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WhatsApp Image 2023 10 26 at 20.34.41 5Fotos: Fernando Souza‘Vai pegar fogo se você não fizer nada”. Escrita em um cartaz colado pelos estudantes no terceiro andar, a frase pode resumir a visita da caravana da reitoria para constatar in loco o péssimo estado de conservação do histórico prédio que abriga os institutos de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) e de História (IH) da UFRJ, no Largo de São Francisco, Centro do Rio, na terça-feira (24). Depois de intensa mobilização de seu corpo social nas três últimas semanas, incluindo um indicativo de suspensão das aulas por falta de condições de segurança, o IFCS recebeu a comitiva liderada pelo reitor Roberto Medronho para expor as mazelas que fazem parte do dia a dia de professores, alunos e funcionários.
“Algumas situações aqui exigem a atuação como a de um médico de UTI, e nisso eu tenho experiência. Ou você intervém imediatamente, ou a vida pode se perder”, avaliou o reitor, que visitou dependências dos quatro andares do prédio, como a sala 306, onde um ventilador despencou do teto há duas semanas durante uma aula, quase atingindo uma aluna, e a biblioteca, na qual obras raras estão sob risco com as infiltrações. Enquanto Medronho vistoriava as salas, uma equipe de eletricistas da Prefeitura Universitária iniciava a revisão dos 136 aparelhos de ar-condicionado do IFCS, checando quais poderiam ser ligados em segurança. O calor nas salas de aula é uma das principais reclamações de alunos e professores.
A vistoria marcou também a primeira etapa do projeto Reitoria Itinerante, que pretende estabelecer um diálogo mais direto com o corpo social de cada unidade da UFRJ. O simbolismo da escolha do IFCS para inaugurar o projeto, aliado à disposição do reitor em resolver os graves problemas da secular edificação, não apenas serviu como resposta à frase do cartaz do terceiro andar, como também arrefeceu o ímpeto de alunos e professores por uma paralisação das atividades. Em assembleia na quarta-feira (25), o corpo social do IFCS deliberou por uma nova assembleia de avaliação no dia 8 de novembro, data para a qual estava indicada a suspensão das aulas.

QUADRO DRAMÁTICO
Antes da vistoria, uma reunião aberta entre a comitiva da reitoria e professores e alunos expôs não apenas a grave situação estrutural do IFCS, mas também o dramático quadro orçamentário e de pessoal da UFRJ. “Já não estamos pagando a Light e não temos verbas para pagar transporte e empresas terceirizadas. Vamos manter o pagamento da vigilância e da limpeza, sem isso não conseguimos funcionar. Mas estamos fazendo escolhas de Sofia. Pagamos alimentação ou transporte? Vamos fechar o ano com um déficit de R$ 120 milhões”, resumiu o reitor.
“Além de não termos dinheiro, estamos passando por mudanças na lei de licitações e é preciso que nosso pessoal seja treinado para isso. Só temos três pregoeiros para toda a UFRJ”, disse a professora Cláudia Cruz, pró-reitora de Gestão e Governança (PR-6). Afora os problemas orçamentários e de pessoal, o IFCS enfrenta outro entrave. Como é um prédio tombado, ele precisa ter autorização do Iphan para qualquer obra. Presente à reunião, a arquiteta Adriana Mendes, do Iphan, disse que os projetos básicos para a recuperação da parte elétrica e de prevenção de incêndio já foram aprovados pelo órgão, que analisa agora os projetos executivos.WhatsApp Image 2023 10 26 at 20.34.41 4
“Temos poucos funcionários no Iphan e muitos bens tombados para cuidar. Mas temos nos empenhado em agilizar os projetos do IFCS. Nosso sonho é um projeto de restauro total do prédio, mas a prioridade agora é a reforma elétrica e o sistema de prevenção a incêndios. Também sou fiscal do Museu Nacional. Ninguém quer ver aqui nada parecido com o que aconteceu lá”, disse Adriana Mendes.
Alguns relatos de docentes foram os mais contundentes. “Nós estamos vindo para cá com medo. Estamos tirando nossos equipamentos daqui pelo risco de incêndios. Vamos ter que ir para as aulas online? Queremos uma solução imediata, tem sido muito estressante para a nossa comunidade trabalhar sob essas condições”, disse a professora Julia O’Donnell, do Departamento de Antropologia Social.
A professora Thays Monticelli, do Departamento de Sociologia, completou: “Nós damos aulas de manhã, à tarde e à noite para Licenciatura e Bacharelado, e o sentimento é geral: as pessoas não se sentem seguras aqui”.
A presidenta da AdUFRJ, Mayra Goulart, representou o sindicato na vistoria, ao lado da diretora Veronica Damasceno. Como professora do IFCS, Mayra conhece bem esse dia a dia de insegurança. “Nossas condições de trabalho estão prejudicando nossa saúde. O medo de o prédio pegar fogo é real para todos nós. Temos que buscar formas de aumentar o orçamento da universidade. Estamos tentando marcar uma visita da bancada federal fluminense à UFRJ para que conheçam as nossas condições e se sensibilizem para atuar na recomposição do nosso orçamento”, disse Mayra.

AÇÕES CONCRETAS
Além da revisão dos aparelhos de ar-condicionado, outras ações concretas brotaram da vistoria. O diretor do Escritório Técnico Universitário (ETU), Roberto Machado Corrêa, informou que uma vistoria do IFCS foi feita por sua equipe na segunda-feira (23), e que o laudo será divulgado em breve. “Isso é uma prioridade. Há risco de incêndio e isso envolve a vida das pessoas”, destacou ele.
Por determinação do reitor, uma verba de R$ 70 mil será direcionada ao IFCS para a compra prioritária de placas de sinalização para rota de fuga de incêndio. Os recursos são do orçamento participativo e, embora não tenham sido empenhados em tempo hábil pelo CFCH, serão encaminhados ao IFCS. De acordo com o superintendente da pró-reitoria de Finanças, George Pereira da Gama Júnior, os R$ 70 mil são compostos por R$ 32 mil do IFCS e R$ 38 mil do IH.
Os estudantes esperam por mais ações concretas. Representante do DCE, a estudante Catarina Medina, que cursa Ciências Sociais no instituto, acompanhou a vistoria ao lado de Medronho e fez questão de mostrar o estado lúgubre do banheiro feminino do terceiro andar, com infiltrações no teto e umidade nas paredes. “Estamos unidos em defesa do IFCS. Vem sendo muito difícil ter aulas aqui e queremos que a reitoria dê prioridade às reformas”, afirmou Catarina.

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