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WhatsApp Image 2022 09 05 at 15.53.07 1Foto: Fernando SouzaNicolas Vilete, 18 anos, morador de Nilópolis, gosta de jogar Minecraft e League of Legends, adora animes e mangás, e não dispensa a pizza com os amigos. Seria um perfil bastante comum para a idade, mas com uma diferença importante: o jovem coleciona medalhas em competições nacionais e internacionais de matemática. Na mais recente delas, no fim do ano passado, faturou um ouro na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP).

“Sempre gostei de matemática. Sempre fui bem nas provas. Quando terminei o ensino médio, decidi continuar”, diz Nicolas, hoje no segundo período do bacharelado do Instituto de Matemática da UFRJ. “Em competição, não basta saber o conteúdo. Tem que desenvolver a ideia. Pensar nisso é a parte mais legal da matemática”.

O feito de Nicolas não é pequeno no país que apresenta um dos piores desempenhos do mundo no aprendizado da matéria. O mais recente estudo do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) mostra que apenas 2% dos estudantes brasileiros do ensino fundamental alcançaram os níveis 5 ou 6 de proficiência, que são os mais altos da instituição.

Além do gosto pessoal pela matéria, um projeto do Colégio Estadual Marechal Zenóbio da Costa, em Nilópolis, foi decisivo para a performance de Nicolas. “Era a ‘sala de aula invertida’. A ideia é que o professor passa uma prova, normalmente de um nível mais difícil que o nosso. Quem resolve uma questão ensina os colegas. É invertido porque a gente faz o papel de professor. E dizem que ensinando você aprende bastante”, afirma Nicolas.
Aprendeu bastante e colheu frutos. A medalha da OBMEP lhe garantiu o direito de se inscrever em um Programa de Iniciação Científica e Mestrado (Picme), que vai render R$ 400 mensais.

DEZENOVE BOLSISTAS
O professor Sérgio Ibarra é o responsável pelo programa Picme na UFRJ. “O primeiro critério de participação é ser medalhista, mas não necessariamente como aluno da Matemática”, informa. Hoje, a UFRJ possui 19 bolsistas da modalidade, sendo 11 de cursos do instituto. Mas há alunos das engenharias, da Física Médica e até de Comunicação Visual Design. Nicolas entrou na última leva, junto de outros três colegas.

Os medalhistas já ingressam na universidade com uma base boa da matéria. O papel da instituição é apresentar possibilidades interdisciplinares. “Ele não fica só pensando na matemática pura. Pensa também no que pode levar para a sociedade. O ganho maior está por aí. Abre o mundo para eles”, afirma Ibarra. “Meu trabalho principal é apontar uma direção. O aluno é encaminhado para um colega orientador que vai combinar o processo de iniciação científica com cada um”.

Desde o início do programa em 2009, a UFRJ já teve 158 bolsistas. As olimpíadas de matemática premiam centenas de jovens em cada edição. Para se inscrever no Picme, basta estar regulamente matriculado em alguma instituição de ensino superior e ter recebido uma medalha (de ouro, prata ou bronze) em qualquer edição da olimpíada. “Em geral, as notas são muito próximas. Até como uma forma de incentivo, a OBMEP faz uma ampla distribuição de medalhas”, avalia Ibarra.

O Picme também serve como uma preparação para o mestrado na Matemática. “Os alunos que ganham bolsa têm rendimento bem alto e, para entrar no mestrado, fica mais fácil. Mas não é algo automático. É necessário fazer as provas da seleção”.

Assim como centenas de outras iniciativas de Educação e Ciência, o programa sofre com o subfinanciamento no governo Bolsonaro. “Antigamente, a média era de 25 bolsas por ano. Este semestre, tive que recusar quatro medalhistas, de áreas paralelas à Matemática. Por exemplo, da Medicina. Não há bolsas suficientes”. O Picme também previa pagamento de bolsas de mestrado, via Capes. Mas elas estão suspensas desde 2020.

AÇÃO MOTIVADORA
Diretora da AdUFRJ e professora do Instituto de Matemática, Nedir do Espirito Santo é uma entusiasta da OBMEP. “Certamente tem sido a maior ação motivadora para o estudo da Matemática entre alunos da educação básica, envolvendo professores das escolas que se empenham em atividades diversificadas e diferenciadas no ensino, conduzindo seus alunos ao sucesso”, afirmou.

Nedir observa que a iniciativa ajuda a formar novos quadros para a comunidade científica. “Em geral, os medalhistas fazem parte de grupos de alunos que se destacam na universidade com excelente desempenho e adentram a vida acadêmica participando em atividades de iniciação científica e projetos, que são os primeiros passos para se tornarem pesquisadores”. Ela completa: “Parabenizo Nicolas pela medalha. Quem sabe, tenhamos, no futuro, um grande Matemático? Parabenizo também o Colégio Estadual Marechal Zenóbio da Costa, onde estudou, e os professores que o ajudaram na preparação”.

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