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WhatsApp Image 2022 11 16 at 21.29.01 10O campo de futebol da Escola de Educação Física e Desportos está no centro da polêmica do projeto de revitalização da Praia Vermelha. No espaço acontece apenas o projeto de extensão “Nova Geração Carioca: futebol como veículo de transformação social”, que atende aproximadamente 120 meninos de baixa renda de várias regiões periféricas do Rio de Janeiro.
O projeto existe em parceria com o Clube Atlético Barra da Tijuca, entidade privada que funciona numa sala comercial de um edifício de alto padrão na Barra. A reportagem da AdUFRJ esteve seguidas vezes no endereço ao longo de duas semanas e não conseguiu encontrar a sala em funcionamento.
Os donos do clube de futebol são o professor da Educação Física Luis Antonio Verdini de Carvalho, com 1% de participação na sociedade, e Adilson Oliveira Coutinho Filho, que é sócio-administrador, detentor do restante da cota societária.Verdini é docente da Educação Física desde 1996. Professor 20 horas, está cedido para o governo Bolsonaro. Em Brasília, ele atua na Secretaria Nacional de Futebol com o programa “Academia e Futebol”, que tem a participação de 39 universidades públicas de todo o Brasil.
Já o sócio majoritário é conhecido como Adilsinho e passou mais de um ano foragido da Justiça ao ser acusado, no ano passado, de chefiar uma quadrilha envolvida com contrabando de cigarros na Baixada Fluminense. Desde 2009, ele tem assuntos com a Justiça. Naquele ano, foi acusado de envolvimento com a máfia dos caça-níqueis e com o jogo do bicho. Em 2011, numa outra investigação, a Polícia Civil apreendeu R$ 4,6 milhões escondidos em sua casa. O dinheiro foi creditado como fruto de contravenção, mas, em 2017, um despacho da Justiça determinou a devolução do valor ao afirmar que Adilsinho havia conseguido comprovar a origem do montante.
A coordenação do projeto de extensão é do técnico desportivo da Educação Física, Ernani da Silva Thomaz. O servidor também é apresentado em publicações nas redes sociais do clube como técnico das categorias de base.
Presidente da AdUFRJ, o professor João Torres critica a forma de utilização do campo de futebol da Praia Vermelha e a falta de transparência com que o tema é tratado. “Parece um uso privado de um espaço público. Por que este clube e não outro?”, questiona o dirigente. Ele também critica a atuação dos movimentos que condenam o projeto da reitoria. “Por que quem luta contra a privatização do campo não menciona o clube privado? Parece um paradoxo dos movimentos na UFRJ: lutam contra a privatização dos espaços públicos, mas ocultam a utilização privada desses mesmos espaços”.
Diretora da Educação Física, a professora Katya Gualter demonstrou surpresa quando perguntada sobre a utilização do campo da Praia Vermelha pelo Barra da Tijuca. Num primeiro momento, disse desconhecer a utilização pelo clube. Depois, alegou que o nome do clube figura nos documentos do projeto de extensão e explicou que se trata de uma parceria e não de uso privado. A docente critica o projeto da reitoria e diz que a Escola de Educação Física não foi ouvida.
Katya Gualter também disse não saber que o professor Verdini é um dos proprietários do clube. “Eu desconheço os detalhes sobre o clube e seus sócios. Eu nem sabia que ele era sócio, mas não vejo problema, pois ele não é de dedicação exclusiva e não tem nenhuma ligação com o projeto de extensão do Ernani”.
O professor Luis Antonio Verdini de Carvalho, sócio minoritário do clube, informou que partiu dele o convite para a parceria com o projeto de extensão. “Eu já conhecia o projeto, via a luta do Ernani para manter o funcionamento e o grupo coeso e então propus a parceria. A nossa maneira de ajudar é fazendo com que os meninos participem das competições”.WhatsApp Image 2022 11 16 at 22.36.31
Sobre o sócio com pendências judiciais, o docente afirmou que ele não está mais foragido e que não há ingerência de Adilsinho no time. “Eu trabalhei na Arábia Saudita. O rei era acusado de vários crimes, mas nunca interferiu no trabalho do clube. Até que se prove o contrário, todos são inocentes perante a lei”.

ABANDONO
O servidor Ernani Thomaz contou à reportagem que o abandono do campo de futebol foi o que o incentivou a criar o projeto de extensão. “O campo estava abandonado. Meu projeto é o único que ocupa o campo. Todos os outros acontecem no entorno”.
O servidor também nega que tenha vinculação com o clube. “Minha vinculação é com a UFRJ. O que o clube faz é emprestar a marca para que nosso projeto de extensão possa disputar campeonatos. Pela federação eu consigo, por exemplo, 20 bolas novas com as quais eu treino os meninos ao longo de todo o ano”, justifica. “A UFRJ não me dá condições de manter um projeto como esse sem parceria”.
Perguntado sobre o uso privado, Ernani discorda. “O método de treinamento é nosso, os professores são nossos estudantes de graduação e pós e os atletas são nossos. Eles só emprestam a marca”, diz. “Nosso trabalho é incentivar os meninos a ter outra perspectiva de futuro. Ao mesmo tempo, treinar nossos alunos a serem treinadores, preparadores técnicos, a compreenderem como acontecem os torneios”.

OMISSÃO
A reportagem também procurou a reitora Denise Pires de Carvalho. Perguntada sobre a omissão da administração central da UFRJ em relação a essa parceria com um clube privado, a dirigente afirmou que “cabe às direções de unidade controlar os protocolos que devem ser assegurados pelos entes públicos”. “Toda e qualquer atividade realizada em parceria entre a UFRJ e uma entidade privada precisa passar pela aprovação da Congregação da unidade, pelo Conselho de Coordenação de Centro, pelo Conselho Superior de Coordenação Executiva e pela nossa Procuradoria”, afirma. “Não se pode atuar numa relação amadora, à margem da institucionalidade”.

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