facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2022 09 11 at 14.12.49 3Fotos: Fernando SouzaSe, de um lado, as ruas no dia 7 estavam tomadas de múltiplas cores, ritmos e alegria, o mesmo não pôde ser observado nas manifestações bolsonaristas. O clima tenso, alimentado pelo presidente da República, acabou em morte na noite do próprio dia 7. Horas depois de Bolsonaro dizer, em Copacabana, que era preciso “extirpar” os opositores, um de seus apoiadores, Rafael Silva de Oliveira, matou com 15 facadas e tentou decapitar seu colega de trabalho Benedito Cardoso dos Santos, que defendia Lula. O crime aconteceu em Confresa, interior de Mato Grosso. O bolsonarista teve prisão preventiva decretada e foi indiciado por homicídio qualificado por motivo fútil e meio cruel.

A violência é resultado direto da retórica bolsonarista. É o que analisa a professora Mayra Goulart, cientista política que estuda Bolsonaro desde 2018. “No campo da extrema-direita, essa liderança faz inúmeros discursos reivindicando a violência como horizonte possível e defende o armamento da população”, sinaliza Mayra. “Tudo isso cria uma moldura que explica o aumento da violência política e o potencial que ela aumente muito mais, uma vez que temos uma população armada que é estimulada a ser violenta”.

A docente também destaca que a violência não é fruto da chamada “polarização”.“Polarização dá ideia de que os dois lados são equivalentes. E não são. Um lado instiga a violência enquanto o outro adota uma postura contra a violência. A violência política é produto de estímulos deliberados ao uso da violência”, afirma.

Ao longo do discurso de Brasília, na quarta-feira, Bolsonaro defendeu o golpe militar e fez ameaças. “Ele colocou o Golpe de 64 na lista de ‘outros momentos difíceis’. Citou 2016, 2018 e afirmou quase que como uma ameaça que ‘a história pode se repetir’”, comenta Mayra. “Em outro momento, ele puxa o coro de que é ‘imbrochável’, revelando um machismo que assume tons muito fortes, para não dizer grotescos”.

A celebração oficial dos 200 anos da independência se tornou campanha eleitoral. “Isso é uma vitória política para Bolsonaro. Ele capturou totalmente esse sentimento tradicional da população, de acompanhar os desfiles. Todo mundo que estava em Copacabana, São Paulo e em Brasília estava lá em apoio a ele”, diz o professor Josué Medeiros, também da Ciência Política do IFCS.

Mas nem tudo é ganho para o atual mandatário brasileiro. “O lado bom, para a democracia, é que ele está isolado. Falou para seus convertidos”, afirma o docente. Para o pesquisador, as falas de Bolsonaro foram direcionadas aos seus apoiadores, imprimiram um tom golpista, mas foram insuficientes para mudar os rumos do resultado eleitoral do primeiro turno. “Ele perdeu a oportunidade, felizmente, de ampliar seu lastro de apoio. Não havia com ele os candidatos a governador mais bem colocados nas pesquisas, nem as autoridades das instituições democráticas”, comenta Josué Medeiros. “Esse isolamento enfraquece suas pretensões golpistas nesse primeiro momento”, acredita o professor.

Para o docente, não haverá, até o primeiro turno, uma escalada no tom autoritário de Bolsonaro, mas a partir de 2 de outubro as coisas podem mudar. “Independentemente do resultado, perdendo a eleição no primeiro turno ou ganhando mais três semanas de campanha para o segundo turno, ele vai subir o tom. Vai haver um acirramento”.

REAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES
Mayra Goulart, que é vice-presidente da AdUFRJ, acredita que o isolamento político de Bolsonaro é devido, em parte, à mudança de postura dos Poderes. “As instituições saíram da relativa inércia diante de uma figura que é de extrema direita e anti-establishment, que ataca as instituições da democracia brasileira”, diz.

Para Mayra, são muitos os sinais que demonstram essa mudança de postura.“Há um despertar tardio das instituições e isso se mostra pela decisão recente do Supremo Tribunal Federal de restringir os efeitos da portaria das armas, pela proibição de acessar as urnas com celulares e pela ausência nas comemorações oficiais”, conclui a professora.

IMAGEM QUE VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS
WhatsApp Image 2022 09 11 at 14.14.12No Rio de Janeiro, as lentes da repórter Lola Vieira, do UOL, registraram o momento em que meninos negros vaiavam a motociata de pessoas brancas que acompanhavam Bolsonaro em Copacabana. “A foto simboliza muito bem o isolamento de Bolsonaro”, acredita o professor Josué Medeiros. Menos de dez minutos depois do flagrante, o Batalhão de Choque da PM parou o ônibus e retirou todos os meninos. Os outros passageiros sequer foram revistados.

“IMBROCHÁVEL” REVELA MACHISMO E DEGRADA ATO CÍVICO
Pior do que transformar as comemorações da independência do país num palanque eleitoral, Bolsonaro conseguiu imprimir tons grotescos em diferentes momentos de seu discurso. Num deles, comparou a primeira-dama Michelle Bolsonaro à socióloga Rosângela Silva, esposa de Lula, a Janja. “Procurem uma mulher, uma princesa”, disse Bolsonaro logo antes de puxar para si o coro “imbrochável”. Nesta sexta, Janja rebateu: “Aqui só tem mulher que luta”.

AMEAÇAS À OPOSIÇÃO, MENTIRA A APOIADORES
Bolsonaro fez propaganda do auxílio pago aos mais vulneráveis. Ele só não citou que o valor de R$ 600 só foi possível porque ele foi derrotado pela oposição. Sua equipe econômica defendia R$ 200. Ele também atacou a “ideologia de gênero”, fake news criada na campanha de 2018 e disse que não há corrupção em seu governo, apesar de o Brasil ter perdido posições em rankings internacionais e a PGR ter arquivado 104 pedidos de investigação contra ele.

Topo