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WhatsApp Image 2022 10 10 at 08.02.48 3As pesquisas eleitorais são instrumentos importantes para a democracia e passam por constante aperfeiçoamento, dizem especialistas ouvidos pelo Jornal da AdUFRJ. No caso das atuais eleições, o governo Bolsonaro contribuiu para ampliar as divergências entre levantamentos e o resultado das urnas ao não atualizar o Censo Demográfico nos últimos dois anos e ao incentivar comportamentos anticientíficos.
“Os institutos de pesquisa montam suas amostras a partir dos dados conhecidos sobre a população. A fonte mais utilizada costuma ser o censo. O problema é que o último já tem mais de 10 anos, pois Bolsonaro impediu a realização dele”, afirma Theófilo Rodrigues, um dos coordenadores do Laboratório de Partidos e Política Comparada (LAPPCOM), vinculado ao Departamento de Ciência Política da UFRJ. “Ou seja, cada instituto atualizou o censo de um modo distinto. Essa é a principal razão das diferenças entre os institutos. Na eleição de 2024, não haverá esse problema”, completou.
As diferenças atuais não justificam a formação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o trabalho dos institutos, como pede o senador Marcos do Val (Podemos-ES). Ou o pedido de investigação à Polícia Federal do ministro da Justiça, Anderson Torres. Muito menos o projeto de lei protocolado pelo líder do governo na Câmara, Ricardo de Barros (PP-PR), que prevê pena de reclusão e multa dos responsáveis pelos institutos que divulgarem pesquisas em que o resultado das urnas fique fora da margem de erro prevista.
“Fiscalização demais nunca é problema. É saudável que institutos de pesquisas sejam fiscalizados. Mas uma CPI como instrumento de perseguição é exagero. Há temas mais importantes para serem alvos de CPI no Brasil”, argumenta o coordenador do Lappcom.
A Associação Brasileira dos Pesquisadores Eleitorais (Abrapel) também respondeu aos questionamentos bolsonaristas, esta semana. “Pesquisas de opinião são realizadas de maneira científica há décadas em democracias no mundo todo. São instrumentos fundamentais para o conhecimento da sociedade, para a formulação de políticas públicas e para a informação dos cidadãos”, diz um trecho. “Pesquisas de opinião apontam tendências e percepções e, no caso de eleições, de maneira alguma pretendem produzir prognósticos”.
Alessandra Maia, integrante do Lappcom e professora do Departamento de Ciências Sociais da PUC, concorda. “Os institutos precisam prestar contas. Mas cobrar é uma coisa, proibir é outra”, disse. “Passa pela discussão pública o fato de que é preciso aperfeiçoar os métodos. O nome já está dado: pesquisa. Que é baseada em acerto e erro. Quando ocorre algo que foge da situação controle, precisa ser avaliado para ser aperfeiçoado. A gente vive um momento muito anticientífico”.
A docente chama atenção para variáveis que fogem ao controle de qualquer modelo. “Ainda que a gente consiga estimar qual o percentual da população que vota em cada candidato, também é preciso pensar quem de fato vai votar. A pessoa diz que vai votar no fulano, mas no dia não vai votar. Em algumas regiões, tivemos até 25% de abstenção”, explica.
As pesquisas também prestam um papel pedagógico. “Se você mora num lugar que é muito bolsonarista, você acha que o Bolsonaro vai ganhar. Isso não necessariamente vai acontecer. A pesquisa também ajuda neste sentido, de trazer mais realidade para as pessoas de que há outros que pensam diferente”, avalia a professora.

MAIS TRANSPARÊNCIA
Professor do Departamento de Ciências Sociais da PUC e integrante do grupo de pesquisa Graphus, Antonio Alkmim é outro especialista contrário à criminalização dos institutos, mas cobra mais transparência das pesquisas. “As bases de dados precisam ser divulgadas até para verificar inconsistências. Isso não precisa ser no exato momento, mas pode ser uma semana depois. O instituto que fizer isso vai possibilitar a checagem pública da qualidade das pesquisas”, afirma. “Hoje, são divulgados os gráficos, a metodologia, os relatórios. A ‘planilha Excel’, digamos assim, sem a identificação das pessoas, você não tem. Posso ter um conjunto de informações cruzadas muito maior que o divulgado. Só divulgam a ponta do iceberg”.
Pesquisador aposentado do IBGE, Alkmim também cobra fortalecimento do instituto e a realização de um bom censo da população. “O que é o início dos parâmetros demográficos e sociais para que se desenhe uma boa e confiável amostragem dos eleitores”. Uma tarefa que deve envolver em parceria o Tribunal Superior Eleitoral, que tem problemas em seu cadastro. “Eu me mudo e não atualizo o título. Se morrer, demora duas eleições para sair do cadastro. Quando você se registra, dá o seu nível de instrução e isso fica lá. O TSE não sabe se você estudou mais”, exemplificou
O docente aponta o negacionismo como fator que pode ter contribuído para a subestimação dos votos nos bolsonaristas. Algo que também escapou do controle dos institutos. “Entrevistadores foram agredidos na rua. Pode-se apontar razoavelmente a hipótese de que as recusas (às pesquisas) estiveram mais provavelmente ligadas à raiva, ao ódio e ao negacionismo”.

RECORDE DE PESQUISAS

Nunca houve tantas pesquisas de intenção de voto no país. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral atualizados até este dia 7, foram realizadas 2.576. Em todo o 2018, houve 1.554 registros. Neste ano, a maioria ocorreu para os governos dos estados (1.537) e para o Senado (1.407). Os levantamentos para a presidência vêm em terceiro lugar, com 1.004. “Se considerarmos que informação é elemento-chave em uma democracia, quanto mais pesquisas houver, melhor para a democracia”, acrescenta Rodrigues.

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