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WhatsApp Image 2023 06 15 at 18.38.11O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio (Sepe) produziu um gibi sobre o novo ensino médioRevogar o Novo Ensino Médio, imposto pelo governo Temer, é a prioridade número um de milhares de educadores brasileiros. Mas a solução da crise, argumentam especialistas, não pode ser a volta ao modelo anterior, também com muitos problemas. Em meio à polêmica, um grupo de trabalho da UFRJ definiu, esta semana, os princípios que devem orientar o formato de educação mais adequado às necessidades do país. Entre os fundamentos da proposta, o destaque é para a valorização do professor.
“Não dá para pensar em uma estrutura de ensino médio, ou da educação básica, sem pensar em valorizar a profissão docente”, afirma o superintendente geral de Graduação, professor Joaquim Fernando Mendes da Silva, representante da PR-1 no GT. “Isso implica valorizar também a carreira, os salários, a formação e as condições de trabalho”.
No país em que o piso do magistério, de pouco mais de R$ 4,4 mil, não é cumprido em muitos estados e municípios, já dá para imaginar o tamanho do desafio. A infraestrutura é outro obstáculo. Das quase 168 mil instituições de educação básica municipais e estaduais do país que responderam ao Censo Escolar 2021, mais da metade (55,6%) sequer possuía uma biblioteca.
“Se o Brasil não reconhecer que Educação e Saúde são suas maiores prioridades, que precisam de um investimento maciço, vamos continuar com o mesmo problema”, reforça o superintendente. “Não temos a ilusão de que isso será resolvido de um dia para o outro. Mas precisamos de um pacto nacional pela valorização dos professores”, completa.
O novo ensino médio de Temer representa o oposto. A lei de 2017, que jamais foi discutida com os educadores, autoriza que pessoas sem formação pedagógica possam ensinar componentes curriculares nas escolas. Seriam os profissionais de “notório saber”. “O ‘notório saber’ é um problema sério. Abre espaço para a desprofissionalização docente. Nós não podemos ser a favor”, afirma a coordenadora do Complexo de Formação de Professores da UFRJ, Carmen Teresa, também integrante do GT.
O documento do GT, que será enviado aos conselhos superiores e às direções de unidades, reivindica “uma educação pública socialmente referenciada, democrática e que forme cidadãos críticos engajados nas questões de seu tempo”. O ensino deve proporcionar o letramento científico, artístico e cultural numa perspectiva interdisciplinar. A discussão sobre profissionalização e a Educação de Jovens e Adultos (EJA) também precisa ser contemplada, entre outros pontos — a íntegra do documento pode ser conferida AQUI. “O documento é um pontapé inicial”, diz Carmen. “A questão agora é como operacionalizar esses princípios em uma política”.
Para chegar lá, a ideia do grupo é organizar um seminário ainda em julho, com todos os interessados. “Ainda estamos pensando o formato”, acrescenta a coordenadora do Complexo. O certo é que serão convidados professores da rede, coordenadores das licenciaturas, colegas do ensino profissionalizante, os próprios licenciandos, movimentos sociais e sindicatos da área.

DRAMA NAS ESCOLAS
Professor de Sociologia no colégio estadual André Maurois (no Leblon) do Rio, João Paulo Cabrera ficou satisfeito ao saber da mobilização da UFRJ. Formado pelo IFCS em 2007, o docente espera que as comunidades escolares tenham voz ativa no seminário de julho. “Não como espectadores, mas como parte das mesas, como parte das discussões”, defende.
Há muito o que relatar. “A experiência com o novo ensino médio, que está no segundo ano de implementação, está sendo a pior possível”, diz João Paulo (confira abaixo o depoimento do professor). Sua matéria foi sufocada. Antes, o professor dava dois tempos de aula por semana para as três séries do ensino médio. Agora, só foram preservados os tempos do terceiro ano — que sofrerá a reforma em 2024. “Ao cortar estes tempos e os de outras matérias, a reforma está impedindo o acesso dos estudantes ao conhecimento acumulado e sistematizado”.
Para piorar, o docente foi obrigado a ministrar componentes curriculares para os quais não recebeu qualquer formação. “Estou dando estudos orientados, projetos de vida, reforço escolar e robótica sustentável para as turmas do primeiro e segundo anos”.
“Existe uma falsa noção de que os alunos podem escolher várias opções de um ‘cardápio’. Na verdade, a maior parte não escolheu esse itinerário das eletivas. O aluno não tem outra opção naquela escola ou escola próxima”, critica. “O resultado são alunos desmotivados, fazendo disciplinas que não querem. Ou nem fazem, pois não existe avaliação obrigatória para boa parte delas. Além de professores que não querem dar esses componentes curriculares”.

Depoimento
João Paulo Cabrera
Professor de Sociologia da rede estadual

Eu me formei em 2007 pelo IFCS e entrei na rede estadual em 2009, no Colégio André Maurois, no Leblon. A experiência com o novo ensino médio, no segundo ano de implementação, está sendo a pior possível.
Existe uma falsa noção de que os alunos podem escolher entre várias opções de um ‘cardápio’. Na verdade, a maior parte não escolheu esse itinerário das eletivas. O aluno não tem outra opção naquela escola ou escola próxima. O resultado são alunos desmotivados, fazendo disciplinas que não querem. Ou nem fazem, pois não existe avaliação obrigatória para boa parte delas. Além de professores que não querem dar esses componentes curriculares.
Antes, Sociologia e Filosofia tinham dois tempos por semana nas três séries; agora, Filosofia tem dois tempos por semana no primeiro ano; e Sociologia só tem dois tempos no terceiro ano.
No terceiro ano, que ainda não foi afetado pela reforma, minhas turmas de Sociologia estão cheias. Nas eletivas, no primeiro e segundo anos, estou dando aula de estudos orientados, projetos de vida, reforço escolar e robótica sustentável para uma média de oito alunos. Não tive nenhum curso de formação para elas. Só recebemos alguns manuais digitais. E não há conteúdo para um ano inteiro.
Daqui a pouco devem aparecer os cursos de formação continuada das fundações, com materiais que não virão das universidades. A formação de professores será afetada. A universidade precisa acordar para este processo.

CONSULTA PRORROGADA ATÉ 5 DE JULHO
O MEC decidiu prorrogar uma consulta pública sobre o novo ensino médio até 5 de julho. A medida atende a um pedido conjunto de entidades da área, como o Conselho Nacional de Educação e o Conselho Nacional dos Secretários de Educação, para ampliar a participação da sociedade no debate. O GT Ensino Médio da UFRJ, porém, já decidiu que não vai enviar sua proposta pelo mecanismo. O entendimento é que não há como remediar o desastrado modelo em implantação.

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