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INT. LATINOAMER. - UNILA
UNIVERSIDADE FEDERAL
DO PAMPA - UNIPAMPA
UNIVERSIDADE FEDERAL
DE GOIÁS
UNIVERSIDADE FEDERAL
DO OESTE DA BAHIA
UNILAB – UNIVERSIDADE DA INTEGRAÇÃO INTERNACIONAL DA LUSOFONIA
AFRO-BRASILEIRA
CAMPUS DOS MALÊS
UNIVERSIDADE FEDERAL
DA BAHIA
Indicativo de greve para maio
UNIVERSIDADE FEDERAL
DO ACRE – UFAC
UNIVERSIDADE FEDERAL
DE SERGIPE – UFS
Irão realizar assembleias:
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN (16/04)
UNIVERSIDADE FEDERAL
DE TOCANTINS - UFT
(17/04)
UNIVERSIDADE FEDERAL
DE PERNAMBUCO - UFPE
(17/04)
UNIVERSIDADE FEDERAL
DE ALAGOAS - UFAL
(26/04)