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WhatsApp Image 2023 10 26 at 20.34.41 2Depois de 35 ônibus, um trem e uma estação do BRT queimados na Zona Oeste da cidade e do recolhimento de linhas de ônibus em diversas regiões — por ameaças de novos incêndios —, a reitoria da UFRJ publicou nota ainda no dia dos ataques (23) recomendando o adiamento das avaliações programadas para a terça-feira (24) e o abono de faltas. Nos casos em que os docentes decidiram aplicar avaliações, a reitoria assegurou o direito da realização de segundas chamadas para moradores das áreas atingidas. Baseadas nessas recomendações, algumas unidades funcionaram normalmente, enquanto outras, como o CAp, a Escola de Serviço Social e o Instituto de Psicologia, fecharam as portas no dia 24.
Na semana anterior aos ataques da milícia, a AdUFRJ foi até o Consuni e entregou uma carta ao reitor Roberto Medronho cobrando ações efetivas para proteger a comunidade acadêmica, com protocolos administrativos e de segurança que não prejudiquem professores, estudantes e técnicos em momentos de conflitos armados. O documento (veja íntegra abaixo) foi motivado pela falta de orientação mais incisiva da administração central à comunidade acadêmica, transferindo aos docentes a responsabilidade da decisão sobre a continuidade das atividades acadêmicas durante os seis dias de intensos confrontos entre policiais e o crime organizado na Maré, complexo de favelas vizinho ao campus do Fundão. Além da carta da AdUFRJ, houve também manifestação do grupo de estudantes “A UFRJ é Nossa” requisitando a criação de um GT para a discussão do tema.
A violência e a incerteza deixaram muitos professores sem saber como proceder justamente na semana de provas da universidade. Na ocasião da entrega da carta, Medronho anunciou a criação de um grupo de trabalho para tratar do tema.
A primeira reunião do GT acontece no dia 30, às 15h. AdUFRJ, Sintufrj, DCE e APG têm assento. O grupo será coordenado pelo professor Michel Misse, um dos maiores especialistas em violência urbana do Brasil.
De acordo com o docente, o grupo focará na comunidade acadêmica e nos campi da UFRJ. “O objetivo do GT é voltado exclusivamente para a segurança de alunos, servidores e professores”, afirma. “Teremos um conjunto de protocolos que darão orientação em situações de crise de segurança pública”, explica Misse. “Além disso, vamos procurar dar sugestões de segurança dentro dos vários campi da UFRJ”.
A criação do GT, para Michel Misse, é imprescindível. “É uma medida necessária. Estava faltando a UFRJ estabelecer protocolos que orientem a comunidade acadêmica”.
Para ele, os ataques dos milicianos geraram repercussões negativas em toda a cidade, mas foram excepcionais. “Estamos mais preocupados com aquilo que acontece todos os dias nas diversas favelas cariocas. É claro que, se houver um protocolo interno estabelecido, ele poderá ser amplamente aplicado também em momentos excepcionais”.

Jogo rápido com Roberto Medronho
‘Não nos intimidarão’

Algumas universidades suspenderam as atividades após os ataques da milícia. A UFRJ não suspendeu e foi acusada de não se articular com outras instituições do Rio. Como o senhor responde a esta crítica?
Roberto Medronho:
Quem está articulando esse movimento com as demais reitorias sou eu. A Uerj também não suspendeu, somente no seu campus da Zona Oeste. Se a UFRJ tivesse campus na Zona Oeste, nós também teríamos suspendido aulas. Nós temos 65 mil alunos. No grupo dos reitores, todos concordaram comigo que é preciso uma ação conjunta, como forma de pressionar o Governo do Estado para que essas operações não se repitam, com risco aos moradores e às nossas comunidades acadêmicas.

Por que a UFRJ não parou?
Temos que ser um exemplo de cidadania e não nos rendermos aos bandidos que querem provocar o terror na sociedade. Não podemos ficar reféns deles. Não nos intimidarão. Por isso determinamos o abono de faltas e segundas chamadas. O reitor não é um ditador e apoiou as unidades que decidiram suspender as atividades. Ninguém melhor que as direções de cada unidade para conhecer a realidade de cada local. Precisamos enfrentar coletivamente esse problema como cidadãos. A universidade pública não se curvará ao crime. Não vamos nos acovardar.

NOTA DA DIRETORIA DA ADUFRJ

Ao Magnífico Reitor
Roberto Medronho

Ao cumprimentarmos respeitosamente Vossa Magnificência, gostaríamos de informar que inúmeros docentes de nossa instituição procuraram nossa representação sindical nos últimos dias com relatos de prejuízos nas suas atividades de ensino, tendo em vista informes liberados de última hora recomendando a não realização de avaliações em dias previamente programados.
Compreendemos toda complexidade dos episódios de violência no Complexo da Maré e em outras comunidades do Rio de Janeiro e sinalizamos nossa preocupação com a vida de alunos, professores e servidores que vivem nessas regiões ou atravessam áreas de conflito no deslocamento para o campus da Cidade Universitária. Igualmente assinalamos nosso compromisso com o processo de ensino-aprendizagem na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Entretanto, consideramos injusto e juridicamente complexo transferir a decisão sobre a execução ou não de atividades didáticas para as mãos dos docentes, através de mensagens que apenas recomendam que atividades devem ser mantidas, ao invés de deliberar, explicitamente, o que deve ser feito. Se a reitoria, baseada nas informações de que dispõe, decide que é inseguro que tenhamos atividades acadêmicas, que tome a decisão de suspendê-las, prorrogando o término do período letivo para não prejudicar o semestre. Se decide que as condições são suficientes para o aumento da segurança, mas não para paralisar as atividades, que também se pronuncie. O que não podemos admitir é que mensagens ambíguas resultem em insegurança jurídica e em um estresse adicional aos nossos docentes e estudantes.
Assim, a AdUFRJ solicita que a reitoria da UFRJ se posicione explicitamente e com antecedência mínima sobre estes acontecimentos e proveja aos docentes instruções administrativas assertivas e necessárias para minimizar o prejuízo aos docentes e alunos de nossa instituição.

Atenciosamente,
Professora Nedir do Espirito Santo
Vice-Presidenta

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